Artigo

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Café amargo

Por Socorro Oliveira

Nem sempre os olhos refletem a alma, com o tempo aprendemos a controlar os sentimentos, não deixar transparecer o que vem na mente no momento, assim como o corpo nem sempre demonstra as dores que se sente.Venha, sente, vamos bater um papo de alma, não se preocupe minha consciência é um baú de chaves secretas, enferrujadas por causa das intempéries da vida, tomemos um café, o meu é forte e amargo, – minha tia costuma dizer que de amargo já basta a vida – não se sinta constrangido de não gostar do sabor amargo, assim como o café temos nossas amarguras e frustações.Não se envergonhe de largar o fardo que te corcova, que te faz lagrimejar, eu também choro de vez enquanto, quando as barreiras criadas não suportam o desague, não gostou do café mesmo adoçado? Te faço um chá, sou boa anfitriã gosto de fazer a pessoa se sentir à vontade, como se estivesse no seu habitar.Sim, a vida está bem mais difícil. Porém, isso não lhe dá o direito de ser tão amargo, deixe isso para meu café, o sol lá fora parece não amenizar a frieza dentro de você, eu sei, não precisa me dizer, um espirito de luz falou que tudo passa, isso também vai passar.Quer almoçar comigo? Vou fazer uma torta, minha especialidade, todos gostam, ou fingem gostar, eles são como os pensamentos, uns agradáveis outros não, posso servir um suco de maracujá, acalma os nervos, dizem que nos faz dormir.Ontem, estives-te presente em meus pensamentos: lembrei-me de dias inocentes de nossa infância lá no bairro Alto da Conceição, em Mossoró, de quando corríamos descalços, eu só de calcinha e você meu irmão Eguismar, com suas traquinagens, às vezes tirava o calção e saía nu com ele na cabeça, lembra? A calçada era nosso parque, as brincadeiras nos deixavam cansados sem pensar na vida que iriamos ter, só vivíamos e assim adormecíamos felizes.Precisamos nos ver com frequência. Um pouco mais de café?

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Guimarães Rosa

O complexo de vira-lata impende nosso Nobel

“Carta aberta à Academia Sueca: por um Nobel póstuma a Guimarães Rosa”, artigo do escritor Wander Lourenço veiculado na Revista Bula, em 30/01/2023. Embora muitos possam denominar que a “carta aberta à Academia” seja mais uma reclamação ou uma proposição descabida, não levam a sério e são impedidos de imaginarem que, por “injustiça”, ou talvez até, acreditem que não temos competência para um Nobel. 

Será que os elencados no texto, entre tantos outros brasileiros, não tenham predicados, bagagem literária para tanto?

Será que nossa fauna de 2013 milhões de brasileiros, culturalmente, seja tão pobre, tão estéril que não consegue produzir algo consistente capaz de um Nobel? A América Latina tem seis Nobel de Literatura: Gabriela Mistral (Chile), Miguel Ángel Asturias (Guatemala), Pablo Neruda (Chile), Gabriel García Márquez (Colômbia), Octavio Paz (México) e Mario Vargas Llosa (Peru).

O texto me fez lembrar do General Ozires Silva – fundador da Embraer – no programa Roda Viva no qual comentou sobre um jantar que participou em Estocolmo/Suécia, no qual três membros do Comitê do Nobel também estavam presentes e, um deles sentou ao seu lado. E Ozires perguntou o porquê do Brasil não ter um Nobel, seu interlocutor desconversou, não respondeu.

Segundo o general, depois de algumas doses de Vodka, um deles decidiu responder: “Vocês brasileiros são destruidores de heróis”. Ozires Insistiu: Por quê? “Todos os candidatos brasileiros que apareceram, contrariamente aos dos outros países, mais particular os Estados Unidos, quando aparece um candidato brasileiro, todo mundo joga pedra, do Brasil. Não tem apoio da população, parece que o brasileiro desconfia do outro ou tem ciúmes do outro. Sei lá o que acontece”.

Nosso complexo de vira-lata – se é que temos – prejudica nosso Nobel? Viva Guimarães Rosa! Vivas à literatura brasileira!!! 

Brito e Silva – Cartunista

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“Corredor da Morte”

Outro dia um amigo, estava festejando o aniversário de sua mãe que já tinha partido em sua última jornada. Lembrei-me do filósofo Cortella – espero que tenha sido ele mesmo, às vezes minha memória me prega peças: certa vez chamei Jesus de Genésio, claro, estava sob efeito etílico – que “você só morre quando é esquecido”. Concordo plenamente.

Quem já não ouviu “você morreu pra mim?” Quando se diz isto, certamente, não se está sentenciando esta pessoa literalmente postar-se a sete palmos de terra, mas, ao esquecimento. Portanto, você, eu, todos nós morremos em vida para quem nos deseja, como também sepultamos nossos desafetos.

E isto é preciso para continuarmos a seguir, haja vista que o tempo só flui numa mesma direção: pra frente. Na verdade, esta divisão do tempo em passado, presente e futuro é mera ilusão de “nosotros”. O passado, como você não pode efetivamente caminhar por ele, se assim o fizesse não seria passado e, sim presente, guardamos o que passou em um baú de lembranças e, certamente, devo ter em algum lugar esquecido, um baú de ossos de pessoas que morreram em vida para mim. 

Por outro lado, meus mortos que já cumpriram o seu caminhar os mantenho vivos comigo, com algumas almas chego até a conversar e ouvir músicas: Com meu pai ouço “Boiadeiro”; com minha ex-mulher Isi escuto “Andança”; meu irmão Calinhos ouvimos “Another Brick In The Wall”; minha sogra Nevolanda ouço “Iolanda” e às vezes convido meu amigo Ferreira – jornal Gazeta do Oeste – a tocar “Lenda do Pégaso”, em memória de uma excursão que fizemos à Martins/RN promovida pelo Sindicato do Gráficos de Mossoró. Sem, falar daquelas que estão vivas, mas à distância e você as mantém, como hologramas, no dia-a-dia.

O grande Ataulfo Alves cantava “Falem Mal, Mas Falem de Mim”, ser esquecido é morrer em vida. Logo, aquelas pessoas que não lembra ou não quer lembrar estão destinadas por você ao “corredor da morte”. Mas, lembre-se! Você também faz parte da enorme fileira de muita gente. 

