Vaya con Dios

Polary com seus filhos Enzo, Aléssia e sua mulher Sanara, no aeroporto de Santiago/Cl.

Diz o poeta “saudade a gente não explica, é coisa que vem do coração”. Melhor definição não sairia das pontas dos meus dedos, pois, certamente, não brotaria nada parecido da minha cachola oca.

Quantificar, qualificar, mensurar seria uma tarefa inútil, pelo menos para mim.  Mas, podemos dizer que algumas saudades doem, rasgam o coração, como se frágil ele fosse, nos faz perenizar rios, ainda assim, são elas que nos mantém vivos. Tenho saudade sim, de minha adolescência, irresponsavelmente jovem sem preocupação alguma com o universo, também bebo saudade de quando me tornei adulto, que acreditava que iria construir um mundo melhor, qual o quê, nada, nada, somente saudades. Não saudosismo de melancólico pesar, mas sinto saudades, muitas saudades.

Eu, sem minhas saudades seria um museu vazio, um saco de pano que não se sustenta em pé, eu sou feito e refeito de saudades. Sinto saudades de ontem, daquele cafezinho de Dona Neide, lá na cozinha do Gazeta do Oeste, de Luzia do Ponto Frio, tenho saudades até, imaginem vocês, das carreiras que a gente levava, de seu Francisquinho, ali do Café Mossoró, quando íamos para o Dom Bosco, ah! E de Pitias? Também de Djalma e dos amigos de farra, mesmo vendo e conversando com muito deles todos os dias. Eu, sinceramente, sou saudade. Me encho de saudades do que foi. Ora, direis de peito cheio, que só se tem saudades do que aconteceu. Meu caro, fale por você. Eu tenho saudades do amanhã quando olhar para os lados e não mais ver meus netos, ali em Mossoró, a 3 horas do meu Renault, e sim, a 5.000km.

E nestes últimos dias, parece-me que eu não a tenho mais saudade, e sim, ela a mim. Meus netos Ezno, Aléssia e minha nora Sanara, estão indo morar no Chile, em Santiago. Esperando por eles está meu primogênito, Polary, que para oferecer uma perspectiva de vida melhor fincou alicerce na terra de Neruda.

Diria, eu no singular, parafraseando Maiakovski: Não estou alegre, mas por que razão haveria de ficar triste?  Sei que eles eram a parte do meu filho mais próxima de mim. Mas, decidi me despir dela, a saudade, desta saudade. Pois, seria muito egoísmo meu prendê-los a sentimento meu, só meu, para meu bem-estar emocional. Certamente, minhas saudades de pai e avô não se comparam as saudades deles, de filhos e mulher. Assim sendo, me embrenho na multidão, que ora, chora comigo, mesmo ciente que não importa o tamanho da multidão, jamais será igual a sua solitária saudade. Vaya con Dios!

Obs: Escrevi ontem, mas não consegui publicá-lo. A saudade não arredou o pé.

 

 

 

 

 

 

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