Artigo

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Vamos fazer cooper!

Nos anos 70, um cidadão chamado de Kenneth Cooper, médico cardiologista estadunidense chacoalhou o mundo dos esportes direcionando a uma nova metodologia de condicionamento físico, afirmando que o meio-termo entre a caminhada e a corrida era o segredo da saúde. Por anos me fiz de desentendido voluntariamente desdenhei do doutor e, para ter uma base solida à minha tese coloquei deliberadamente, no bestuto que o Ms. Cooper estava me dizendo para deitar na rede e relaxar, foi o que fiz anos a fio.

         Entretanto, como dizem os viventes lá do Congresso Nacional “não existe almoço de graça”, posso testemunhar positivamente a cunhada afirmação e não da maneira mais agradável: em 1º de maio de 2019, foi acometido de um AVC isquêmico. Muitos exames, neurologista pra cá, nutricionista pra lá, até bater à porta do cardiologista, depois de me escarafrunchar com tantas perguntas, andar na esteira e martelar meu joelho foi taxativo “senhor Brito, o senhor terá que caminhar”, desse então obedeço-o religiosamente.

        Não digo que caminhar não me faz algum bem. Talvez, meu velho coração agradeça, mas, a minha mente continua preguiçosamente dizendo “homi, vá deitar na rede me exercitar lendo um bom livro”, tento convencê-la que uma coisa não anula a outra e, assim sigo minha rotina. Entretanto, caminhando já me peguei rindo sozinho e gostando do caminhar, porque promove encontros, conversas, que as vezes você esquece até do porque foi ali, ontem foi um desses encontros.

      Caminhando contra o vento, perdido em meus pensamentos foi aterrissado por um “Hei! Quer fazer uma caricatura? É de graça?”, atendendo ao chamado me sentei frente a Mário, cartunista e artista plástico de fino traço, em segundos me desenhou, aproveitei para dar vazão a minha preguiça e, fiquei por lá um bom tempo. Revi o Júnior Bizunga, fotógrafo e produtor cultural, com quem cruzei em algumas ocasiões, em almoços lá no Bardallos e Paulo, um músico e advogado, o qual com seus dreads e skate já havia visto dando seus Ollies na pista, pessoas que entraram para lista de amigos. Enfim, foi um encontro agradável. Viva à caminhada, vamos fazer cooper!!!

       Mário! Vamos marcar um cafezinho, para botar em dia nossos traços.

Brito e Silva – Cartunista  

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Ziraldo encantou-se

Em uma de suas palestras “Se você não existisse, que falta faria?” o filósofo Mário Sérgio Cortella diz que morrer é ser esquecido, portanto, se você viveu com dignidade e transformou sua labuta em algo de real significância à sociedade e ao seu tempo e, ainda projeta em novas e futuras gerações impacto de admiração e carinho, essa pessoa não morre, é o caso: Ziraldo não morreu, encantou-se neste 6 de abril de 2024.

          No livro em homenagem aos 90 anos há belíssimos testemunhos de vários cartunistas do Brasil, onde contam seus contatos e histórias vividas ao lado do pai do “Menino Maluquinho”, não participei, entretanto, figurei na Edição da Revista Huai, editada pelo jornalista/cartunista Edra, que trazia noventa caricaturas do mestre Ziraldo, desenhadas por 90 cartunistas, dentre elas uma minha.

         Não tiver o prazer de conhecer Ziraldo pessoalmente. Nos anos 80, Canindé Queiroz, diretor-presidente do jornal Gazeta do Oeste, me trouxe de São Paulo, vários exemplares do Pasquim e um livro de Ziraldo – o qual perdi na mudança para o Acre – que aliado a outro livro do grande cartunista, o cearense Mendez consolidaram definitivamente minha opção pelo cartum, apesar de ter sido Diretor de Arte de várias agência de publicidade, Diretor de Arte e Cenografia de TV e Jornal, comentarista de política na TV – a Nankin nunca deixou de correr em minhas veias e o mineiro lá de Caratinga, o Ziraldo Alves Pinto foi um dos culpados.

         De fato, queria ter a sua habilidosa inteligência para retratá-lo em forma de homenagem e agradecimento, entretanto, me apequeno em minhas limitações e, assim sendo, só quero agradecer por poder contar aos meus netos que fui seu contemporâneo e que partilhamos arte dos traços. Ziraldo não morre, pois jamais será esquecido. Viva Ziraldo.

Brito e Silva – Cartunista

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Mentir é preciso

Mintam, mintam por misericórdia – Nelson Rodrigues

Lá na embaixada de Mossoró/RN, em Baixa do Chico, no pé do serrote, deitado numa rede de telecelada na cidade de Jaguaruana/CE estava sempre meu tio Nôga – in memoriam – a se deliciar do aconchego da exuberante sombra de um pé de manga-rosa a contar estórias. É assim, nesta bela imagem que tenho o meu tio emoldurado na parede do museu de minhas memórias.

