Artigo

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Vinho, cuscuz e ovo

Caba nascido nos grotões dos serrotes de Angicos/RN, acostumando a comer farinha com rapadura Cariri, rolinha assada na brasa e forrar bucho lá em Zé Leão, na Cobal, em Mossoró, com cachorro-quente como quem come faisão, certamente, levará uma vida para atender bem às etiquetas e delícias dos novos sabores da culinária, entretanto, estou aberto às experiências gastronômicas, é certo, que por vezes -sempre – cometo alguns sacrilégios.

Neste final de 2023, recebemos alguns carinhos líquidos – literalmente, não no sentido do Zigmunt – mas, físicos envasados pelas melhores vinícolas brasileiras e chilenas. Os meus saberes na arte da enologia são tão vastos e semelhantes aos que carrego da física quântica, isto é, porra nenhuma.

3 Pepinos

130ml Vinagre

100g Açúcar
15g Sal
Gergelim a gosto

200g de fiapos de peito de frango

½ cebola

1 cenoura média

½ beterraba

Está pronto o Sunomono, acrescido, evidentemente, de umas pitadas de criatividade nordestinas de Maria:

– José, venha almoçar.

– A comida boa para ser acompanha de uma taça de vinho.

– A última você tomou ontem no cuscuz com ovo.

Pobre é um bicho destruidor de sonhos.  

Brito e Silva – Cartunista

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Passado

O grande filósofo do cristianismo, o argelino Santo Agostinho tatuou uma das frases mais emblemáticas relativas à definição do tempo “o passado não existe, porque já acabou, o futuro não existe porque não começou, o presente não existe porque se torna pretérito” e ainda adiantou “o que é o tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei; porém, se quero explicá-lo a quem me pergunta, então não sei…” 

Eu sou fissurado no tempo, penso nele o tempo todo, todo tempo, acho fantástico e, principalmente no passado, porque para mim, de fato, é o que existe – olha eu divergindo de Santo Agostinho – há muitas teorias filosóficas e físicas sobre o tempo, entretanto, todas apresentam falhas insupríveis, logo posso me dá ao devaneio de ter a minha própria tese.

O passado, só ele existe. Ele é o senhor do tempo, depois de estabelecido nada pode alterá-lo, mudar, corrigir, somente pode ser acrescido numa linha contínua. Não há nada mais generoso que o passado, aquele não esquecido que você pode acessá-lo quando quiser, onde quiser, o tempo que quiser, só ele é real. O futuro não chegou, aparecendo instantaneamente será presente com vida de milésimo de segundo para depois alojar-se no passado, na gaveta das boas recordações ou apinhar-se no baú do esquecimento. 

Eu sou passado, vivo o passado, ainda bem. Do passado me alimento, curto meu passado, acesso-o cotidianamente – não tem como fugir: minha manhã já é passado, beijos dos netos já estão no bornal das inesquecíveis boas memórias – entretanto, nem sempre ele se faz presente por livre e espontânea vontade, e sim, lhe é posto por terceiros obrigando-o a ver o que queria esquecer.

Sou audiência assídua no Facebook do Relembrando Mossoró, do jornalista e escritor Lindomarcos Faustino foi lá que vi o post de uma foto,  aí me deu uma tristeza no meu peito, era o “túmulo” aonde sepultaram a história e o sonho de centenas de profissionais de comunicação, foi lá que conheci Kléber Barros, Nilo Santos, Dorian Jorge Freire, Inácio Pé de Quenga, Laércio Eugênio Cavalcante, Júnior Barbuda, Claudino, Thurbay Rodrigues, Zé Maria Caldas, Sérvulo Holanda, Carlos Sérvulo, Amâncio Honorato, Dona Maria José, Dona Neide, César Santos, William Robson…E tantos outros amigos que os trago, como pingentes, do lado esquerdo do peito. Era ali na Cunha da Mota com a Frei Miguelinho a morada de Canindé Queiroz e Dona Maria Emília, a nossa “casa” a Gazeta do Oeste, naquela esquina boa parte da história contemporânea de todos nós foi escrita e está impressa no passado da memória da terra dos Monxorós. 

Brito e Silva – Cartunista

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O Camaradinha

Vi um post de amigos ladeados por Caby, aí bateu saudade do “Keibi”, gente do meu bem querer. Quase não lembro de vê-lo raivoso, esbravejando, reclamando da vida, na verdade, estava sempre fazendo piada com todo mundo, passando trote para os amigos, é exceto, ao ser chamado de Raimundo Nonato, por um incauto malicioso. Mas, isto é outra história.

