Artigo

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Fragrância de xibiu

Assistido o Grande Empresas & Grande Negócios, do qual sou telespectador assíduo (embora, nunca tenha colocando em prática nada do seu conteúdo, talvez, goste mesmo da trilha sonora) uma matéria falava do avanço tecnológica na área dos cosméticos, onde uma empresa brasileira estaria usando a nanotecnologia em produtos para pele. Na demais em um país que é campeão em Cirurgia Plástica e Estética. O Brasil ultrapassou os Estados Unidos neste procedimento.

Isto posto, diz que somos muitos vaidosos, é crime? Não! É pecado? Há controversa! Creio que tudo em boa medida, certamente, faz bem e, portanto, pode ser salutar para o corpo e a mente uma recauchutada naquele nariz de batata. Agora, se o mesmo lhe é cumpridor de sua finalidade mecânica, estética e mental, também está tudo certo.

Dizem que o egípcio Santo Antão gastou 80 anos a fio sendo azucrinado pelo Diabo e não cedeu. Antão comemorava 105 primaveras, o Inimigo Fedorento, já com suas esperanças chamuscadas jogou a toalha, pediu “penico” – como se diz lá no sertão de Angicos/RN -, disse que isto nunca antes na história do mundo, alguém havia resistido a seus encantos, deu as costas em direção à saída, neste momento prostrado de joelhos em reza, Antão diz: “Senhor, muito obrigado, porque enfim, consegui ser santo”. O diabo sorriu, fez meia volta nos calcanhares tendo a certeza de sua vitória, pois, o santo rendeu-se à vaidade.

A vaidade é inerente ao ser humano, isto é tão certo quanto a necessidade de respirar. Cada um pode e deve lidar com a sua da melhor maneira possível, essa seria a tese nos melhores dos mundos, mas, não é bem assim que banda toca.

Muitos extrapolam – ou não, como diz o nascido em Santo Amaro -. A atriz hollyoodiana Gwyneth Paltrow anunciou que a Goop, está comercializando velas aromáticas que tem o “cheiro da sua vagina”. Não se animem, o site diz que o estoque esgotou. A vela aromatizada com o cheiro do xibiu da atriz está sendo comercializada por US$ 75, aproximadamente R$ 300,00. Se você ganha o salário mínimo, contente-se: não vai sentir nem o cheiro. 

A vaidade altera regras, costumes e prazeres. Em nome de uma forma ideal estética imposta pelo “mercado”, se faz de tudo: estica-se a pele, em muitos casos deformam, transformando pessoas em figuras estranhas, como no caso de Michael Jackson, implantam-se silicone nos glúteos e seios para aumentar ou reduzir o volume, implantes de pênis, cirurgias estéticas vaginais entre outras, todas navegando no sétimo pecado capital.

Há mulheres expondo suas madeixas brancas afirmando não ser vaidade (talvez estética). Conheço pessoas que não pronunciam a idade nem por uma cocada preta, porém, na cara, mesmo o pós-reboco, se ver as pregas, sulcos, as gretas impostas pelo tempo. Não negaria minha vaidade, entretanto, também não me ponho diante do espelho acreditando na semelhança física notória com Brad Pitt e Allan Delon e menos ainda me furto a dizer minha idade e provar com certidão de nascimento, até porque respeito muito minhas sexagenárias pregas e as que o tempo decide carimbar em minha nordestina pele. 

Brito – Cartunista

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Novinho em folha


Outro dia assisti no Café Filosófico, uma pedagoga, falando dentre outras coisas que afetam o desenvolvimento da criança, a precocidade do contato com as telas como forma de brinquedo, pelo menos nos três primeiros anos, onde a formação e amplitude dos sentidos estão em pleno desenvolvendo.

Entretanto, fica impossível afastar as crianças das tecnologias e seria um erro ou uma vã ideia que elas não tendo contato com as tecnologias a partir de nós, estariam imunes, bobagem sem tamanho, uma besteira besta. A tecnologia faz parte da evolução humana e como tal é factível que todos possam dela desfrutar, mas as coisas não são tão fáceis, simples e românticas assim. Por trás de todo essa oferta, de que ela é necessária para você poder viver, ser feliz, há macabras ações dirigidas para nos tornar consumidores compulsivamente ativos, sem nenhum senso crítico e, quando somos capazes de resistir, eles dão vida limitada aos nossos aparelhos, nos obrigando compulsoriamente a nos livrarmos do antigo e correr à loja mais próxima.

Nos Estados Unidos existe uma lâmpada que está acesa há exatos 118 anos, em uma unidade dos bombeiros na cidade de Livermore, na Califórnia (EUA). Sem assim procedesse todas as lâmpadas, certamente, a Osram e Phillips já teriam quebrado. Projetar aparelhos com defeitos e peças pouco duráveis para que o consumidor tenha de comprar novamente é uma prática quase secular.

A indústria têxtil, no final do século XIX, começou a utilizar mais amido e menos algodão nos tecidos para reduzir sua durabilidade, incitando a consolidação da prática, como ferramenta de aumentar dividendos aos fabricantes. Em 1924, a General Electric, Osram e Phillips se reuniram na Suíça e decidiram limitar a vida útil das lâmpadas a 1.000 horas, sepultando sua possível útil longa vida.

Um grupo de consumidores franceses em 2017 acusou a Epson, HP, Canon e Brother de práticas destinadas a reduzir deliberadamente a vida útil de impressoras e cartuchos. Na França há legislação mais rígida, que tenta coibir tal prática.

Meu engando celular, começar a me enviar sinais que está ficando velho ou obsoleto, com menos de um ano de uso. Creio que anda vendo as ofertas do Magazine Luiza, para desespero dele, vou usá-lo até seu último suspiro. Ora, ele J8 Prime Dual, Android…Eu J60, estou novinho em folha. 

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A.D.O. de cozinha

Organizando meus arquivos encontrei esta relíquia: Vt da campanha de Narciso Mendes para o Senado, pelo estado do Acre. Em 1990 dirigia o departamento de arte e cenografia do Jornal e Tv Rio Branco, fui convocado para fazer a criação da campanha de Narciso Mendes. Foi um trabalho desafiador, pois seria minha chance de fazer algo fora da curva, do que havia posto. E algumas peças foram inovadores, pois, simulavam “efeitos”, de um equipamento que chamávamos pela sigla A.D.O. até então só usado pela Globo e grandes produtoras da região sudeste. 

