O dia que encontrei com Stanislaw Ponte Preta

Escritor Abraão Gustavo

Esses dias, me encontrei com Stanislaw Ponte Preta. O cronista? Não. O Uber mesmo. Não sei o que deu no pai desse homem para colocar o nome do filho de um cronista. A crônica, por muitos, é considerada um gênero menor da literatura. Mas, pelo pai desse motorista, a crônica era o que havia de primeiro.

– Nada de menor, vai ser o nome do meu filho!

– Sergio Porto! Não! Tem que ser nome de artista, para o pessoal botar uma fé. Concluiu o motorista. 

– Patrão, já ouviu a história da velha contrabandista? 

– Aquilo é Brasil, patrão! 

– Enquanto os policiais esquentam com a areia que a velha carrega, vai passando a lambreta desapercebida.

Eu pensei comigo: não é que o homem conhece mesmo a história do cronista e seus escritos? Fico pensando: será que, quando eu morrer, minhas crônicas serão comentadas em botecos? Algum Uber vai ter meu nome e conhecer minhas obras? Ou taxista vai perguntar:

– Para onde vamos?

         E alguém vai responder:

– Para rua Abraão Gustavo. 

Ou alguém em transportes públicos, na fila do dentista, na sala de espera de um hospital, lendo esta crônica, com um sorriso no canto da boca? 

Bom, para não ter erro, vou fazer meninos e colocar os nomes dos cronistas que eu admiro. Gostei dessa ideia, já imaginou?

– Bilac, vai ajudar sua irmã, Clarice, a vestir a roupa para ir à escola. 

– Pô, Drummond, já falei para você parar com história de pedra no meio do caminho, seus colegas não entendem você, meu amor. Nem todos estão a fim de ingressar nessa viagem. 

– Braguinha, como foi o futebol na escola? 

– Veríssimo, fez gol? Teu negócio é música, né? Pede ajuda do Vinicius.

– Sabino, desce daí. Você vai cair, cara! 

– Amor, o Prata não tomou banho ainda. Disse que o Chico já está no banheiro há meia hora.

– Lygia, vamos com papai na padaria, filha?

– Arnaldo, hoje o cinema está fechado, filho. 

– Manoel, concordo com você. Ficar muito tempo no celular faz mal. 

– Paulo, seu nome é lindo, cara. Mendes Campos. Olha só que natureza! 

Na volta para casa, fui deixado por um outro motorista enquanto pensava. O nome dele? Adivinha? Descartes. Fico pensando se essa moda pega em larga escala.

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