Artigo

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Observatório Econômico – Corecon-RN: Não estamos no mesmo barco, apenas no mesmo mar

Diante do aprofundamento da desigualdade social do Brasil com a pandemia , temos que respeitar a posição e condições de cada cidadão. Uns estão enfrentado a pandemia no ar refrigerado e com suas rendas e confortos garantidos. 

Enquanto a grande maioria perdeu seu empregos, 67 milhões estão vivendo exclusivamente do auxílio emergencial ou seja 1/3 da nossa população, com desconforto e com poucas perspectivas de novas oportunidades de ocupação, pois emprego infelizmente, daqui por diante, vai depender da economia se recuperar, o que em nossa visão ocorrerá lentamente e não em V como anuncia o Paulo Guedes, Ministro da Economia, quando existe uma recuperação na mesma velocidade da nossa queda. Vamos melhorar sim, mas possivelmente os novos empregos não voltarão na mesma velocidade e o momento da vez, da sociedade será do empreendedorismo, onde cada brasileiro está tentando se reinventando. 

As enormes desigualdades sociais e econômicas, comparativamente seria como que, enquanto alguns, de fato, enfrentam a pandemia num mar revolto em seus iates, a maioria dos brasileiros, valentemente, enfrentam as ondas altas do desemprego a nado.

Assim, cada um pode fazer um pouquinho por cada novo empreendedor. Dando preferência à adquirir produtos regionais e produzidos no Rio Grande do Norte.. E sempre, que possível,  comprar nas proximidades de sua casa. A pequena e média empresa é quem mais emprega e precisa muito de sua força e da sua preferência.

Tudo vai passar. O momento exige de todos mais solidariedade, humanidade e atitudes positivas perante nossos semelhantes.

Por: Ricardo Valério Costa Menezes
-Economista Presidente do Corecon-RN

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Enfim, a hipocrisia.

A02-S01-A01

Não é dúvida pra ninguém que a comunicação em todas suas formas, linguagens, padrões, expressões, foi e é fundamental para a organização social, o bem comum, e para nossa evolução. Na década passada o Instagram por exemplo, não existia (ele foi lançado em outubro de 2010 – tecnicamente ele ainda não era uma mídia) mas, já existiam milhares de maneiras de se fazer comunicação, como por exemplo, os grandes veículos: emissoras de televisão, jornal, rádio, revista etc, já ditavam regras e discursos nas décadas passadas. Algumas delas ainda são bem poderosas em terra que Internet é rainha, e uma delas teve sua prova de fogo em 2020 quando seus seguidores começaram a duvidar de suas informações tendenciosas, chegando até colocar em cheque a veracidade de dados de uma pandemia mundial que causou 837.979 mortes em todo o mundo (dados do google do dia 29/08/2020). 

Sabendo que a comunicação é necessária para vivermos em um ambiente seguro, organizado e funcional, precisamos que as notícias e histórias cheguem a todo o mundo de maneira mais clara possível. A televisão, que seus profissionais previam seu fim com o avanço das mídias sociais digitais a alguns anos, conseguiu manter-se como uma mídia ainda considerada moderna e de grande impacto social. Existem milhares de emissoras de TV pelo mundo, empregando milhões de profissionais. Emissoras essas que estão ali comprometidas a passar informações verídicas e de qualidade para o bem comum social e que são de suma importância no momento delicado que estamos vivendo.  Bom, pelo menos era pra ser, mas aqui mermo, não. 

O cenário das empresas de comunicação o Brasil sempre estiveram ligadas diretamente a interesses políticos, tanto que os políticos são detentores de grandes empresas na área. Vindo do Brasil, não tem como nos surpreender com o conflito de interesse nas telinhas. Sendo assim, não consigo infelizmente crucificar aqueles que “adotaram” o Instagram como sua única rede de consumo de informação. Mas gostaria de pedir que você prestem atenção na seletividade da sua revolta.

Acho que já está claro que a grande massa está clamando por uma orientação, protesta contra as mídias, mas acolhe o Instagram como sua única fonte da verdade resumindo toda a história da comunicação e seus estudiosos e profissionais à meme. –  Nada contra memes, sou devota das páginas de meme (elas realmente me alegram em meus bad days) – . Mas exigimos um pouco mais de respeito. O pessoal no mundo online, adquiriu essa percepção e ódio da comunicação de repente. Essa onda de revolta popular acontece ao mesmo tempo que o líder do país faz piada e ameaça de porrada profissionais da área. Coincidência ou não, tenho um recado pra deixar pra vocês.

Eu poderia dizer que estou escrevendo para alertar as pessoas no tipo de conteúdo que elas consomem, mas é pra dizer que: Outrora, vocês foram boiada de emissoras de tv e de outros veículos de comunicação em massa, e agora são de páginas de fakes news. Só mudou quem toca o berrante. Costumes, falas, pensamentos, são perpetuados pela mídia à milênios. Não importa se você vê tv ou rola o feed, você é totalmente influenciável. Ou seja, não adianta protestar contra a emissora lá e consumir conteúdo de baixíssima qualidade sem nenhuma fonte de confiança ou de estudo científico (sim, comunicação é ciência),  enfim a hipocrisia.

 Eu acredito que o que há de mais caro no mundo é a informação, mas podemos consumi-la de graça, ela está a um clique. Use-a sem moderação. A grande pergunta que fica é: Você toca o berrante ou o segue? 