        Outro dia vi uma entrevista do grande dramaturgo Ariano Suassuna onde admitia admiração profunda pelos mentirosos, não os mentirosos que tornam a mentira em um crime, mas daqueles que inventam novas realidades, enfeitam a crueldade veracidade da vida, cravou também quem escreve carrega sempre na tinta uma boa dose de mentira, isto é, impõe à realidade uma bem requintada fantasia transformando um pedaço de chão rachado ou uma capoeira ressequida pelo sol escaldante em um vasto campo verdejante, com montanhas azuladas ao fundo, compondo a obra de arte imaginária, em primeiro plano, sob o sol da primavera corre, com os pés desnudos, uma linda e singela donzela com um vestido branco translúcido e esvoaçante ao vento, deixando amostra seu delineado corpo juvenil, revelando a beleza da cor de sua pele. Indubitavelmente, é um convite ao leitor registrar essa imagem que não existe. 

         No ano de 2008, o Zé Ramalho na versão de “Things Have Changed” do prêmio Nobel de Literatura de 2012, o cantor americano Bod Dylan cunhou que “a verdade do mundo vem de uma grande mentira” e, de fato, não há saída a mentira é parte tão intrínseca de nossas vidas que de tão íntima, muitas vezes não percebemos sua utilidade no dia-a-dia. Todos nós mentimos. Calminha aí! Não precisa se ofender, basta admitir que mente.

        Lendo, algum hipócrita, certamente, soberbamente dirá “eu não minto”, esse tipo, em geral, acredita no que diz. Pode até ser haja uma pessoa de alma tão limpa que não minta para outrem, ainda assim, mente para si mesmo. É bem verdade que existe mentira e mentira, cabe a você saber qual das duas faz parte do seu viver. Há quem minta pelo prazer do bem, isto é, de uma bela gargalhada, também há o sádico que mente pelo prazer de ver o sofrimento.

        Voltando ao Tio Nôga. Fomos lhe fazer uma visita em um sítio ali pelos arredores de São Gonçalo do Amarante/RN e, soubemos de um entrevero dele com um sujeito das proximidades, preocupados, o inquirimos:

– Foi nada não meu sobrinho.

– Nos disseram que houve até agressão física…

– Não, não! Foi uma besteira.

– Besteira?

– Sim, um “bebo choco” encostou a “zurêa” dele na minha foice.

          Esse era meu tio, cheio de pilhérias, gostava de contar estórias, tal qual Chicó. É certo, uma mentira bem contada e bom pra danado. Já disseram que mentir é preciso, viver não é preciso!!!  

Brito e Silva – Cartunista

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Peter explica

Outro dia, dentro do meu breve e franzino espectro do conhecimento da alma humana, falei sobre saudade e suas várias definições poéticas e filosóficas, é bem verdade, algumas foram piegas de doer a muleta, outras até com uma fina superfície de uma presumida verdade. Entretanto, definir este sentimento “muito embora sendo fã da ciência, e por isso mesmo sei que não é precisa e a verdade absoluta não é perseguida” fica faltando um pedaço, como um quebra-cabeça que não se completa se uma única peça estiver ausente. Logo, conceituar saudade, seja por belos e melódicos versos dos mais criativos poetas ou mesmo os elaborados pensamentos filosóficos, certamente, o conceito ficaria manco, capenga necessitando de muletas para se manter de pé, como sempre ocorre.

Saudade é um sentimento que permeia toda a raça humana e até parece também atingir outros mamíferos como os cães. Os mitos, as crendices populares também têm nos revelado, o que antes do Reino Vegetal, campeavam pelo mundo sobrenatural, metafísico, transcendental, agora pode ser real. Por exemplo: as árvores podem ter sentimentos, não sei se de saudade, mas segundo estudo cientifico do alemão, especialista em árvore Peter Wohlleben, garante que elas possam sentir dor e até outras emoções como o medo.

É notório que as superstições entre os humanos de todas as civilizações muitas delas envolviam membros do Reino Plantae. Na cultura indígena os curandeiros em suas pajelanças usam galhos e folhas para aliviar dores e curar o mal, também nas cidades e pequenos povoados pessoas utilizavam ramos de plantas para “rezar” curando “espinhela caída, dor no estombo, incosto…” assim como a Espada de São Jorge e pé de Peão Roxo eram (são) cultivados nas casas e apartamentos para proteger o ambiente do mau-olhado, gente invejosa e pessoas de “olho gordo”.

Tal qual o alemão Peter que atestou o sentimento das árvores, posso dizer o que Damiana – uma das minhas três mães – também percebeu algo que a deixou perplexa: a rebeldia do pé de mangueira plantada por meu pai, seu Luiz, a qual ele zelava como se cuidava de uma neta, em troca recebia mangas docemente suculentas e deliciosas. Entretanto, após sua “ida falar com Deus”, a Mangifera se recusa terminantemente ser cortês com aqueles que costumavam se deleitar com seus frutos, agora lhes oferecendo em sua primeira carga e todas as outras subsequentes os seus frutos azedos, impossíveis à degustação. Talvez, seja saudades da companhia de seu Luiz.

