Outro dia um “amigo” me questionou sobre o “ódio” que expressava no meu trabalho contra Bolsonaro, segundo ele eu parecia estar sendo pago para adestrar, alienar, catequisar meus seguidores. Ora não sabe o indigente mental que os meus “seguidores” cabem num fusquinha e ainda sobrar assento confortavelmente à Wilza Carla, se viva fosse.
Na verdade, não respondi. Posso até ter sido pretensioso, pois tive a nítida impressão se fosse explicar, certamente, ele não iria entender bulhufas. Há pouco me veio a certificação que teria perdido um precioso tempo, se tivesse feito. O mesmo sujeito – in box – disse que meus textos e meus desenhos eram umas “merdas”. Ora, não discordo disto, ele pode estar certo que meus textos, desenhos e comentários são ruins de correr água, por que não seriam? Discordo de terem capacidade de influenciar qualquer cristão de consciência sã.
Porém, isto provocou-me à uma reflexão, que aqui exponho: Meus desenhos, textos e comentários são meus, fazem parte do que sou, é meu pacote, o pacote Brito, logo os moinhos ventos são todos meus e pangaré também. Essa é minha verdade sem o menor intuito de sugestionar ou induzir ninguém a nada ou seguir-me como quem segue gurus, não sou tão ingênuo e, portanto, não seria tão pretencioso para imaginar que estaria doutrinando alguém ou levando quem quer seja a pensar diferente lendo o que escrevo ou desenho, quem se permite ao trabalho de assim pensar, certamente, não pensa. Ora, o que faço, como faço é apenas minha maneira de enxergar o mundo, meu ponto de vista, que por sinal, amanhã ou agora mesmo pode mudar. O que penso e faço não são estáticos como o bolsominion estaria imaginando, desde que perceba e tenha o convencimento de estar errado, posso mudar sem constrangimento. Entretanto, por toda minha história profissional, pessoal, comportamento ética, do que li, vi e vivi é impossível uma reviravolta de 180 graus e apoiar o Presidente Cagão e ter simpatia por qualquer coisa que posso vir de sua mente suja, se assim o fizesse não seria eu, mais provável, talvez uma entidade.
Portanto, de elmo, armadura e de lápis em punho me mantenho firma meu “amigo”. Quem escolhe seus líderes, seus ídolos são seus liderados seus fãs e não o contrário. O “candidato” a líder tem ideias, práticas e objetivos que se alinham a seus possíveis liderados e assim se compactua uma aliança de confiança ungindo o líder, quando o líder deixa de entregar o que foi prometido começa a definhar sua credibilidade e pelos que antes o adoravam, serão os mesmos que o levarão à guilhotina. Por isto, digo e reafirmo quem votou no Cagão tinham e têm simpatia e apoiam suas ideias, práticas e objetivos, não são menos nem mais que iguais: cagões!
Diz o poeta Gonzaguinha “Saudade a gente não explica…” eu tendo a acreditar nisto. Todos nós uma vez outra ficamos saudosos. Uma música, um perfume, uma foto nos catapulta ao passado, quando este foi bom somos embrulhados em lembranças e numa felicidade resgatada. Parece que nos renovamos – se é que seja possível -, seria de bom tamanho se estes “TBTs” fossem apenas de momentos bons, entretanto não controlamos os gatilhos que os acionam, muito embora sabendo quais, às vezes as lembranças não são tão boas, o que não é o caso.
Também por vezes em nossa vida todos já passamos, pelo menos por um “déjà-vu”. Aquela sensação quando estamos em um lugar e ter a mais absoluta nítida certeza que já pisou ali, mesmo consciente que não poderia nunca ter estado naquele local. Os médicos chamam isto de Paramnésia – distúrbio da memória, em que se relembram as palavras e coisas, porém fora de sua significação exata -.
Pois muito bem. Ouvindo músicas no Youtube, bastante concentrado finalizando a caricatura de Elza Soares, por ocasião de seus 91 anos, no último 23 de junho, repentinamente uma voz bem postada como de um disc jockey, hoje apenas DJ, soou: “Prepare-se! Roberto – não sei das quantas – vai te levar em uma viagem musical pelos melhores hits dos últimos tempos”, por Deus, os primeiros acordes da canção me vi como uma projeção holográfica dentro do estúdio da FM Santa Clara, em Mossoró/RN, n’O Som do Caby com meu amigo Caby da Costa Lima (in memoriam), dizendo: “rode as carrapetas Ênio Ticiano”, o qual não se fazendo de rogado apertou o Play. Ainda sobre introdução “Esta música vai pro meu amigo Camaradinha Brito e Silva. Camaradinha veja esse nome, um dia vamos montar uma agência de publicidade juntos com esse nome, solte aí Ênio, de Nando Cordel, Azougue”, dizia Caby.