Jade Brito e Silva – Publicitária

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Maria e o Rei do Rock

Esses 10 dias findos últimos, fui instigado pelos jornalistas Gilberto de Souza e o Cefas Carvalho para participar de uma brincadeira de salutar inteiração.

Essa mesma. Onde você convida um amigo por dia para postar um álbum musical que lhe marcou e, consequentemente, ele convida outro e mais outro e você vai vendo alguns preciosidades, que talvez nem fizesse parte de seu gosto ou não estava no seu acervo, mas que o vizinho chato lhe aborrecia tocando noite e dia, assim, rememora músicas que fizeram parte de sua história de vida.

Os meus amigos jornalistas, me deram a chance, mas especificamente Cefas, pois, vou publicar meu décimo disco, desta feita de Elvis Presley, encerrando minha participação na brincadeira, não antes de contar uma história. 

Nos anos 70, a gente morava nos Paredões, em Mossoró/RN, numa casa modesta, mas para os padrões da época pode-se se dizer de classe média, pois, o bem que o colocava numa seleta “casta” mais elevada socialmente era um aparelho de tv e nas redondezas poucas pessoas possuíam televisão. Lembro da maior atração da Praça São José, era uma tv, onde ostentava construção própria especifica para ela, nas noites os bancos e o adro da Igreja de São José ficavam apinhados de gente para assistir as novelas, transmitidas pela Tv Tupi, através da Tv Verdes Mares.

Nós tínhamos a nossa, lembro de uma Telefunken tela grande, preto e branco, mas para dar uma impressão de imagens coloridas uma outra tela suposta, como uma espécie de colobar, era colocada por sobre a tela original, era o que de mais chique se apresentava no mercado da metrópole capital do oeste potiguar, nos anos 70.

Na casa erámos eu com 18 anos, meus irmãos Neguinho (De Assis) com 17 e Carlinhos (In memoriam) com seus 8 anos e dona Geralda, minha mãe e Maria uma menina, que talvez da minha idade, ajudava nos serviços domésticos. 

Lá pela segunda metade do mês de agosto de 1977,  todos a mesa para o almoço entra Maria, que estava na sala vendo tv, banhado em pratos, soluçando em um choro desesperador, o que assustou a todos nós, Dona Geralda preocupada levanta-se vai até ela, põe a mão por sobre seus ombros, num gesto de acalanto e, pergunta: O que foi, minha filha? Balbuciando Maria respondeu: Elvis morreu! 

Todos riamos. Minha filha faz mais de uma semana, disse minha mãe. Foi? Indagou Maria incrédula, limpando as lágrimas dá meia volta para sala, foi ver à Tv Verdes Mares. Depois soube que ela nunca havia ouvido falar do Rei do Rock. 

Brito e Silva – Cartunista/Publicitário

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Cafajestemente criminoso

Sou uma figura meio sem graça e comportadamente desinteressante, para meus filhos, talvez exemplo: já devo ter sido, herói, bandido, bom pai, mau pai, bonito, feio, rico, pobre, tudo dentro dos conformes, dos ritos e conceitos sociais impostos pela evolução das relações humanas. Para meus desafetos, certo que exprimo uma ameaça atômica, como a formiga ao elefante. 

Numa entrevista a Manú, fui perguntado por que desenho. Desenho por necessidades: se eu não desenhar, rascunhar, rabiscar, gastar pelo menos uma dúzia de folhas de papel diariamente, tenho a impressão de ficar todo empolado e, meus calos nos dedos solicitam o lápis para acariciar.

Também não sou artista, não me considero artista, não tenho talento para artista, sou sem graça para ser artista, como se diz lá no meu pé de serra: uma pessoa “insossa”, meu maior patrimônio de excentricidades é tomar café amargo; nem na adolescência fui um “rebelde sem causa”. 

Para vocês terem ideia da minha oceânica mediocridade, não creio (não contem a ninguém) em horóscopo, desde Omar Cardoso ao Olavo de Carvalho, em cartomantes, em ciganos que leem mãos, não dou um vintém pela numerologia. Acredito nas banalidades: terra redonda, teoria da evolução, que já vivemos sob ditadura. Sou um cidadão comum, mediano, o que sei, realmente, é uma grande merda. Mas, não me vejo em meio a manada, vestido de verde e amarelo berrando “cloroquina, cloroquina, cloroquina de Jesus”, vivo nas minhas vulgaridades superficiais. 

Talvez, o que me mantenha no nível da lâmina d’água, que me salva de afogar-me no mar de banalidades insignificantes seja a música, leitura, família, amigos, meus desenhos e uma crença na ciência. Portanto, meu invólucro não me permite discutir a eficácia da Cloroquina, ou se o Tampo ianque está tomando via oral, intravenosa ou retal e se sua cópia mal engendrada está a imitá-lo. 

Entretanto, me permito falar do jumento batizado que está assinando o receituário, via internet em vídeo, como se médico fosse, instigando o povo a usar indiscriminadamente a dita droga. Em minha medianamente opinião, esse sujeitinho é cafajestemente criminoso. 

Brito e Silva – Cartunista

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À todas as mães da minha vida

Inegavelmente não seria o que sou, se não fosse a generosidade delas, as mães, que me deixam orbitá-las. Desde muito cedo, logo aos 9 anos, quando perdi minha mãe biológica, fui morar com minha Tia Geralda, que me criou e ajudou a formatar meu pensamento. 

Ela não tinha filhos, nos adotou eu e mais dois irmãos mais novos, Neguinho ( Silva) e Carlinhos (in memoriam) sendo caçula. Por não ser casada, logo, sofria todos os preconceitos que uma mulher poderia sofrer nos anos 70, nesta condição e claro, nós sentíamos o peso disto também.