Brito e Silva – Cartunista

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Minha Régua

Não tinha uma pedra no meio do caminho, mas, uma borracharia que fica entre minha casa e a padaria. No meu caminhar lento, sequelas do AVC, porém os ouvidos sem “ceroto”, ouvem uma pena cair a distância. Vovó Bezinha dizia que eu tinha as “zoiça” muito boas, “zuvido de tuberculoso”. 

Pois muito bem. Na borracharia três senhores conversavam efusivamente:

– O Luladrão subiu a rampa, mas não vai ficar lá por muito tempo. O capitão foi “prusistadusunidos” e vai voltar com anulação dessas eleições fraudulentas, pela Suprema Corte Latino-Americana. Disse um dos interlocutores com a segurança de quem é entendido do borogodó.

– Isso é conversa pra boi dormir. Disse o borracheiro, arrancando gargalhadas dos ouvintes.

– Você num viu que agora a “guerra é santa”?

– …Já dos ETs, dos Pneus, dos tanques de guerra…Zombou outro.

Se acomodando no assento de sua Hilux, bateu a porta proferindo que o do “Luladrão” estava guardado, avisando que mais tarde passaria para pegar o seu estepe, saiu catando pneus:

– Tomara que rasgue um pneu nesse “paralepípedo”. Desejou o dono da borracharia.

– Ora, vocês viram a “pulseira” que estava no tornozelo direito dele? Indagou um observador.

– Homi, isso é um estelionatário, trambiqueiro já foi preso várias vezes por vender carro e não entregar ou quando entregava era “mamão”.

Como não podia andar mais lento que Jonathan, o quelônio mais velho do mundo, fui-me sozinho com meus pensamentos dando veracidade aos psicanalistas, psicólogos e filósofos, quando dizem que por muitas vezes projetamos nos outros aquilo mesmo que somos e que, nas entrelinhas, só falamos é de nós mesmos. “Quando Pedro me fala de João, sei mais de Pedro do que de João” dizia Freud.

Diz um ditado popular com um conceito um pouco equivocado. Quando adjetivamos ou conceituamos alguém e este se sente ofendido puxa da cartola esse velho provérbio “Não me meça com sua régua”, ora, meu senhor, e com que régua se mede algo ou alguém para formar e cristalizar um pensamento e opinião se não pela minha “régua”? Se não sou um jurista e a questão exigi, me calo ou firmo posição naquilo que conheço sobre o assunto. Evidentemente, podando quase todas as arestas hipócritas, éticas e morais das quais nunca conseguimos nos livrar.

Na Grécia antiga o filósofo Diógenes que morava em um barril, a luz do dia andava com uma lamparina dizia que procurava um homem honesto. Certamente, nunca encontrou e sabia que jamais encontraria e ainda o fazia. Ora, quando alguém se despe da desonestidade, da falta de ética, moral e hipocrisia, certamente, perdeu a humanidade ascendendo degraus à Divindade: Jesus de Nazaré, Sidarta, Maomé… Portanto, nós pobres pecadores estamos condenados a carregar sobre os ombros todas as mazelas e encantamentos que nos fazem estes maravilhosos seres capazes de seduzir os deuses para que nos salvem.

Logo, estamos todos aferrolhados à nossa própria obscuridade, que a qualquer instante pode eclodir. Portanto, cuidado com que diz do outro, você pode apenas estar falando de si mesmo. 

Brito e Silva – Cartunista

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Então é natal

Que me perdoem o azedume, não quero ser pessimista e muito menos espero que pensem que acredito em conspirações cósmicas. Não, não é ressaca moral imposta por causas etílicas, aliás, faz muitos anos que não degusto uma boa dose de whisky ou uma grade – há algum tempo era grade, hoje é caixa, veja como tempo correu – de cerveja gelada. Desculpem, mas não consegui perceber alguma mudança extraordinária na humanidade ou em qualquer ser humano, nem naqueles dos quais sou satélite, que pudesse dá outra destinação ao mundo por causa da data de ontem, Dia/Noite de Natal, exceto aos cofres da indústria e do comércio que se abarrotaram com o cinismo do “bom velhinho escroto” do Papai Noel.

Calma aí! Não estou falando da data em si e seu significado, sua simbologia, porque creio que o conceito e causa continuam os mesmos, em verdade, nós é que mudamos. Outro dia, me disseram que a sociedade evoluiu bastante, e é verdade: a humanidade evoluiu em todos os setores da vida humana, porém isto, não quer dizer que melhoramos, claro e evidente que superamos várias demandas com bastante louvor, entretanto em outras, talvez, demos um passo atrás.

Sei, certamente, alguém vai recorrer ao direito à réplica e dizer do ponto vista biológico que ontem morreram bilhões de células e outras nasceram nos tornando “renascidos” e ainda um outro entendido do borogodó dirá que todas as experiências vivenciadas no dia anterior nos transforam e, portanto, hoje não somos mais os mesmos de ontem, concordo com ambas. Porém, creio que para grande maioria das pessoas, essas mudanças ocorrem no intestino grosso e, assim sendo impossibilitam a efetividade, pois, os sinais emitidos ao cérebro dizem “preciso descer logo”, recebendo autorização para seguir reto ao Water Closet mais próximo, caso contrário, alguém vai passar vexame.

Zygmunt Bauman, o filósofo polonês, fala do “mundo liquido” onde as relações são mediáticas, fugazes, sem limo e para muitos o sociólogo foi no âmago da questão posta.  A diluição de certas relações ou tradições é mais que notória, é de certa forma agressiva, sendo substituídas por outras com objetivos bem definidos de consumo, vestidas, maquilada da anterior. Digo do Natal, onde a comunidade cristã ocidental, que também se apropriou da data, 25 de dezembro para o nascimento do “Menino Jesus”, hoje severamente atacada por quem em algum tempo teve uma boa convivência, o Papai Noel, saiu na Lapônia invadindo, não mais os lares, mas shoppings do mundo todo numa ofensiva promovida, em sua maioria, pelos cristãos, Talvez, até em um futuro, não muito distante a imposição de uma convenção entre as várias religiões cristãs para um novo consenso de uma data da Natividade, haja vista, que o 25 de dezembro o Noel, já papou.