Também é bem verdade que Maria no início das manhãs dedicava longas conversas com as roseiras e suas três-marias, isto quando morávamos, na Rua Ana Neri, em Petrópolis/Natal/RN, nos confidenciou a amigo vizinha que todas murcharam e morreram logo após nossa mudança. Saudade? Não sei. O Peter explica.

Brito e Silva – Cartunista

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Sonhos

Dizem que na vida há tempo para tudo: nascer, crescer e morrer, esta é a lei mais proeminente e, sem adendo, da natureza na qual todo ser vivo desde uma bactéria aos mais sábios de todos os homens, têm a ela o seu chamado atendido.

Os sonhos também nascem, crescem e morrem. Já sonhei acordado algumas centenas de vezes, estes, na verdade são apenas delírios e desejos que jamais sairão deste universo. Há sonhos que você alimenta, cultiva, rega, capina, asfalta o caminho por onde ele deverá passar, criando atmosfera aonde se realizará a metamorfose, deixando de ser sonho e, sim, tornar-se uma concretude. Claro, neste tipo de empreitada o dispêndio de energia, provavelmente, será volumoso, ainda assim, compensador e prazeroso. Entretanto, há outros nascidos pré-determinado a deixar o berçário apenas para se acomodar no baú do esquecimento, de fato, pode até ser que não fora nem sonho, mas, apenas um desejo fugaz.

Lá na boa terra da Santa dos Olhos, Mossoró, no final dos anos 70, precisamente, em 1979, deu-se início a minha carreira profissional quando fui contratado pelo Jornal Gazeta do Oeste. Na cidade haviam dois jornais, O Mossoroense – terceiro jornal mais antigo da América Latina – carinhosamente chamado por todos de “O Mossoroense velho de guerra” e naturalmente a Gazeta, porém, circulavam na urbe O Diário de Natal, O Poty e a Tribuna do Norte dentre outros do “Sul maravilha”, com um delay de dias.

No meio se dizia “quem trabalhava N’O Mossoroense queria trabalhar na Gazeta e quem trabalhava na Gazeta, queria um dia trabalhar na Tribuna do Norte”. Pois, muito bem, fiz meio ao contrário – porém desejando seguir à risca – do jornal Gazeta fui convidado por Marcos Aurélio para a gráfica RN Econômico, momento em que a sociedade da revista homônima estava se desfazendo para surgimento do jornal Dois Pontos.

Por aqui na capital potiguar, em 1982, trabalhei na Cooperativa dos Jornalistas de Natal, no jornal Estilo, de Toinho Silveira, quando fui convidado pelo jornalista Dorian Jorge Freire a voltar para Mossoró e participar de um novo projeto do jornal O Mossoroense e, lá se foi meu sonho(?) de fazer parte da equipe da Tribuna do Norte. Em 1989 fui para Rio Branco/AC, dirigir o departamento de Arte e Cenografia da TV e jornal Rio Branco e, portanto, o sonho definhou.

1999, vim morar em Natal, prestei serviço, nas Tvs Tropical, Intertv e na Tv União, onde participávamos do programa político Liberdade de Expressão fazendo trinca com Manoel Ramalho e Professor Luis Carlos Noronha. Um belo dia o meu amigo cartunista Brum, da Tribuna do Norte, naquele período, em meados de 2018, me convidou para eu tirar suas férias, percebi que aquele sonho tinha virado notícia do jornal de ontem, sem alternativa, disse não. Afinal, eu não era mais aquele Brito de antes e, certamente, a Tribuna do Norte, já aquela época não era mais a mesma.

Brito e Silva – Cartunista

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Belchior, apenas um cidadão comum

Sempre tive uma “queda” por música; cheguei a acreditar que seria um músico, cantor ou compositor, todavia as mães sabem o que fazem, a minha percebeu logo minha inabilidade, para me proteger – creio – livrou-me da frustação do insucesso que certamente, estaria me aguardando. Não sei se a ideia era apenas uma ilusão romantizada da minha enevoada percepção do mundo artístico e, principalmente, quando a revista Manchete ou Veja trazia Vinicius de Morais, na sua banheira com um copo de uísque na mão e um charuto na outra, um litro de uísque ao fundo e Toquinho de violão em punho finalizavam o cenário.

Aí vem Zé Ramalho cantando Avôhai, Admirável Mundo Novo; Raimundo Fagner com Manera Fru Fru Manera, O último Pau de Arara; Alceu Valença Agalopado, Papagaio do Futuro; Ednardo voando em um Pavão Misterioso, Enquanto Engomo a Calça; Geraldo Azevedo em Caravana na Barcarola do São Francisco, por aqui na terra dos Potiguaras Terezinha de Jesus balançava as palhas do coqueiros em Prece ao Vento; Impacto Cinco nos afagava com Mãos de Seda Coração de Ferro, no solo sagrado da terra da Santa dos Olhos, o Trio Mossoró cantava Santo de Barro, do grande Iremar Leite.

