Pai e filhos

Nestes últimos dias venho ouvindo uma frase em um comercial, evidentemente, sugere compras para o Dia dos Pais “o pai nasce com o filho”, o que é de fato, uma verdade. Não se pode ser pai sem filho, iniciam-se juntos. Pais e filhos começam, em milésimo de segundo o milagre acontece e, por isso, talvez assim, permanecerão ligados para o resto de suas vidas.

Outra frase que uma vez ou outra rabisco no quadro negro de minha já cambaleante e puída memória a figura do Imperador Marco Aurélio falando ao seu filho Cômodo “as tuas faltas como filho, são as minhas falhas como pai”, no filme o Gladiador, a qual demonstra toda decepção com o mau-caratismo, a falta de ética e o ódio contido em Cômodo. Que imaginava que todo carinho e admiração de seu pai eram dedicados ao general Máximo – O gladiador -, o que não correspondia a verdade, de fato, Marco Aurélio, apenas conhecia seu filho e, apesar, tentava protege-lo.

Mas, a cena ainda pesada e devastadora vem após o término do diálogo, Cômodo assassinando Marco Aurélio. Me restam poucas dúvidas se ali não morreram os dois. Assim como no instante em que morre um filho, se o pai também não sucumbe? Se nascem juntos, certamente, morrem juntos.

Por que hoje Dia dos Pais falo disto? Ora, porque sinto que todos nós somos um pouco ou, talvez, um completo “Marco Aurélio”: todo pai conhece seus filhos, sua prole e por ela faz tudo que é possível para protege-la, às vezes de si própria, para poder torna-la ética, moral e capaz de enfrentar as batalhas, as derrotas, os fracassos e o sucesso, esquecer a arrogância, vestisse de humildade para que a vitória seja completa. Entretanto, necessariamente o filho, não se torna um “Cômodo”, porém, inevitavelmente, também cobrirá o rosto com o elmo, vestirá armadura, com escudo e de espada em ponho será um “Marco Aurélio” até o fim. O filme o Gladiador é um bom filme para se fazer algumas reflexões filosóficas.

Não tenho seu Luiz, meu velho pai, fisicamente por perto. Não o vejo ali debaixo do pé da frondosa mangueira, que plantou, adubou, podou e a protegeu dos animais de comerem suas folhas. Arrancou ervas daninhas abrindo espaço para que pudesse seguir sua natureza. Ela, por certo, para agradecer lhe deu frutos saborosos e sob sua vasta copa ofereceu uma sombra onde ele se aconchegava em uma cadeira de balanço e por horas a fio ouvia suas músicas preferidas, e assim os dois, em uma simbiose nutriam-se mutuamente. Até que um e dia essa relação abruptamente foi rompida na raiz: seu Luiz encantou-se. Disseram-me, que sua carga – quantidade de mangas – está menor e as folhas, por um tempo, ficaram murchas, provavelmente, ela também morreu um tiquinho com ele. Não pairam dúvidas, que também feneci um pouco. Ora meu caro, não se morre de uma vez, esvai-se todo dia um naco. Porém, dizem por aí, também se renasce.

Veja você, em dia de alegria, Dia dos Pais(?) eu aqui falando de decesso, saudades, amores, sentimentos, dessas coisitas mais démodé. Então, vá às compras. Ora, pois!

Aos meus filhos e filhas, obrigado e desculpem. Às vezes fiz o que queria, outras, o que era preciso ser feito! O resto “eu sou eu e minhas circunstâncias”, como disse o filósofo espanhol, José Ortega Gasset.

Brito e Silva – Cartunista

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