Não implementamos uma agência de publicidade, mas é verdade que criamos o site www.azougue.com o qual fiquei pouco tempo, pois já morava em Natal e Caby em Mossoró, isto por volta de 2005(?), a internet era muito ruim tornando inviável minha participação mais efetiva, logo o Camaradinha deu sequência sozinho até sua morte.
Neste turbilhão de imagens e emoções tropecei numa lembrança de quando nos reunimos na casa do amigo Rogério Dias, para fundarmos uma associação de agências de publicidade de Mossoró. O tempo passava, já cansados de esperar, além do anfitrião Rogério, eu, Paulo Oliveira, Gilberto Souza e mais outros publicitários que me fogem a memória – desculpem minha sexagenária memória -, lá pelas 21h decidimos dar início a reunião sem a presença dos atrasados. Estávamos citando os nomes das agências para constar na ata: Auge Propaganda, Brito Propaganda, Palco Publicidade, Gás Propaganda, de repente entra Caby, quando Gilberto de Souza sentencia: “Pronto, chegou a Raimundo Nonato Faixas e Cartazes”, o Camaradinha rodou nos tamancos, deu meia volta e foi embora, certamente, ficou alguns dias “de mal “ com Giba.
Caby, “pegava ar” quando alguém o chamava de Raimundo Nonato. Sou testemunha – durante os mais de 30 anos de nossa amizade, ficávamos “de mal”, pelos menos duas vezes por semana – aqui no torrão, você não conseguia passar mais de três dias com raiva de algum amigo, imagine aí, ao lado de JC, por isso, sei que vai me perdoar pela indiscrição.
Sábado, você falou comigo entusiasticamente: tinha “encontrado” Belchior. Apesar de ouvir desde sua infância, mas somente agora, de fato, conseguiu escutá-lo.
As coisas acontecem assim mesmo, isto é a vida. Passamos boa parte do tempo procurando alguma coisa no horizonte, uma felicidade instantânea, um prazer fugas, um pergaminho com sabedorias e, invariavelmente, como diz a música “o amor pode estar do seu lado”, não vimos porque de tão perto já faz parte de nós e assim sendo levamos certo tempo para perceber. Porém, quando acontece nos produz uma satisfação incomensurável.
Digo isto, porque com 62 anos nos costados, já fui protagonista de diversos encontros desta natureza com cantores, escritores, filhos, parentes, filmes, amigos… A vida é feita de encontros – embora haja tantos desencontros pela vida, disse o poeta -, uns agradáveis outros proporcionalmente desagradáveis.
Nestes últimos tempos “encontrei” por diversas vezes vários amigos desnudados, onde, de fato, pude vê-los em suas essências, alguns sem capas, sem máscaras mostrando o “fucim” fascistas, outros tantos, em nome de Deus, inflando como “senhores da verdade” e ainda muitos outros cheios de humanidades, perdão, tolerância, de luta por um mundo melhor. Isto é a vida.
Os encontros são e serão tijolos em nossa construção e, como não paramos de construir, também não paramos os encontros. Eu, dobrando o “Cabo da Boa Esperança”, todas às vezes que lhe “encontro” saio mais rico, mais feliz, mais inteiro. Sua capacidade de ver a vida, sua generosidade, de alinhar voz e ação, mente e coração é um respiro de equilíbrio neste mundo onde todos buscam impor suas verdades.
Obrigado, por ser a filha que es. Feliz Aniversário! Logo, logo nos encontraremos para longas conversas, é disto que preciso.
No filme Elizabeth, no qual retrata a ascensão da jovem filha de Rei Henrique VIII, ao trono britânico, na cena em que enfrenta uma discussão com seu conselheiro que a tenta persuadi-la a não lutar contra os espanhóis por fragilidade de seu exército ou talvez – e era – por ser mulher, firmemente a jovem rainha se impõe com uma frase profundamente carregada de simbologias: “Eu sou filha de meu pai”.
Aquela frase me marcou, não que tenha algo a ver comigo, mas com você. É assim que lhe enxergo, altiva, com essa força e coragem todas às vezes que é confrontada com alguma dificuldade, não foge, põe o elmo vai à luta na primeira fileira.
E sempre foi assim desde o berço. Um pouco birrenta é verdade, mas determinada, firme como uma rocha e maleável como seda. Entretanto, hoje, de fato, é que a vejo assim, talvez Lívia me fez “cair na real” e perceber que você já é uma mulher adulta, formada, casada e com filha e não é mais aquela menininha que dizia em minha ausência “eu quero meu pai” – Como é Roberto? Imite aí -.
