Artigo

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Nem só de pão vive o artista

O grande @hermetopascoal, o gênio da “raça” publicou em sua página oficial do Instagram uma caricatura assinada por mim, o que já fizeram outros artistas não menos importantes: a bela negra Zezé Motta; o paraibano Chico César; o Nando Cordel; o sambista Luiz Ayrão; Raimundo Fagner, que às 5h da manhã me passou uma mensagem por WhatsApp elogiando a caricatura e se pondo à disposição, outros ícones da arte que agora não consigo acionar minha raquítica voluntariosa memória, dentre muitas outras pessoas que não orbitam o mundo das artes.

Isto é o que, de fato, traz um pouco de paz, alento e importância e satisfação íntima, afago e felicidade à alma.  Sei que alguns perguntarão “e o dinheiro não importa?” Ora, dinheiro é o dinheiro e pode comprar tudo que é visível, e quando pode, compra. Logo o dinheiro é importante para se comprar o que ele pode comprar. 

Mas voltando ao prazer do artista. Não tenho dúvidas que o dinheiro não está nas primeiras linhas e não é o objetivo principal, não que artista não deva ter, querer e precisar de dinheiro, ao contrário a arte deveria ser muito bem remunerada, porém, isto é outra história. Lembrando aqui uma cena que ficou tatuada na memória, um cantor na calçada do shopping MadWay – Natal/RN – dedilhava seu violão soltando a voz apenas para uma criança sentada no chão o ouvia atentamente. Não me causaria espanto algum se aquele músico que ao final de sua apresentação enfiasse sua viola no saco e tivesse sido sua plateia apenas aquela garotinha, certamente, estaria ainda, com o peito acarinhado, pois sua música, sua arte alcançou outro coração, pois é sabido por todos que arte é para emocionar. 

O solitário músico é o cantor e compositor Alan Persa, que hoje, arrasta milhares de pessoas para ouvir e encantar “nosotros” potiguares. “Não importa o tamanho da plateia, faça sempre o seu melhor” – @alanpersa

De volta às vacas magras. Claro, que o afago destes ícones das artes me deixa envaidecido e grato, por um lado demonstra que eles além de serem o que são, também são seres humanos que como nós têm sentimentos e gostos, podem tomar um sorvete de baunilha na praia, como da mesma forma gostar de uma caricatura desenhada por um cabeça chata, vindo lá dos cafundós do principado de Baixa do Chico – Afonso Bezerra/RN.

Ah! E se você é um dos que acredita que isto é pouco, espere para ser elogiado por Hermeto Pascoal ou outro mostro sagrada das artes, cultura, e então, rejeite.

Brito e Silva – Cartunista

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Solidão

Nunca tive medo da solidão, pois acredito que a pior solidão é aquela acompanhada, aquela solidão da falta do só na multidão. Mas a minha solidão é a do silêncio do mundo, daquela de ficar sozinha com minhas ideias, graças a Deus tenho um grande amor para chamar de meu – como digo sempre meu Brito – com quem aprendi a segurar a mão e não soltar, com ele aprendi que amor e solidão se completam, nós dois gostamos da solidão. Por vezes o vejo perdido em seus pensamentos no escritório, sozinha, talvez não, mas concentrado em turbilhões de ideias, pensamentos e imagens para desenhar ou escrever.

Gosto da solidão. Talvez por ter sida criada em uma casa com vários irmãos, e pouca vezes ou quase nunca conseguia ficar sozinha no silêncio, curtindo a solidão das madrugadas tantas ensejadas por mim, para estudar ler, escrever, ouvir uma música baixinha quase sussurrando como a brisa que sopra do mar.

Minha solidão é acompanhada, muito bem acompanhada. Ficar “sozinha” para organizar minhas ideias, forjar inspiração para pintar, escrever, desenhar. Sempre gostei de dormir cedinho, no máximo às 19 horas, para ceder ao silêncio da madrugada me reclama, a temperatura baixa não esfria, ao contrário aquece minh’alma, a solidão das ruas que entra pela janela, uma energia que brota de dentro para fora, me acompanho de mim mesma e dos pensamentos, me perco e me acho olhando a paz do céu escuro onde as luzes da cidade escondem os mistérios do infinito.

Na solidão da alvorada, trabalho nos meus livros, lê-os respirando a paz, as orações se mostram mais fluídas, a conexão parece mais rápida, não sei explicar.
Logo ali, ao lado, tendo alguém para despertar e juntos embalar o sonho da solidão de quem escolhemos a nós acompanhar na jornada.

Socorro Brito

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Ela partiu

Há muito tempo ela chegou na minha casa, novinha, cheirosa, linda, confesso que foi amor à primeira vista, ainda mais quando se propunha a fazer a parte mais cansativa da casa. 

Minha nova secretária era perfeita, fazia tudo com muito esmero, e eu fui assim me apaixonado, a casa serviço eu ficava mais agradecida, depois eu vi que não era só gratidão, minha secretária era perfeita, a melhor que uma dona de casa pode ter, sempre limpinha, não importa suas curvas, que para falar verdade, foi bem desenhada, era o máximo.