Um dos Vts tinha logo na primeira cena um livro abrindo suas páginas e delas surgiam imagens em movimentos que preenchia a tela, um outro tinha a imagem de uma pessoa em silhueta, em um birô, fechando gavetas e saindo, indo embora, simulando a cadeira que estaria vazia no Senado – Lembra Renato Severiano? -, outro de Célia, que o nome girava em seu eixo 360 graus. 

Mas, o que chamou atenção foi o que trazia – ver VT – a fotografia de Narciso girando. Muitas polêmicas foram criadas pelos adversários acusando Narciso de gastar milhões de reais com publicitários e produtores de renomes, que fazia a campanha mais cara já vista no Acre.

Entretanto, forçaram tanto a barra que passei quase toda campanha explicando, em entrevistas, como a gente tinha feito a nosso “A.D.O de Cozinha” – lembra Nadja Faria?

Pois muito bem, aqui vai: No Acre, em horário de verão, o fuso é de três horas, isto é, Jô Onze e Meia, terminava as 9h e, eu, Maria e Machiel Jackson e Wesley ficávamos com o estúdio só para nós, para gravarmos comercias, fazermos testes…

Neste Vt, trabalhamos das 21h, até umas 5h da manhã gravando, na esperança de obtermos 5” de vídeo, o que, de fato, conseguimos.

Calma, explico: Com duas fotos de Narciso, duas linhas de nylon de 10 metros cada, cruzei diagonalmente e o meio colei nas costas de uma das fotos, colando as duas fotos de costa uma para outra fazendo um sanduíche das linhas. Depois amarrei as duas pontas de cima na parte superior do estúdio e as outras duas eu torcia, soltava, fazendo a foto girar e o Michael Jackson filmava e Wesley na ilha gravava, Estes cinco segundos nos custaram a noite inteira.

Os outros depois eu conto. Ufa! Fazer publicidade nos anos 80/90 não era fácil.  

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Sonhos de criança

Sou uma criança de sonhos
que o tempo ruiu,
uma adolescente sem esperança
que há muito, já partiu.

Sou mulher e mãe
de tantos quantos a vida me fez parir, 
sentimentos de dois e ter quatro
para chamar de meus.

Sou avó de quatro, cinco, seis…e de tantos outros que ainda virão!
A velhice, ali no espelho, retrata sem pesar, 
as rugas marcam o rosto que, às vezes já não conheço
os cabelos em desalinho, desobedientemente se branqueiam. 

Sou órfã, adotei sentimentos por vez,
na memória, ainda sã, que precisa registrar,
contar o que passou, com o que sonhei passar
e não deixar a idade me calar.

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TEMPO II

Fico pensando no tempo que se perde
quando não se pensa,
não recicla,
não abraçamos quem amamos,
não confortamos a tristeza,
não alimentamos quem tem fome,
não falamos a verdade,
quando só ela traz certeza e alívio.

Perdemos tempo
em tristeza sem prazo,
em olhar sem ver,
em chorar pelo que se foi,
em deixar de viver.

Perdemos tempo
se não aprendemos,
se não evoluímos,
se não ouvimos sem absorver.

Perdemos tempo
quando alimentamos o lobo,
quando não perdoamos e libertamos as dores.
perdemos muito tempo
sofrendo pelo que não tem perdão
e essa dor só doe em nós.

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Tempo

Pensar no tempo traz aflição,
angústia não precisar quanto
falta para viver,
quanto para partir,
quanto pra chegar.

Pensar no tempo traz saudades
do que passou,
do que se viveu,
do que sentiu

Pensar no tempo preocupa
no que tenho pra fazer,
no ponteiro que teima em passar
sem parar pra avaliar
no tempo que ainda falta pra se cumprir.


Pensar no tema tempo
não dá tempo de correr, de avaliar se vale.

Maria do Socorro
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Trem Azul

Ontem(22), o Feice do jornalista Lindomarcos (que faz um trabalho muito interessante mostrando ex-alunos do Colégio Estadual, o Jerônimo Rosado de Mossoró/RN. Até lhe sugeri transformar em livro), publicou uma foto, daquela que foi a Mais Bela Estudante, por diversas vezes do Colégio Estadual e, nos desfiles cívicos de 7 e 30 de setembro, saía puxando um pelotão, com um zelo de uma porta-bandeira da Portela, era ela, minha Maria (que até então não sabia que seria minha eu, menos ainda). 

Fui arremessado para os anos 70, na esquina das ruas Augusto da Escóssia e Afonso Pena, em frente a casa de Cizinho, onde nós improvisávamos um campo de futebol e ali, passávamos boa parte da tarde, e só parávamos para algumas autoridades passar: Major Bezerra, que morava na Augusto da Escócia, caso a gente não suspendesse a partida de futebol ele tomava a bola. Aliás, se visse a bola tomava e, para ela, quando ia para o Colégio Estadual, momento raro e único de vê-la. 

Já adolescentes e morando na mesma rua, Augusto da Escóssia, já trocávamos alguns olhares irremediavelmente inocentes e despretensiosos, sem saber o que nos reservava o tempo – sempre ele, o tempo -. Amadurecemos, viramos adultos e seguimos viagem, cada um para seu lado.

Nos anos 80, trabalhamos no Edifício Cidade do Natal, no mesmo andar. Eu no jornal Estilo, do jornalista Toinho Silveira, que tratava de moda e do mundo social da Capital do Sol, Natal/RN e ela numa agência de modelos, Por minhas mãos passavam centenas de fotos de modelos para publicação, no entanto, nunca nos encontramos nem eu vi uma foto sua.

Quisera o destino nos juntar, em Mossoró/RN, no jornal Gazeta do Oeste, no ano de 86 e, lá se vão 33 anos dividindo sonhos, angustias, tristezas, alegrias muitas, enfim, a vida e um monte de filhos e netos.

Hoje, quando olho para trás, só me resta agradecer pelo que fomos, somos e estamos dispostos a continuar seguindo num Trem Azul. 

Feliz a Aniversária, minha Maria.

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…Tê-los!

Eu e meu velho pai, seu Luiz, o qual me dá um orgulho danado de ser seu filho.

No Poema Enjoadinho, o poetinha Vinicius de Moraes, expressa, uma secular questão:

Filhos… Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-los?

Sabiamente, a pergunta trás embutida a resposta, nos direcionando ao “melhor tê-los para sabê-los”, nos fazendo fugir do martírio pela eternidade da síndrome do epitáfio: “Eu devia…”. Assim sendo, ouvindo Vinicius, Chico, Caetano, Raimundo Fagner, Belchior, João Bosco fui fazendo filhos, todos sob a luz do sejam bem-vindos que serão amados quanto.

Com saber do meu primogênito, Polary que veio do Chile, para me ver? Como saber de Aléssia, sua filha, minha neta, que ora começa os primeiros passos no desenho? Como saber de Enzo, também seu filho, ligando de Santiago, com seu “Bom dia vovô Brito”? E, realmente transforma meu dia.

Como saber de Valentina (3), filha de Pollyanne me acordando em uma segunda-feira, nos intimando a ir com ela e a avó, ao cinema?

Como saber de Kaylanne, quando pequeninha, em suas visitas de sábados, deitava-se entre mim e avó, me mandava ficar de costas, se recostava nelas e dormia? 

Como saber de Lívia, em pô-la sobre meu peito, sentir o pulsar de seu pequeno coraçãozinho em um sono dos anjos?

Eu sei! Sei de Polary, que me enche os olhos com sua disposição e coragem de enfrentar a vida destemidamente, sem as lamúrias dos covardes; sei de Pollyanne e seus passos firmes, milimetricamente regidos pela ética e apego a solidariedade ao bem-comum dos povos e à família; Sei de Jade, que costuma repetir que a “ignorância é uma benção” e, sentindo as dores do mundo, tendo uma visão apaixonada pelas causas perdidas, mas que merecem ser lutadas; Sei de Larissa, minha caçula e bióloga, que lá de Mossoró, passamos hora a fio, em longas conversas de diversos assuntos, dos quais aprendo muito.

Eu sei. Não faria nem mais nem menos do que tenho. Eles me bastam, não caibo em mim de tanta alegria de tê-los, sabê-los e sê-los.

Ao meu velho e querido pai toda minha gratidão e amor, pois, todos somos frutos do seu “tê-los”.

Feliz Dia dos Pais.

Brito – filho, pai e avô.

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A MORTE DAS LITURGIAS

Paulo Afonso Linhares

            Em alentado estudo sócio-antropológico (inAntropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1970), o pensador francês Claude Lévi-Strauss alerta  para as diferenças entre o que  chama  de mito  e  o que entende por  ritual, quando afirma que enquanto este  é  “o modo  pelo  qual as coisas são ditas”,  os mitos seriam apenas, mas, não menos importantes,   “o que  dizem as palavras”. 

            O mais significativo é que, para Lévi-Strauss (p.603), os mitos se servem dos  rituais  para terem existência real, no mundo da práxis.  Invocando a permissão desse grande teórico que deu efetiva  contribuição para a sedimentação de estudos antropológicos e sociológicos de matriz brasiliana, é de mister introduzir outra categoria para tratar de temas políticos-institucionais: a liturgia. Sim, liturgia em sentido diferenciado daquele que lhe é tradicional e que se refere aos rituais de cunho religioso (liturgia católica, liturgia anglicana etc.). 

            Sim, definitivamente as boas práticas políticas seguem, no chão republicano e democrático, típicas ‘liturgias’ que se sedimentam a partir de usos e costumes políticos de cada povo e em diversas  latitudes. Veja-se, por exemplo, o costume que a Revolução Parlamentarista inglesa (século XVII), impôs à família real britânica: não se envolver na administração do Estado, nem sequer tratar em público de temas políticos. 

            Por isto que, a despeito de todo o transe político vivido atualmente pelos britânicos com essa lenga-lenga do Brexit, a família real britânica não se pronuncia sobre a permanência ou não do Reino Unido na União Europeia. Essa questão vai ser decidida pelo Parlamento e até já custou a cabeça da primeira-ministra Theresa May.  

            Então, Qual a posição da vetusta e amada Rainha Elizabeth II (66 anos como chefe de Estado!), ou de seu consorte, o príncipe Phillip (um boquirroto reconhecido), ou do príncipe William, a aposta mais concreta de se tornar o novo monarca britânico? Nada, mesmo os mais tenazes tablóides sensacionalistas ingleses conseguiram publicar algo que valha como posicionamento sobre o Brexit. A velha liturgia é seguida à risca, para preservar o sistema político, aquilo que os próprios ingleses chamam de “establishment”. Ao que parece, não disseram a Bolsonaro que, a despeito de HRM Elizabeth II  não dar entrevistas, não participar de debates na TV e não emitir opiniões nas redes sociais nem fora delas, continua a ser uma quase unanimidade em meio a seus tantos súditos.

            Diante da tentativa do Congresso Nacional lhe tirar a prerrogativa de nomear os dirigentes das agências reguladoras, o presidente Bolsonaro esbravejou: “Querem me deixar como Rainha da Inglaterra”. Dito isso, ele foi, no mínimo, grosseiro com a chefe de um (poderoso) Estado estrangeiro com o qual o Brasil mantém fortes laços políticos e econômicos. Uma inegável quebra de liturgia: os costumes políticos dos ingleses deveriam ser respeitados.

            Noutro episódio recente, um atabalhoado presidente Bolsonaro, em viagem oficial à vizinha Argentina, se imiscuiu na política interna dos “hermanos” e deu apoio à reeleição do desastrado Mauricio Macri, cujo governo tem sido um monumental fiasco econômico e político. Imagine-se uma derrota – nada improvável – de Macri nas eleições que se avizinham? Como o Brasil vai atuar diante da Argentina, nosso vizinho, parceiro importante e um dos pilares do Mercosul? Certamente, nesse cenário de possível vitória peronista, o Brasil terá muitas dificuldades. Sem dúvida, mais uma quebra ridícula da liturgia que imanta as relações internacionais brasileiras com as nações amigas.

            Outra babaquice caipiresca do atual inquilino do Palácio do Alvorada: empolgado com a participação no encontro do G-20, em Osaka, Japão, Bolsonaro disse que Donald Trump é “muito querido pelo povo brasileiro”, o que é uma enorme inverdade. E fechou por expressar o seu irrestrito apoio à reeleição do “Tangerine Man” à presidência dos EUA. Isso seria algo até para ser dito em “pétit comitê”, jamais para divulgação na mídia mundial. E se Trump der um “escorrego” e não se reeleger para a presidência dos EUA? As pesquisas de opinião, nos Estados Unidos da América, são vacilantes: à reeleição de Trump é, ainda, uma incógnita. Por isto, para seguir a boa liturgia das relações internacionais, o chefe de Estado brasileiro não deveria tomar partido, mesmo porque o seu apoio, neste caso, vale nada ou coisa nenhuma. E se o próximo presidente norte-americano for um democrata?

            A maneira grotesca de como demitiu o economista Joaquim Levy da presidência do BNDS, o general Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência do Brasil,  ou prometeu o cargo de ministro do STF ao ex-juiz Sérgio Moro quando sequer a vaga existe, mostram o desconhecimento de Bolsonaro da liturgia do poder. E o mais grave é que, diariamente, ele tem sido  superado, nas bobagens e bizarrices,  por seus filhos e auxiliares mais próximos.