Hoje, mulher, mãe, profissional, pronta a ir muito mais além a virar mundo e quando, principalmente, se trata de alguma injustiça. Nesta privação física fico relembrando nossas conversas sobre coisas sem relevância e de outras brutalmente dolorosas como a fome, crianças abandonadas e as mazelas que assolam nosso país e rezando suplico aos deuses que sejam clementes e levem esse vírus para os confins do universo, nos restaurando a paz.
Eu preciso ver você aqui tocando e cantando “Eu sem você não tenho porque, porque sem você, não sei nem chorar…”
A primeira vez, daqui do terceiro andar, que vi meus filhos e netos lá embaixo, no estacionamento sem sentir o cheiro, sem poder tocá-los, sem ver os olhos deles, me deu um nó na garganta e os meus começaram a minar como os olhos de um condenado, que inerte, sente apenas o frio do fio do machado cortando o ar descendo em direção do seu pescoço e, somente uma imensa tristeza invade a alma.
Esta cena se repetiu neste último ano e ainda continua se multiplicando. Outro dia toca o meu celular era Felipe, meu genro, com minha neta Valentina, filha de Pollynne, lá embaixo, que o “obrigou” a vir aqui, porque ela insistentemente dizia estar morrendo de saudades dos avós. Lá de baixo mandou uma porção de beijos e foi-se embora com sua saudade matada, deixando a nossa cada vez mais doída.
Outra vez, aliás, no natal passado Jade/Roberto trouxeram sua filha, nossa neta, nós fomos até à portaria, ficamos a mais de dois metros deles e devidamente mascarados. Lívia quando nos viu estirava os braços em nossa direção e balbuciando vovô – Maria jura até hoje, que ela dizia vovó – e nós ali paralisados, sem podermos avançar nenhum centímetro, ela olhava para mãe como se perguntasse porquê de nós não tomá-la nos braços, repetiu o gesto por diversas vezes. E como se fosse para driblar nossa memória futura, a cena se repetiu logo depois com Valentina trazido por Pollyanne/Felipe. Não resisti. Subi com os olhos marejando.
É verdade que aprendemos a lidar com esta nova situação, até com um certo controle emocional para poder permanecer saudável mentalmente. Mas não me transformei sólido e duro quanto o mármore. Sei, que feitos condenados estamos todos em prisão domiciliar, vigiados por milhões de legiões invisíveis prontas para surrupiar nosso último suspiro, nossa alma. Nesta solitária os sentimentos e sentidos oscilam em um vai-e-vem como as ondas dos mares que teimam em subir à areia branca e se banharem ao sol, mas não vão além da última espuma seca. Entretanto, como pingente me apego aquelas cenas dos netos no estacionamento, igualmente uma âncora que penetra o solo marinho parando o transatlântico sobre as águas ou como a raiz fincada no alto da colina suporta o balanço do capim durante o temporal mais medonho sem deixa-lo perder a honra. Assim me posto, convicto que passada a tormenta estaremos todos juntos e, talvez, credite isto de “novo normal”, antes disto, jamais!
Como chamar de normal não poder abraçar meus filhos e netos? Como chamar de normal mais de quatro mil mortes por dia? Como chamar de normal mais de 360 mil mortes? Como chamar de normal a ineficiência voluntária e genocida do Governo Federal? Parece óbvio que não é normal. Mas, também nunca foi tão preciso dizer o óbvio: isto não é normal, é óbvio, e menos ainda “novo normal”, se o é, protesto e não aceito.
O normal ou novo normal frente a pandemia seria o Governo Federal logo no primeiro momento ter comprado as vacinas que foram disponibilizadas, falar ao povo da necessidade do uso de máscaras, de não fazer aglomerações, ter implementado uma força tarefa para cuidar da crise sanitária que se mostrava no horizonte, ter implementado um Auxílio Emergencial capaz de manter as pessoas alimentadas e pagando suas contas básicas sem a necessidade de sair às ruas atrás do pão de cada dia. Isto sim, seria um “novo normal”. Não temos “novo normal”.
Normal ou novo normal será quando meus netos, filhos, pais, irmãos e amigos couberem num abraço.
Editais
Tenho uma vontade danada de um dia participar de algum edital estatal, seja ele com RG municipal, estadual ou federal. Até tentei participar da Lei Aldir Blanc, mas quando abri, percebi que estes “troços” não são escritos para gente de baixo QI, como eu. Recorri a um amigo especialista, de pronto disse precisar de ajuda de um outro especialista, que também iria carecer de um terceiro. Desisti. Fiquei lambendo o dedo.
Pedro, o esnobe
Para ficar bem na “telinha” e com seus pares de direita do “Manhattan Connection”, no 14 de abril, o jornalista Pedro Bial, tido como inteligente e cortes, perdeu fleuma. Talvez para mostrar aos Marinho, seus patrões, que mesmo em dando entrevista em outra tv, se mantém firme ao antipetismo implementado pela Globo.