Nesta profusão de sons de alta qualidade com medo de avião desembarcava, na Hora do Almoço, um sujeito cantando “Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior” logo arregimentou milhares (milhões) de fãs Brasil e mundo afora, muitos entenderam a mensagem carregada de críticas sócias demonstrando seu inconformismo, descontentamento com a realidade posta no Brasil e no globo, outros tantos, voluntariamente não quiseram compreender sua alucinação em expor suas impressões sobre a realidade e as dores do mundo.

Creio, quase todos da minha geração foram pegos e afetados por “Apenas um rapaz latino-americano” que vestia como uma luva, isto é, uma segunda pele a embalar a alma, para aqueles – nós – jovens dava uma identidade, uma “causa” pra chamar de sua, não apenas pelo momento político do país, porém, também por todas as inerentes ilusões, temores e medos de quem queira mudar o mundo. O certo, é que Belchior, passou a integrar o cotidiano de toda uma geração de forma arrebatadora, sem fanatismo, conscientemente.

Entretanto, quase todos os músicos acima citados, conseguiram sobreviver as intempéries, solavancos do mercado comercial da música brasileira, infelizmente, Belchior, em 30 de outubro de 2017, nos deixou, no plano físico, porque, de fato, nunca saiu de nossas vidas. É verdade que às vezes desaparecia e voltava, desaparecia novamente, voltava…

O certo, é que Belchior atravessou gerações. Contudo, agora nestes anos de 2020 a galera, uma nova geração cheia de sonhos e, talvez, entendendo o Antônio Carlos, o descobriram(?) em toda sua extensão, no sentido lato, expondo com força e com vontade suas músicas, textos, pensamentos e ideias nas redes sociais, se tornando um movimento sólido. Aqui, do meu cantinho como um cidadão comum, destes que se vê na rua, estou ciente que um dia “O anjo do Senhor, descerá para uma cerveja, e, se tiver sorte, serei levado feito um pacote no seu manto…”.

Rogo o perdão do meu amigo poeta Caio César Muniz, ante seus imensos saberes, pelo sacrilégio em falar sobre o Belchior, é que lá em casa tinha uma Frigidaire, de quem fui amante e nas madrugadas traíamos a Telefunken.

Brito e Silva – Cartunista

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Dorian Jorge Freire

Ontem, sonhei com o jornalista Dorian Jorge Freire, o cenário imposto por Morfeu, pareceu-me muito familiar, aquelas estreitas escadas, as quais subi algumas milhares de vezes, indo a sua sala e a de João Newton da Escóssia, então nosso diretor administrativo, jamais poderia esquecer. Pois muito bem, quase nos últimos degraus perguntou-me o velho jornalista “Valeu a pena?”, mostre-lhe dois dedos em “V” – não o responderia assim, certamente, diria “Sim, valeu a pena” – mas, foi só sonho.

Isto lembrou-me de 83, quando fui chamado por ele para voltar para Mossoró (indicado que pelo amigo de Gazeta, Laércio Eugênio Cavalcante) depois de 2 anos de Natal entre a Cooperativa dos Jornalistas de Natal, RN Econômico e Jornal Estilo – de Toinho Silveira –  pois, imaginava dar uma nova cara, revitalizar o velho “O Mossoroense” de guerra, em formato e conteúdo, queria fazer frente ao jornal de Canindé Queiroz, de onde éramos oriundos.

Detalhes ajustados, passei dias queimando as pestanas na prancheta, criando um novo layout o qual, aos olhos dele, pudesse ser a programação visual ideal pretendida. Em um domingo qualquer de março de 1983, em sua casa à rua 30 de setembro, de frente a praça da antiga União Caixeiral – que ostenta uma estátua em sua homenagem – nervoso apresentei-lhe nossa ideia, com atenção meticulosa do principal personagem do escritor Sir Arthur Conan Doyle, como quem procura indícios de um crime barbaramente “perfeito”, folheou as 12 páginas, olhou-me através de duas grossas lentes, franziu a testa e disse o que ansiava ouvir “sensacional”. 1º de abril de 1983, João Newton assinou minha carteira profissional.

Todos no jornal tinham uma espécie de misto de respeito e medo de Dorian, hoje quero crer, que ele gostava disto, talvez, para manter uma certa mistificação. Logo avisaram de sua ranzinzice, seu mau-humor. Entretanto, por vezes o encontrei a gargalhadas ao telefone. Também testemunhei na redação rasgando matérias de jornalistas, esbravejando dizendo que estavam mal escritas, uma bosta, dizia. Imaginava que meu “dia” chegaria e chegou. Em um belo sábado me diz para eu abrir espaço de meia página no jornal para uma coluna que seria assinada por Dr. Layre Rosado, entregou os textos, desci, fiz a diagramação, mas as “margaridas” não colaboravam muito – esferas que traziam o alfabeto em alto relevo – haviam apenas três modelos: corpo 8,10 e 12 – para digitação nas composer IBM, quando diagramava em corpo menor faltava texto, se aumentava o corpo “estourava”, foi reportar-lhe, soltando fogo pelas ventas:

– Você não saber é fazer, nada!!!

