Minha Régua

Não tinha uma pedra no meio do caminho, mas, uma borracharia que fica entre minha casa e a padaria. No meu caminhar lento, sequelas do AVC, porém os ouvidos sem “ceroto”, ouvem uma pena cair a distância. Vovó Bezinha dizia que eu tinha as “zoiça” muito boas, “zuvido de tuberculoso”. 

Pois muito bem. Na borracharia três senhores conversavam efusivamente:

– O Luladrão subiu a rampa, mas não vai ficar lá por muito tempo. O capitão foi “prusistadusunidos” e vai voltar com anulação dessas eleições fraudulentas, pela Suprema Corte Latino-Americana. Disse um dos interlocutores com a segurança de quem é entendido do borogodó.

– Isso é conversa pra boi dormir. Disse o borracheiro, arrancando gargalhadas dos ouvintes.

– Você num viu que agora a “guerra é santa”?

– …Já dos ETs, dos Pneus, dos tanques de guerra…Zombou outro.

Se acomodando no assento de sua Hilux, bateu a porta proferindo que o do “Luladrão” estava guardado, avisando que mais tarde passaria para pegar o seu estepe, saiu catando pneus:

– Tomara que rasgue um pneu nesse “paralepípedo”. Desejou o dono da borracharia.

– Ora, vocês viram a “pulseira” que estava no tornozelo direito dele? Indagou um observador.

– Homi, isso é um estelionatário, trambiqueiro já foi preso várias vezes por vender carro e não entregar ou quando entregava era “mamão”.

Como não podia andar mais lento que Jonathan, o quelônio mais velho do mundo, fui-me sozinho com meus pensamentos dando veracidade aos psicanalistas, psicólogos e filósofos, quando dizem que por muitas vezes projetamos nos outros aquilo mesmo que somos e que, nas entrelinhas, só falamos é de nós mesmos. “Quando Pedro me fala de João, sei mais de Pedro do que de João” dizia Freud.

Diz um ditado popular com um conceito um pouco equivocado. Quando adjetivamos ou conceituamos alguém e este se sente ofendido puxa da cartola esse velho provérbio “Não me meça com sua régua”, ora, meu senhor, e com que régua se mede algo ou alguém para formar e cristalizar um pensamento e opinião se não pela minha “régua”? Se não sou um jurista e a questão exigi, me calo ou firmo posição naquilo que conheço sobre o assunto. Evidentemente, podando quase todas as arestas hipócritas, éticas e morais das quais nunca conseguimos nos livrar.

Na Grécia antiga o filósofo Diógenes que morava em um barril, a luz do dia andava com uma lamparina dizia que procurava um homem honesto. Certamente, nunca encontrou e sabia que jamais encontraria e ainda o fazia. Ora, quando alguém se despe da desonestidade, da falta de ética, moral e hipocrisia, certamente, perdeu a humanidade ascendendo degraus à Divindade: Jesus de Nazaré, Sidarta, Maomé… Portanto, nós pobres pecadores estamos condenados a carregar sobre os ombros todas as mazelas e encantamentos que nos fazem estes maravilhosos seres capazes de seduzir os deuses para que nos salvem.

Logo, estamos todos aferrolhados à nossa própria obscuridade, que a qualquer instante pode eclodir. Portanto, cuidado com que diz do outro, você pode apenas estar falando de si mesmo. 

Brito e Silva – Cartunista

Você também pode gostar...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *