Procura-se

Escritor Abraão Gustavo 

            Nunca imaginei que anunciaria, no jornal, na Tv, nos meios de comunicação, a busca incessante por você. Faço isso porque você tem carinho pelo meu estilo, pelo meu rosto. Quantas e quantas vezes ele me fez enxergar a vida de uma maneira diferente. Clareou minha visão, me fez enxergar os tropeços que a vida me apresentava; na chuva, como qualquer outro, você me ferra; no trabalho, você me ganha; de noite, eu te deixo; mas pela manhã, somos inseparáveis. Você já impediu minha cegueira muitas vezes, meu amor. Com você pude enxergar as miudezas da vida. Sem você sou apenas um cego, em um tiroteio, sem rumo. Na falta da sua presença o prejuízo é grande, com antirreflexos, ou filtros azuis, você faz meu dia mais feliz. Compreendo que, como todos, você precisa de limpeza e manutenção, nada na vida dura para sempre, eu sei. Mas não tem necessidade de você desaparecer assim, sem mais nem menos. Sei que o mundo é líquido, mas você não ficou nem dois meses na minha vida é já desapareceu sem justificativa. A última vez que nos vimos parecia que você tinha gostado de mim. Foi por um leve descuido que você sumiu sem avisar. Não sei se você já tem alguém. Ou se já está acariciando o rosto de um ou uma qualquer. Mas volte, prometo ter mais cuidado com você, prometo prestar atenção nos sinais que você dá. Venho agora falar com meu amigo leitor. Ele é redondinho, tem armação de tigre, bem moderna, a última vez que tirei a foto em família ele estava lá. Se alguém souber o paradeiro, por favor, entrar em contato, já procurei nos achados e perdidos, nas gavetas de casa, nos armários, em cima da mesa, na casa de amigos, já liguei para motoristas de aplicativo atrás dele, já refiz meu caminho para tentar achá-lo. Só penso uma coisa:        

Quem está com ele, que devolva o mais rápido possível: meu par de óculos de grau.

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