– Então faça você! Devolvi-lhe.

Com cara de poucos amigos, ironizou:

– Dá para “senhor” descer e chamar Laércio, outro cabeça de vento.

Laércio Eugênio Cavalcante, chefe das oficinas, subiu e por lá resolveu. Ficamos de “mal” um certo tempo, pouco me dirigia a palavra e a recíproca era verdadeira.

Mas, quando a coisa está ruim, fique certo, vai piorar. Em outro bendito sábado, já pisava na soleira da porta da frente do jornal, com direção certa ao Ponto Frio – de Dona Luzia – eram por volta das seis em meia, isto é, 18h30, quando Vovô fala:

– Brito, seu “pai” quer falava com você no telefone.

– Alô…

– Brito, fechou a capa?

– Sim Dorian, estava de saída.

– Vamos ter que abrir um espaço…

– Tá certo, vou esperar o senhor aqui.

– Não, não, quero que você traga a capa do jornal aqui em casa.

– Aí, eu não vou não.

– O quê?

– Aí eu não vou não!

Desligou na minha cara. Ora, eu doido para me juntar a turma que já tinha “derrubado” um monte de “burrinhos” com mão-de-vaca. Vovô me chama, era Dorian:

– Alô…

– Dono do mundo. Abra um espaço onde você quiser e coloque “Embaixador da Inglaterra pernoite em Mossoró”.

Acima do logo do jornal pus a manchete, já contando com minha demissão. No final tarde da segunda-feira, ele desce vai até minha sala, entrega sua coluna, com um “tapinha” no meu ombro acompanhado de “por que todo baixinho é metido a besta?” Deu-me as costas e saiu caminhando leve, como quem imita Frei Damião.

Para mim, foi um selo de paz, que assegurava o meu emprego. Trabalhos juntos por anos nos quais consolidamos o respeito mútuo, é certo que neste ínterim, claro, tivemos outros entreveros, de poucos danos ou sem nenhum. Em 89, fui dirigir o departamento de arte e cenografia do Jornal e Tv Rio Branco, no Acre, na volta em 92, para o Jornal Gazeta do Oeste, fiz minha primeira exposição de caricaturas em sua residência. Dorian, foi uma grande inteligência da boa terra da Santa do Olhos, junto com Canindé Queiroz alicerçaram os pilares do jornalismo mossoroense. Bravos!!!

Brito e Silva – Cartunista

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Porra de AI

Evidente que pouco ou nada mesmo a fazer contra a Inteligência Artificial – AI, o que, de fato, podemos é usá-la de forma mais racional possível. Claro, existem muitas preocupações em todas as camadas sociais, aqueles não entendem ainda assim, o cuidado tem sua verdade. Cientistas de todas as áreas dos conhecimentos humano também cultivam desse sentimento, é certo, que isso tem a ver com ética, humanismo e, medo mesmo.

Entretanto, o neurocientista Miguel Nicolelis foi taxativo em afirmar que não existe inteligência artificial “inteligência somente é orgânica”. Do alto da minha cristalizada sapiência do mundo da tecnologia, devo concordar com o Miguel, que mesmo antes do Elon Musk, em 2021, fazer um estardalhaço danado quando a sua startup Neuroalink implantou um chip em um macaco e o fez jogar videogames com a mente, o brasileiro já fazia o mesmo lá por volta de 2016.

Outro dia recebi do amigo Laércio Eugênio Cavalcante, uma foto legendada “E ainda com todos os personagens vivos. Kkk”, na verdade se tratava de um bilhete do grande cartunista/jornalista Cláudio Oliveira, na sua época de Tribuna do Norte:

LAÉRCIO

1º lugar: um beijo (vôts).

2º lugar: conheça o Chafurdo.

3º lugar: envie-nos também seus desenhos junto como os de Brito e Jaques Cassiano.

4º lugar: estamos vendo com vocês a possibilidade de distribuição do jornal (mensal) aqui em Mossoró.

5º lugar: gostaríamos também de vera a possibilidade de conseguir anunciantes.

6º lugar: gostaria que você estudasse também se é mais barato imprimir o jornal aqui em Mossoró.

7º lugar: A ideia é montar um esquema semelhante ao “Salário Mínimo”, que era impresso na Astecam com aquele papel do Fradim, lembra?

8º lugar: Se for mais barato ou igual vale à pena imprimir o jornal aqui a gráfica de Natal cobra hoje a impressão de 1.000 exemplares do tabloide de 8 páginas,

16 mil cruzados, na Astecam quanto é? Canindé Queiroz não barateava em troca de publicidade, etc?

9º lugar: e no jornal “O Mossoroense”?

10º lugar: escrever pra gente, porra!

Cláudio Oliveira – 3/1/88

Duvido que a porra da AI tem capacidade de Cláudio para escrever uma “porra” tão carinhosa, carregada de afeto, respeito e amizade sincera. Antes, que eu me esqueça, vai pra porra AI.

Brito e Silva – Cartunista

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Me guardando pra quando o carnaval chegar

“Quem me vê sempre parado, distante garante que eu não sei sambar
tou me guardando pra quando o carnaval chegar…”Chico Buarque 

É da natureza do tolo ficar parado esperando apenas por esperar algo acontecer sem se preparar para quando o “carnaval chegar” e, no momento em que a folia chega faz a festa, e assim como veio vai-se embora. O estúpido não percebeu, não viu, não sentiu, sendo assim, espera sentado culpando e pendurado na longevidade da esperança. 

Outro dia, pela manhã na fila do pão do Carrefour uma senhora, mas enfeitada que a “burrinha de Zé Garcia” reclamava do preço do pão, do motorista que chegara atrasado e não trouxe o guarda-chuva, assim proporcionou que os pingos de chuva ousassem se precipitar sobre aquele acúmulo de produtos, que fazem uma espécie de domo químico, sobre suas madeixas de raízes esbranquiçadas que expõem sua verdadeira conservação, ora camuflada com um tom loiro. 

Um provérbio chinês imprimi “quando um sábio aponta o céu o ignorante olha o dedo”. Poucas vezes se prepara para o sucesso ou derrota, no tempo em que se chega ao sucesso aflora o despautério, a arrogância e a cegueira, não vê a beleza do céu azul, das noites de lua cheia, da mãe terra engravidando depois de uma “tesuda chuva” – como grafava o jornalista Canindé Queiroz – o nevoeiro da ingratidão meramente esbraveja contra o forte clarão do sol, da fraca luz da lua, do torrão molhando provocado pelos pingos de vida que por aquele chão fluiu em correntezas aos riachos, ribeirões, rios até aos oceanos.

Quando não se planeja e o contratempo bate a soleira da porta, uma topada no dedão do pé, alguns pingos de chuvas, a luz do Astro-Rei ou o prateado luar se torna uma cruz, um castigo similar o de Sísifo. De fato, o tolo não enxerga além do próprio nariz, não cultiva a compaixão, o agradecimento, na verdade não consegue minar os olhos com a beleza do milagre de viver.   

Vou ali me banhar na sapiência dos netos, para quando o carnaval chegar.

Brito e Silva – Cartunista

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Vinho, cuscuz e ovo

Caba nascido nos grotões dos serrotes de Angicos/RN, acostumando a comer farinha com rapadura Cariri, rolinha assada na brasa e forrar bucho lá em Zé Leão, na Cobal, em Mossoró, com cachorro-quente como quem come faisão, certamente, levará uma vida para atender bem às etiquetas e delícias dos novos sabores da culinária, entretanto, estou aberto às experiências gastronômicas, é certo, que por vezes -sempre – cometo alguns sacrilégios.

Neste final de 2023, recebemos alguns carinhos líquidos – literalmente, não no sentido do Zigmunt – mas, físicos envasados pelas melhores vinícolas brasileiras e chilenas. Os meus saberes na arte da enologia são tão vastos e semelhantes aos que carrego da física quântica, isto é, porra nenhuma.

3 Pepinos

130ml Vinagre

100g Açúcar
15g Sal
Gergelim a gosto

200g de fiapos de peito de frango

½ cebola

1 cenoura média

½ beterraba

Está pronto o Sunomono, acrescido, evidentemente, de umas pitadas de criatividade nordestinas de Maria:

– José, venha almoçar.

– A comida boa para ser acompanha de uma taça de vinho.

– A última você tomou ontem no cuscuz com ovo.

Pobre é um bicho destruidor de sonhos.  

Brito e Silva – Cartunista

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Passado

O grande filósofo do cristianismo, o argelino Santo Agostinho tatuou uma das frases mais emblemáticas relativas à definição do tempo “o passado não existe, porque já acabou, o futuro não existe porque não começou, o presente não existe porque se torna pretérito” e ainda adiantou “o que é o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; porém, se quero explicá-lo a quem me pergunta, então não sei…” 

Eu sou fissurado no tempo, penso nele o tempo todo, todo tempo, acho fantástico e, principalmente no passado, porque para mim, de fato, é o que existe – olha eu divergindo de Santo Agostinho – há muitas teorias filosóficas e físicas sobre o tempo, entretanto, todas apresentam falhas insupríveis, logo posso me dá ao devaneio de ter a minha própria tese.

O passado, só ele existe. Ele é o senhor do tempo, depois de estabelecido nada pode alterá-lo, mudar, corrigir, somente pode ser acrescido numa linha contínua. Não há nada mais generoso que o passado, aquele não esquecido que você pode acessá-lo quando quiser, onde quiser, o tempo que quiser, só ele é real. O futuro não chegou, aparecendo instantaneamente será presente com vida de milésimo de segundo para depois alojar-se no passado, na gaveta das boas recordações ou apinhar-se no baú do esquecimento. 