Lembro que muitas mães, de nossa rua, a Augusto da Escóssia,49, Paredões, Mossoró/RN, não permitiam seus filhos brincassem com a gente, algumas delas faziam questão de deixar isto claro em alto e bom som: “Não quero vocês brincando com filhos de puta…”. Dona Geralda nos sentava a mesa e dizia: não liguem não, ela tem inveja de vocês, porque vocês são mais bonitos e inteligentes que os filhos dela, ela é uma coitada, não sabe ler, é uma pessoa amarga, apanha do marido e depende dele, isto a deixar frustrada que acaba descontando em todo mundo, até nos filhos dela. Vocês sabem que eles vivem de castigo, ne!?” 

ensinamentos que estão tatuadas em minha memória e, certamente, os levarei ao túmulo. Quem poderia agir assim, com tamanha generosidade, se não fosse uma mãe de verdade, que apesar de ser, nunca gerou um? Em meu parco entendimento, somente uma força que nasce do lado esquerdo do peito: amor.

Meu pai, viúvo, casou-se novamente com Damiana, ganhei outra mãe, logo teria eu três mães, uma benção – como diz minha irmã Naninha(Eliana Lima). Na minha casa éramos três homens: eu e meu dois irmãos, Tia Geralda (minha mãe) Helena, que ajudava nos afazeres domésticos e suas três filhas, – que as considero minhas irmãs e elas a mim – 3 homens e 5 mulheres, os “benditos frutos” entre as mulheres. 

Case-me com Isi (in memorian), me presenteou com dois filhos: Polary e Pollyanne, depois Maria me deu Jade e Edna que me ofertou com Larissa. 

Hoje ao meu entorno, quer dizer eu ao delas, estão MariaPollyanneJadeLarissa e minhas netas Kayllanne (Segundo/Michele) Aléssia (Alex Polary/Sanara) Valentina (Polly/Felipe) Lívia (Jade/Roberto), como visto, meu universo é feminino gestado por mulheres. Desde muito cedo aprendi, a cortejá-las, amá-las e respeita-las. 

A elas sou grato e, por que não deveria, se sou o que sou por causa delas? Hoje, agradeço e desejo a todas as mães da minha vida um Feliz Dia das Mães.

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Cartoons Anthology

O cartunista romeno Radu Itazco, comanda um time de outros grandes cartunistas brasileiros de primeira linha, composto pelo cearense Cival  Einstein, os mineiros Edra Amorim e Silvano Mello em um projeto chamado Cartoons Anthology – Antologia Mundial de Cartunista na Romênia, no qual está reunindo desenhistas brasileiros para participar, este que será, a princípio, um livro digital, o famoso e-book, e também posteriormente terá uma versão impressa. Hoje, o projeto está ancorado no Facebook, (clique) e pode ser vista os profissionais do desenho que já estão inseridos os novos que vão chegando. 

O projeto, por definição trará, se não todos os cartunistas, o que seria impossível, mas revelará uma grande parcela destes profissionais que fazem cartuns e caricaturas na língua portuguesa, mais especificamente, em terras brasileiras.

Eu, me sinto honrado em merecer fazer companhia a renomados cartunistas, como um dos representantes aqui, de nosso torrão potiguar. Avante, Radu!

Os amigos cartunistas que quiserem fazer parte, abaixo tem o regulamento:

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Pollyanne Brito

Natal, 27, de abril de 2020.

À Pollyanne Brito.

Pedi-lhe para escrever algo para eu botar no meu livro Milícia no Divã, uma espécie de prefácio. Você começa dizendo que é uma tarefa prazerosa e muito fácil dizer sobre mim e imprimiu um belo texto, me deixando descompromissado com a vaidade, não por mim, mas, por você.

Ontem, depois de sua visita – nós no 3º andar você, Felipe e Valentina no estacionamento – como bem sabe nossas vidas são massivamente alicerçadas em livros e músicas, não necessariamente nesta ordem, pois, fazemos da música nossas orações rotineiras e, dificilmente, alguém nos pega de calças curtas: no mínimo estarão dois aparelhos soando uma bela canção ou eu mesmo tentando fazer as pazes e acabar com essa malquerença de mais de 30 anos que o violão tem comigo. 

Quando voltei, ao meu computador, a Tracy Chapman cantava Baby can i hold you -, claro, lembrei-me de nossas viagens à praia de São Cristovão, em Areia Branca/RN a bordo do nosso bravo Fiat 147, com suas rodas de liga-leve, riscava a estrada de chão batido, sempre com seu RoadStar a rodar uma fita cassete Basf fazendo a trilha sonora. Certa vez, em uma dessas muitas vezes à bela Cristovão, a Tracy Chapman nos fazia companhia, aliás, você a acompanhava cantarolando empolgadamente, creio que foi Maria a observar: Pollyanne é inglês, você sabe o que está dizendo? E você sem perder sem sair do tom: “Aqui ninguém sabe inglês, ninguém sabe o que estou dizendo”. Todos rimos. Nos juntamos a dupla, fizemos coro com Baby can i hold you, misturando o inglês dos Paredões, lá de Moscov (Mossoró/RN) com o bem “dizido” de Almino Afonso/RN, a viagem se tornou mais curta.

Áudios que me passou, ontem.

– Quem estava na sua barriga?                                                                        

– Você, Valentina.

– Então, você não ajuda a sua única filha a juntar os brinquedos?