OK, concordo, mudamos para pior – sabe-se lá – talvez estamos nos afogando num “mundo líquido” do Zygmunt Bauman, neste Natal recebi menos e também disse “Feliz Natal”, exceto nas redes sociais, digo de viva voz ou pelo telefone. Será que o “espírito” natalino está em crise existencial? Não sabe se serve a Deus ou ao Diabo? Isto é, a Cristo ou a Noel? Vai saber! 

Brito e Silva – Cartunista

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Isto é a felicidade

“Não gosto destas festas de aniversários, carnaval, natal, ano novo…Essas besteiras de futebol…” por algumas centenas, talvez milhares de vezes já ouvi alguém sentenciar frase neste sentido. Quando é uma pessoa que ultrapassou o “Cabo das Tormentas” dedico sua ranzinzice a uma vida pouco aproveitada, talvez, mal vivida e, portanto, enraizou o azedume, a indiferença à felicidade dos seus, não consegue admitir que gostaria estar efetivo e afetivamente em meio a estes pequenos e sublimes instantes de êxtases, de felicidade e, por covardia, sabe-se lá, transforma suas frustrações em pura inveja dos sorrisos, dos gestos, das expressões, da alegria alheia, pobres tontas almas. 

Se vem de um jovem a negação, dou um desconto e penso “Esses moços, pobres moços. ah! Se soubessem o que eu sei” contradizia o poeta e amava cada hora, cada milésimo de segundo que oportunizasse um naco de felicidade, porém, penalizado imagino que esse jovem é um tolo velho e certamente, se os deuses permitirem, será um velho tolo, deixando a vida, a felicidade escorrer pelas mãos. 

Nos primórdios o homem se reunia em volta de fogueiras para celebrar a caça, o nascimento de um novo membro da aldeia, a colheita. Apagaram-se as fogueiras nos pátios, nos terreiros e quintais, acenderam-se as lâmpadas a óleo de baleia, depois a querosene, a luz elétrica trouxe as reuniões para dentro das casas, das empresas, enfim, para os ambientes fechados. Mas a essência permanece: a celebração da conquista, aquele momento de puro contentamento individual, jubilo coletivo, uns instantes de eufórica felicidade. 

Outro dia falava com um amigo dos filhos, trabalhos, da vida, quando outro “amigo” presente na mesa numa fina ironia, pensava estar expressando, mas, de fato, era inveja ou desconhecimento total da vida “vocês parecem felizes demais, dá impressão de vivem num mar de rosas, que filhos não dão trabalho, desgostos, e no trabalho não existe desavença…Vocês dois parece que estão nas redes sociais…” imediatamente minhas orelhas esquentaram, a língua se aprontou para manda-lo às favas, quanto “tico” indeferiu sendo corroborado por “teco”, respirei profundamente: “não meu amigo, mas se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi…” demos uma gargalhada, ele puxou um cigarro eletrônico, deu um gole em sua quente cerveja, baforou se despedindo alegando compromisso, foi-se. Soube que estava em processo de divórcio.

Há pessoas que negam a vida, não vivem, sobrevivem, se vestem de melancolia, fazem da vida o rosário de angustias, reclamam de tudo e de todos, dizem não haver motivos para tanto riso, tanta alegria, que a felicidade não existe e se existe nunca bateu em sua porta. Como saberiam se a felicidade existe se olharam, mas nunca viram o sorriso de uma criança? Se ouviram, mas não escutaram um “papai, paim, vovô, vô, vôzinho…”? Ora, abram os ouvidos e os olhos, quer dizer, abram a alma. 

Podem decretar que sou um velho tolo, pai chorão, avô babão. Sou mesmo. Semana passada foi Valentina no Teatro Riachuelo, sua mudança de série. Ontem (16) foi Aléssia, lá de Santiago do Chile, assisti ao vivo pelo Youtube, chorei feito bezerro desmamado, um misto de orgulho e saudades. Maria, me consolando com os olhos marejados dizia isto é a felicidade. Antes eram os filhos, hoje os netos. 

Isto é a felicidade, minar os olhos numa festa a mais de 7 mil quilômetros de distância. Se você não consegue numa festa que brinda a alegria, que celebra a vida encher os olhos de felicidade, meu amigo você é um tolo ou, certamente, precisa de um médico. Sabe aquela música da Turma do Balão Mágico? “Sou feliz por isso estou aqui…”, porque a vida é agora, neste instante. Maria já repôs o estoque de lenços, pois existe muito choro por vir, neste mês até o dia primeiro de janeiro, mas de felicidade, claro!

Brito e Silva – Cartunista

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Ricardo Valério: a ceia natalina está mais cara 16%

Por: Ricardo Valério Menezes
Economista Conselheiro Corecon-RN e Consultor Educação Financeira e Pessoal –

Estamos entrando nas confraternizações e esperada ceia natalinas 2022, em meio a uma inflação e juros altos, além de renda reduzida das famílias. 

Os itens componentes das tradicionais ceias de final de ano, estão numa estimativa média de 16% mais caros do que a de 2021, embora tivemos produtos como o frango que subiu mais de 41%, o arroz 35% e o peru 30%. 

E para completar este cenário as despesas e apertos extras das famílias, estamos num ano atípico, com uma Copa do Mundo realizada em pleno mês de dezembro, incentivando o aumento de maior consumo de alimentos e bebidas, sendo este um gasto a mais. 

Desta forma, em tempos de renda achatada, vai requerer das famílias redobrarem suas cautelas, para fazer um disciplinado “Planejamento Financeiro” para que as ceias não sejam mais um fator de endividamento e desajuste, e sim, somente de belas lembranças, e não as transformar num indigesto rombo nas finanças. Assim, cautela, resiliência e planejamento financeiro, para que você faça uma adequação da sua ceia à realidade financeira atual, gastando somente dentro dos limites. 

Não é vergonha nenhuma, passamos a ter um consumo mais consciente e equilibrado. Ao contrário o momento exigi enquadramento a ocasião atual nacional, requer ajustar as despesas ao momento de inflação e Dólar que tiveram altas. O melhor é adequar a ceia agora, do que começar o ano novo com dívidas, onde vem inclusive despesas extras como pagamento de IPTU, IPVA, matrícula e colégio das crianças. 