O Pedro, grosseiro, preconceituoso, presunçoso e esnobe afirmou que só entrevistaria Lula com ajuda de um polígrafo. Ainda não aprendeu que o mundo gira e a terra é redonda.
Polígrafo
Fico imaginando o Capitão Bufão sendo entrevistado pelo “Pedroca’ com o auxílio de um polígrafo. Certamente, daria um trabalho danado à logística. Pois, teriam que levar todo estoque para o estúdio ou a entrevista seria no almoxarifado para facilitar a reposição do polígrafo a todo instante.
Fogo baixo
O nosso Fogão anda mesmo em fogo baixo. Eliminado da Copa do Brasil pelo ABC de Natal, em um jogo sofrível. Diz meu amigo Delegado: “Com esse joguinho perde até para o Potiguar, e ele torce pelo Leão da Doze”. Isto já me conformaria.
O Conde
O amigo, Rubens Coelho, chamado de Conde por todos, disse “Não dá para viver sem chorar com o normal bolsonariano com essa diabólica pandemia”. É verdade. Mas, também não dá para viver sem lutar.
Caricatura (Seu Jorge)
Desenho do cantor e compositor Seu Jorge, que ilustra nosso e-Book 200 Caricaturas de Astros da Música Nacional e Internacional, disponível no site https://blogdobrito.com/loja/ Para quem gosta de caricatura e música é uma boa pedida.
Frase
Inspiradora e contunde frase do meu amigo Delegado (porteiro, filósofo, monge e sociólogo): “Quem mente, mente!”
Sabemos que uma das principais funções, ou a principal, de uma Casa Legislativa é a fiscalização dos recursos públicos. Em um caso muito contundente pode-se criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito *CPI para aprofundar uma investigação deste fato determinado.
A Constituição estabelece que além da necessidade de um fato determinado a CPI detenha-se a este fato, não podendo ir além.
Estabelece também um prazo certo para sua existência e que o fato determinado deverá estar, ainda, entre as matérias sobre as quais a Casa Legislativa poderá exercer sua função legislativa e que seja de sua competência.
Resumindo, um CPI federal não poderá investigar assuntos da competência dos Estados ou Municípios, bem como o contrário.
Outro dia o amigo jornalista Cefas Carvalho, escreveu sobre a infame frase “Você sabe com quem está falando?” e sobre ela podemos andar por várias veredas e talvez, chegaremos ao mesmo porto, sendo ele seguro ou não. O certo, é que podemos versar “a gosto do freguês” sem perde de vista sua vulgar brutalidade.
O “Você sabe com quem está falando?” É notoriamente uma fala tatuada de cima para baixo, sempre expressada por alguém que se imagina superior, assim se achando por ter dinheiro, posição social, intelectual e quando não, de cútis branca e sem dúvidas vem, quase sempre, enunciada por uma certidão de parentesco com a “casa Grande”. Que me lembre nestas 61 primaveras nunca fui posto cara a cara com dita cuja. Nesta longa e acidentada jornada feita até o presente, por vezes fui chamado de frouxo, outras de agressivo e quase sempre muitos me têm como paciente, ponderado e conciliador e estes, talvez tenham maior razão. Mas, em nenhum momento me foi dito “Sabe com quem está falando?” e sinceramente, não sei que reação teria, mas certamente, sem o menor medo de errar seria proporcional ou pelos um “grande merda” soaria por entre os dentes: “Quem cala consente os gritos do capitão”.
Desde cedo dona Geralda – minha mãe – me ensinou a respeitar as pessoas, não pelo posto social, financeiro ou pelos galões sobre os ombros, mas sim, por se tratarem de um seres humanos e como tal deveriam ser tratados. Isto pôs incrustrado forçando-me a nunca “levar desaforo para casa”. Claro, que na juventude afoita, comprei algumas arengas que se mostraram inúteis e estéreis. Hoje, já sexagenário olhando o passando distante com uma lupa, mesmo estas, talvez, tenham fortalecido a argamassa do alicerce que me postei e assim sendo cristalizando minhas posições ante as diversidades e escolhendo as lutas que valeriam à pena ser travadas, não pela vitória fácil, porém, pelo aprendizado ensejado na peleja.
Não consigo entender e menos ainda respeitar qualquer relação onde o “poder” se ponha como premissa. Sim, eu sei, é uma utopia esperar que o poder não seja exercido sempre de cima para baixo e desça para ficar no mesmo prumo, no tête-à-tête. Entretanto, se todos ao invés de baixar a cabeça e lutassem, talvez, quem sabe poderíamos em futuro não tropeçar nesta frase torpe “Você Sabe com quem está falando” ou ainda pior, nesta: “Sim, senhor, estou aqui pra lhe servir”? Esta última tem igual valor e peso, pois referenda a primeira.