Ouvindo este diálogo, me veio a lembrança, se não me falha a memória, quando nos deu a resposta sobre o inglês, certamente, tinha mais ou menos a mesma idade de Valentina, 3 anos, logo não há como não fazer uma  ligação direta com semelhança da perspicácia, criatividade e poder de raciocínio rápido, isto é, inteligência, fico sim vaidoso. Ter a família que tenho, dos filhos, noras, genros e netos que me deram, não é para menos. Cada vez mais fico desnudo da falsa modéstia, me parece que criatividade é o ingrediente mais presente por aqui.

Bom, na verdade dei esse “arrudeio” todo somente para dizer que vocês são a melhor parte mim e, se existe algo de bom em mim, fiquem certos: foi vocês que me deram. Pode ser, e é, um chavão desgastado, mas resistentemente verdadeiro: família é tudo! Arisco a dizer que é o maior patrimônio que alguém pode construir. Sinceramente, se não fosse seu pai, seria indubitavelmente incompleto, ser seu pai me fez um ser humano melhor.

Parabéns, filha amada. Feliz Aniversário!

Seu pai Brito.  

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Eu sem você

Natal, 23 de abril de 2020

À Jade

Eu sem você…

A música sem dúvida alguma, certamente, é o mais próximo que talvez eu chegue perto de Deus. Pelos enormes motivos e pecados mil. Entretanto, quando ouço acordes invadindo meus tímpanos me parece catapultar a outro mundo, onde a paz, solidariedade, o amor se faz presentes em suas imagens primárias, sem arrodeios ou atalhos, e certamente, se Deus é amor, a música é o caminho mais curto para se chegar a Ele.

Romântico? Talvez! Sentimental? Muito. E a música é culpada de minhas “fraquezas”. Quando penetra pelos poros não resisto e me entrego, se foi assim, assim será.

Seu nome por exemplo é fruto de noite, do show de João Bosco, no “Posto Imperial”, lá em Mossoró/RN, quando ele cantou Jade, nós dissemos que iríamos ter uma filha e se chamaria Jade, és tu Jade Brito e Silva

Boa parte de minha nano-cultura vem da música. Lá pelos anos 70, eu ouvia uma que me chamava a atenção logo queria saber o que tinha além, dos acordes, da melodia, da letra, ainda hoje é assim. 

Quando eu tinha nove anos minha mãe morreu, me trancava no banheiro e chorava quando ouvia “Coração de luto – Teixerinha”. Já trabalhando no jornal Gazeta do Oeste, quando uns 15 “burrinhos” já eram degustados meus “amigos”, sorrateiramente,  iam a dona Luzia do Ponto Frio e pediam para ela botar na vitrola “lady Laura – Roberto Carlos” para me verem chorar, devia ser divertido pra eles, ver um marmanjo chorando lembrando de não ter mãe.

Sua história foi asfaltada de música, lembro de todas elas, de suas fases, criança, adolescente e adulta. Conheço cada nota, cada acorde que faz da vida o que você é. 

Hoje, mãe e com uma enorme responsabilidade de criar outro ser, tenho a mais absoluta certeza que seguirá a pauta e, certamente, irá compor, aliás está compondo uma bela melodia que já nos encanta. Sempre cabe mais um no “Eu sem você não tenho porque. Porque sem você…” que você traz tatuada na pele e na alma.

Confesso que hoje, queria lhe dar um abraço apertado. Mas… Então cantemos. “Vai Passar nessa avenida um samba popular…”

Feliz Aniversário filha minha

Brito

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Terra seca, rachando

Jornalista Gilberto de Souza, artista plástico Laércio Eugênio e o cartunista Brito e Silva

Por Gilberto de Souza

Lá pelo final da década de 80, Mossoró já contava com seus talentos iniciando pela curiosidade e pela identificação na área de propaganda, publicidade e marketing. E isso antes mesmo de Rogério Dias e o seu irmão, Ivanaldo Xavier, oficializarem a Auge Propaganda, uma das agências pioneiras, dentro dos padrões legais e ajustada a necessidade de mercado do seu tempo.

Nesse prisma, já era salutar a parceria, até porque, no momento, ninguém envolvido com esse tino reunia condições financeiras para montar uma agência. Segundo, porque todo trabalho criativo e de abrangência, principalmente que venha persuadir um público alvo, depende de quadros pessoais que formem o pendão norteador de um trabalho proposto.

Embalados pela magia dessa descoberta, eu, Laércio Eugênio e Brito e Silva começávamos a desenvolver algumas parcerias. Brito e Laércio, chargistas, desenhistas, bons na arte como são até hoje, arrebentavam. Juntei-me a eles para produzir os textos. Não havia os recursos da Internet como o hoje indispensável suporte do Google. Tudo era feito no peito e na raça. As artes eram pontilhadas no lápis, a diagramação na cola bastão. Para o aprimoramento líamos Torben Vestergard, Kim Schroder, Mena Barreto e outros do gênero. O resto era por nossa conta.

Esses resquícios de doces lembranças foram para resgatar um episódio, entre tantos, que marcaram a nossa produtiva convivência no campo da criação. Há sempre de ter os episódios.

Acho que, intermediado pelo porreta comunicador, o camaradinha Caby Costa Lima, nós fomos sondados para executar uma campanha publicitária. O cliente desejava uma campanha completa, que envolvesse rádio, jornal, televisão e outdoor. Sentimos o peso da proposta, porém não fugimos à luta. Como não existia sede, a gente se reunia na casa uns dos outros, conforme as conveniências.