Caby, foi uma dessas pessoas que têm o coração mais largo que o bolso. Por vezes o vi ficar liso “batendo a biela” por emprestar o último centavo ou ter pago a conta da mesa vizinha repleta de pirangueiros e no final, sair atrás de dinheiro a juros. O Camaradinha era assim, sem freio, sem amanhã e “sem miséria”.

Calça boca-de-sino, cabelos black power, camiseta de mangas longas e tamancos esse visual dos anos 70 embrulhava Caby, que não dava a mínima para quem torcia o rosto à sua indumentária fora de moda. Gostava de pregar “peças” nos amigos, mas havia quem lhe retribuísse. Reza uma lenda urbana que certa vez ao chegar na guarita da Vipetro, Vilmar teria orientado o porteiro dizer da necessidade dos visitantes usarem botas e capacete, alegando norma da empresa. Quando Caby entra na sala, Vilmar vê aquela presepada caí no riso, o “Camaradinha” acompanha promovendo uma risadaria danada.

Ilustrei quase todos os seus livros, os que não o fiz, foi porque estava morando em Rio Branco/AC. Mesmo quando mudei para Natal, ele trazia. Sem exceção, todas vezes terminava em briga. Brigamos centenas de vezes e centenas de vezes nos reconciliamos, ele muito mais generoso: dois, três dias depois da batia à porta ou ligava “Cossorro, diga a Brito que passo já aí pra gente tomar uma”. No bar não bebia dois goles do Campari, eu não sentia o gosta da Brahma na goela, já dizia vamos? Aqui tá choco! E assim, saíamos de bar em bar, até ele sossegar o facho no Travessia.

Insistia, dizendo ser seu sonho, a gente ter uma agência de publicidade com o nome Azougue, não deu. Porém, criamos o site www.azougue.com dois ou três meses depois brigamos, ele levou a frente o projeto. Não há dúvidas, minha ranzinzice de querer tudo dentro do combinado, das regras, da agenda foi promotora de tantas querelas, e ele, por ser um sujeito sem amarras, livre como o vento, nunca deu bolas às nossas malquerenças, logo no domingo, no Som do Caby: Azougue, do camaradinha Nando Cordel, para meu amigo Brito e Silva, roda a carrapeta aí…”. Esse era Caby, o resto é folclore.

Brito e Silva – Cartunista  

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Está tudo mudando

“Você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem” entusiasta da “terra plana”, teimando em desmascarar Gagarin, que falou ser a terra redonda e azul, saiba “Tua piscina está cheia de ratos, tuas ideias não correspondem aos fatos, o tempo não para…”, “Eppur si muove” cravou Galileu.

Sabe o amigo com quem jogava bola-de-meia, na adolescência se dizia ateu? É dizimista da Universal cultua “deus, pátria e família”. A namoradinha de infância? Virou mulher do lar, casou com o esnobe da outra rua, que acreditava ser as “pregas de quelé”, é verdade: ainda traz marcas no rosto daquela pureza bela, das noites de verão das brincadeiras de esconde-esconde na rua Augusto da Escóssia mal iluminada pela Comensa. Porém, os negros olhos de outrora brilhando como a Estrela Dalva, agora refletem profundo pretume da tristeza.

Jô Soares dizia se a xícara desse bom dia, sem titubear diria “bom dia xícara”. As relações mudaram com os pais, mães, filhos, parentes, amigos, com o mundo e continuam a todo vapor. Acordamos, ainda na cama, exigimos: “Alexa” acenda a luz, ligue a tv e o Mac do escritório. Nos anos 70, mudar o canal de nossa Telefunken tínhamos que ir até o seletor, estapeá-la para imagem, preta e branco, aparecer sem chuviscos, era assim.

Bob Dylan diz “está tudo mudando”. Char, uma americana comprou uma boneca inflável em semelhança e imagem dela, para o marido transar quando estiver indisposta; a canadense Sonja, “ecossexual” diz ter orgasmos múltiplos com um frondoso carvalho; José, lá de Floripa, casou com a bela Samanta, uma rosada suína.

Os alimentadores de minha pasta Bobagens do Tik Tok, enviaram um vídeo onde um gato esbofeteia as fuças de um dog, amuado rosnar expondo as presas, o gato dá um pulo por cima da ligeireza caindo em pé, com a coluna arqueada, os pelos das ventas até a ponta do rabo arrepiados fitando no “Pit Bull”, que percebendo a intenção do “bichano” murcha as orelhas põe o rabo entre as pernas faz meia volta e sai grunhindo, chorando, imitando “Pé-de-Pano”, o cavalo do Pica-Pau. Tudo muda. Pense, não vire estátua de sal.

“Tudo que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo – Lulu Santos

Brito e Silva – Cartunista

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Calhordice

Calhordice

A canalhice da extrema-direita não tem limites, depois que a CGU declarou que o cartão de vacina do genocida é falso, para criar uma cortina de fumaça reeditaram um vídeo fake news antigo, em que supostamente o Pe. Júlio Lancelotti se masturbava para um adolescente.

Esse é o jeito seboso e asqueroso de fazer política dessa gente sem escrúpulos, apoiada por outros calhordas iguais, blogueiros criminosos que no lufa-lufa de conseguirem audiência publicam qualquer coisa sem checar. Cretinos!

Inclusive, um destes cretinos, aqui da terra de Poti, tem a ousadia de propor o nome à Prefeitura de Natal. Ora, vai te catar, alma podre.


por Tácio Caldas tacio.caldas@bnews.com.br
Publicado em 07/01/2024, às 09h08 – Atualizado às 09h10

De acordo com um períto Mario Alexandre Gazziro, contratado pela revista Fórum, “os vários elementos apontam para uma farsa e esse vídeo, em particular, foi gerado para dificultar análises forenses”.

“O que realmente prova que não se trata do padre é a edição para inserção dos ícones do WhatsApp. Porque se fosse realmente um caso real, em que uma suposta vítima tivesse gravado a tela do próprio celular com alguma ferramenta, não teria aparecido o ícone do aplicativo como artefato de edição em destaque na análise forense. Aquilo foi editado e colocado lá”, explica Gazziro.

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Saudade

Saudade é uma palavra perene em nossas vidas, embora não a percebamos no seu conceito e definição mais profundos, na grande maioria das vezes falamos apenas por falar numa vulgaridade sem tamanho “estou com saudade daquela música, estou com saudade de ir à praia…”, coisas assim, cotidianamente banais. Dizem os estudiosos e entendidos do borogodó da língua portuguesa que não há uma tradução literal da palavra saudade em outras línguas, logo a saudade é uma coisa nossa, não que outros povos não tenham este sentimento, mas isto é outra história.

A filosofia cunha, em um conceito bem rasinho, se deve compreender a saudade como a presença da ausência, isto é, um vazio. O dicionário descreve a saudade como “sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa, um lugar ou à ausência de experiências prazerosas já vividas”.

Digo que saudade é aquele instante em que você sente os olhos minar como cacimba em leito de rio seco, e as lágrimas caudalosamente teimam em jorrar e ainda assim, se pega rindo, como se aquele valioso momento tivesse feito a vida valer a pena e seguir ao futuro expondo estes fragmentos de tempo em quadros em uma parede de um museu, que você pode ver quando quiser.

Qui nem jiló

Luiz Gonzaga/Humberto Teixeira

Se a gente lembra só por lembrar
O amor que a gente um dia perdeu
Saudade inté que assim é bom
Pro cabra se convencer
Que é feliz sem saber
Pois não sofreu…

Gonzaguinha, em sua bela música Saudade escreve “saudade a gente não explica…”, de fato, mas quem diabos precisa de definição para sentir essa coisa que nos faz chorar sem sentir dor nos acalmando a alma, como se uma dose de morfina fosse. Hoje, alvoreci com saudades do meu velho pai, seu Luiz, de vê-lo sob o pé de mangueira que plantou, regou e cuidou, como quem cuida de netos, ela, depois de sua partida, se recusa adocicar suas mangas, agora carrega seus frutos com o amargor e azedume de algumas saudades. Claro, fui ouvir “Boiadeiro”, Luiz Gonzaga.

Brito e Silva – Cartunista

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Noel insensível

Por causa de um piti no sistema do departamento de emissão da documentação de permanência definitiva no solo de Neruda, com chegada marcada para o dia 24 de dezembro, ouvi de minha nora “Sogrão, não vamos viajar”, não fiquei triste, talvez, um pouco morocochô, confesso. Porém, logo atinei e como não poderia ser de outra forma, pus na conta desse velhinho escroto Noel, o safado não iria conceder esse presente natalino.

Há anos venho de birra que já caminha evoluindo à inimizade ferrenha com esse sujeitinho velhaco, vindo lá do norte da Escandinávia enganando meio mundo. Comigo nunca cumpriu o prometido ou o desejado: quando menino sonhava com uma Monareta, minha primeira bicicleta foi uma Monark aos 15 anos e não foi ele quem trouxe, até porque meu aniversário é 20 de julho, 5 meses antes de sua revoada mundo afora; adulto, por ausência dele, me fiz mentiroso contumaz: comprava presentes para os filhos e dizia que era o velhote que deixara na soleira da porta.

Adulto jovem, nutria vã esperança de um dia topar com ele para uma conversa de pé-de-orelha, certa feita tive o desatino de escrever uma carta à sua casa na Lapónia, no Caderno2 do Jornal Rio Branco/AC, sem resposta potencializando nossa querela, quer dizer a minha, haja vista sua total indiferença aos meus apelos. Há anos estendo-lhe a mão no ato do mais puro e sincero desejo de reconciliação, até sonhei que ele aceitava. Para facilitar sua vida, ciente de sua épica jornada natalina nos condomínios da classe média, abri mão de receber o presente no natal, adiei para virada do ano. Mas um presente que, de fato, fizesse jus a reconciliação e todos os anos de sonegação: o prêmio da Mega da Virada, o cretino ainda não cumpriu.

Um amigo “comunista” disse que o velho do saco encarnado foi corrompido pelo capital. Não tem mais tempo, na verdade nunca teve um olhar para aqueles que apenas sonham com comida na mesa na noite de natal. O sacana agora é garoto propaganda da Coca-Cola e das grandes corporações, um vendido. Sem falar que anos após ano estraga a festa do Aniversariante. Já ressabiado, esperava ele aprontar comigo e, aprontou. Se preocupe não minha nora “quando fevereiro chegar, saudade já não mata a gente”.

Brito e Silva – cartunista

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Tola tolice

O genial Nelson Rodrigues certa vez cunhou essa primazia “O adulto não existe. O homem é um menino perene” uma verdade brutalmente cristalizada na alma. Sem saudosismo piegas, livre da besteira besta da “melhor idade”, por vezes voo à minha infância nos Paredões, tempos de menino de calças curtas e jogo de pião no terreiro da Padaria de seu Arlindo, nas manhãs de domingos, além de outras incursões em tempos diversos. Necessito disto. Talvez, é meu “servo” lembrando quem sou, de onde vim e para onde vou.

      Outro dia, depois de uma noite bem adormecida, acordei com uma imagem de Dona Geralda – minha mãe – à tardezinha em sua cadeira de balanço na calçada pedido para eu ir até a Radiola ABC Isabela V, virar os longs plays (LPs) de vinil, pois os três – a radiola suportava 3 LPs empilhados na ponta de uma haste de aço, automaticamente deixava cair um a um sobre o prato e se punha a tocar, quando terminava um lado, tínhamos que virar o disco – já tinham tocados.

     Do bornal, num flash, como se fora a explosão do Big Bang, em milésimo de segundos saltou um turbilhão de cenas: me vi calçando o Conga para jogar futsal na “quadra da cadeia”, hoje, Museu Lauro da Escóssia, logo a cena foi fundida na qual me postava de cacharréu azul marinho, calça branca boca de sino e tamanco, prontinho para ir ao Cine Pax ver “Dio, come te amo”, foi projetada outra quando morei vizinho a Difusora de Mossoró, onde com Alan – in memoriam, morava entre minha casa e a Rádio – ouvia Zé Ramalho na sua casa, noutra vi Maria de blusa branca e saia azul plissada subindo a rua para o Estadual.

Voltando ao começo. Fui à radiola peguei os discos, um exibia selo azul da CBS, era de Vinícius de Morais, outro do Trio Los Panchos e o terceiro era um compacto rosa dos Incríveis que em um dos lados exibia a música Santa Lúcia – a gente cantarolava Santa Luzia – motivos óbvios. Trabalhei todo dia ouvindo Apelo (Vinícius de Moraes), La Malagueña (Trio Los Panchos) e claro, Santa Lúcia (Incríveis).

Provavelmente, sou um velho tolo buscando a infância na vã ilusão de torna meu “horizonte de eventos” um pouco mais longe. De toda forma, é uma tola tolice.

Brito e Silva – Cartunista

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Ingratidão

Era uma vez um sapo e um escorpião que estavam parados à margem de um rio.

– Você me carrega nas costas para eu poder atravessar o rio? – Perguntou o escorpião ao sapo.

– De jeito nenhum. Você é a mais traiçoeira das criaturas. Se eu te ajudar, você me mata em vez de me agradecer.

– Mas, se eu te picar com meu veneno – respondeu o escorpião com uma voz terna e doce -, morro também. Me dê uma carona. Prometo ser bom, meu amigo sapo.

O sapo concordou.

Durante a travessia do rio, porém, o sapo sentiu a picada mortal do escorpião.