Passávamos horas e horas eu e ela, ela e eu. Eu precisava de seus cuidados e ela estava ali, sempre pronta, mas ultimamente vinha dando sinais de insatisfação, cansaço já não mantínhamos mais a mesma conexão, não da minha parte, por vezes eu não nos desentendíamos. Seus afazeres estavam deixando a desejar, tentei um carinho, dei um melhor cantinho, porém, não surtiu efeito algum, emburrada não queria conversa. Devo reconhecer que tenha sido negligente, talvez precisasse de cuidados mais especiais, mais carinho, porém ontem, foi a gota d’água: ela me revelou que já não aguentava mais essa e partiu me deixando na maior tristeza.

Hoje entendo Belchior e a relação dele com sua “madame Frigidaire”. Pois é, hoje me vi tão sozinha vendo aquela porção de roupas jogada esperando outra a me ajudar.

Minha máquina de lavara roupas Eletrolux partiu, deixou meu coração partido, meus braços mais ainda doloridos.

Não sabe ela, que foi um dos melhores presentes que ganhei nos últimos anos 

Vá em paz minha máquina Eletrolux.

Socorro Brito

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Pingo de Mei Dia

“Não troco meu oxente pelo Ok de ninguém”, frase do grande mestre, que não carece de apresentações, o dramaturgo paraibano Ariano Suassuna, que a formulou como uma espécie de desabafo e um apelo à reflexão a nós nordestinos e brasileiros no trato com nossa arte, cultura, língua e nossa identidade.

Ariano parece conclamando para que nós pudéssemos olhar um pouco mais para interior: tanto o pessoal como geográfico, nosso torrão, para vermos que são nos rincões, grotões, povoados de chão batido que a cultura, a identidade do povo nordestino borbulha: Pastoril, Boi de Reis, São João (com fogueiras), o cordel, os cantadores de viola, emergem sem o marketing, sem as redes sociais, sem os chamados “agitadores culturais”. Porém, na verdade muitas das vezes, ou quase sempre, puxadas por brincantes analfabetos que apenas queriam (querem), de algum modo, expor suas emoções, uma forma de extravasar, exorcizar suas angústias, suas dores da vida sofrida na labuta diária e, por uma fração temporal exibir um sorriso no rosto.

Ariano era intransigente na defesa da arte da aldeia, quer dizer, da cultura popular isto está refletido em suas obras: literatura, desenhos e em falas à imprensa, nisto todos concordam. Mas, existe aqueles que o acusam de radicalismo. Ora que seja. Se faz necessário mais empenho, mais valia na defesa da arte popular. Arte tem que ser generosa, não sufocante e sufocando outra.

Na minha época de menino e toda minha adolescência lá na rua Augusto da Escócia, nº 49, nos Paredões, em Moscow, a gente se reunia para ouvir Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Trio Mossoró, Trio Nordestino, além Chico, Caetano, Gil, Elizete Cardozo, Nelson Gonçalves Francisco José… Ouvi Apelo e Gente Humilde lá em casa numa radiola ABC – Elizabeth V -. A gente ouvia forró forró: sanfona, zabumba e triângulo, hoje chamado “forró pé de serra”, que aparentemente faz um esforço monumental para continuar existindo, ao contrário do chamado “forró de plástico” – cunhado, se não me falha a memória e ela quase sempre falha, por Chico César – onde há uma pressão estrutural e financeira se impondo para catapultá-lo às alturas em detrimento do forró tradicional.

Claro, que a humanidade evoluiu, continua seu fluxo e tudo faz parte do processo. Evoluímos em todas as áreas, isto não quer dizer que melhoramos, em algumas até pioramos, entretanto isto, é outra discussão. A impressão que dá é que o “Forró Pé de Serra” agoniza e tem seus dias contados. É preciso a valorização da nossa arte, nossas tradições, nossa identidade, claro sem radicalismo ou preconceitos. O grande Jackson do Pandeiro queria misturar chiclete com banana, mas depois que o Tio San tocasse tamborim, assim também como fez meu amigo Jaques Cassiano – um grande cartunista mossoroense, que para nossa frustração não quer mais desenhar – essa montagem com os “Garoto de Liverpool”, talvez saindo de uma entrevista ao amigo Togo, para o jornal De Fato e, indo relar o bucho no Pingo do Mei Dia, é preciso um pouco mais de ousadia de todos com a cultura regional.

Bom, mas quem quiser que fique com seu “plastificado”, prefiro um bom forró pé de serra: “Santo de barro, santo pequenino, desde menino…”. Viva o Nordeste, viva Mossoró, viva o Pingo de Mei Dia.

Brito e Silva – Cartunista

PS: Um show do cantor de forró Flávio José foi reduzido para ceder espaço para o sertanejo Gustavo Lima.

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Abril é o monster!

Longe de mim ser supersticioso e muitos menos acreditar em coisas do além. Entretanto, em sexta-feira 13 não passo embaixo de escadas nem por cem e uma cocada preta de rapadura Cariri, se o segundo que se aproxima ventila a possibilidade de um gato preto cruzar meu caminho, logo mudo a direção e se isto for impossível fecho os olhos; também não ando em casa mal-assombrada, morro de medo de alma. Todos sabem que é melhor prevenir que remediar, assim sendo, arriscar não é preciso, né não poeta?