Pegamos pressão, estávamos cheios de vontade. O cliente era o empresário Aurizilênio Leão Carlos, a empresa a EAPA Projetos Agrícolas. Marcamos o primeiro encontro para esse trabalho na casa de Laércio no conjunto Abolição. Era um período de inverno rigoroso e naquela noite despencava do céu mais uma chuva grossa. É tanto que como dependíamos de carona, eu e Brito chegamos atrasados, mas não seria aquele toró que iria impedir que a gente varasse a madrugada até produzir o maior número de peças para serem submetidas à apreciação.

Centralizamos a campanha na proposta da empresa em estimular os produtores rurais através dos seus projetos. A EAPA era a solução para alavancar o setor agrícola na região. Nessa linha idealizamos as peças para outdoor, jornal e rádio. Faltava a televisão.

O tempo corria na velocidade da água que caía do telhado em correntes clareadas pelos relâmpagos no compasso com as trovoadas. E a gente queimando pestana entre sucos, cafés com bolacha e cigarro. E a chuva que teimava em nos acompanhar sem perder o ritmo.

Foi então que, para a propaganda da televisão, alguém sugeriu que fosse feita uma fotografia de um terreno rachado pela seca, na tela, onde ao longe, surgiria a logomarca da empresa, amiudada, mas crescente ao avançar sobre a terra seca. E da forma em que, se observada de uma altura alpina lançasse uma luz por onde passasse, semeando a terra e fazendo brotar uma plantação. Na sintonia, um texto enaltecedor. Era aquilo. Estava tudo pronto.

Relaxamos realizados, mas antes que nós escolhêssemos o fotógrafo para colher a imagem da terra seca, eis que alguém lembrou:

– Com essa chuvarada, onde diabos a gente vai encontrar uma terra seca, rachada?

A ideia virou água, literalmente e tivemos que mudar toda campanha, deixando para outro dia. Algumas peças ainda chegaram a ser veiculadas. Mas nada de televisão.

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Ouço vozes e vejo coisas

Depois de tempos de confinamento, em dupla de quatro: eu e Maria, Maria e eu, estou me dando conta que minha lucidez está ficando mais assentada, cada vez mais lucidamente lúcida, serena e equilibrada.

As percepções, os sentidos estão mais fluídos, mais naturais, talvez com suas capacidades no ápice. Ouço vozes, falo sozinho, danço, toco violão, pinto e bordo. Vejo o sorriso de Aléssia andando pela sala, repondo “te amo” a Enzo, me encanto com Valentina se apresentando, fazendo do sofá seu palco, vejo Lívia abrindo os olhos quando paro de tocar pra ela dormir. Canto com Polary “Fanatismo”, “Chega de saudade” com Pollyanne, Jade e eu tocamos “Samba em Prelúdio”, para Larissa toco “É preciso saber viver”. Enfim, estou mais vivo que nunca. Agora, as coisas a mim, são muito mais claras e simples.  

Em estado de poesia, com o violão nos braços, depois de errar algumas centenas de vezes a mesma nota, me aborreço e falo em voz alta: Porra, errou de novo? Sem se fazer de rogada, lá da cozinha, Maria diz: “pergunte ao seu amigo invisível, se ele quer um cafezinho?”. Tomei o café pelos dois.

Falando em amigo invisível, certamente, cometerei uma indiscrição, mas, sei que Dra. Priscila Cibelle, com seu coração do tamanho do mundo, me perdoará. Na movimentada casa de Nevolanda (in memoriam) minha sogra, que mais parecia um mercado persa. Havia dias em que netos brotavam de todos os lados: nas janelas, em cima e embaixo da cama, no sofá, nos corredores, no telhado, para onde olhasse tinha pelo um par de netos brincando, do jeito que ela gostava: casa empanturrada de vida viva por todos os cantos, do terreiro ao oitão.  

Certa vez, uma bela loirinha em prantos entra correndo na cozinha, Nevolanda, pergunta porquê de tanto choro, em seu mais lúcido momento diz: “Voinha, foi Tio Paulo matou meu amigo invisível”. Claro, os adultos, sem alma e pouca imaginação riram para se acabar.

Nesta clausura, tenho ciência do que a pequena Priscila falava e sentia. Ando ouvido vozes e vendo coisas. Canto com meus filhos, netos e amigos, devo confessar até brigo com alguns. Vivendo, o que vivo hoje, não quero ser nem mais nem menos do que sou. 

Maria, traga meu Rivotril. 

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Fé rasa, amor vazio.



Natal, 8 de abril de 2020

Aos meus netos

Outro dia, escrevi que depois desta pandemia e tudo que a voluma, as relações humanas serão diferentes: na empresa, com os amigos, parentes, filhos, pais, mães, netos, noras , genros todos terão uma nova visão. Em um vídeo Cortella diz algo parecido, credenciando o que penso. Eu, isolado, já estou experimentando. Algumas pessoas me bloquearam, o que de fato, devo reconhecer que tiveram dignidade, não deixaram o trabalho para mim, outros eu mesmo fiz e, ainda outros simplesmente me ignoram, o que não é de todo mau, entretanto, são estes que me metem medo. 

Há tempos, sendo mais preciso. Desde as eleições de 2018, houve uma divisão “ideológica” mais acirrada. Alguns sem entender escolhiam lados apenas por questões, religiosas, cor, raça, sexo classe social, poucos tinham ciência de suas opções, provocando o efeito manada tão propalado.