– Por que você fez isso, escorpião? Agora nós dois morreremos afogados! – disse o sapo.

E o escorpião simplesmente respondeu:

– Porque esta é a minha natureza, meu amigo sapo. E eu não posso mudá-la

      Heloisa Prieto. (O livro dos medos)

A quem anda neste torrão abençoado por Deus e bonito por natureza é preciso saber viver: tentar entender a natureza humana ou pelo menos não gerar grandes expectativas, por que é de onde não se espera nada, que nada vem, isto se quiser manter uma saúde mental equilibrada.

Nós, os humanos, somos completamente permeados por inúmeros vícios nos levando a comportamentos egoístas, somos fáceis de vestir(?) um escafandro e submergirmos, encapsulados pela corrupção de nossa ingratidão e na escuridão das profundezas passamos a não enxergar nada mais que nosso próprio umbigo. Desdenhamos de tudo e de todos, como se fora um soberbo profeta, que esquece de que o futuro pode ser ouro, mas também tem grandes chances de ser pirita.

Dizem que ingratidão inocula nas pessoas uma imensa fraqueza moral e ética as assombrando, atormentando-as e, por saberem dessa condição de não terem a gratidão como preceito, o medo as torturam, as consomem. Sob cega soberba, não agradecem, não pedem desculpas, entende, se assim o fizerem, estarão sendo humilhadas, derrotadas, fracas.

Pessoas ingratas tratam os mais fracos, os pobres, os cidadãos comuns como se fossem menos gente, menos humanos, menos vivos, apenas pobres diabos almas penadas, zumbis. Mas, de fato, na verdade estas pessoas são simplesmente seus reflexos e, é isto que as atemorizam e com uma nevoa, olham para um lado só, feitas estátuas de sal, para esquecer de onde vieram e daqueles que puseram pequenos seixos nos seus alicerces o qual hoje, edificam seus palácios.

Diz Cícero “a gratidão não é só a maior das virtudes, mas a origem de todas as outras”. Agradecer, ter gratidão é uma qualidade dos fortes destes que têm consciência que tudo lhe foi dado: a vida, a saúde, as habilidades, família, filhos, amigos, dinheiro, fortuna e fé. Entretanto, por vezes atravessam o Rubicão da ingratidão, e assim feito, feito está. Porém, se estão vivas, ainda dá tempo de agradecerem a cada respiro.

Diz a o livro Sagrada aos cristãos: A ingratidão mostra que estamos longe de Deus – Ramanos – 1:21

Calhordice

A grande imprensa brasileira é conspiradora, retrógada e reacionária. Tem lutado permanentemente contra o Brasil. Torce, incentiva, fomenta a negação do país ter no mundo o papel que lhe é de direito. Haja vista a calhordice promovida pela diretora de jornalismo do Estadão forçando uma ligação do Ministro da Justiça, Flávio Dino com uma senhora alcunhada de “Dama do Tráfico”.

Guerra

Em nome de um equilíbrio e controle geopolítico a conivência do mundo “civilizado” ocidental salta aos olhos com a barbárie instalada em Gaza, onde o cretino Netanyahu mata crianças e idosos palestinos sob pretexto de uma guerra contra o Hamas, o que de fato, vemos nas imagens de tv, são inocentes crianças ensopadas de sangues.

Editais

Me disse um amigo, esse pessoal que elabora os editais culturais, sente prazer com o sofrimento alheio. São pessoas invejosas de mente doentia, gente do mal. Pois, com régua e compasso calculam a extensão do dano mental naqueles que se aventuram a participar de qualquer modalidade descrita no “bendito” edital e, acabam sucumbindo à frustração intensa por não conseguirem entender porra nenhum. De fato, eles são feitos para uma pequena casta de “artistas”.

Frase

“A venda de órgãos (humanos) é um mercado a mais” Javier Milei, Presidente da Argentina

Caricatura

Caricatura do Javier Milei, Presidente da Argentina para o 18º Salão Internacional de Humor de Caratinga/MG

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CAPELA ESCOLA DO BOM JESUS

*) Por Márcio de Lima Dantas

No bairro Bom Jesus, localizado nos arrabaldes da cidade de Mossoró, há alguns anos, quando fiz essas fotos, encontrava-se uma capela tão comum aos distritos um tanto distantes do centro (não sei o estado atual), sobretudo às populações com forte pendor a fé propugnada pela Igreja Católica. Isolada em um extenso terreno baldio, na entrada daquele bairro rural, erguida à beira da autoestrada que segue em direção à cidade de Governador Dix-septrosado, descendo para o lado direito.