Eu sou passado, vivo o passado, ainda bem. Do passado me alimento, curto meu passado, acesso-o cotidianamente – não tem como fugir: minha manhã já é passado, beijos dos netos já estão no bornal das inesquecíveis boas memórias – entretanto, nem sempre ele se faz presente por livre e espontânea vontade, e sim, lhe é posto por terceiros obrigando-o a ver o que queria esquecer.

Sou audiência assídua no Facebook do Relembrando Mossoró, do jornalista e escritor Lindomarcos Faustino foi lá que vi o post de uma foto,  aí me deu uma tristeza no meu peito, era o “túmulo” aonde sepultaram a história e o sonho de centenas de profissionais de comunicação, foi lá que conheci Kléber Barros, Nilo Santos, Dorian Jorge Freire, Inácio Pé de Quenga, Laércio Eugênio Cavalcante, Júnior Barbuda, Claudino, Thurbay Rodrigues, Zé Maria Caldas, Sérvulo Holanda, Carlos Sérvulo, Amâncio Honorato, Dona Maria José, Dona Neide, César Santos, William Robson…E tantos outros amigos que os trago, como pingentes, do lado esquerdo do peito. Era ali na Cunha da Mota com a Frei Miguelinho a morada de Canindé Queiroz e Dona Maria Emília, a nossa “casa” a Gazeta do Oeste, naquela esquina boa parte da história contemporânea de todos nós foi escrita e está impressa no passado da memória da terra dos Monxorós. 

Brito e Silva – Cartunista

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O Camaradinha

Vi um post de amigos ladeados por Caby, aí bateu saudade do “Keibi”, gente do meu bem querer. Quase não lembro de vê-lo raivoso, esbravejando, reclamando da vida, na verdade, estava sempre fazendo piada com todo mundo, passando trote para os amigos, é exceto, ao ser chamado de Raimundo Nonato, por um incauto malicioso. Mas, isto é outra história.

Caby, foi uma dessas pessoas que têm o coração mais largo que o bolso. Por vezes o vi ficar liso “batendo a biela” por emprestar o último centavo ou ter pago a conta da mesa vizinha repleta de pirangueiros e no final, sair atrás de dinheiro a juros. O Camaradinha era assim, sem freio, sem amanhã e “sem miséria”.

Calça boca-de-sino, cabelos black power, camiseta de mangas longas e tamancos esse visual dos anos 70 embrulhava Caby, que não dava a mínima para quem torcia o rosto à sua indumentária fora de moda. Gostava de pregar “peças” nos amigos, mas havia quem lhe retribuísse. Reza uma lenda urbana que certa vez ao chegar na guarita da Vipetro, Vilmar teria orientado o porteiro dizer da necessidade dos visitantes usarem botas e capacete, alegando norma da empresa. Quando Caby entra na sala, Vilmar vê aquela presepada caí no riso, o “Camaradinha” acompanha promovendo uma risadaria danada.

Ilustrei quase todos os seus livros, os que não o fiz, foi porque estava morando em Rio Branco/AC. Mesmo quando mudei para Natal, ele trazia. Sem exceção, todas vezes terminava em briga. Brigamos centenas de vezes e centenas de vezes nos reconciliamos, ele muito mais generoso: dois, três dias depois da batia à porta ou ligava “Cossorro, diga a Brito que passo já aí pra gente tomar uma”. No bar não bebia dois goles do Campari, eu não sentia o gosta da Brahma na goela, já dizia vamos? Aqui tá choco! E assim, saíamos de bar em bar, até ele sossegar o facho no Travessia.

Insistia, dizendo ser seu sonho, a gente ter uma agência de publicidade com o nome Azougue, não deu. Porém, criamos o site www.azougue.com dois ou três meses depois brigamos, ele levou a frente o projeto. Não há dúvidas, minha ranzinzice de querer tudo dentro do combinado, das regras, da agenda foi promotora de tantas querelas, e ele, por ser um sujeito sem amarras, livre como o vento, nunca deu bolas às nossas malquerenças, logo no domingo, no Som do Caby: Azougue, do camaradinha Nando Cordel, para meu amigo Brito e Silva, roda a carrapeta aí…”. Esse era Caby, o resto é folclore.

Brito e Silva – Cartunista  

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Está tudo mudando

“Você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem” entusiasta da “terra plana”, teimando em desmascarar Gagarin, que falou ser a terra redonda e azul, saiba “Tua piscina está cheia de ratos, tuas ideias não correspondem aos fatos, o tempo não para…”, “Eppur si muove” cravou Galileu.

Sabe o amigo com quem jogava bola-de-meia, na adolescência se dizia ateu? É dizimista da Universal cultua “deus, pátria e família”. A namoradinha de infância? Virou mulher do lar, casou com o esnobe da outra rua, que acreditava ser as “pregas de quelé”, é verdade: ainda traz marcas no rosto daquela pureza bela, das noites de verão das brincadeiras de esconde-esconde na rua Augusto da Escóssia mal iluminada pela Comensa. Porém, os negros olhos de outrora brilhando como a Estrela Dalva, agora refletem profundo pretume da tristeza.