Apontando dedo criava-se tribos e culpando tudo e a todos, como em numa “santa” inquisição, caçam bruxas vermelhas, comunistas. “Esquerdistas” e “direitistas” disputando o monopólio da verdade. O coronavírus veio trazer suprimentos à já esvaziada e puída pendenga, colocando “inocentes” e “culpados” em lados opostos, como se fora, de fato, verdade e, assim pudesse ser. Ora, culpados somos todos. Portanto, não têm inocentes, assim sendo, há de haver mais compaixão, caso contrário, não sobrará ninguém para fechar a porta.

É verdade que todos temos lado, escolhas diferentes, sexo, cor, religião, mas isto, não nos faz inimigos, o contrário deveria ser.  Sempre aprendo com aqueles que discordam de mim, quando têm razão e, quando não, me confere a convicção de minha opinião. Aqueles que escolhem a curta e sombria vereda da inimizade, boa sorte, irão precisar, certamente, se consumiram em si, pois, não haverá luz a alimentá-los.

Desde cedo aprendi que não existem inocentes, todos somos culpados, de uma maneira ou de outra. E talvez, consciente disto, não culpo quase ninguém por meus erros, acertos, perdas, ganhos, saúde, doenças, alegrias e tristezas, como também não tenho fardos – podem até me titularem como proprietário de containers, mas, não me reconheço como tal – de mágoas, culpas e qualquer sentimento de rancor. Erros? Os meus são incontáveis, porém, são meus e somente a eles sou preso.

Sou ou tento ser, ciente, que aqui, sobre este torrão erroneamente navegante no universo sem fim, o que de fato, vale são seus atos e atitudes. Não adianta dizer que tem fé, que ama fulano, beltrano e cicrano se suas ações e obras não correspondem ao que diz. A fé rasa, o amor vazio, sem humanidade, sem razão, sem ação, alimenta apenas os tolos.

Este isolamento, a cada dia, me põe grudado na frase do filósofo São Thomas de Aquino: “fé sem ação, é morta”. 

Diante do féretro exposto uma romaria chora suas mágoas, culpas, rancores, antecipadamente, outros gastam as lágrimas da partilha e ainda outros, em seus mundos escuros repetem “Eu devia ter…”. 

Brito

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Gosto sim, de carnaval!

Lívia Brito e Valentia Brito

Ontem, (segunda-feira), na fila (sem fila) do pão um vizinho, sorridente me indagou:

– E aí, seu Brito? Parece que não gosta de carnaval!?
– Gosto sim. Quanto mais longe tiver de mim, mas gosto…
– Eu também! Isso é coisa do diabo.

Com um boa tarde, me esguiei, segui ao barraco na velocidade das tartarugas do Arquipélago de Colón, comer pão com geleia de acerola, feita por Maria. Ele ficou importunando a coitada do caixa, que certamente, preferiria está em algum mela-mela ou no bloco dos Cão, louvando a folia, santificando com alegria a festa mais profana e abençoada pelos deuses, que a tirania daquela verborragia preconceituosa arrogante advinda do bloco dos infelizes.

“Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval.” Dom Élder Câmara.

Gosto sim, de carnaval. Longe ou perto, dentro ou fora, só ele nos permite alegrias e êxtases em profusão juntas e misturadas, pois bem: Dei-me ao desplante de ler algumas dezenas de páginas do Livro da Filosofa, ouvi Banda Reflexu’s, Pink Floyd, The Beatles, Luiz Gonzaga, Agepê – som alto sem vizinhos por perto e com ausência total de música de sertaneja nas redondezas, ô glória -, assisti As Sufragistas, La La Land e mais dois chatos que esqueci os nomes e ainda vi Portela na avenida, nesta segunda. Ora quem pode proporcionar uma miscelânea destas? Certamente, só o “manda-chuva” da vez. Ah, também fiz uma boa arrumação em nossa loja (virtual), que estará de portas abertas, em breve.

Gosto sim, de carnaval. Você pode até tentar sair dele, mas ele não sai de você e quando não vai até ele, ele vem até você. Para tirar a prova dos nove, o Rei lhe induz ao revivamento, a mente lhe é povoada com belos carnavais já vividos que agora, se torna tão deglutíveis e palpáveis como um bom sonho. 

Assim, foi feito: Me senti tão inteiro, como se presente estivesse na festa momesca, através das minhas belas e amadas netas Valentina (filha de Pollyanne/Felipe) e Lívia (Jade/Roberto), em seu primeiro ensaio de foliã. Gosto sim, de carnaval. Somos do bloco da vida, da alegria!

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Quantos são e onde estão os agricultores familiares do RN?

No final de outubro de 2019 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou os resultados definitivos do Censo Agropecuário 2017. Embora tenha tido pouca repercussão na imprensa norte-rio-grandense, o referido Censo é a pesquisa mais importante referente à realidade do campo brasileiro, especialmente sobre a agricultura familiar.

Por agricultura familiar, conforme a Lei 11.326, entende-se os produtores que: i) possuem áreas de terra de até 4 (quatro) módulos fiscais; ii) utilizem, no mínimo, metade da força de trabalho familiar no processo produtivo e de geração de renda; iii) obtenham, pelo menos, metade da renda familiar de atividades econômicas do seu sítio; e iv) dirijam o estabelecimento ou empreendimento estritamente com sua família.

Em nível de Brasil, através da aplicação desses quatro critérios classificatórios, foram identificados 3.897.408 agricultores familiares. Juntos, eles representavam 77% dos estabelecimentos agrícolas do País e ocupavam 67% das pessoas.