COMO SE PLANEJAR PARA TER UMA MESA FARTA, MAS SEM DESPERDÍCIO E PASSAR DOS SEUS LIMITES ORÇAMENTÁRIOS.

1) Planejar sua ceia, definindo número de participantes e o cardápio adequado à suas possibilidades pré-estabelecidas; 

2) Faça sua lista de compras especificando o cardápio da ceia, evitando desperdício e não fugindo nunca dela, excluindo preferencialmente produtos que estiverem muito caros, como o bacalhau e vinhos importados, onde hoje em dia temos ótimas vinícolas nacionais. 

E no lugar do bacalhau, temos a Tilápia como alternativa muito saborosa e mais em conta. 

No lugar do filé mignon, ainda podemos substituir por um saboroso salpicão ou strogonoff. 

Se o preço do peru tiver salgado para você, compre Chester ao molho de mostarda com mel, mais saboroso, decorado com frutas-passas, será uma ótima opção.

Temos como para substituição do tradicional peru, um belo e suculento pernil suíno, e ainda por cima agrada e anima os supersticiosos, já que o porco é um animal que fuça para frente e assim poderá ser um bom presságio nas mandingas e superstições costumeiras culturais de início de ano novo; 

3) Explore em seu cardápio e decoração a inserção de frutas de época tropicais regionais, que além de embelezar sua mesa com ótima decoração, pode ser transformada numa deliciosa e saudável salada;

4) Procure fazer sua confraternização um momento solidário em família e amigos, dividindo com a participação de todos na medida do possível, não queira ser o “Papai Noel” da ceia e arcar com um buraco em suas finanças, iniciando 2023 com uma despesa a cobrir no cartão de crédito. Se possível pague as despesas da ceia à vista com dinheiro separado do orçamento do seu décimo terceiro, já que janeiro vem cheio de despesa extras de IPTU, IPVA, matricula e matéria escolar, etc; 

5) Se a opção for cada um levar um prato e a sobremesa, faça igualmente uma lista prévia definindo o que cada participante da ceia solidaria vai levar e assim as despesas ficarão bem distribuídas e facilita em muito os gastos elevados. 

Mas, isto não dispensa as recomendações de compras que estamos socializando, se todos quiserem economizar na aquisição dos ingredientes para o seu prato;

6) De uma forma ou de outra, se a ceia for compartilhada, o melhor é cada um levar sua própria bebida de suas preferências, que a economia vai ser justa e proporcional ao gosto e de marca da preferência de cada família; 

7) Não deixe suas compras para última hora, se não aproveitou a Black Friday para ter antecipado suas compras, procure incorporar um boa dica de hábito, de fazer as compras de supermercado entre o dia 10 a 18 de cada mês, que os preços normalmente foram as promoções sazonais, sempre os preços dos supermercados estão mais em conta, e no próximo ano, se possível aproveite produtos com queijo do reino, vinhos, bebidas, bacalhau, castanhas para comprar antecipadamente, pois muitas vezes estão com preços excelente na Black Friday;

8) Lembre-se das nossas recomendações universais, de não ir ao supermercado com fome que lhe induz a levar guloseimas, se possível não levar os filhotes às compras e ter disciplina na lista de compras, depois de uma ampla pesquisa, se precisar indo a mais de um estabelecimento, lembrando que os maiores volumes

de itens de compras, as pesquisas devem sinalizar para os atacarejos;

RELAÇÃO MÉDIA DE ALGUNS PREÇOS NACIONAIS DOS PRODUTOS DE ÉPOCA CEIAS. 

Bacalhau do porto: R$ 169,93

Bacalhau saithe: R$ 80,79

Ave Supreme Sadia: R$ 23,99

Chester Perdigão: R$ 29,24

Pernil Sadia: R$ 17,80

Peru Sadia: R$ 30,24

Peru Perdigão: R$ 29,99

Salmão: R$ 106,09

Lombo: R$ 24,96

Pernil com osso: R$ 21,52

Frutas cristalizadas: R$ 19,38

Ameixa seca s/ caroço: R$ 67,29

Amêndoas: R$ 88,62

Amêndoas laminadas: R$ 108,08

Nozes c/ casca: R$ 46,25

Nozes s/ casca: R$ 97,79

Castanha de caju torrada: R$ 90,89

Castanha-do-pará inteira: R$ 92,65

Damasco seco: R$ 92,23

Tâmaras s/ caroço: R$ 52,37

Passas pretas: R$ 25,44

Panetone Aymoré 500g: R$ 20,72

Panetone Bauducco 500g: R$ 24,15

Chocotone Bauducco 500g: R$ 24,15 

Panetone Tommy 400g: R$ 13,44

Panetone de fabricação Própria 500g: R$ 11,83

Panetone Nestlé Classic (Alpino) 500g: R$ 31,66

Panetone Visconti 400g: R$ 17,67

Caixa de bombom Garoto 355g: R$ 10,77

Caixa de bombom Nestlé 375g: R$ 11,67

Caixa de bombom Lacta 378g: R$ 12,35

Ameixa importada – kg: R$ 18,79

Ameixa nacional – kg: R$ 11,72

Maçã fuji – kg: R$ 14,16

Abacaxi – unidade: R$ 9,43

Uva Itália: R$ 23,69

Uva rubi: R$ 19,99

Mamão HavaÍ – kg: R$ 11,42

Pêra – kg: R$ 16,93

Nectarina – kg: R$ 15,38

Cereja – kg: R$ 59,90

Pêssego – kg: R$ 11,56

Banana prata – kg: R$ 9,42

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Ô prefeito bom…

Nos anos 80, 90 os jornais do RN, quando o novo governo empossado completava 100 dias de exercício, não importava suas matizes partidárias, faziam edição especial, sabidamente uma maneira dos veículos criarem um fluxo extra de caixa e, também um momento para o público ter oportunidade de ver quem ainda estava apoiando o governo ou oferecendo um crédito de confiança, claro que não servia como referência de pesquisa científica para balizar maior ou menor popularidade, na verdade as publicações objetivavam visibilidade sobre a mesa do governador.