Essas ermidas, quase sempre despojadas de uma maior profusão de adereços, simbolicamente funcionam como o poder de uma Instituição Religiosa, fazendo saber de uma pertença, outorgando de maneira subliminar que o raio de ação de determinada prática religiosa está para além do que se imagina em um primeiro olhar.

Com efeito, não podemos esquecer o fato de que periodicamente vem um sacerdote batizar crianças, legalizar casamentos, catequizar e oficiar a liturgia, fortalecendo a coesão do rebanho, evitando a dispersão por meio de uma permanente assistência. Antigamente, não era difícil encontrá-las nas cercanias de muitas cidades, no interior de fazendas ou às margens de estradas. O que chama atenção nessa pequena capela são os usos simultâneos de dois espaços considerados como excludentes: o sagrado e do profano.

O escrito acima da porta de entrada, ocupando quase toda a largura da fachada principal, CAPELA – ESCOLA – DO – BOM – JESUS, demonstra em um rasgo de lucidez e pedagogia que onde habita o sagrado também há lugar para acolher crianças e adolescentes necessitados de receberem as primeiras letras e a tabuada, tornando-os mais aptos para a vida. O sagrado e o profano não são antípodas, haja vista as festas religiosas ao deus Dionísio, na antiga Grécia. Para não ir muito longe, observamos que no carnaval brasileiro, refiro-me às escolas de samba do Rio de Janeiro.

No século XIX, a conhecida ala das baianas, era tão-somente uma parte dos cortejos das procissões em homenagem ao calendário de eventos da Igreja Católica (In: Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida). Curioso observar como o caráter de mestiçagem se estende ao plano arquitetônico da capela. Tal miscigenação concerne às formas empregadas na consecução da fachada, dando a conhecer apenas por um detido olhar das partes empregadas em lograr êxito, resultando em uma graciosa harmonia. Não precisa ser apreciador de arte para simpatizar com essa pequena construção chantada em um lugar ermo.

O próprio fato de ter sido construída em um terreno baldio, não detendo casas na sua vizinhança, já convida o olhar para ela, ressaltando suas linhas arquitetônicas de um despojamento e uma simplicidade que, como todos sabem, é muito difícil de se conseguir no domínio da arte. Vejamos como isso se organizou.

Nos dois lados da ermida, temos uma alternância entre duas portas e duas janelas longilíneas, sendo que nas quatro aberturas que dão para o interior, a parte que fecha cada uma é em arco clássico, ocorrendo um certo aprofundamento na alvenaria, permitindo ressaltar tanto o arco, como a as portas e janelas de madeira. Tem também uma outra coisa, uma espécie de falsa coluna quadrada, essas linhas riscam do sopé até o cume. Cada parte que enquadra janela ou porta sobressai discretamente acima da linha do telhado, provavelmente proporcionando obliterar a queda d´água, que irá escoar ao longo da bica, bem visível quando do início da frente. A porta principal detém uma compleição que remete aos arcos ogivais, tão nossos conhecidos por terem sido usados na Idade Média nas catedrais góticas.

É óbvio que não seguem rigorosamente os contornos desses arcos, mas não há como deixar de estabelecer uma relação, visto que o Imaginário da Igreja Católica detém elementos dos diversos estilos estéticos que vigoraram consoante as condições históricas, possibilitando uma eficácia maior da Ideologia da fé, que sempre manteve a supremacia no que diz respeito à dimensão religiosa. Assim, essa porta de madeira contém oito almofadas; é a maneira que se nomina toda e qualquer forma em alto-relevo em portas, servem para conceder valor estético, não funcional, permitindo entrever uma elegância e dignidade ao conjunto de paradigmas utilizados na elaboração sintagmática dessa humilde capela.

A calçada junto com o batente para adentrar pelo recinto, lembra aos que vêm estudar ou praticar sua fé a natureza de um simbólico que lança vetores para o alto, vigorando o caráter ascensional, tanto no que concerne a um lugar para ritualizar um deus, quanto no que diz respeito à escola como sítio do saber. Ambas resguardam sutilmente relações de poder presentes na vida social. Esse conjunto em movimento ascendente está encimado por uma elegante platibanda, arrumada em cima, tornando-se um estilizado triângulo equilátero.

Via de regra, a platibanda funciona como um meio de esconder a cumeeira, visto ser a intersecção de duas águas-mestras. Tudo indica que sua dimensão estética sobrepujou a dimensão funcional ou de valor prático. É só prestar atenção, como aquela finaliza o cume, havendo uma pequena janela em arco com um discreto sino. Logo acima, temos uma cruz. Não podemos deixar de ressaltar o lado direito e esquerdo da platibanda. O fato de ter duas volutas serpenteando em busca do alto, lembra a linha curva presente na tradição Barroca da nossa cultura. Mais uma vez remarcamos que não passa de uma estilização da linha curva que predominou nas construções religiosas e civis durante o nosso período Colonial.