Mas e no Rio Grande do Norte (RN), quantos são e onde estão os agricultores familiares?

Segundo a citada pesquisa do IBGE, o nosso estado possuía 63.452 estabelecimentos agropecuários em 2017. Desse total, 50.680 (80%) eram agricultores familiares. Ou seja, de cada 100 estabelecimentos recenseados no meio rural potiguar ao menos 80 eram pequenos e tocados predominantemente pelo produtor junto com sua família.

A distribuição geográfica dos agricultores familiares no mapa do RN é bastante diversa. Do ponto de vista individual, os 10 municípios com mais agricultores familiares são: Apodi (1.785), Lagoa Nova (1.706), São Miguel (1.626), Mossoró (1.327), Caraúbas (1.148), Touros (1.146), Ceará-Mirim (1.085), Cerro Corá (930), Upanema (909) e João Câmara (790).

Já os menores contingentes de agricultores familiares estão situados nas seguintes localidades: Fernando Pedroza (52), Taboleiro Grande (50), Messias Targino (44), Galinhos (32), Tibau do Sul (24), Vila Flor (11), Viçosa (10), Senador Georgino Avelino (5), Baía Formosa (5) e Parnamirim (3).

Note-se que em praticamente todos os 167 municípios norte-rio-grandenses, desde aqueles que abrigam mais produtores até os que registram menores quantidades, os agricultores familiares representam a maioria absoluta dos estabelecimentos existentes.

Os números do Censo Agropecuário 2017, apresentados ligeiramente aqui, podem ter grande utilidade para os formuladores de políticas públicas. Isso porque, entre outros aspectos, eles revelam as áreas com maior concentração de agricultores familiares que devem ser o foco prioritário da ação governamental.

Além disso, tais estatísticas do IBGE podem ajudar a sociedade a monitorar o desempenho das políticas públicas implementadas em favor do segmento familiar.

Por meio delas, por exemplo, percebe-se que o programa inovador de distribuição de sementes crioulas do governo do RN, cujo objetivo é contemplar 3 mil produtores em sua primeira etapa iniciada no mês de janeiro de 2020, atenderá somente 6% dos mais de 50 mil agricultores familiares potiguares e necessita ser substancialmente ampliado.

Joacir Rufino de Aquino
(Economista, professor e pesquisador da UERN)

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A DEMOCRACIA NA SARJETA

Paulo Afonso Linhares 

A aparência de fragilidade é certamente a característica mais interessante da democracia. Parecer frágil, contudo, faz da democracia uma possibilidade vigorosa de realização dos desígnios da humanidade na perspectiva aristotélica do ser humano como “animal político” cuja existência se dá unicamente em ambiência social. 

            Em suma, viver na pólis é existir em sociedade e participar dos processos de gestão, construção e controle do mecanismo maior de organização social que é o Estado. Todavia, esta é apenas uma das concepções dos sistemas políticos estatais. Alguns destes excluem a participação, em níveis diversos dos segmentos da sociedade, deferindo a uma pessoa ou um restrito grupo social as decisões sobre a condução do Estado. Neste caso, tem-se sistemas políticos autocráticos de gestão e controle do Estado, sobretudo, a tirania e a oligarquia. A perversão da democracia que é o populismo, que na classificação de Aristóteles.

            A conversão da democracia em populismo tem sido um fenômeno recorrente nestes tempos modernos, caracterizado na manipulação dos diversos segmentos sociais. O fascismo e seu irmão siamês, o nazismo, são exemplos do populismo de direita. No campo oposto, à esquerda, ele também se manifesta: o stalinismo e suas derivações assentidas em muitos países são igualmente expressões da condução autocrática de Estados e sociedades. 

            Em ambos os casos, contudo, os resultados, nos mais diversos níveis, foram drásticos em desfavor da humanidade, embora seja bem certo que uma democracia nem sempre garante que a vida do cidadão seja um paraíso terrestre:  numa visão bem singela, ela é sempre, segundo a banalíssima  Wilkipédia, “um regime político em que todos os cidadãos elegíveis participam igualmente — diretamente ou através de representantes eleitos — na proposta, no desenvolvimento e na criação de leis, exercendo o poder da governação através do sufrágio universal”. Melhor definição não pode haver para a proposta desta reflexão.

            Assim, não parece ingênuo, nos dias atuais, indagar se é possível viver num Estado em que não haja democracia. Claro que sim, até porque a História mostra que a experiência humana da democracia é ínfima. Melhor entendendo: a regra é que a humanidade tem vivido mais em autocracias do que em democracias, merecendo sempre considerar que os sistemas políticos, autocráticos ou democráticos, em cada momento histórico e latitudes diversas, têm peculiaridades que os tornam únicos e irrepetíveis: nos anos sessenta  do século XX, a ditadura argentina era diferente da boliviana, que diferia da brasileira que não foi tão abertamente sanguinária quanto à chilena e nenhuma delas foi tão aberrante quanto algumas ditaduras de países africanos, do mesmo período, como a do caricato Idi Amin Dada ou a do ‘imperador’ Bokassa: além de extermínio em massa de etnias rivais, foi constatado que Jean-Bédel Bokassa, posteriormente autointitulado  Imperador Bokassa I  (adotou o nome de Salah Eddine Ahmed Bokassa), foi o segundo presidente da República Centro-Africana (01/01/1966 a 04/12/1976, quando se fez coroar imperador Centro-Africano, permanecendo até 20 de setembro de 1979. Após sua deposição, fato estarrecedor chegou ao conhecimento da comunidade internacional: para seu consumo pessoal, Bokassa mantinha câmaras frigoríficas apinhadas de ‘cortes’ de carne humana, picanhas, maminhas e outras “coisitas” mais. Enfim, um escroto canibal que resgatou uma ‘cultura’ de seus ancestrais.

            Hoje, cada Estado independente considerado democrático – a partir de indicadores cientificamente identificados – pode ser classificado e passar a compor um ranking determinado. Cada modelo de aferição obtém resultados que não se coadunam, necessariamente, com outros, por questões metodológicas. 

            Um das mais sérias instituições que medem e classificam a democracia em muitos países do mundo é a V-dem, de origem sueca, sendo um dos mais importantes “observatórios”  da democracia no mundo. Em relatório recentemente publicado, que teve divulgação no prestigioso jornal espanhol El País, constatou que o Brasil vive “uma guinada à autocracia das mais rápidas e intensas do mundo nos últimos anos”, após a chegada de Jair Bolsonaro à presidência da República. 

            Noutras palavras, as novas diretrizes políticas que constam da agenda do presidente Bolsonaro, com “os esforços do presidente e seu Governo para calar os críticos, a exemplo do que “fez (Recep Tayyip) Erdogan quando levou a Turquia da democracia à ditadura, o que faz (Viktor) Orban na Hungria, que está prestes a deixar de ser uma democracia, e exatamente o que (Narendra) Modi faz na Índia”, conforme assertiva do diretor do V-dem, o professor Staffan I. Lindberg. Inequívoco que Bolsonaro se enquadra no modelo dos democraticidas que, atualmente, têm ascendido ao poder pelas urnas. 

            A propósito, lembre-se que o Partido Nacional Socialista alemão, participou de sete eleições, a partir dos anos 1920, até entronizar seu líder máximo Adolf Hitler como chanceler, em 1933, que, depois de uma série de manobras escusas e vais assassinatos, fechou o Parlamento, tornou proscritos todos os partidos políticos e empalmou o poder supremo na condição de “Fürher” da Alemanha. O horrores que se seguiram, é por demais conhecido.

            A potente ‘metralhadora giratória” do capitão-presidente Bolsonaro, manejada por ele mesmo ou por seus filhos e acólitos políticos, atingem a imprensa, personalidades, artistas e instituições republicanas como o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e a Ordem dos Advogados do Brasil, além de Estados estrangeiros amigos do Brasil. Em todas as intervenções de Bolsonaro e seus seguidores afigura-se perceptível um profundo desapreço às instituições democráticas com as quais a sociedade brasileira tem vivido. Claro, têm imperfeições e insuficiências o modelo de democracia erigido na Constituição de 1988, mas, inequívoco que vêm garantido enorme e profícua estabilidade ao Estado brasileiro. 

            Ajustes são – e sempre serão necessários -, mas, desde que não possam desfigurar às conquistas democráticas, sociais e políticas plasmadas na Carta Política de 1988. Aliás, ao lado de certos eventos históricos, ela será sempre o ponto de partida para a consolidação dos interesses fundamentais  da sociedade brasileira. Batam ou não as miseráveis panelas da classe média ensandecida e ignorante ou o ridículo pato amarelo que grasna no edifício da Fiesp, na Avenida Paulista. A democracia e os valores que ela imantam sempre serão algo por que lutar e manter. Acima de tudo e todas as coisas, pois, certamente aí estarão, verdadeiramente, qualquer ideia que se tenha de Deus e de amor a esta pátria que chamamos pelo singelo de Brasil.

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Não somos sérios


“O Brasil não é um país sério” cunhou o francês Charles de Gaulle. E é preciso fazermos uma “mea culpa” admitindo que o general tinha e, para nos envergonha mais ainda, continua com nítida razão, isto, se um dia quisermos almejar a soleira da civilização.

Somos obtusamente cínicos. Um país onde em toda sua história republicana dos 38 presidentes, apenas 5 terminaram seus mandatos, portanto, nossa relação com a democracia sempre foi aos trancos e barrancos, entre tapas, beijos, golpes e torturas, nos revelando a nossa mascarada e dissimulada simpatia aos regimes antidemocráticos.

Mesmo que muitos insistam em se esconder ou disfarçar que o atual governo central não vetorizou, amplificou e quase que deu uma garantia, para estas forças nefastas saíssem das sombras e de cara limpa fossem aos bares exibir suas tendências nazistas, usando a suástica (símbolo do nazismo), é apenas mais cinismo dos que o apoiam, pois, a simpatia do Bolsonaro aos regimes ditatórias de direita e ao nazismo é tão nítido quanto o findo da vida.

O próprio presidente Tapir, apesar de sua gigantesca burrice esférica, é notório atos contra imprensa, negros, mulheres, professores, culturas, artistas, trabalhadores que estes atos dão sustentabilidade a tese de seu flerte ao nazis-fascismo e, por isto, já foi repreendido por diversas versas por líderes mundiais, por negar o holocausto. Em entrevista já disse que seria um soldado de Hitler, mesmo sabendo de toda atrocidade cometida.

 “O Brasil não é para principiantes”, frase creditada ao Tom Jobim. Mais que certeira. No Brasil negro é racista; judeu é nazista; cristão tem simpatia pela tortura; mulher é machista; democratas pedem intervenção militar; trabalhador é apoia sindicato patronal; pobre come ovo “gourmet” e pensa que é rico…

Acabo ler um post no Feice que em Natal surgiu o Movimento de Arte Neonazifascista. Definitivamente, não somos sérios.