O jornal Gazeta do Oeste não fugia à regra. Nos anos 90 em reunião da direção, redação, arte e Comercial ficou decidido que o jornal iria fazer uma Edição Especial com 100 páginas, referência direta aos 100 Dias do Governo José Agripino. Para cobrir o oeste e o alto-oeste escalados: da redação Phabiano Santos, da arte fui eu e como fotógrafo coube a Raimundo Nunes (in memoriam).

No dia seguinte apontamos o “Golzinho” branco na direção de Apodi e lá fomos nós. Visita assertiva à prefeitura nos deixou animados, pois começamos com o pé direito, seguimos para Pau dos Ferros, não sem antes passar em Rafael Godeiro, Itaú, Francisco Dantas, fechamos várias páginas. Com alguns dias na região já finalizando nossa estadia, em Martins, depois do café da manhã planejamos ir para Alexandria, porém teríamos que visitar outros municípios a caminho. 

Desbravando veredas, picadas e estradas de chão batido maltratando o velho Gol, porém, encontrar os prefeitos era preciso, afinal, estávamos buscando nosso bendito pão de cada dia e, os alcaides, de oposição ou situação “lambiam uma rapadura” para aparecer numa página de jornal falando bem do governo. É verdade que alguns – poucos – preferiam enfatizar suas obras realizadas. 

Por volta das 10h, chegamos em uma cidadezinha próximo a Alexandria, fomos direto à sede da municipalidade, claro, estava fechadinha “da silva”, dificilmente se encontrava o chefe do executivo na prefeitura, o vigia informou o paradeiro do prefeito nos apontando caminho da fazendo dele. Seguimos por uma estradinha de terra, onde o carro era lapeado a todo minuto nas laterais pelos galhos das plantas que invadiam o acero, uma hora depois, não sem antes de erramos o caminho umas dez vezes, esbarramos na cancela, Raimundo desceu para abrir, logo sendo impedido por um grito que vinha lá do alpendre da casa, que ficava a uns 100 metro da gente: – Pare aí! Quem são vocês?

– Somos do jornal, queremos falar com o prefeito. Gritou de volta Raimundo.

Rápido um senhor nu da cintura pra cima expondo sua lustrosa barriga, com um revólver na cinta, se aproxima de nós três debruçados na cancela e, começa às apresentações:

– Somos do jornal Gazeta do Oeste, esse é Brito e este aqui é Raimundo nosso fotógrafo, Phabiano expressando desejo de fala com o prefeito.

– Meu é João (fictício), sou o secretário de Educação do Municipal, podem vim.

João entra na casa e sai escoltando o “anfitrião”. Expomos a razão de nossa visita:

– Claro, vou participar, tenho um bocado de obras que fiz com ajuda do meu “cumpadi” Zé Agripino.

Do lado direito da casa uma nuvem de poeira tomava o céu azulado:

– Não se preocupe, ali é um açude que estou fazendo…

– Construir um açude custa muito caro. Provocou Phabiano.

– Pra mim não! 

– Não entendi – insistiu Phabiano Santos.

– Ora, já fiz um monte de “barreiros” e açudes pequenos para um bando de filhos da puta daqui, com os tratores da prefeitura, por quê não posso fazer na minha fazenda, né não?

A concordância foi uníssona. 

– Agora vamos almoçar lá na cidade. Vou com vocês porque assim vou logo mostrando o que vocês devem publicar no jornal. Numa rua o carro quase fazia uma gangorra, tamanho era a altura da lombada, o prefeito com ar de orgulho: “diga se não é a melhor lombada que vocês já viram?” Não tínhamos alternativa para discordar.

Em frente de umas casinhas, muito pequenininhas, pareciam uns “quixozinhos” todas nas cores laranja e azul – da campanha eleitoral de Zé Agripino – de peito estufado o gestor falou:

– Aqui tinha um terreno que não prestava, era meu. A prefeitura comprou e com os recursos do Programa do Governo do Estado “Casa para Todos(?)” construí, botei luz do Programa “Pau Amarelo” de “Cumpadi Zé”, e dei pra esse povo morar, todo mundo aí mora de graça.

– Aí é o prédio da Câmara Municipal, em cima é a maternidade, aqui não tinha.

– E por quê o senhor não fez o inverso, maternidade embaixo e a Câmara Municipal em cima? 

– Ora, as buchidinhas nem ia lembrar quem fez a maternidade. Desse jeito todas às vezes que estiverem subindo a escada vão dizendo “ô prefeito bom, agora não precisamos ir para Alexandria parir”. 

Brito e Silva – Cartunista

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Bang, bang, bang!!!

Outro dia, o amigo jornalista Cefas Carvalho falava do “Pistoleiro Sem Nome”, com o ator americano Clint Eastwood filme de bang bang, de cowboy ou ainda faroeste como se dizia na minha adolescência, isto lá pelos anos 70, intrometido que sou, fui logo lá no texto e fiz uma confissão: “Assisti algumas dezenas de vezes. É meu coringa, quando não tenho uma boa opção, vou de “Estranho sem nome”. E é a mais pura verdade.

Não entro no mérito da qualidade estética, dramática, cultural dos filmes de cowboy, me sinto incapaz de expressar uma opinião cunhada sob argumentos capazes de acrescentar algum pensamento crítico a quem quer que seja, até porque meus velhos neurônios corroídos pelo teor alcoólico dos “trocentos burrinhos” ingeridos lá em Dona Luzia, do Ponto Frio, sem falar do Mobral incompleto que tem sua extensa e decisiva contribuição.

Como disse o amigo Cefas de sua vinculação com esse tipo de filme, é mesma que a minha: é afetiva, a qual remete à minha adolescência, aos matinais do Cine PAX e Cine Cid, lá na terra de Santa Luzia. Ainda hoje quando minha memória decide projetar imagens daquele tempo primaveril, chego a sentir o cheiro do sorvete de morango que a gente tomava antes de entrar no cinema e o gosto do Ploc – goma de mascar -, que de tanto levar sol no carrinho de “confeitos”, uma vez na boca se desmanchava grudando nos dentes e você ficava com a língua pra lá pra lá e pra cá, numa dança de um insólito bolero lutando para juntar os pedaços em uma massa homogênea.