A linha curva é bastante condizente com o ideal propugnado pelas religiões, pois estabelecem como alvo das prédicas a subjetividade, a emoção, um ethos que se opões frontalmente à razão, pois é necessário acreditar em algo abstrato, não tangível.

Não vamos esquecer um componente dessa fachada. É um traço presente na Arquitetura Clássica, advinda de uma sedimentação estética que levou séculos para se presentificar, atingindo seu apogeu na arquitetura da Antiga Grécia. Estamos falando da simetria bilateral, a possiblidade de cortar ao meio a capela, acabando com dois lados iguais. Tal traço segue à risca esse plano arquitetural, não muito presente no Barroco.

Por fim, nessa tão modesta capela, adjacente à cidade de Mossoró, pudemos constatar um amálgama de diversos estilos de época concernentes à História da Arte no Ocidente. Bem claro que não seguem strictu sensu os paradigmas apontados aqui, mas são estilizações ou evocações dessas manifestações artísticas.

O fato desses partícepes se manifestarem discretamente nos traços dessa construção, não invalida as nossas observações, visto que, no século XX, foram poucas as formas de arte que se apresentaram em estado puro. O importante é que na sua aura haja identidade e pertencimento a determinados grupos sociais. No caso aqui estudado, a Igreja Católica e a Escola, todas duas resguardadoras da Ideologia, seja por meio de um deus monoteísta, seja por meio da linguagem. Ambas ferramentas manuseadas desde sempre pelos que detém o controle da sociedade.

(*) Márcio de Lima Dantas – Professor doutor e escritor

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Eu sou vários

Todos os dias quando o sol desiste de nos assar vivos, João Miguel, meu neto caçula de um ano e seis meses, em uma língua, talvez alienígena, abre o verbo “bavô”, com o dedo em riste para o portão, a rotina explica que é hora de irmos à praça e, assim é feito sua vontade.

Atento às recomendações médicas – garantidoras – se for disciplinado me auto torturando com exercícios físicos seria recompensado com alguns anos de sobrevida. Pensei em saber do médico qual sua cartomante, retrocedi, não quis constrangê-lo, sabe-se lá, a maioria dos médicos do SUS fogem de um “face to face”, poderia proferir algum impropério contra minha mãezinha, neste caso me “espalharia” com pernadas a três por quatro. Na praça, tomei uns goles d’água o time foi se completando.

É sabido no encontro de sexagenários e além, a saudação é quase uma prova de vida: que bom lhe ver. Instantaneamente rola uma boa conversa, logo descambar nas mazelas da velhice: hoje esquecido de tomar o “diabo” da Losartana, outro rindo segue a toada “faz dias que não tomo”, um terceiro “minha mulher quase me bate porque esqueço, pior que ela também esquece” estende-se uma risadaria, como se nós já estivéssemos no Olimpo.

Como tudo não são flores, sempre há um fulano para jogar meleca no ventilador e como todos têm uma história triste a contar, não a nossa, mas, de um amigo: ontem meu vizinho foi achado morto em sua casa, o Samur falou que havia mais de três dias de sua morte. Alguém quis mais detalhes insistindo “a família? Os filhos?”, não tinha família. Mês passado o filho que morava com ele morreu em um acidente de trânsito, tem uma filha na Itália, mas ela só liga no Natal, Aniversário”, sem pedir licença a tristeza sentou-se.

Ouvi Lívia(4), irmã de João, gritando “vô”, pedi esculpa, saí com riso nos olhos constrangido por há pouco estar triste e meus tímpanos ao receberem as ondas carregadas com aquela voz me fez feliz imediatamente, isso em milésimo de segundos. Em seguida me dei conta, de Nietzsche “Eu sou vários. Há multidões em mim. Na mesa de minha alma sentam-se muitos, e eu sou todos eles. Há um velho, uma criança, um sábio, um tolo”. Ora, sou humano, eu sou vários.

Brito e Silva – Cartunista

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Pacífico Medeiros: resignificando a fotografia

Por Márcio de Lima Dantas

“No fundo, a Fotografia é subversiva, não quando aterroriza, perturba ou mesmo estigmatiza, mas quando é pensativa” Roland Barthes

Pacífico Medeiros (Natal, 1967) reside desde sempre em Mossoró. Tendo uma carreira pontuada por diversos cursos e eventos vinculados à fotografia, embora haja nos seus trabalhos uma distância das técnicas utilizadas desde sempre nesse meio de retratar a realidade.