            Outra quebra de liturgia: para aparecer como líder popular, Bolsonro se abalou de sua curul presidencial para visitar o jogador Neymar num hospital de Brasília. Até aí tudo bem, se ele não desse uma entrevista a defender as trampolinagens sadomasoquistas do moleque num hotel de Paris.  Grotesco episódio em todos os aspectos que possam ser examinados. O supremo mandatário da nação brasileira não poderia se rebaixar a tanto; deveria preservar a enorme dignidade do cargo que ocupa por decisão majoritária do povo brasileiro. E o velho Bozo desceu ao pântano. Lamentável.

            Um nível mais abaixo, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, por exemplo, tem excedido em gafes e cenas ridículas que protagoniza, como foi o caso da piada que fez a propósito da descoberta vexaminosa, no dia 26 de junho de 2019, de que um dos aviões que servem à presidência da República, na viagem que Bolsonaro fez ao Japão, transportava 39 quilos de cocaína, após prisão de militar brasileiro, sargento da Aeronáutica, Manoel da Silva Rodrigues, por autoridades espanholas, em Sevilha. Na sua conta do Twitter, Weintraub, pensando fazer piada inteligente, disse que “no passado o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?” Nada engraçado. Apenas algo, rude, desrespeitoso e vil, de quem não tem a mínima noção do que representa o cargo que exerce. Nem o seu guru, Olavo de Carvalho, chegaria tão longe.

            Bem a propósito, o general Santos Cruz, que foi comandante das forças da ONU no Haiti e no Congo, Secretário Nacional de Segurança Pública e ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência do Brasil, defenestrada do ministério de Bolsonaro após pugilato verbal com o astrólogo Olavo de Carvalho, em recente entrevista à revista Época, dá a exata dimensão do febeapá que é o atual governo da República: “Tem de aproveitar essa oportunidade para tirar a fumaça da frente para o público enxergar as coisas boas, e não uma fofocagem desgraçada. Se você fizer uma análise das bobagens que se têm vivido, é um negócio impressionante. É um show de besteiras. Isso tira o foco daquilo que é importante. Tem muita besteira. Tem muita coisa importante que acaba não aparecendo porque todo dia tem uma bobagem ou outra para distrair a população, tirando a atenção das coisas importantes”. 

            Enquanto os franceses se jactam de poder comer um queijo diferente a cada dia do ano – un fromage pour chaque jour! – nós, nestes brasis selvagens, a tirar pelo que diz o general Santos Cruz,  espantados vemos uma besteira a cada dia no governo Bolsonaro. E as liturgias do poder despedaçadas impunemente. Até quando? Tristes trópicos (Lévy-Strauss, encore)!

            Uma coisa é certa: o presidente Bolsonaro e seus principais auxiliares não se preocupam com a liturgia do poder, preferindo os arroubos ideológicos que atropelam, internamente, as difíceis relações com os outros poderes, principalmente com o Congresso Nacional. Tudo por ignorar as liturgias que imantam essas relações, o que constitui um motor de constantes crises, vexames e gafes. 

            Se trabalharmos com números, os 57,7 milhões de votos que o elegeram são bem inferiores aos 140 milhões de votos que receberam deputados federais e senadores em 2018, embora Bolsonaro e seus milicianos não faças estas contas. Por isto é que tudo deve levar em consideração a velha fórmula dos “balanços e contrapesos”, no difícil e não menos íngreme chão da democracia e dos costumes republicanos. As velhas e boas liturgias ajudariam a tornar mais seguros e curtos esses caminhos.

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A Falácia da Reforma da Previdenciária

Paulo Afonso Linhares

            A despeito do corte ultra-liberal da visão econômica do ministro Paulo Guedes, fortemente radicado nos postulados conservadores da Escola de Chicago e no pensamento do seu principal guru, o economista Milton Friedman 1912-2006), prêmio Nobel de Economia de 1976, a sua presença na cabeça da equipe econômica do governo Bolsonaro ensejou um clima de confiança no mercado. 

            Claro, inegável que a passagem de Guedes pelo mundo das finanças, neste país, tem sido pontilhada por histórias de sucesso, sendo um dos fundadores do Banco Pactual  e de vários fundos de investimentos e empresas, o que reforça em muitos as expectativas que cercaram a sua ascensão como mentor do candidato Jair Bolsonaro que, na campanha presidencial,  se recusava responder sobre questões de economia e sempre fez vexatórias remissões ao seu “Posto Ipiranga”, como ‘carinhosamente’ tratava o seu futuro Ministro da Economia.

            Entronizado no Ministério da Economia, Guedes passou a ter poder e influência jamais imaginados por seu antecessores nos últimos cinquenta anos, inclusive, na montagem da equipe. No entanto, para desencanto de muitos, nada de novo apresentou para dar um novo ânimo à economia brasileira, passados seis meses de governo, apenas ‘requentando’ ações dos governos anteriores. E o país seguiu afundando no pântano no marasmo econômico, com projeção de uma cenário de profundas incertezas.

            O mais estranho é que o ministro Paulo Guedes, certamente para satisfazer subalternos aspectos ideológicos, se fixou na realização de (mais) uma reforma da Previdência Social como o “abre-te sésamo” econômico do governo Bolsonaro: sem ela, advertiu Guedes ao Congresso Nacional, nada poderá acontecer na economia. Enorme falácia. Bobagem mesmo.

            Ora, neste contexto uma reforma da previdência social resolve apenas aspectos secundários da economia, mormente, a busca do equilíbrio das contas públicas, porém, mantém intocados vários outros aspectos mais sensíveis e relevantes da gestão econômica: política cambial, retomada do crescimento, investimentos, redução do desemprego, aumento das exportações etc. Em si, a reforma da previdência preconizada por Paulo Guedes, se aprovada integralmente pelo Congresso Nacional sem uma vírgula a mais ou a menos, ainda assim deixaria irresolvidas as grandes questões que atravancam, hoje, a economia brasileira.

            O mais grave é que deputados federais e senadores jamais darão o que Guedes quer, até mesmo porque o governo Bolsonaro é órfão de bons negociadores com o Congresso Nacional. Isto o torna refém do bloco parlamentar conservador autodenominado como “Centrão”, que lhe tem imposto seguidas derrotas. Isto sem falar que o habilíssimo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que está cada vez mais desenvolto nas críticas a Bolsonaro, a tirar pelo comentário que fez no episódio da demissão do presidente do BNDES: um ato de enorme “covardia”. Pano rápido. Deu no osso do “Capitão”.