Muitas vezes para ter esse luxo, juntava garrafas de vidros vazias e quase sempre os cinemas faziam promoção trocando-as pelo ingressos, e poder saborear um casquinhas de sorvete, uma pipoca, pois o dinheiro que dona Geralda – minha mãe – nos dava evaporava na velocidade da luz. São imagens que permanecem guardadas e somente são reveladas em momentos peculiarmente de puro contentamento.

Maria é testemunha ocular do meu frenesi com o controle remoto, depois de extensa e exaustiva procura por um filme na Netflix que pudesse me prender por alguns minutos, saio pela falta de opção dos faroestes, acomodo-me no youtube e ponho lá bang bang italiano – como ficou denominado para nós bocós os filmes spaghetti western teuto-americano-hispano-italiano – me aparece “Três Homens em conflito” com Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach; “Era uma Vez no Oeste” com Henry Fonda, Charles Bronson e Claudia Cardinale; “Keoma” – que tem uma trilha sonora fantástica – com Franco Nero; “Sete Homens e Um Destino” com Yul Brinner, Charles Bronson, Steve McQueen, James Coburn, Ali Walach, Horst Buchhlz e Robert Vaughn – esse filme tem uma versão dirigida por Denzel Whashington, não assisti ainda – Não vou nem falar de Bravura Indômita com Jeff Bridges, Hailee Steinfeld, Josh Brolin.

Ora, agora, ajeito o travesseiro, Maria cede mais um cafuné trazendo um bom cafezinho e a pipoca, nos aconchegamos, respiro fundo, concentro-me, miro, com indicador no gatilho aperto o play: bang, bang, bang…

Brito e Silva – Cartunista

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A morte de “Bebeta”

É verdade, não escrevi, não desenhei e não dei um pitaco sobre a morte da rainha Elizabete II. Não foi por nada não, por desdém e muito menos ainda por apreço. Apenas muita gente falou e, de certo, se fosse falar o momento não seria adequado. A morte de qualquer pessoa é lamentável e digna de respeito, entretanto, a rainha já tinha 96 anos, estava com a saúde debilitada, então, sendo pragmático: havia chegado sua hora, pronto. Se o homem vivesse mil anos, certamente, sua morte antes de um século de vida seria uma “tragédia” -para o mundo capitalista e consumidor de futilidades – mas a expectativa de vida no Reino Unido é de 81 anos, no caso, ela já tinha mais de uma década de bônus, eventualmente, por também possuir a titularidade de Governadora Suprema da Igreja de Inglaterra, tinha lá seus privilégios junto ao Altíssimo, vai saber.  

A morte de “Bebeta”

Ontem,10, bem cedinho ao abrir minha caixa de mensagens estava lá uma cobrança com misto de reprimenda extremamente contundente, a princípio, por alguns milésimos de segundos me pus a pensar e decretar pela aspereza imposta na escrita, certamente, seria algum parente enlutado que remeterá de forma enganada para meu endereço, assim, talvez, o “pito” estivesse com razão. Entretanto, após limpar as lentes dos meus óculos vi nitidamente que não era nenhum membro da família real britânica e, sim, um fã “Betinha”, moradora, aqui da terra de Felipe Camarão: 


“Bom dia brito voce qui é bem informado como é que não deu nada da morte da rainha Elizabete nem um desenho feius que voce fzs…Abraços sou sua fan”.

É verdade, não escrevi, não desenhei e não dei um pitaco sobre a morte da Rainha Elizabete II. Não foi por nada não, por desdém e muito menos ainda por apreço. Apenas muita gente falou e, de certo, se fosse falar o momento não seria adequado. A morte de qualquer pessoa é lamentável e digna de respeito, entretanto, a rainha já tinha 96 anos, estava com a saúde debilitada, então, sendo pragmático: havia chegado sua hora, pronto. Se o homem vivesse mil anos, certamente, sua morte antes de um século de vida seria uma “tragédia” – pelo menso para seus súditos, para o mundo capitalista e consumidores de futilidades – mas a expectativa de vida no Reino Unido é de 81 anos, no caso, ela já tinha mais de uma década de bônus, eventualmente, por também possuir a titularidade de Governadora Suprema da Igreja da Inglaterra, tinha lá seus privilégios junto ao Altíssimo, vai saber.   

No Brasil a expectativa de vida da mulher brasileira, segundo o IBGE é de 80,3 anos, entretanto, a vereadora carioca Marielle Francisco da Silva foi assassinada aos 38 anos – até hoje não se sabe o mandante – ainda na flor da idade como diz lá no meu torrão, sua jornada aos 80 anos foi brutalmente interrompida, isto é, não viveu nem a metade da vida que poderia usufruir. Sexta-feira, 09, um bolsonarista assassinou o petista Benedito Cardoso dos Santos, de 42 anos com 15 facadas e uma machadada, o Benedito, segundo os estudos poderia viver até os 76,8 anos. Sem falar dos números vergonhosos de feminicídios que o Brasil ostenta. Hoje são assassinadas três mulheres por dia, como vê minha cara amiga, temos nossas próprias tragédias a chorar. 

Por outro lado, pelo grau de compadrio que conservo com a família real, fico certo que “bebeta” onde quer que esteja e todos os seus familiares, principalmente, o “Ray” Charles III, serão generosos comigo, perdoando minha indelicada falhae aceitarão minhas condolências, mesmo que tardia.

Ah! Obrigado, por ser minha fã.  

Brito e Silva – Cartunista

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Fomos à feira

Ontem, sábado, 3, fomos à feira em família, especificamente, para 11ª Feira de Livros e Quadrinhos de Natal, no Parque das Dunas, creio que os organizadores darão como sucesso das anteriores, tamanho era o público. Pollyanne, Jade, eu e as netas Valentina e Lívia, liderados por Maria, fizemos de tudo um pouco: show musical para crianças, compramos livros, pipocas, quando meus olhos brilharam quando vi a logo do Café Santa Clara, imediatamente entramos numa fila para comprar uma dose, descubro que não era pago e, sim uma ação publicitária do café lá de São Miguel/RN, antes de saborear o pretinho você tinha que girar uma roleta, com várias opções” tente de novo, volte depois”…, coisas assim  – mas você seguia e tomava o café – Maria tentou três vez, errou todas, chegou minha vez, na primeira, eu com 63 anos nunca acertei um bingo, uma rifa, sorteio de qualidade nenhuma, acertei de “prima”, ganhei o último kit, sachês de achocolatado, dois tipos de sucos, café com leite e cappuccino’, mas na hora de encher o copo faltou o preciso líquido, ficamos lá esperando e jogando conversa fora com o pessoal do Santa Clara.