Paulo Freire diz “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor”.
A chuva passou, os carros passaram e a moça cheia de graça também passa, com a pressa de quem vai a lugar algum ou tem a alma livre de quem nunca chorou seus pecados.
Na verdade, ela desfila na feia calçada da padaria. Se eu entendesse do ramo, diria que é afoita praticante de pilates: pois suas ancas, em bandas, são proporcionais e as pernas bem torneadas lhe oferecem uma bela silhueta, não diria que tem a cintura de pilão, mais sim, semelhante a meu rabugento violão.
Em verdade voz digo, com a devida vênia: que ela poderia ser a minha “Garota de Ipanema” ou musa de qualquer artista esfuziante, assim caminhava num doce balanço em plena Maria Lacerda. Rebolando os quadris de um lado para outro parecendo uma Víbora de Chifre no sol escaldante nas areias do deserto do Saara, sob cobiça de umas, desdém de outras e olhares espichados de outros tantos, ela segue alheia aos pormenores.
Antes de virar a esquina, decidiu conferir seu “estrago” aos “espiões” passantes, por sobre o ombro esquerdo olha para trás. Que coisa horripilante, vi seu rosto e ele estava nu.
Dias e noites, da janela que divido com Maria, ouço e “vejo carros apressados a passar por mim” com suas sirenes fustigantes soando e ressoando aquele som de dor. Luzes vermelhas ofuscantes freneticamente piscam como quem nos alertam do perigo eminente, sorrateiro e invisível que insiste em nos rodear assombrando com sua saga de morte, espalhando sofrimento a todos os recantos do planeta, parecendo e até alicerçando a tese de alguns, que se arvoram a dizer que isto é castigo divino por nossos pecados. Confesso que às vezes tendo a balançar a cabeça sinalizando concordância, mas logo me atenho a dureza da realidade, de certo, pode não ser castigo divino, mas consequência de nossa ganância em destruir a natureza, disto não há dúvidas.
Carros vermelhos, verdes, azuis todos passam a soleira de minha janela, não há silêncio, ondas trazem somente o som estridente das sirenes e buzinas pedindo passagem a outros automóveis em igual afobação em fila dupla, mas que terminam abrindo caminho à urgência, à tentativa de salvação.
Fico imaginando que ali dentro daquela ambulância verde e branca vai uma pessoa pedindo, rezando e suplicando aos deuses para viver. Quem sabe seja apenas um jovem rico que quebrou o dedo mindinho e exigiu do seu plano de saúde uma urgência? Pode ser. Mas também pode ser alguém com filhos, noras, genros, netos, que luta para voltar a vê-los. Talvez, muitos destes ficaram em casa ainda choram a angustia da incerteza de um abraço ou de um possível adeus compulsório imposto pela falta de compaixão, consciência de pessoas que teimam em pelejar contra a ciência e acreditam em um Messias de araque tão falso e mentiroso quanto tábua de fojo.
Na verdade, aquele paciente do carro verde e branco tem uma família, uma história de vida e certamente, não deseja pôr um ponto final. A cada soar das sirenes torço para um final feliz.
Os sons das sirenes continuam ensurdecendo nossos dias e noites. Olho e vejo ambulâncias do SAMU e seus anjos de azul, em urgência, transportando esperança. Aqui, quem anda nos salvando são alguns mortos: John Lennon, Belchior, Elis, Gonzaguinha, Sérgio Sampaio, Freddie Mercury, Bob Marley…E a esperança e vontade de poder abraçar nossos filhos e netos.
Nestes dias pré-carnavalescos, Maria foi acometida de uma crise braba de Labirintite. Impedidos de recebermos ajuda, obrigado fui a pôr “armadura” para enfrentar os seres “nativos” do ambiente mais horripilante e hostil da casa: a cozinha. Do universo chinês vem essa máxima: “Por quê você me odeia se eu nunca lhe ajudei?”. Entretanto, falo no plural quando vejo garfos, colheres, facas e panelas sujas fixando os olhos em mim cheios de má-intenções, com caras de Freddy Krueger. Que me lembre nunca entrei numa cozinha para lavar, enxugar, fazer, café, almoço, lanche, jantar e no dia seguinte seguir o roteiro pré-agendado. Por isso, não entendo essa malquerença e notória antipatia dos utensílios da cozinha comigo, se nunca lhes fiz bem ou mal algum a nenhum deles.