            Assim, a reforma previdenciária sairá diferente daquela que Guedes planejou, restando-lhe acudir a outros espectros mais relevantes da gestão da Economia. E terá que dizer a que veio, o que não fez até agora. Se não der uma repostas positiva, aprofundará perigosamente a crise econômica. 

            Óbvio que o mercado tentará ganhar com isto, todavia, aos cidadãos comuns não restará  alternativa, senão  da resignação pura e simples, bem nos moldes da lição pessimista do mesmo Milton Friedman, na introdução do sua obra “Capitalismo e Liberdade”: “Se o governo deve exercer poder, é melhor que seja no condado do que no estado; e melhor que seja no estado do que em Washington. Se eu não gostar do que minha comunidade faz em termos de organização escolar ou habitacional, posso mudar para outra e, embora muito poucos possam tomar esta iniciativa, a possibilidade como tal já constitui um controle. Se não gostar do que faz o meu estado, posso mudar-me para outro. Se não gostar do que Washington impõe, tenho muito poucas alternativas neste mundo de nações ciumentas.” 

                       Se trocarmos “condado” por “município” e “Washington” por “Brasília” teremos a dimensão do pouco espaço de manobra que resta aos cidadãos comuníssimos (nada a ver com comunista!) que somos nós, a não ser fugir para alguma dessas “nações ciumentas”. Onde, aliás, por pura precaução, não haja nenhum “Posto Ipiranga”…

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EQUINÓCIO IRREDENTO

Paulo Afonso Linhares

            Na sabedoria dos camponeses nordestinos, o dia 19 de março em que homenageiam São José, o pai mortal de Jesus, é balizador decisivo para boa estação chuvosa e, por consequência, boas colheitas. A sabedoria popular, todavia, não é desprovida de cientificidade. O equinócio de outono, acompanhado do fenômeno da superlua, ocorreu neste 20 de março de 2019. Se chuvas ocorrem nesse dia, há uma infalível certeza de ‘bom inverno’.

            Desta feita, mal vencido o equinócio de 2019, eis que a Polícia Federal faz cumprir, em São Paulo, mandados de prisão preventiva, expedidos pelo juiz Marcelo Bretas (aquele do olhinho baixo…), do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro Wellington Moreira Franco, este também conhecido no submundo da corrupção como “Gato Angorá”.

            Claro, municiado de informações privilegiadas, o cartel da mídia brasileira revelou, finalmente, as personagens que faltavam nessa ópera bufa cuja cena única era, até agora, a daquele velhinho barbudo, com nome  de intragável crustáceo, que, de rigor, nem deveria estar ali.

            Enfim, cenas de uma prisão anunciada: o chefe da quadrilha do MDB vai para o xilindró. Nada a comemorar, mesmo porque tais prisões são apenas de caráter preventivo, sem qualquer culpa formada relativamente aos presos. As repercussões midiáticas  parecem evidentes, no Brasil e no mundo. De repente, aquele juiz de olhinho à Ceveró passa a ocupar o lugar que há bem pouco tempo era do draconiano juiz Sérgio Moro, hoje envergonhado ministro da justiça do capitão Bolsonaro.

             Afinal, desde que essa desavergonhada república existe, apenas dois ex-presidentes foram, com ou sem razão encarcerados, como criminosos comuns: Lula, sob o tacão do juiz Moro, e Temer, por decisão do juiz Marcelo Bretas. Sequiosa de ancestral vingança,  brasileiros de classes sociais diversas  exultam. Claro, jamais imaginam como age essa máquina judiciária que, atendendo às pautas de um empoderado ministério público, que pretendem, em conjunto, fazer um redesenho do Brasil que contemple unicamente a sua hegemonia. 

            O que poucos imaginavam é que, entre a “cutucada e a imediatidade do ‘êpa!”, o desembargadorfederalAntonio Ivan Athié, do Tribunal Federal da 2ª Região, abrisse a ‘ gaiola’ para libertar Temer, Gato Angorá  e mais outros cinco presos envolvidos na mesma investigação. Sem entrar no mérito das ‘virtudes’ judicantes do desembargador Atihé, inclusive, vários processos em que foi envolvido na condição de réu, aliás, brilhantemente absolvido em todos eles, sua decisão foi juridicamente irretorquível; julgou corretamente em se tratando de uma prisões preventivas inspiradas não nos requisitos legais incrustados no remendadíssimo Código de Processo Penal, mas, nas motivações midiáticas do juiz Bretas e dos membros da força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro.

            Com efeito, no aprofundamento da democracia, tais ‘efeitos de demonstração’ se tornam inevitáveis. Ninguém estaria acima da lei. Assim, sejam quais forem os propósitos dessa guerra surda contra o dragão da maldade da corrupção, a exultante expectativa é a de que a “velha política” seja derrotada. Será? Parece que não: a armação dos procuradores da República para arrancar 2,5 bilhões de reais da Petrobras para criar uma “Fundação Lava Jato” de cunho  privado fez cair uma pesada e não menos suspeito véu. A ação vigilante da imprensa e das redes sociais evitou fosse concretizada a ministerial falcatrua que, aliás, mereceu até o repúdio de dona Raquel Dodge, procuradora-geral da República do Brasil, que ajuizou uma ação no STF contra isso. 

            O episódio mostra as vísceras de um velho costume político brasileiro: corruptos são sempre os outros; do outro lado, somente anjos vingadores que cumprem a lei e desejam esvurmar os bulbos infectos da ‘peste vermelha’ que teria assolado o país. Balela, avassaladora hipocrisia política praticada à sombra das instituições democráticas e republicanas que avultam do seio da Constituição, em que a busca da sobrelevação dos interesses populares que traduzem, no máximo, os apetites insaciáveis das corporações que dominam a máquina burocrática do Estado, no Ministério Público, no Judiciário, no aparato de segurança e mesmo nalgumas ‘manchas’ conservadoras do Congresso Nacional. Tudo a muitos anos-luz da ideia-força de radicalização da democracia imaginada por Rosa Luxemburgo.

            Com efeito, escarafunchar o passado é fácil; difícil é conviver com o presente e antecipar o futuro. O desiderato, agora, é adular os patrões da Wall Street, a CIA, as insanos arreganhos de Washington e de seu atual contestável Danald Trump, afinal, essas coisas de liberdade, inclusive, a de imprensa, de autonomia e harmonia dos poderes do Estado, o equilíbrio federativo, são, nos dias que correm, apenas anacrônicos delírios dos “pais fundadores” da pátria norte-americana que serviram de inspiração a outros povos do mundo, inclusive, o brasileiro. 