Copo cheio, satisfação estampada nas fuças saímos entra as letras. Esbarramos no jornalista e escritor Cefas Carvalho, um breve bate-papo, um livro, uma foto, deixamos o amigo com sua dúvida “Não Sei Quantas Alma Tenho”, embicamos feira a dentro. Tropecei por diversa vezes em um monte de amigos do Facebook: alguns me olhavam, como quem dizia “é ele”, outros – penso eu – imaginavam “nem ele não”. Devo confessar: que coisa mais esquisita essas amizades virtuais, ao vivo, parecemos ter medo, toda aquela intimidade se esvai no mundo real, de fato, e comprovadamente, elas só valem, lá no Meta. 

Cefas meu velho, sou do tempo de botequins, de aperto de mão, de um abraço apertado num amigo que há tempos não vemos. Entretanto, este é o mundo que nos apresentam, é o que está posto, logo é com ele mesmo que tenho que conviver. Passei no stand da gráfica Manibu – imaginando em ver o velho amigo Afrânio – acrescentei no meu balaio o livro “Trovaborratela de Natal” – fui quem fez a caricatura do Pedro Grilo que ilustra a capa – querendo uma dedicatória, como Adélia Costa não estava deixei lá, se por ventura ela aparecesse pudesse autografar. Com Maria me puxando pela mão, saí a cata de Adélia, qual o quê? Só a conheço no oitão virtual, certamente, devo ter passado por ela algumas centenas de vezes em diversas ocasiões, Maria dizia aquela senhora ali parece demais com ela, mas aí a dúvida se aprofundava, pois o parece é apenas uma imitação, nunca o original, andei mais uns quilômetros, perdi algumas calorias, de volta à gráfica, peguei meu livro e vim pra casa lê-lo, limpo, sem autografo. 

autografo.

Adélia, no próximo vou me encher de disposição e vou ao lançamento, e ter o prazer de vê-la ao vivo e a cores.

Brito e Silva – Cartunista 

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Narcisista intelectual

Primeira vez que vi esse termo foi um colega de faculdade escrevendo um desabafo pós entrega de TCC. Acredito até que tenha sido dirigido a mim, ou aos meus colegas mais próximos. Não sei exatamente a razão, mas lembro que na época houve algum tipo de burburinho pela universidade que eu e meus colegas debochávamos da capacidade de outros alunos de passarem no trabalho final. Não aconteceu. Mas o fato é, a carapuça me serviu como um alerta, me fez refletir sobre assunto. 

Sempre fui muito fã de pessoas sábias. Afinal, fui criada por duas pessoas extremamente inteligentes, acima da média. E meu convivo sempre foi esse. Inclusive, um dos meus irmãos foi diagnosticado com “altas habilidades/superdotação”, tipo aquelas crianças do Caldeirão do Hulk, só que com o hiperfoco em outras milhares de coisas. Constantemente fui influenciada então a admirar o culto, o belo, o conhecimento e com isso (mesmo não debochando de ninguém) adquiri uma seletividade preconceituosa no meu olhar para o outro e uma autocobrança de SABER enorme. Além de ter uma tendência de ter hiperfocos em assuntos que me interessam e eles são os mais variados, com isso, estudo sobre os mais estranhos assuntos até esgotar meu cérebro. Mais tarde descobri que isso pode ser alguma característica neurodivergente. 

Fiz faculdade de publicidade, depois me tornei design gráfico, maquiadora, presidente de movimento estudantil, tocadora de violão (musicista é muito) e entre outras muitas coisas, estudando sozinha, sendo autodidata. Pois pra mim, quanto mais conhecimento adquirisse em algum lugar eu estaria acima, acima de quê? Até hoje não descobri. Com a idade chegando, o tempo passando e a vida acontecendo, a minha percepção de SER mudou bastante (e permanece mudando). Continuo tendo hiperfocos estranhos. Mas, graças a maturidade(?), minha visão sobre o próximo mudou e talvez eu realmente estivesse num lugar de soberba e por que não de uma pseudo narcisista intelectual? Ou pra aliviar um pouco minha barra posso seguir a linha de pensamento da psiquiatra que diz que o meu olhar (e exigência) sobre outro é na verdade um conceito de mim mesma, ou seja, queria encontrar o quê queria ser. Que é também uma super caraterísticas de uma das minhas condições psíquicas (ansiedade).  

Óbvio, que esses ensinamentos ficaram ainda mais claros depois dos filhos, pois eles me ensinam diariamente que o belo, o grandioso, o inteligente podem e são, geralmente, as coisas mais simples. Mas, por isso, não menos importante aprendi que mesmo que tenha algum “q” neurodivergente e me faça sempre buscar essas características, não posso usá-lo como desculpas para ser uma “c*zona”, desculpem os termos. Apesar de amar o culto, sou um pouco mal educada também. E por fim, termino esse texto dizendo uma frase sábia do meu pai “inteligência é você saber usar seu conhecimento de forma simples e prática”.

Jade Brito e Silva – Publicitária

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Tudo cabe num abraço – Dia dos Pais

“Me dê sua tristeza que lhe dou minha alegria”
Romance da Bela Infanta  

Hoje, domingo Dia dos Pais, impulsionado pelos anúncios de tv e toda mídia lembrando o tempo todo, todo o tempo, que não devo esquecer de comprar o presente no Dia dos Pais: celulares, computadores, carros, gravatas, meias, sapatênis, até Melhoral estavam anunciando… Ofereciam o diabo a quatro. Neste clima estava de conversa com seu Luís meu pai, “mangando” desses pobres filhos que lotam, se abufelando em portas de lojas de shoppings centers buscando comprarem “lembrancinhas” e não deixarem o DIA DOS PAIS passar “em branco”, boa parte delas serão enviadas pelos correios, pois seus remetentes, mesmo morando na mesma cidade, não têm tempo para um sorriso tête-à-tête com seu “coroa”.

