Isto é a felicidade

“Não gosto destas festas de aniversários, carnaval, natal, ano novo…Essas besteiras de futebol…” por algumas centenas, talvez milhares de vezes já ouvi alguém sentenciar frase neste sentido. Quando é uma pessoa que ultrapassou o “Cabo das Tormentas” dedico sua ranzinzice a uma vida pouco aproveitada, talvez, mal vivida e, portanto, enraizou o azedume, a indiferença à felicidade dos seus, não consegue admitir que gostaria estar efetivo e afetivamente em meio a estes pequenos e sublimes instantes de êxtases, de felicidade e, por covardia, sabe-se lá, transforma suas frustrações em pura inveja dos sorrisos, dos gestos, das expressões, da alegria alheia, pobres tontas almas. 

Se vem de um jovem a negação, dou um desconto e penso “Esses moços, pobres moços. ah! Se soubessem o que eu sei” contradizia o poeta e amava cada hora, cada milésimo de segundo que oportunizasse um naco de felicidade, porém, penalizado imagino que esse jovem é um tolo velho e certamente, se os deuses permitirem, será um velho tolo, deixando a vida, a felicidade escorrer pelas mãos. 

Nos primórdios o homem se reunia em volta de fogueiras para celebrar a caça, o nascimento de um novo membro da aldeia, a colheita. Apagaram-se as fogueiras nos pátios, nos terreiros e quintais, acenderam-se as lâmpadas a óleo de baleia, depois a querosene, a luz elétrica trouxe as reuniões para dentro das casas, das empresas, enfim, para os ambientes fechados. Mas a essência permanece: a celebração da conquista, aquele momento de puro contentamento individual, jubilo coletivo, uns instantes de eufórica felicidade. 

Outro dia falava com um amigo dos filhos, trabalhos, da vida, quando outro “amigo” presente na mesa numa fina ironia, pensava estar expressando, mas, de fato, era inveja ou desconhecimento total da vida “vocês parecem felizes demais, dá impressão de vivem num mar de rosas, que filhos não dão trabalho, desgostos, e no trabalho não existe desavença…Vocês dois parece que estão nas redes sociais…” imediatamente minhas orelhas esquentaram, a língua se aprontou para manda-lo às favas, quanto “tico” indeferiu sendo corroborado por “teco”, respirei profundamente: “não meu amigo, mas se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi…” demos uma gargalhada, ele puxou um cigarro eletrônico, deu um gole em sua quente cerveja, baforou se despedindo alegando compromisso, foi-se. Soube que estava em processo de divórcio.

Há pessoas que negam a vida, não vivem, sobrevivem, se vestem de melancolia, fazem da vida o rosário de angustias, reclamam de tudo e de todos, dizem não haver motivos para tanto riso, tanta alegria, que a felicidade não existe e se existe nunca bateu em sua porta. Como saberiam se a felicidade existe se olharam, mas nunca viram o sorriso de uma criança? Se ouviram, mas não escutaram um “papai, paim, vovô, vô, vôzinho…”? Ora, abram os ouvidos e os olhos, quer dizer, abram a alma. 

Podem decretar que sou um velho tolo, pai chorão, avô babão. Sou mesmo. Semana passada foi Valentina no Teatro Riachuelo, sua mudança de série. Ontem (16) foi Aléssia, lá de Santiago do Chile, assisti ao vivo pelo Youtube, chorei feito bezerro desmamado, um misto de orgulho e saudades. Maria, me consolando com os olhos marejados dizia isto é a felicidade. Antes eram os filhos, hoje os netos. 

Isto é a felicidade, minar os olhos numa festa a mais de 7 mil quilômetros de distância. Se você não consegue numa festa que brinda a alegria, que celebra a vida encher os olhos de felicidade, meu amigo você é um tolo ou, certamente, precisa de um médico. Sabe aquela música da Turma do Balão Mágico? “Sou feliz por isso estou aqui…”, porque a vida é agora, neste instante. Maria já repôs o estoque de lenços, pois existe muito choro por vir, neste mês até o dia primeiro de janeiro, mas de felicidade, claro!

Brito e Silva – Cartunista

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