Digo e reafirmo não acredito nessas “besteiras”. Mas carrego sempre comigo uma figa e uma folhinha de arruda no bolço esquerdo da calça e uma moeda do último dinheiro que recebi, não é por nada não, mas como diz a moçada “vai qui…”. E cá pra nós, têm alguns meses do calendário gregoriano que me trazem uma felicidade danada, abril é um deles, talvez o maior, talvez não, seguramente é o maior deles. Em 27 de abril nasceu minha filha mais velha Pollyanne Brito, 29 sua filha, minha neta Valentina; Jade Brito no 23, meu neto mais novo, João Miguel em 24 de abril e uma outra filha do coração, Priscilla Cibelle, que faz párea com Jade, também sua filha Sarah que veio ao mundo em 4 de abril, sem falar do 5 que é aniversário do meu genro Roberto. Para mim, não poderia ser um mês mais alvissareiro, repleto de sorrisos e alegrias esborrotando por todos os lados.

Pois muito bem, pensei que abril já havia esgotado suas benesses comigo, ledo engano, me aparece o cartunista Joe Bonfim – desenhista potiguar que mora na França há 34 anos – acompanhado de outro grande chargista Brum, me convidando para fazermos uma coletiva na Aliança Francesa e, assim se fez. Em uma semana pulsemos a exposição na parede da Aliança. Na primeira reunião conheci Ernesto Guerra, diretor da AfrNatal onde ao sabor de um cafezinho feito por seu Ranulfo com assistência luxuosa da secretária Irlanda criou-se a ideia e no nome da exposição “Un Pour Tous…E Todos Por hUMor” uma referência direta ao clássico ao slogan do romance do escritor francês Alexandre Dumas, no seu livro “Os Três Mosqueteiros”, que tem como protagonistas os espadachins Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan, porém, nosso slogan é muito mais modesto e em bom português seria “Um por todos e todos por humor”, lá fomos nós de lápis em punho. Como “Os três Mosqueteiros” que são quatro, também fizemos nossa “trinca” de quatro: Brito, Brum, Bonfim e Ernesto, nosso D’Artagnan. Vivas para abril, ao Brum, vivas ao Bonfim, vivas para Ernesto, vivas para o cartum potiguar!

Que os outros 11 meses não me escutem: mas, abril é assim, é o monster!

Brito e Silva – Cartunista

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Brasil no jogo global

Nos últimos dias vi muitas críticas sobre a viagem do Presidente Lula à China. Muitas ilações, muita inveja, muita má fé e muitos expondo o sentimento de viralatismo aguçado.

Meu entendimento sobre política internacional e suas nuances não é maior nem menor que o mesmo sobre física quântica ou engenharia espacial, isto é, porra nenhuma. Entretanto, não se faz necessário ter lido a Enciclopédia Britânica, para tecer opinião positivista sobre a ida de Lula ao país oriental, sem alinhamento ideológico, porém puramente com agenda de interesses nacionais do povo brasileiro.

Além, do que a imprensa – que fazia figa para um fracasso colossal, que Lula desse com os burros n’água – já disse, os efeitos suplantaram as fronteiras de Brasil/China e bateram às portas da Casa Branca. Analistas, comentaristas e cientista políticos das redes de tvs brasileiras diziam que após as falas de Lula sobre a guerra da Ucrânia/Rússia os Estados Unidos estavam emburrados, “beiçudos” e poderiam até fazer um “boicote branco”, isto é, ficarem retardando alguns acordos firmados na ida do Lula a Biden, como por exemplo os US$ 50 milhões prometidos para o Fundo da Amazônia.

“Tio San” ao saber que a China, por ser um dos países mais polidores do mundo, ter demonstrado interesse na produção de carbono verde brasileiro, não só reafirmou o compromisso do aporte financeiro para o Fundo Amazônico, que seria de US$ 50 milhões, mas também sinalizando ampliação para US$ 500 milhões o qual o Presidente Joe Biden anuncia hoje e enviará medida ao Congresso americano.

Resumo da ópera: no tabuleiro global cada país tem que se postar com altivez e soberania defendendo os interesses de seu povo, claro, respeitando as regras e as normas de condutas impostas a todos. E é isto o que assistimos agora, o Brasil no jogo global com o Presidente Lula.  

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15 de abril – DIA MUNDIAL DO DESENHISTA

O 15 de abril de 1452, vinha à luz em Anchiano, um vilarejo da comuna – município de Vinci, na Itália, o grande Leonardo da Vinci – que não precisa de apresentação – e para nós foi dado a data do seu nascimento para comemoramos o Dia Mundial do Desenhista como prêmio de consolação, talvez os idealizadores do feito, pensaram empoderar os “rabisqueiros” do planeta, deu certo: me sinto o próprio Leo. Calminha aí velho Brito, menos. Brincadeirinha.