Esses valores, diante da ressaca conservadora e de fortes pendores autoritários, não passam de frágeis velas ao vento – “candles in the Wind” – que ameaçam o legado das luzes e podem fazer  com que estes trópicos confusos afundem numa nova era de desalento e escuridão. 

            Afinal, cá para estas bandas, o presidente Bolsonaro já decidiu que ao menos os quartéis, “que nos ensinam antigas lições”, como dizia o poeta Vandré em tempos idos e de triste memória, devem comemorar com ardor o aniversário de 55 anos do ‘movimento’ cívico- militar de 31 de março de 1964. Ocorrendo isso, tantos brasileiros torturados, mortos e ‘desaparecidos’ sob o tacão do regime militar, jamais poderão dizer “presente”, varridos que estarão sendo para debaixo do perverso tapete da História. 

Contudo, estaremos vigilantes. Ave, Anatália de Melo Alves!

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Barrados no baile

O Ex-governador Geraldo Melo, apareceu triste em um comentário da sua página do Facebook, no seu post dizia das comemorações dos 69 anos do jornal Tribuna do Norte, e expressava sua vontade de ter participado da solenidade, da Assembleia Legislativa, ocorrida na última terça-feira (26).

Deu para perceber sua frustração, pois, ao olhar de todos que comentaram, ele deveria ter sido parte ativa desta data, uma vez que fora colaborador logo das primeiras horas do jornal Tribuna do Norte, quando aos 21 anos, era o chefe de redação (função que então muitos chamavam Redator-Chefe, segundo o próprio Geraldo).

Este episódio me catapultou ao fato ocorrido comigo nos anos 90. Depois de anos dedicados ao jornal Gazeta do Oeste, eu e Socorro fomos para o Acre, trabalhar na Tv e Jornal Rio Branco, na volta, criamos a Brito Propaganda, agência de publicidade, que até então, buscava suprir o mercado mossoroense.

Pois bem. Certo dia, fui ao Gazeta, como sempre embioquei cabeça a dentro, quando fui barrado pela recepcionista:

– …Vai pra onde?
– Falar com Dona Maria…
– Espere, vou ver se ela pode lhe atender.

Nestes segundos de espera, percebi que eu era da Gazeta do Oeste, mas a Gazeta do Oeste, não era minha. Tudo que eu sentia por ela, a recíproca não era verdadeira e, nem poderia sê-la: ela (ele), é apenas um CNPJ e a moça que a representava à primeira vista, não tinha o menor sentimento ou afeição aos meus modestos préstimos ao jornal. 

A senhorita, que na minha época de casa, fomos colegas, ela como ASG, agora, ascendera a condição de recepcionista, demorou um tempo, como quem diz “vou baixar a crista desse besta, vou dá-lhe um chá de cadeira”. 

Sorte minha, Dona Maria saiu:
– Tá fazendo o quê aí, bichinho? 
– Esperando para falar com você!
– E por quê não entrou?
– A recepcionista disse que iria ver se você podia me atender.

Voltando-se para moça da recepção, Maria Emília perguntou:

– …Desde quando Brito precisa ser anunciado aqui, bichinha?

Resolvido. Entrei falamos de negócios. Depois, pensando bem com meus botões, fiquei grato ao puxão de orelhas dado pela recepcionista, pois, todo carinho, suor e amor que dediquei, aliás, dedico, é unilateral, é platônico, não há reciprocidade e não haveria de existir, pois CNPJs são números e números são gélidos como mármore.

Nos 35 anos de comemorações de Gazeta do Oeste, tal qual Geraldo, também fomos barrados no baile, aliás, nem eu e Socorro fomos citados e muito menos chamados às comemorações. Mas, Queiroz, nos ensinou a amar a Gazeta do Oeste e, quando se aprende, não há como esquecer e, parte de nossa história está em seus arquivos. 

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Riso pronto, miolo tonto

“Rir é melhor remédio”, propaga muitos, já outros se contentam com “rir é melhor que chorar” e, ainda uma turma diz “quem rir por último rir melhor”. Sem falar daqueles, assim como minha avó: “Quem vive de dentes arreganhados e não sabe porquê ou tem o miolo mole ou muito dinheiro, ainda assim é uma besta quadrada”. 

Eu, de minha “banda”, creio em todos os ditos citados. Não há dúvida que o riso é alentador e curador. Basta ver os Doutores do Riso, que vão aos hospitais e deixam um rastro de alegria e saúde por onde passam e comprovadamente pacientes reagem melhores aos tratamentos após os doutores palhaços.

Eu me socorro, diariamente dos sorrisos que a mim são dedicados e, principalmente, quando são verdadeiros. Entretanto, me comovo mais ainda quando o riso é de uma criança. Lembro cada sorriso de Polary, Pollyanne, de Segundo – quando pediu para usar brinco, aos 10 ou 11 anos -, de Jade e Larissa, agora todos crescidos, ainda quando os vejo verdadeiramente rindo me transporto e de certa forma fico mais calmo, mas sereno.

Porém, o sorriso dos adultos é um pouco tristonho, a mim, parece que carrega sempre uma pitada de amargura e desencanto. Como rir frente a tantas tragédias? 

Mas, nas horas em que desacredito na raça humana e vejo os sorrisos de uma criança, e principalmente, dos meus netos, aí, me apego ao fio fino de esperança que ainda me resta, toco a vida. Esqueço a VIVO que nos liga dia e noite oferecendo serviços, dos telefones do Procon que não me atendem, da Telecom que oferece um serviço de quinta, do Tapir e de sua brutal raiva dos mais humildes.

Ainda assim, não posso deixar de pensar que país estou deixando para estes inocentes sorrisos de Kaylanne, Aléssia, Enzo, Valentina e Lívia – que chega em julho -?

Portanto, não rio à toa, como se gás do riso tivesse provado. Eu vi um sorriso, o sorriso de Laura, filha de Priscila. Me bastou, fiquei leve. 

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O BRASIL PRECISA MUDAR DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS PARA O FERROVIÁRIO

Por Ricardo Valério

Um vídeo, que anda nos últimos dias circulando pela internet, impressionando a todos pela a sua grandeza de transporte de carga racional e econômica, é de um trem que viaja da China para a Alemanha através do Cazaquistão, Rússia, Bielorrússia e Polônia, numa distância de 10.214km. A linha férrea começou a operar no dia 13 de junho do ano passado, puxando 200 vagões, mas com previsão para suportar até 300. O tempo da viagem é de 14 dias. Se for por navio, leva cerca de 60 dias. São 4 motores para puxar os 200 contêineres. 