Não relato isto com orgulho, a bem da verdade, digo com muita frustração. De joelho sobre milhos devo confessar duas obesas invejas que se fizeram amigas desde há muito: cozinhar e tocar violão. Estas magnificas grandes artes que independem de seus ingredientes. O violão de Kurt Cobain, que foi vendido pela bagatela de US$ 6 milhões (aproximadamente R$ 32 milhões), nas minhas mãos não teria o valor de um comprado por Gilberto De Souza, na “Peda” do Buraco do Tatu, lá em Mossoró, com sua maestria, certamente, faria soar acordes divinais ou um Tucunaré, se nas minhas ignorantes e rudes mãos seria apenas uma ginga sem tapioca e nunca uma deliciosa peixada do Porão das Artes, lá em Pium, saida das panelas de Nelson Rebouças.
Fui sempre o “bendito fruto entre as mulheres”. Quando minha mãe morreu, fomos morar com nossa tia Geralda, irmã de minha mãe. Ela não tinha filhos dedicando-se totalmente a nos proteger e nos preservava de tudo, não nos alienando, mas não nos deixando fazer o que ela – e para época – achava desnecessário, pois, lá sempre havia muitas amigas para fazer de tudo. É verdade que às vezes quando faltava “visitante” e Maria decidia esticar seu final de semana e as namoradas “batiam fofo”, eu e Neguinho, meu irmão do meio, fechávamos todas as portas e janelas e varríamos, espanávamos os móveis, lustrava-os com Óleo de Peroba – ainda lembro do rótulo de um índio com penachos -, depois passávamos o pano com Pinho Sol na sala e quartos. Porém na cozinha era Dona Geralda que comandava, lá era ambiente sagrado. Portanto, hoje, se frito um ovo mexido, é uma vitória entanto.
É verdade que nisto tudo poderia haver e há um certo machismo, afinal somos uma sociedade predominantemente patriarcal e machista, se assim ainda podemos chama-la apesar do século XXI. Mas na metade do século passado, homens no fogão somente em algumas entidades como nas Forças Armadas os famosos “taifeiros”, nos grupos de tropeiros no Nordeste, nas comitivas no Centro-Oeste. Mas na cozinha de casa, ali, sujando o avental, quem dava as ordens era a mulher. Quando uma vez ou outra tentava de fininho “beliscar” a panela, Helena dizia: “Saía daí, na minha panela ninguém mexe”.
Já decidi. Firmei promessa a São Benedito, protetor dos cozinheiros, com papel lavrado lá no cartório do tabelião Airene Paiva, como testemunha intimei o também amigo Moacir Barros, da HidroNordeste: assim que Maria parar de “rodopiar” e eu ter mandado a Bursite prascucuias, vou assistir ao Mais Você, com Ana Maria Braga, pelo menos três vezes por semana. Ainda pedi um adendo: pra evitar que ela ria muito.
Hoje quinta-feira, 4 de janeiro, fui agraciado com mais caricatura, desta vez assinada por um dos mais habilidosos artistas gráfico digital, o velho companheiro de guerra, editor da Revista Papangu, Túlio Ratto.
Hoje, 3 de janeiro, recebi um belo presente: desenho assinado pelo meu amigo de traços e de longas jornadas, Laércio Eugênio Cavalcante. Onde consta minha caricatura e do genial cartunista potiguar, radicado na terra dos iluministas há mais de 20 anos, Joe Bonfim, que além de tudo, também domina um “pinho”.
Ouvi ou li em algum lugar a existência de uma mulher extraordinária chamada Elizabeth, dotada de superpoderes, isto é, de sentidos não convencionais. Na verdade, parece coisa saída dos quadrinhos do Universo Marvel.
A moça escuta músicas como todos nós, entretanto com alguns plus adicionais: ela também consegue enxergar a música, ver notas em várias cores e não se prende apenas nisto, incrivelmente, também sente o sabor de cada nota musical na ponta de sua pródiga língua. Os cientistas denominam esse fenômeno de sinestesia — a palavra tem origem no grego e é o resultado da fusão das palavras “união” e “sensação”.
Meus cinco sentidos são mixos. Não sou dotado de nenhum dom extraordinário, muito pelo contrário, depois do AVC (Acidente Vascular Cerebral) e 61 anos no “muncumbu” meu paladar pobre de qualquer gosto refinado, somente reconhecia rapadura com farinha, feijão com arroz, tripa de porco, buchada de bode, panelada, cuscuz, pão doce e dindin de coco queimado — pobre é uma desgraça —, piorou muito limitando-se a H2O, talvez por não ter sabor, cheiro ou cor. A audição de tanto ouvir Freddie Mercury e Montserrat Caballé e Gal Costa, ficou avariada me deixando um pouco mouco, a visão castigada pelas luzes das milhares de horas nas pranchetas pela vida afora, hoje, para eu ver um elefante ela se faz pedinte de grossas lentes Varilux bifocais. O tato? Vai ainda dando pro gasto.
Porém, meu olfato é fantasticamente fantástico e deslumbrante ou não — como diz aquele votando do Ciro, o Cae. Meus cheiros têm gostos e imagens. Talvez tenha herdado dos ursos. Por que não? Ora, compartilho mais da metade de minha carga genética com um pé de pinhão roxo, que Maria adestra aqui na sala contra mau-olhado. Tenho sim, olfato de urso. Quem discordar, é por pura inveja.
Pois bem, moro em frente a uma padaria, que certamente, seu forno é industrial elétrico, deve consumir quilowatts de energia elétrica, pois, de sua chaminé não sai nem preta ou branca fumaça e seu pão para meu dissabor não tem o gosto e o cheiro dos pães da padaria de seu Arlindo, lá nos Paredões, em Mossoró-RN. Porém, há pouco caiu o “Nordeste” trazendo um aroma familiar de uma fornada de trigo bem assado quentinho me catapultando aos anos 70, para minha casa, a qual era separada da padaria por um bequinho de mais ou menos um metro e naquelas tardes de todos os dias, exceto dias santos e domingos, sentíamos o calor da lenha sendo atiçada para primeira leva de pão.
Os cheiros e sabores ao vento preenchiam toda a nossa cozinha. O cafezinho feito por Helena — in memorian — no bule excitava a manteiga Itacolomy que toda derretida esperava somente o pão quentinho posta-se à mesa. Depois, uma pelada na rua, de pé no chão, jantar e esperar os amigos para irmos ao Colégio Dom Bosco, nera Delba? Maria, me traga dois guardanapos, um para boca outros pros olhos!
O Bufão bufou Depois sofrer um “gancho” de direita na “tauba” do queixo disparado pelo Doria, sendo o primeiro a começar a vacinação, o “anjo caído” escafedeu-se, sumiu e quando deu as fuças foi fazendo ameaças à democracia. Sentindo seu plano genocida derrota pela Coronavac, o Bufão bufou!
Habemus Vacina Desde a terça-feira, dia 19, estamos vacinando os potiguares. Minha esperança nunca esteve tão em alta. Não seria o “anjo caído” que iria pô-la à lona. De cadastro na mão com a manga da camisa arregaçada, o braço e o grito na garganta preparado para vacina. Contando as horas de poder abraçar meus filhos e netos.
Séries Enxergar o erro alheio é um prazer Depois que minhas filhas me viciaram em séries, devoro as da Netflix como se fosse filmes no Cine Pax. Esta semana passada vi de uma tacado só as quatro temporadas de Frontier, de sobremesa, arrematei com a primeira temporada de Damnation. Entretanto, ando meio a flor da pele: foram tantas mortes que não consigo imaginar onde e como os produtores irão buscar mais atores e coadjuvantes para continuação das próximas temporadas.
Vacina Meu amigo Delegado (Porteiro, filósofo, monge e sociólogo) me confidenciou que já se cadastrou para virar “jacaré”. Segui-o.
Caricatura Laércio Eugênio como carimba suas obras e o conhecemos, foi parido em Frutuoso Gomes/RN, no Sítio Mata Seca e apesar de rodar mundo mostrando toda a fidelidade ao torrão nascido imprimida em suas telas de belas paisagens sertanejas, escolheu o País de Mossoró, para sentar moradia.
Nos anos 80, no jornal Gazeta do Oeste, sempre apareciam algumas figuras falastronas, folclóricas, buscando seus 15 minutos de fama ou talvez, a posteridade. O certo é que lá pelas 19h a sala de arte e diagramação era o “point”, todos se reuniam por lá para contar piadas, falar mal uns dos outros e até segredar algum fato de última hora. Claro, em milésimo de segundo das Barrocas ao Belo Horizonte, do Abolição IV às Malvinas o assunto já era pauta em suas calçadas.
Pois, muito bem. Neste clima havia um “sujeito” sempre gabando-se do tratamento dedicado aos seus amigos, dizia: “Amigo meu não tem defeito, inimigo se não tiver eu invento, levanto falso e provo”. Não chego a tanto, mas fico meio abestalhado, me minam os olhos como cacimbas de leito de rio seco, quando um faz algo do qual nos deixa vaidosos de tê-lo como amigo, me dá um orgulho danado de viver no seu tempo. Diria que amigo é pra essas coisas: nos fazer bem.
Dito isto, tive uma grata e deliciosa surpresa auditiva, foi um encontro magnético e cibernético em um fim de tarde com Sérvulo Godeiro, a quem conheço de longas datas, desde os tempos de Gazeta do Oeste. Era sabedor do seu gosto e notório saber refinado da nossa música popular brasileira, mas não que fosse compositor ao qual foi apresentado pelo bem polido álbum POTIGUARANIA.