 Em junho de 1979 pisei pela primeira vez no solo sagrado do jornal Gazeta do Oeste – o qual cometeram o sacrilégio maculando-o fazendo um estacionamento para veículos – onde de prima conheci o baiano Eugênio Ramos, que desenhava, escrevia, diagramava, fotolitava – não lembro se imprimia também – no jornal fazia de tudo, bastava alguém não ir trabalhar. Pois muito bem, com ele fiz meus primeiros rabiscos publicáveis logo depois outro gênio entrou em minha vida, o Laércio Eugênio Cavalcante – meu irmão camarada – cartunistas com quem aprendi um bom bocado, sem falar de Edmar, Emanuel e porque não dizer do “menino” Cláudio Oliveira? Sim, Cláudio também é responsável.

Certa vez o jornalista Canindé Queiroz, dono da Gazeta do Oeste, trouxe de São Paulo um livro do cartunista cearense Mendez, que se não me falham o “tico e teco”, publicava entre outras, na revista Manchete, um livro de caricaturas para mim, nele tinha – tem – uma genial caricatura de Milton Nascimento a qual foi determinante para que eu seguisse desenhando. No ano de 2022, por ocasião dos cem do seu nascimento, o escritor e historiador cearense, Levi Jucá fez o primoroso livro “Mendez – Mestre da Caricatura”, convidou 100 cartunistas para homenageá-lo com uma caricatura, tive o prazer de ser um deles.

Ano passado, 2022, na Edição Especial da Revista Huai, editada pelo jornalista/cartunista Edra Amorim, traz 90 desenhistas homenageando o grande Ziraldo, em seus 90 anos, eu também estava lá, que dizer estou. Também, em 2022, minha caricatura consta nas páginas do livro Darcy 100 anos – Caricaturas -, por ocasião de 100 anos do nascimento do antropólogo e político brasileiro Darcy Ribeiro, organizado pelo jornalista Jal e o Memorial da América Latina.

Já participei e participo de vários festivais de cartuns mundo afora. Na Argentina, em 2016, ganhei o Prémio de mérito proeminente. Em 2020, o presidente Jair Bolsonaro – desculpem o palavrão – quis processar o chargista Aroeira, cartunistas do Brasil inteiro se mobilizaram nas redes sociais replicando a charge, causadora da ira do “Alma Podre”, cada um a seu estilo e, ganhamos o Prêmio Vladimir Herzog de 2020 – 42º Prêmio Jornalístico Vlademir Herzorg, prêmio coletivo na categoria Prêmio Destaque Vlademir Herzorg com “Charge Continuada”.

Além de inúmeras exposições de charges, cartuns e caricaturas, como a última na Aliança Francesa “Um Pour Tous…E Todos Por hUMor”, que ficará até 12 de maio, com os amigos cartunistas Joe Bonfim e Brum, o que quero dizer com isto? Ora, que “Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco sem parentes importantes e vindo do interior”, mas que também dou minhas “cacetadas”, quer dizer, faço meus rabiscos. Obrigado, a Leonardo Da Vinci por ser o patrono do Dia Mundial do Desenhista. Viva o desenhista brasileiro, viva aos desenhistas potiguares.  

Brito e Silva – Cartunista

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Não entendo nada do borogodó

“Não conte com Dedé – assim que minha mãe me chama – para fazer essas coisas, ele é meio desajeitado”, isto era minha uma salvaguarda para permanecer no fundo da rede. Mas, não era preguiça não, era pura falta de tato com as coisas domésticas: Não sei apertar um parafuso com a furadeira Black Deck, colocar uma lâmpada é um vexame. Logo cedo me convenci de não ter entrado na fila dos dotados de habilidades para serem um bom “Marido de Aluguel”: sou uma negação, uma tragédia nas coisas do cotidiano doméstico.

Lembro quando comprei minha moto MZ250, incentivado por Claudino – meu parceiro de jornal Gazeta do Oeste, ele nas lentes eu nos rabiscos e diagramação – também dono de uma MZ250, a caminho de casa na Abolição II em frente a fabrica de castanhas a moto pifou, acionei meu celular tijolão e lá se danou Claudino a me socorrer, o sol a pino daquele jeitinho que a gente olhava em direção a pista avistava-se carros, aviões, jumentos, cavalos via-se até o “Galego”, isto é, Ricardo Lopes surfando na Praias das Manuleas, em Tibau. Porém, na verdade eram apenas miragens sob o sol escaldante da Terra de Santa Luzia. Retirando suor de sua reluzente careca com cara de poucos amigos, esbraveja “Porra Brito, você me fez vir lá do Alto Manoel para tirar você do “prego” e é falta de gasolina?”, ainda assim, me rebocou uns 50 metros até o posto de Zé da Volta na lateral da fábrica.

Outra vez, depois de fechar a capa do jornal, isto lá por umas 12h30, entrei no meu Fiat 147, liguei o toca fitas Roadstar, dei o play e estéreo põe-se a soar “La Vie En Rose” com Grace Jones, ao passar pelo Banco Mossoró, o possante fica “puxando” para um lado, até que um motoqueiro, educadamente, pronuncia “o pneu tá furado, mané”, pronto empurrei o carro para estacionado rente a calçada da Livraria Nordeste, fui-me a caminho do Tele-Táxi fazer uma corrida com Dedé Galego. 