Jô Soares dizia se a xícara desse bom dia, sem titubear diria “bom dia xícara”. As relações mudaram com os pais, mães, filhos, parentes, amigos, com o mundo e continuam a todo vapor. Acordamos, ainda na cama, exigimos: “Alexa” acenda a luz, ligue a tv e o Mac do escritório. Nos anos 70, mudar o canal de nossa Telefunken tínhamos que ir até o seletor, estapeá-la para imagem, preta e branco, aparecer sem chuviscos, era assim.

Bob Dylan diz “está tudo mudando”. Char, uma americana comprou uma boneca inflável em semelhança e imagem dela, para o marido transar quando estiver indisposta; a canadense Sonja, “ecossexual” diz ter orgasmos múltiplos com um frondoso carvalho; José, lá de Floripa, casou com a bela Samanta, uma rosada suína.

Os alimentadores de minha pasta Bobagens do Tik Tok, enviaram um vídeo onde um gato esbofeteia as fuças de um dog, amuado rosnar expondo as presas, o gato dá um pulo por cima da ligeireza caindo em pé, com a coluna arqueada, os pelos das ventas até a ponta do rabo arrepiados fitando no “Pit Bull”, que percebendo a intenção do “bichano” murcha as orelhas põe o rabo entre as pernas faz meia volta e sai grunhindo, chorando, imitando “Pé-de-Pano”, o cavalo do Pica-Pau. Tudo muda. Pense, não vire estátua de sal.

“Tudo que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo – Lulu Santos

Brito e Silva – Cartunista

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Calhordice

Calhordice

A canalhice da extrema-direita não tem limites, depois que a CGU declarou que o cartão de vacina do genocida é falso, para criar uma cortina de fumaça reeditaram um vídeo fake news antigo, em que supostamente o Pe. Júlio Lancelotti se masturbava para um adolescente.

Esse é o jeito seboso e asqueroso de fazer política dessa gente sem escrúpulos, apoiada por outros calhordas iguais, blogueiros criminosos que no lufa-lufa de conseguirem audiência publicam qualquer coisa sem checar. Cretinos!

Inclusive, um destes cretinos, aqui da terra de Poti, tem a ousadia de propor o nome à Prefeitura de Natal. Ora, vai te catar, alma podre.


por Tácio Caldas tacio.caldas@bnews.com.br
Publicado em 07/01/2024, às 09h08 – Atualizado às 09h10

De acordo com um períto Mario Alexandre Gazziro, contratado pela revista Fórum, “os vários elementos apontam para uma farsa e esse vídeo, em particular, foi gerado para dificultar análises forenses”.

“O que realmente prova que não se trata do padre é a edição para inserção dos ícones do WhatsApp. Porque se fosse realmente um caso real, em que uma suposta vítima tivesse gravado a tela do próprio celular com alguma ferramenta, não teria aparecido o ícone do aplicativo como artefato de edição em destaque na análise forense. Aquilo foi editado e colocado lá”, explica Gazziro.

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Saudade

Saudade é uma palavra perene em nossas vidas, embora não a percebamos no seu conceito e definição mais profundos, na grande maioria das vezes falamos apenas por falar numa vulgaridade sem tamanho “estou com saudade daquela música, estou com saudade de ir à praia…”, coisas assim, cotidianamente banais. Dizem os estudiosos e entendidos do borogodó da língua portuguesa que não há uma tradução literal da palavra saudade em outras línguas, logo a saudade é uma coisa nossa, não que outros povos não tenham este sentimento, mas isto é outra história.

A filosofia cunha, em um conceito bem rasinho, se deve compreender a saudade como a presença da ausência, isto é, um vazio. O dicionário descreve a saudade como “sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa, um lugar ou à ausência de experiências prazerosas já vividas”.

Digo que saudade é aquele instante em que você sente os olhos minar como cacimba em leito de rio seco, e as lágrimas caudalosamente teimam em jorrar e ainda assim, se pega rindo, como se aquele valioso momento tivesse feito a vida valer a pena e seguir ao futuro expondo estes fragmentos de tempo em quadros em uma parede de um museu, que você pode ver quando quiser.

Qui nem jiló

Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira

Se a gente lembra só por lembrar
O amor que a gente um dia perdeu
Saudade inté que assim é bom
Pro cabra se convencer
Que é feliz sem saber
Pois não sofreu…

Gonzaguinha, em sua bela música Saudade escreve “saudade a gente não explica…”, de fato, mas quem diabos precisa de definição para sentir essa coisa que nos faz chorar sem sentir dor nos acalmando a alma, como se uma dose de morfina fosse. Hoje, alvoreci com saudades do meu velho pai, seu Luiz, de vê-lo sob o pé de mangueira que plantou, regou e cuidou, como quem cuida de netos, ela, depois de sua partida, se recusa adocicar suas mangas, agora carrega seus frutos com o amargor e azedume de algumas saudades. Claro, fui ouvir “Boiadeiro”, Luiz Gonzaga.

Brito e Silva – Cartunista