O POTIGUARANIA, traz letras ricamente elaboradas alicerçadas por melodias às vezes suaves como a brisa de Ponta Negra, outras mais fortes e vigorosas como as ondas do mar da Redinha, porém, nos passando uma sessão de capricho e delicadeza. Há leveza em cada frase emitida, a cada acorde vibrado. Certamente, será um afago aos ouvidos mais exigentes de gosto de sintonia fina.
Sem falar dos interpretes. Aliás, vou falar: Transparece que cada um deles solta a voz como se fosse a única música existente, como se fora uma oração, um apelo aos céus tornando o POTIGUARANIA único. Parabéns, Sérvulo Godeiro e Carlinhos Santa Rosa.
Brito e Silva – Cartunista
POTIGUARANIA
01. Rio Grande – Valéria Oliveira 02. Encontro Magnético – Pedro Mendes 03. Grão – Diogo das Virgens 04. Ribeiras – Wigder Vale 05. A volta – Moisés de Lima 06. A Terra é aqui – Lysia Condé 07. Matizes – Silvia Sol 8. Os Ventos – Diogo das Virgens 09. Sonho bom – Lene Macêdo 10. Andar, andar – Sueldo Soares 11. Fim de tarde – Valéria Oliveira 12. Pra Viver – Ângela Castro e Rafael Bastos 13. América – Yrahn Barreto 14. Semba Uã – Sami Tarik 15. Grande Ponto – Lene Macêdo
Gravado, mixado e masterizado na Beju Estúdio com direção musical e arranjos de Jubileu Filho.
Músicas de Sérvulo Godeiro e Carlinhos Santa Rosa. Exceto a música Matizes em parceria tripla com a poetisa Danúbia Pinto.
Lá em meados dos anos 70 quando chegava a segunda-feira a gente já estava pensando qual seria o vesperal do Cine Pax ou Cine Cid, se Dona Geralda – Minha mãe – iria nos dar dinheiro para novamente ir “aperriar” Balão e na volta tocar a campainha da casa de Seu João Cantídio e correr até ficarmos esbaforidos pondo os bofes pra fora. Então, para garantir a empreitada dominical, ficávamos de “zuvidos” colados na nossa Rádio Vitrola ABC Isabela V – ABC Voz de Ouro, sintonizada na Rádio Rural de Mossoró, de olho nos anúncios dos filmes para final de semana e se a entrada seria com garrafas de vidro, se fosse assim,o dinheiro do ingresso já garantia o sorvete ou a entrada a noite, no Cardeal Câmara, do da Igreja São José, aonde certamente, dançaríamos Twist and Shout – The Beatles.
“Flechas Ardentes”, “Um Dólar Furado”, “Keoma”, “Era Uma Vez No Oeste”, “Maciste”, “Ben-Hur”, Operação Dragão”…Enfim, todos filmes de luta, exceto no final de ano que o cardápio mudava: “Paixão de Cristo”. “Dio Como te amo”, Love Story”….Entretanto, o que encantava a todos nós pré-adolescentes e adolescentes eram os filmes de luta. A maioria possuía ou pensava em ter um revólver de alumínio com espoletas ou aprender a lutar Karatê e sair esmurrando paredes e inimigos ocultos, imitando Bruce Lee, pois eram assim os “mocinhos” da grande tela: bravos, fortes e naquele mundo selvagem resolviam tudo a bala ou a golpes de lutas marciais.
Eu já dava meus primeiros passos em leitura mais densas, como os Os Irmãos Karamazov – confesso que não entendia bulhufas, mas servia pra eu me “amostrar” com os amigos – também já começava a perceber certos boatos sobre comunistas e a ditadura militar, gente desaparecida, essas coisa. Mas, ainda assim, nossos heróis não morriam de overdose, mas de bala.
Era a cultura da bala sendo implementada pelos italianos nas terras dos yankees que rapidamente aprenderam. Hoje, ainda na cama, liguei a tv e não para minha surpresa estava sendo reprisado pela milésima nona vez o “De volta ao Jogo”, com Keanu Reeves, no qual interpreta um assassino profissional aposentado, que volta a ativa para vingar a morte de seu cachorrinho de estimação.
Esta foi a terceira vez que tentei contar quantos pessoas John Wick mata, mas sempre sou interrompido, já tinha somado 3.433 mortes, quando o WhatsApp me tirou atenção, marquei a cena, da próxima vez que topar com John Wick continuarei de onde parei. Segundo Maria, não deve ter sobrado uma alma viva no set de filmagem.