É triste, mas é a realidade nua e crua, em que muitos pais vivem: Filhos, apenas por vídeos, pelo WhatsApp, Instagram, Facebook, Twitter… Porém, ainda assim, devemos dar graças aos deuses das tecnologias. Fico imaginando quando o metaverso estiver sendo rotineiro em nossas vidas como pão e café, você no domingo querendo acordar mais tarde, por causa da balada do sábado, e não quer perder tempo, também não pretende carrega culpas, ficar com depressão por não ir na casa do pai desejar um Feliz Dia dos Pais ao vivo, então no dia anterior grava uma mensagem e envia seu holograma, o seu pai que também possivelmente ainda está dormindo, por causa da carga de remédios que tomara, da mesma forma já deixou disponibilizado seu holograma ativado para receber suas homenagens do Dia dos Pais. 

Não é delírio meu não. Logo, logo a presença física em carne e osso será desnecessária, fútil, desobrigada. Os afetos e sentimentos, na real, já estão rarefeitos no campo físico. Certamente, no mundo virtual, no metaverso os amores, os sentimos serão mais caudalosos. Nesse tempo em que já se põe à soleira, o olho no olho, será, talvez uma ofensa. Um bom dia, um pedido de desculpas, um gesto de gentileza, um abraço, um muito obrigado, tudo isto ficará no passado, isto é, tudo estará disponível, somente na realidade aumentada.

Ah! Meu velho pai se encanto há 2 anos, seu Luiz virou estrela, foi chamado aos céus. Porém estou com ele diariamente, quer dizer, ele está comigo – os pais sempre estão – quando quero chamar sua atenção, feito Trindade, pego o violão e toco Boiadeiro, música que queria ouvir e nunca toquei pra ele, entretanto não sofro da síndrome do Epitáfio, o que fiz, fiz, o que não fiz, não fiz e não há como mudar. Voltando as vacas magras:  Ora, quem diabo se importa com “lembrancinhas” ante um sorriso, um abraço, um “bom dia pai” ou uma “bênção pai”? Eu, como o Jota Quest, creio que tudo se resolve e cabe num abraço. Coisa de gente antiquada.

Brito e Silva – cartunista

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Ostentando os ovos

No dia 2 de junho sai da toca, fui à ótica no Midway Mall pegar meus óculos de graus. Gente pra lá e pra cá com as mãos cheias de pacotes e vendedores com sorriso de orelhas a orelhas, muita gente apressada, cartões de créditos ávidos para serem e usados, pessoas fazendo questão de exibirem as marcas famosas de suas sacolas, uma muvuca dos diabos. 

Como sou matuto e não gosto muito de multidão, me senti asfixiado, na verdade sou um eremita urbano, só deixo meu bunker por extrema necessidade, e, se Maria não puder resolver por mim, em verdade vos digo: sou um bicho do mato na selva de pedra. De volta, conversando com o motorista do Uber, foi que me dei ciência da causa do tanto de gente no shopping, era Dia Livre de Impostos 2022, promoção da Câmara de Dirigentes Lojistas Jovem (CDL Jovem) que acontece em quase todo país.

Não sei e não vou afirmar, se é mais um “engodo”, entretanto, isto não me tira o direito a minha calejada desconfiança neste tipo de promoção. Haja vista a tal Black Friday (sexta-feira preta), onde até já rebatizaram de “Black Fraude”, pelo mau comportamento de alguns lojistas desonestos, que ludibriam a boa fé de seus possíveis clientes, quando um tempo antes aumentam os preços estratosfericamente, para na fatídica sexta-feira baixar, oferecendo descontos de 60% 70%, e até 80%, transformando-os em uma “pegadinha” aos consumidores. 

Maria, que não pode ouvir falar em descontos, decidiu participar do Dia Livre de Impostos:

– Brito ainda está no Midway? 

– Estou sim.

– Quer comer um bolinho cenoura?

– Quero sim!

– Mas tenho um “probleminha”.

– Qual? 

– Aqui em casa não tem ovo nem cenoura. Vá aí no Extra e compre. 

Por bolo de cenoura, sou capaz de até de ir comprar o ovo e a cenoura, como, de fato, o fiz. Trotando me danei para o Extra, comprei meia libra de cenoura uma placa com 30 ovos, depois me dirigi à Miranda Computação, logo comecei a observar que as pessoas passavam me olhando, após conectar tico e teco, compreendi que meus ovos estavam ofuscando ou pelo menos chamando mais atenção que os pacotes e bolsas daqueles transeuntes que desfilavam  mostrando as marcas famosas de seus presente para o Dia dos Namorados,  Duas mocinhas olharam meu saco com os ovos e as cenouras e riam, não sei se dos ovos, do saco, das cenouras ou de mim, por estar ali ostentando uma bandeja de ovos, um pacote cenoura ao invés de um embrulho com logo de loja chique, de toda forma, o lanche da noite, comi bolo de cenoura. 

Brito e Silva – Cartunista

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Puérpera

Puérpera, mulher que acabou de entregar ao mundo aquilo que anteriormente não existia e quando passou existir era só seu.

Puérpera que teve seu corpo modificado por longas semanas, órgãos sendo realocados, hormônios sendo produzidos, prioridades sendo colocadas. Corpo remodelado.

Puérpera que o seu fisiológico mudou completamente, agora tenta voltar ao normal, depois de uma retirada do seu corpo sem dó nem piedade aquilo que só a pertencia.

Puérpera que tem uma queda de hormônios, um luto pelo vazio de dentro, uma luta pelo que aconchego de fora.

Puérpera que já estava em privação em várias instâncias, agora ele lhe foi tirado abruptamente o sono, pelas preocupações, pelo o que tens nas mãos, pelas dores físicas que carrega.

Puérpera que tivera dores na gestação que não foram curadas, agora foram modificadas e repostas em outros locais físicos e emocionais.

Puérpera que derrama lágrimas, leite e sangue, pelo peito que enche, pelo o que cabeça ainda não consegue entender, pelo sangue que expele enquanto seu útero se contrai numa cólica.

Puérpera que olha no espelho e não se reconhece.

Puerpério que é inerente a todas às mulheres que foram mães, democrático e ditatorial. Dói no físico, dói na alma. Mas passa e fortalece. Ele é um dos infinitos motivos que justifica aquela frase: só quem é mãe sabe.

Jade Brito – Publicitária