Não vou me alongar, apenas me ater no acontecido hoje, 9 de abril de 2023, claro, existem outras mais vergonhosas. Por volta das 3h, sob uma chuva muito forte aqui na capital potiguar, ouviu-se um estrondo, a energia, talvez com medo do furioso Zeus, se mandou. Eu, Maria e João Miguel sem ventilador ficamos a mercê do ataque de muriçocas ferozes que a todo custo queriam chupar nosso sangue. Firmes, permanecemos de olhos abertos esperando sol raiar, e raiou carrancudo e rabugento como sempre, entretanto, nada de energia.

Às 11h, depois de João se lambuzar até os cabelos com ovo da páscoa Maria decidi ligar para Cosern, eu buscava na agenda um engenheiro elétrico, quando surge o vizinho no portão, perguntamos como estava se virando sem energia, “não, lá em casa tem energia”, vocês já olharam os disjuntores? O medidor? Uníssonos: Não!!!

Corremos para o medidor, ligamos a chave e fez-se luz. Em verdade vos digo: não entendo nadica de nada do borogodó caseiro e, já desisti de tentar.

Brito e Silva – Cartunista 

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Envelhecer

Por Socorro Oliveira

Envelhecer, ah! Um tema as vezes contraditório, tem as suas vantagens maiores que as desvantagens. Eu respirava tudo que inspirava das mais recatadas à outras nem tanto. Era estabanada, falava o que vinha as ventas, sem pensar, criticava a troco de nada, e nem sempre a crítica era construtiva, uma das características que enterneci, hoje paro, penso se vale apena à crítica, botar pra fora palavras sem refletir primeiro.O envelhecer traz um pacote de mazelas é certo, sim físicas. “Não se pode ter tudo no mesmo pacote”, mais a questão espiritual melhorei muito. De tudo quanto a velhice me trouxe o que mais me incomoda, além das dores, é o craquelar da pele e muitas vezes a falta de mobilidade, nunca fui de me embelezar, claro que toda vaidade é da natureza feminina, porém sempre achei melhor malhar o cérebro do que o corpo, o branquear dos cabelos é outro enchimento de paciência, se fosse um método de salão, ficar branco de uma vez só, eu até enfrentaria, mais não, todo dia, um fio por vez. Detesto salão, nunca gostei do puxa-puxa, do tira e bota, e principalmente, das banalidades das dondocas que se acham a última bolacha do pacote, desnecessárias e vazias.Uma coisa a maturidade não me tirou; me encheu a paciência, não me agradou mando se lascar em alto e bom som, em letras grandes e garrafais.As vantagens disso tudo é uma maturidade, um enxergar além das entrelinhas, é o observar a vida no dia a dia, e errar menos, apesar do erro continuar, pecar muito mais por emoção do que por ação, ficamos propício a sentir as dores do próximo e as novas nossas, é claro. Observo, que não podemos parar de se movimentar, pra se ter mais mobilidade, adiar o entrevamento ao máximo, pois a máquina fica enferrujada, embora no final do dia chegue à “conta” dessa agilidade.Bom dia vou ali cuidar para não enferrujar.

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Café amargo

Por Socorro Oliveira

Nem sempre os olhos refletem a alma, com o tempo aprendemos a controlar os sentimentos, não deixar transparecer o que vem na mente no momento, assim como o corpo nem sempre demonstra as dores que se sente.Venha, sente, vamos bater um papo de alma, não se preocupe minha consciência é um baú de chaves secretas, enferrujadas por causa das intempéries da vida, tomemos um café, o meu é forte e amargo, – minha tia costuma dizer que de amargo já basta a vida – não se sinta constrangido de não gostar do sabor amargo, assim como o café temos nossas amarguras e frustações.Não se envergonhe de largar o fardo que te corcova, que te faz lagrimejar, eu também choro de vez enquanto, quando as barreiras criadas não suportam o desague, não gostou do café mesmo adoçado? Te faço um chá, sou boa anfitriã gosto de fazer a pessoa se sentir à vontade, como se estivesse no seu habitar.Sim, a vida está bem mais difícil. Porém, isso não lhe dá o direito de ser tão amargo, deixe isso para meu café, o sol lá fora parece não amenizar a frieza dentro de você, eu sei, não precisa me dizer, um espirito de luz falou que tudo passa, isso também vai passar.Quer almoçar comigo? Vou fazer uma torta, minha especialidade, todos gostam, ou fingem gostar, eles são como os pensamentos, uns agradáveis outros não, posso servir um suco de maracujá, acalma os nervos, dizem que nos faz dormir.Ontem, estives-te presente em meus pensamentos: lembrei-me de dias inocentes de nossa infância lá no bairro Alto da Conceição, em Mossoró, de quando corríamos descalços, eu só de calcinha e você meu irmão Eguismar, com suas traquinagens, às vezes tirava o calção e saía nu com ele na cabeça, lembra? A calçada era nosso parque, as brincadeiras nos deixavam cansados sem pensar na vida que iriamos ter, só vivíamos e assim adormecíamos felizes.Precisamos nos ver com frequência. Um pouco mais de café?

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Guimarães Rosa

O complexo de vira-lata impende nosso Nobel

“Carta aberta à Academia Sueca: por um Nobel póstuma a Guimarães Rosa”, artigo do escritor Wander Lourenço veiculado na Revista Bula, em 30/01/2023. Embora muitos possam denominar que a “carta aberta à Academia” seja mais uma reclamação ou uma proposição descabida, não levam a sério e são impedidos de imaginarem que, por “injustiça”, ou talvez até, acreditem que não temos competência para um Nobel. 

Será que os elencados no texto, entre tantos outros brasileiros, não tenham predicados, bagagem literária para tanto?

Será que nossa fauna de 2013 milhões de brasileiros, culturalmente, seja tão pobre, tão estéril que não consegue produzir algo consistente capaz de um Nobel? A América Latina tem seis Nobel de Literatura: Gabriela Mistral (Chile), Miguel Ángel Asturias (Guatemala), Pablo Neruda (Chile), Gabriel García Márquez (Colômbia), Octavio Paz (México) e Mario Vargas Llosa (Peru).

O texto me fez lembrar do General Ozires Silva – fundador da Embraer – no programa Roda Viva no qual comentou sobre um jantar que participou em Estocolmo/Suécia, no qual três membros do Comitê do Nobel também estavam presentes e, um deles sentou ao seu lado. E Ozires perguntou o porquê do Brasil não ter um Nobel, seu interlocutor desconversou, não respondeu.

Segundo o general, depois de algumas doses de Vodka, um deles decidiu responder: “Vocês brasileiros são destruidores de heróis”. Ozires Insistiu: Por quê? “Todos os candidatos brasileiros que apareceram, contrariamente aos dos outros países, mais particular os Estados Unidos, quando aparece um candidato brasileiro, todo mundo joga pedra, do Brasil. Não tem apoio da população, parece que o brasileiro desconfia do outro ou tem ciúmes do outro. Sei lá o que acontece”.

Nosso complexo de vira-lata – se é que temos – prejudica nosso Nobel? Viva Guimarães Rosa! Vivas à literatura brasileira!!! 

Brito e Silva – Cartunista

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“Corredor da Morte”

Outro dia um amigo, estava festejando o aniversário de sua mãe que já tinha partido em sua última jornada. Lembrei-me do filósofo Cortella – espero que tenha sido ele mesmo, às vezes minha memória me prega peças: certa vez chamei Jesus de Genésio, claro, estava sob efeito etílico – que “você só morre quando é esquecido”. Concordo plenamente.

Quem já não ouviu “você morreu pra mim?” Quando se diz isto, certamente, não se está sentenciando esta pessoa literalmente postar-se a sete palmos de terra, mas, ao esquecimento. Portanto, você, eu, todos nós morremos em vida para quem nos deseja, como também sepultamos nossos desafetos.

E isto é preciso para continuarmos a seguir, haja vista que o tempo só flui numa mesma direção: pra frente. Na verdade, esta divisão do tempo em passado, presente e futuro é mera ilusão de “nosotros”. O passado, como você não pode efetivamente caminhar por ele, se assim o fizesse não seria passado e, sim presente, guardamos o que passou em um baú de lembranças e, certamente, devo ter em algum lugar esquecido, um baú de ossos de pessoas que morreram em vida para mim. 

Por outro lado, meus mortos que já cumpriram o seu caminhar os mantenho vivos comigo, com algumas almas chego até a conversar e ouvir músicas: Com meu pai ouço “Boiadeiro”; com minha ex-mulher Isi escuto “Andança”; meu irmão Calinhos ouvimos “Another Brick In The Wall”; minha sogra Nevolanda ouço “Iolanda” e às vezes convido meu amigo Ferreira – jornal Gazeta do Oeste – a tocar “Lenda do Pégaso”, em memória de uma excursão que fizemos à Martins/RN promovida pelo Sindicato do Gráficos de Mossoró. Sem, falar daquelas que estão vivas, mas à distância e você as mantém, como hologramas, no dia-a-dia.

O grande Ataulfo Alves cantava “Falem Mal, Mas Falem de Mim”, ser esquecido é morrer em vida. Logo, aquelas pessoas que não lembra ou não quer lembrar estão destinadas por você ao “corredor da morte”. Mas, lembre-se! Você também faz parte da enorme fileira de muita gente. 

Brito e Silva – Cartunista

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Minha Régua

Não tinha uma pedra no meio do caminho, mas, uma borracharia que fica entre minha casa e a padaria. No meu caminhar lento, sequelas do AVC, porém os ouvidos sem “ceroto”, ouvem uma pena cair a distância. Vovó Bezinha dizia que eu tinha as “zoiça” muito boas, “zuvido de tuberculoso”. 

Pois muito bem. Na borracharia três senhores conversavam efusivamente:

– O Luladrão subiu a rampa, mas não vai ficar lá por muito tempo. O capitão foi “prusistadusunidos” e vai voltar com anulação dessas eleições fraudulentas, pela Suprema Corte Latino-Americana. Disse um dos interlocutores com a segurança de quem é entendido do borogodó.

– Isso é conversa pra boi dormir. Disse o borracheiro, arrancando gargalhadas dos ouvintes.

– Você num viu que agora a “guerra é santa”?

– …Já dos ETs, dos Pneus, dos tanques de guerra…Zombou outro.

Se acomodando no assento de sua Hilux, bateu a porta proferindo que o do “Luladrão” estava guardado, avisando que mais tarde passaria para pegar o seu estepe, saiu catando pneus:

– Tomara que rasgue um pneu nesse “paralepípedo”. Desejou o dono da borracharia.

– Ora, vocês viram a “pulseira” que estava no tornozelo direito dele? Indagou um observador.

– Homi, isso é um estelionatário, trambiqueiro já foi preso várias vezes por vender carro e não entregar ou quando entregava era “mamão”.

Como não podia andar mais lento que Jonathan, o quelônio mais velho do mundo, fui-me sozinho com meus pensamentos dando veracidade aos psicanalistas, psicólogos e filósofos, quando dizem que por muitas vezes projetamos nos outros aquilo mesmo que somos e que, nas entrelinhas, só falamos é de nós mesmos. “Quando Pedro me fala de João, sei mais de Pedro do que de João” dizia Freud.

Diz um ditado popular com um conceito um pouco equivocado. Quando adjetivamos ou conceituamos alguém e este se sente ofendido puxa da cartola esse velho provérbio “Não me meça com sua régua”, ora, meu senhor, e com que régua se mede algo ou alguém para formar e cristalizar um pensamento e opinião se não pela minha “régua”? Se não sou um jurista e a questão exigi, me calo ou firmo posição naquilo que conheço sobre o assunto. Evidentemente, podando quase todas as arestas hipócritas, éticas e morais das quais nunca conseguimos nos livrar.

Na Grécia antiga o filósofo Diógenes que morava em um barril, a luz do dia andava com uma lamparina dizia que procurava um homem honesto. Certamente, nunca encontrou e sabia que jamais encontraria e ainda o fazia. Ora, quando alguém se despe da desonestidade, da falta de ética, moral e hipocrisia, certamente, perdeu a humanidade ascendendo degraus à Divindade: Jesus de Nazaré, Sidarta, Maomé… Portanto, nós pobres pecadores estamos condenados a carregar sobre os ombros todas as mazelas e encantamentos que nos fazem estes maravilhosos seres capazes de seduzir os deuses para que nos salvem.

Logo, estamos todos aferrolhados à nossa própria obscuridade, que a qualquer instante pode eclodir. Portanto, cuidado com que diz do outro, você pode apenas estar falando de si mesmo. 

Brito e Silva – Cartunista

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Então é natal

Que me perdoem o azedume, não quero ser pessimista e muito menos espero que pensem que acredito em conspirações cósmicas. Não, não é ressaca moral imposta por causas etílicas, aliás, faz muitos anos que não degusto uma boa dose de whisky ou uma grade – há algum tempo era grade, hoje é caixa, veja como tempo correu – de cerveja gelada. Desculpem, mas não consegui perceber alguma mudança extraordinária na humanidade ou em qualquer ser humano, nem naqueles dos quais sou satélite, que pudesse dá outra destinação ao mundo por causa da data de ontem, Dia/Noite de Natal, exceto aos cofres da indústria e do comércio que se abarrotaram com o cinismo do “bom velhinho escroto” do Papai Noel.

Calma aí! Não estou falando da data em si e seu significado, sua simbologia, porque creio que o conceito e causa continuam os mesmos, em verdade, nós é que mudamos. Outro dia, me disseram que a sociedade evoluiu bastante, e é verdade: a humanidade evoluiu em todos os setores da vida humana, porém isto, não quer dizer que melhoramos, claro e evidente que superamos várias demandas com bastante louvor, entretanto em outras, talvez, demos um passo atrás.

Sei, certamente, alguém vai recorrer ao direito à réplica e dizer do ponto vista biológico que ontem morreram bilhões de células e outras nasceram nos tornando “renascidos” e ainda um outro entendido do borogodó dirá que todas as experiências vivenciadas no dia anterior nos transforam e, portanto, hoje não somos mais os mesmos de ontem, concordo com ambas. Porém, creio que para grande maioria das pessoas, essas mudanças ocorrem no intestino grosso e, assim sendo impossibilitam a efetividade, pois, os sinais emitidos ao cérebro dizem “preciso descer logo”, recebendo autorização para seguir reto ao Water Closet mais próximo, caso contrário, alguém vai passar vexame.

Zygmunt Bauman, o filósofo polonês, fala do “mundo liquido” onde as relações são mediáticas, fugazes, sem limo e para muitos o sociólogo foi no âmago da questão posta.  A diluição de certas relações ou tradições é mais que notória, é de certa forma agressiva, sendo substituídas por outras com objetivos bem definidos de consumo, vestidas, maquilada da anterior. Digo do Natal, onde a comunidade cristã ocidental, que também se apropriou da data, 25 de dezembro para o nascimento do “Menino Jesus”, hoje severamente atacada por quem em algum tempo teve uma boa convivência, o Papai Noel, saiu na Lapônia invadindo, não mais os lares, mas shoppings do mundo todo numa ofensiva promovida, em sua maioria, pelos cristãos, Talvez, até em um futuro, não muito distante a imposição de uma convenção entre as várias religiões cristãs para um novo consenso de uma data da Natividade, haja vista, que o 25 de dezembro o Noel, já papou.

OK, concordo, mudamos para pior – sabe-se lá – talvez estamos nos afogando num “mundo líquido” do Zygmunt Bauman, neste Natal recebi menos e também disse “Feliz Natal”, exceto nas redes sociais, digo de viva voz ou pelo telefone. Será que o “espírito” natalino está em crise existencial? Não sabe se serve a Deus ou ao Diabo? Isto é, a Cristo ou a Noel? Vai saber! 

Brito e Silva – Cartunista

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Isto é a felicidade

“Não gosto destas festas de aniversários, carnaval, natal, ano novo…Essas besteiras de futebol…” por algumas centenas, talvez milhares de vezes já ouvi alguém sentenciar frase neste sentido. Quando é uma pessoa que ultrapassou o “Cabo das Tormentas” dedico sua ranzinzice a uma vida pouco aproveitada, talvez, mal vivida e, portanto, enraizou o azedume, a indiferença à felicidade dos seus, não consegue admitir que gostaria estar efetivo e afetivamente em meio a estes pequenos e sublimes instantes de êxtases, de felicidade e, por covardia, sabe-se lá, transforma suas frustrações em pura inveja dos sorrisos, dos gestos, das expressões, da alegria alheia, pobres tontas almas. 

Se vem de um jovem a negação, dou um desconto e penso “Esses moços, pobres moços. ah! Se soubessem o que eu sei” contradizia o poeta e amava cada hora, cada milésimo de segundo que oportunizasse um naco de felicidade, porém, penalizado imagino que esse jovem é um tolo velho e certamente, se os deuses permitirem, será um velho tolo, deixando a vida, a felicidade escorrer pelas mãos. 

Nos primórdios o homem se reunia em volta de fogueiras para celebrar a caça, o nascimento de um novo membro da aldeia, a colheita. Apagaram-se as fogueiras nos pátios, nos terreiros e quintais, acenderam-se as lâmpadas a óleo de baleia, depois a querosene, a luz elétrica trouxe as reuniões para dentro das casas, das empresas, enfim, para os ambientes fechados. Mas a essência permanece: a celebração da conquista, aquele momento de puro contentamento individual, jubilo coletivo, uns instantes de eufórica felicidade. 

Outro dia falava com um amigo dos filhos, trabalhos, da vida, quando outro “amigo” presente na mesa numa fina ironia, pensava estar expressando, mas, de fato, era inveja ou desconhecimento total da vida “vocês parecem felizes demais, dá impressão de vivem num mar de rosas, que filhos não dão trabalho, desgostos, e no trabalho não existe desavença…Vocês dois parece que estão nas redes sociais…” imediatamente minhas orelhas esquentaram, a língua se aprontou para manda-lo às favas, quanto “tico” indeferiu sendo corroborado por “teco”, respirei profundamente: “não meu amigo, mas se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi…” demos uma gargalhada, ele puxou um cigarro eletrônico, deu um gole em sua quente cerveja, baforou se despedindo alegando compromisso, foi-se. Soube que estava em processo de divórcio.

Há pessoas que negam a vida, não vivem, sobrevivem, se vestem de melancolia, fazem da vida o rosário de angustias, reclamam de tudo e de todos, dizem não haver motivos para tanto riso, tanta alegria, que a felicidade não existe e se existe nunca bateu em sua porta. Como saberiam se a felicidade existe se olharam, mas nunca viram o sorriso de uma criança? Se ouviram, mas não escutaram um “papai, paim, vovô, vô, vôzinho…”? Ora, abram os ouvidos e os olhos, quer dizer, abram a alma. 

Podem decretar que sou um velho tolo, pai chorão, avô babão. Sou mesmo. Semana passada foi Valentina no Teatro Riachuelo, sua mudança de série. Ontem (16) foi Aléssia, lá de Santiago do Chile, assisti ao vivo pelo Youtube, chorei feito bezerro desmamado, um misto de orgulho e saudades. Maria, me consolando com os olhos marejados dizia isto é a felicidade. Antes eram os filhos, hoje os netos. 

Isto é a felicidade, minar os olhos numa festa a mais de 7 mil quilômetros de distância. Se você não consegue numa festa que brinda a alegria, que celebra a vida encher os olhos de felicidade, meu amigo você é um tolo ou, certamente, precisa de um médico. Sabe aquela música da Turma do Balão Mágico? “Sou feliz por isso estou aqui…”, porque a vida é agora, neste instante. Maria já repôs o estoque de lenços, pois existe muito choro por vir, neste mês até o dia primeiro de janeiro, mas de felicidade, claro!

Brito e Silva – Cartunista