É um espetáculo de solução racional e exemplo a ser seguido pela nosso país. As autoridades não despertam para a necessidade de adotar no Brasil, nem que seja via uma PPP – Parceria Público Privada.

Vejam e compare com o Brasil. Somos país continental, potência mundial na produção e exportação commodities, líder econômico da América Latina, mas temos como opção estratégica equivocada, de fazermos mais de 60% dos nossos fretes via transportes rodoviários. 

Além, de ser caro e arriscado, o transporte rodoviário, tornam as nossas BRs mais perigosa e cheias de caminhões disputando espaços com carros de passeios e ceifando vidas. 

Temos fretes caríssimos e paramos um país por 15 dias, provocando um caos nacional, mas, o Governo continua inclusive testando a paciência do povo, numa política equivocada de aumento sistemáticos dos combustíveis, ao invés de aumentar a nossa produção interna de petróleo, estabelecendo a perversa política, de termos que nos sujeitar a acompanha a volatilidade dos preços internacionais do petróleo e do câmbio, sacrificando o povo e onerando nossos fretes e transporte de massa.

Mas, me causa espanto, nenhum Presidente da República até os dias atuais, nunca tiveram preocupado, com uma política de recuperação de fato e não só em intenções, da nossa malha ferroviária e aproveitamento do potencial intermodal que temos.  

Poderíamos ter no Brasil vias de integrações, entre as diversas formas de transportes viáveis: rodoviário, ferroviário e hidroviário, mas não aproveitamos nem os rios navegáveis que dispomos. 

Eis, mais de um motivo, dos nossos combustíveis caros e da perda de competitividade comercial brasileira, com Portos sucateados, estradas deterioradas e pedágios gravoso.

Como Economistas e cidadão, vou continuar insistindo, para que o Brasil, um dia desperte para necessidade, urgente, de troca do nosso sistema de transporte concentrado no rodoviário, pelo ferroviário e aproveitamento intermodal de cargas, interligando com as diversas formas de transporte, inclusive com nossos rios navegáveis. 

Econ. Ricardo Valério Costa Menezes 
Corecon-RN – 1336

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O PÂNTANO DA VENEZUELA

Paulo Afonso Linhares

            Há exatos 50 anos, causou inegável impacto o retorno a Caraúbas de um nativo que, segundo se dizia, morava num país bem distante – no “oco do mundo”, como redarguia Dona Rita Ferreira Linhares sempre que lhe falavam sobre o assunto – chamado Venezuela, onde, internado na selva braba, garimpava ouro. E foi justo o ouro que o rapaz trazia no próprio corpo, em configurações diretas: nos muitos dentes (de ouro), como era chique àquela época, que lhe valeu a alcunha de “Pedro Boca Rica”. 

            Causava positivo espanto, também, os avantajados e não menos reluzentes adereços de ouro maciço que usava sob forma de anéis, pulseiras e aquela grossa corrente que lhe adornava o atarracado e forte pescoço, sobre a qual o indefectível Jairo Bezerra, em mais um dos seus divertidos comentários, dizia ser capaz de “arrastar um caminhão e valer mais do que dois”.  O breve retorno do “Boca Rica” era para reverenciar a São Sebastião, na “Festa de Janeiro”, além de levar a esposa, uma das filhas do ferroviário Honório Gouveia, bem assim outros familiares seus para os confins da Roraima, de onde partia suas incursões em busca do ouro venezuelano. Embora o brilho de seus tantos ouros inda encham a memória de minhas retinas, nunca mais soube do paradeiro desse conterrâneo. 

            Vem à tona essa reminiscência quando o assunto, ou melhor, a crise de mais uma semana do governo Bolsonaro tem causa na atabalhoada operação de “ajuda humanitária ao povo da Venezuela” que armaram Jair e seu maluco ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sempre na esteira do igualmente falastrão Donald Trump que, a todo custo, deseja o petróleo venezuelano para, além de outras planejadas matanças, saciar a sede das grandes empresas petrolíferas norte-americanas chamadas “the new Seven Sisters”, segundo o Financial Times, a exemplo do fizeram no Iraque, na Líbia e onde mais houver petróleo que esteja na mira da “Big Oil” –  que é o nome que se dá a essas sete maiores companhias – e ao alcance da terrível máquina de guerra dos Estados Unidos da América.

            Nessa baboseira de “ajuda humanitária”, tudo só favorece aos interesses norte-americanos, sejam econômicos ou políticos: no primeiro caso, usurparão o rico “ouro negro” venezuelano, além de movimentar sua azeitada indústria bélica, caso haja algum conflito armado; no segundo, os EUA aumentariam sua presença na América do Sul, região tão menosprezada pelas políticas externas de sucessivos governos norte-americanos, democratas ou republicanos indistintamente, tudo para colimar o antigo desejo do Tio Sam de chantar em países amazônicos bases militares suas. Ressalte-se que recentemente, tanto Jair Bolsonaro, logo que empossado como presidente da Republica, quanto seu ministro Ernesto Araújo, ofereceram de bandeja aos norte-americanos a instalação de um base militar em território brasileiro. Diante da imediata reação por parte de militares brasileiros, inclusive do vice-presidente, general Hamilton Mourão, a ideia estúpida e antinacional foi arquivada, por enquanto.

            O inglês Lord Palmerston, Henry John Temple, 3º Visconde dePalmerston, ex-primeiro-ministro e antigo ministro dos negócios estrangeiros da Grã Bretanha, na era vitoriana, foi quem primeiro deu interpretação pragmática sobre os interesse de um Estado na ordem internacional: “Nations have no permanent friends or allies, they only have permanent interests.” Numa tradução livre, “nações não têm permanentes amigos ou aliados, elas têm somente interesses permanentes”. Charles de Gaulle e Henry Kissinger, ex-presidente francês e ex-secretário de Estado norte-americano respectivamente, cada um a seu tempo e com algumas poucas variações, repetiram o pensamento “realpolitik” (ou de “interessenpolitik”) do Lord Palmerston, que se tornou um dos mais assentados paradigmas nas relações internacionais neste último século. Neste mesmo rumo, também, tem razão a médica canadense e presidente internacional da organização humanitária  Médecins Sans Frontières ( Médicos Sem Fronteiras, como dizemos por aqui), Drª Joanne Liu,  quando diz que “Nações não têm amigos; elas têm interesses. A melhor motivação para um Estado agir, se estiver longe de uma epidemia, é se a sua própria segurança estiver em risco.”

            Diante disto, cabe indagar quais os interesses do Brasil nesse imbrógliovenezuelano, já que os do Tio Sam estão bem claramente postos, como os que possam traduzir a subserviência canina do Brasil à política externa norte-americana na versão de Donald Trump, “the Tangerine Man”. Ou, como diria o filósofo caraubense Zé da Pata, o Brasil, nessa orientação de sua política externa, “tá engolindo corda, feito cacimbão”. Em suma, ademais de quebrar toda uma tradição de competente diplomacia que remonta ao Barão do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos Júnior, diplomata, advogado, historiador e político brasileiro, que conseguiu a façanha de ter exercido o cargo de ministro das Relações Exteriores de quatro presidentes da República: Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca. 

            Habilíssimo diplomata, o Barão do Rio Branco empreendeu negociações com outros países cujas fronteiras com o Brasil suscitavam de soluções. Os tratados que ele negociou com a Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Peru, Uruguai, Argentina e Guiana Holandesa definiram os contornos do território brasileiro, merecendo destaque o Tratado de Petrópolis, de 1903, celebrado com a Bolívia, que permitiu a incorporação do território que se tornaria o atual Estado do Acre, ao Brasil, o que rendeu a Rio Branco a grande homenagem de ser o nome da capital acreana.

            Certo é que o ideário e exemplo de Rio Branco, passaram a balizar a diplomacia brasileira e a influenciar, até hoje, o relacionamento do Brasil com outros países, segundo preceitos em boa hora cristalizados no artigo 4º da Constituição Federal: “Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:I –  independência nacional;II – prevalência dos direitos humanos;III – autodeterminação dos povos;IV –  não-intervenção;V –  igualdade entre os Estados;VI –  defesa da paz;VII –  solução pacífica dos conflitos;VIII –  repúdio ao terrorismo e ao racismo;IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;X –  concessão de asilo político.Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.”

            Ademais de impor uma absurda e descabida reorientação da política externa brasileira que toma por base a ideia falsa de que, nos governos petistas, ela se pautava por questões ideológicas, inclusive, no tocante à Venezuela, o fanatismo político que, por inspiração do guru Olavo de Carvalho, impregna gravemente o presidente Bolsonaro e seu auxiliar Ernesto Araújo, levando-os  a defender um firme atrelamento do Brasil à atual política exterior norte-americana, o que desconsidera por completo a existência dos preceitos de regência das relações internacionais contidos no citado artigo 4º da Constituição da República.

            A crise da Venezuela se agudiza. A posição do governo brasileiro, pautada por incabíveis questões ideológicas, é errônea e poderá acarretar graves danos ao Brasil, nem tanto econômicos, mas, eminentemente políticos. Em suma, o Brasil pode deixar de exercer forte liderança e de ser o mediador privilegiado de conflitos entre países sul-americanos, para se tornar mero vassalo dos norte-americanos na América do Sul. Aliás, repita-se, a America Latina não desperta quase nenhum interesse por parte dos EUA, salvo a Venezuela que detém uma das maiores reservas de petróleo do planeta. Lembre-se novamente que países não têm amigos, mas, interesses. Foi por isso que, na Guerra das Malvinas, em 1982, o governo dos Estados Unidos da América fez tábula rasa da vetusta doutrina Monroe (“América para americanos”) e apoiou a Grã-Bretanha contra a Argentina.

            Sem dúvida, Maduro tem fortes pendores antidemocráticos e antirrepublicanos, mas, é ilusão pensar que a despeito de todos os percalços econômicos e políticos por que passa o seu país, que ele não tem o apoio da maioria da população venezuelana e o mais importante: contabiliza em seu favor as forças armadas que, diante dos esbirros intervencionistas de Donald Trump, que também instrumentaliza os vizinhos Brasil e Colômbia, tende a se unir mais em torno de Maduro por simples ‘impulso nacionalista’. Neste momento, somente ocorreria uma queda de Maduro se os militares fossem divididos.

            Outro fator de enorme preocupação é o aparecimento, na América do Sul, de três grandes aliados internacionais de Maduro – Rússia, China e Turquia – que poderá garantir um equilíbrio de forças. Se o cenário da Venezuela continuar a evoluir para confrontos armados externo, é quase certo que russos e chineses vão ‘bancar’ a máquina de guerra venezuelana, a exemplo do que, hoje, ocorre na Síria, onde a aliança militar do ditador Bashar Hafez al-Assad com Moscou não apenas tem garantido sua permanência no poder, mas, proporcionado-lhe importantes vitórias militares.

            Doutra parte, merece frisar o quão ridículo tem sido o reconhecimento por vários Estados do governo de Juan Guaidó, o tal “presidente encarregado” da Venezuela, segundo o ministro brasileiro Ernesto Araújo. Ora, é bem certo que não se pode dizer que Nicolás Maduro seja um ditador, como vocifera a imprensa de muitos países ocidentais, inclusive, a do Brasil. Embora a base legal da sua eleição e outras piruetas jurídicas de que tem lançado mão mereçam veementes restrições, fato  é que Henri Falcón, candidato da oposição que obteve 21% dos votos válidos (equivalente a 1.820.000) não apenas participou do processo eleitoral como igualmente deu-lhe validade, mesmo que não tenha reconhecido a vitória do seu adversário.                        

            Aliás, a exigência maior dos países da União Europeia é a realização de novas eleições, cuja aceitação poderá ser a carta na manga de Maduro, para baixar a temperatura política. E o mais inusitado poderá ocorrer: um processo eleitoral ‘clean’, democrático e supervisando por entidades internacionais confiáveis e com a presença de observadores do mundo inteiro, certamente terá Maduro como vencedor, caso seja candidato. Goste-se ou não dele, mas, ainda é lastimavelmente a grande liderança política venezuelana. E aí, como fica? Haverá um impasse mais profundo, a ser resolvido pelas armas. 

            Nada disso existiria, contudo, fosse respeitado o direito de autodeterminação do povo da Venezuela e banida qualquer modalidade de intervenção externa, humanitária ou interesseira, naquele país. São os venezuelanos que devem resolver os seus problemas, aconselha o sensato vice-presidente do Brasil, general Mourão. Mesmo porque é sabido que um conflito armado naquela região amazônica pode afetar todo o Cone Sul. E ninguém pense que sairá fácil e ileso de uma aventura naquelas selvas, que podem ser um pântano tão perigoso quanto foi o aparentemente frágil Vietnã, há seis décadas, quando a maior máquina de guerra do planeta foi fragorosamente derrotada por homenzinhos que portava pontiagudos talos de bambu. É a História a dar lições.