Antes de adentrarmos um pouco mais sobre esse original fotógrafo, cremos ser necessário voltar no tempo e buscarmos determinadas explicações que nos ajudem a compreender com mais propriedade e conhecimento alguns estilos de pintura que sofreram impacto quando do surgimento da fotografia.

Vejamos. Quando surge a fotografia, por volta de 1826, instala-se uma série de indagações acerca dessa nova maneira de retratar a realidade. Ao que parece, não havia o artesanal da pintura, do desenho ou da escultura. A pintura, mais apressada, sentiu-se emparedada, inquirindo afinal qual era mesmo sua função, pois sempre ocupou o papel de retratar a realidade, seu entorno e contornos. Sintomaticamente surge o Impressionismo, deixando a tela esmaecida ou tão-somente sugerindo, sobretudo, a retratação do humano. O recuo de formas bem diferentes, assim como sabia fazer o Realismo, Romantismo ou Academicismo, engendrou imagens que necessitavam de recuo físico da tela para que a imagem se desse a observar e conhecer. Basta contemplar a tela de Claude Monet: Impressão, nascer do sol (1872).

Acabada essa digressão, cumpre-nos tratar do ethos da fotografia fora do comum de Pacífico Medeiros. Refratando modelos, o produto final desse artista ocorre por meio de uma sobreposição de técnicas advindas de outros sistemas semióticos, sendo que estas são produzidas através de programas de

computadores, em um jogo no qual a fotografia primeva esmaece e é também ressaltada. Quase sempre emoldurando com contornos dramáticos o retrato de quem expressa um sentimento ou encontra-se envolvido em atividades de algum ofício. Tais figuras podem ser duplicadas ou triplicadas em uma espécie de crescendo, engendrando um belo efeito cromático de preto e branco sobre figuras geométricas coloridas.

Com efeito, há que compreender a função de múltiplas técnicas, – passando pela gramatura do papel e indo buscar um pano-de-fundo nos antigos mosaicos (ladrilhos) de residências ou igrejas, só para restar em um exemplo, – essa função perfaz uma aura estética inauguradora de uma nova obra, quem sabe uma nova ordem de pensar e refletir acerca da realidade.

Quero dizer com isso de uma nova ordem na fotografia, no qual a mensagem, via meios tradicionais e digitais, assomam no nosso derredor, largando uma forma monolítica que o retrato em preto e branco ou colorido demanda ao expectador. Mesmo detendo um eidos estético, com o sumo da mensagem multisignificativo, não esquece de apontar caminhos e pistas a quem está diante. Bem claro que o significante suplanta e questiona o que se diz, sugerindo o como.

Sucede um fenômeno nosso momento histórico; como sempre, este, fruto das condições socioeconômicas que a tudo e todos pintam com suas cores e nuances. A saber, uma algazarra de informações contidas nas redes sociais, sintetizadas no nome Internet. Muitos nem conseguem alcançar certas nomenclaturas e determinados manuseios nos grupos sociais. Contudo, podemos equacionar da seguinte maneira: tem tudo de bom, tem tudo de ruim. Nunca esquecendo o mal-estar que bafeja sobre tudo e todos, inclusive sobre a crítica de arte, ao que parece, em franca extinção.

O fotógrafo Pacífico Medeiros optou pela primeira, ousando inscrever suas fotografias em um amálgama de técnicas oriundas de diversos meios. Não deixando de lado o kairos, ou seja, o momento certo, a oportunidade não perdida de apreender através da objetiva elementos figurativos que irão compor uma espécie de ponto de fuga: mulheres, homens trabalhando, uma senhora que aquiesce, por meio das mãos, as vicissitudes do destino.

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Os pecados são todos meus

Não costumo me esquivar dos meus erros e terceirizar malfeitos, creio ser uma canalhice, uma cretinice. Portanto, como já disse antes que tenho poucas coisas para me arrepender, não que minha carga seja maneira, mas por ser crente do merecimento e, assim sendo, sou ciente de minhas enormes falhas, as quais ao longo do tempo tentei sepultá-las, algumas consegui mantê-las no porão, mesma aquelas mais latentes as pus em corrente curta, entretanto, outras tão sutis e dissimuladas, quando você imagina que as domou elas surgem violentas e nos revelam quem somos, por outro lado elas me mantém lúcido e certo de minhas robustas debilidades.

Eu conheço todas as minhas qualidades boas e más: fraquezas, imperfeições, também minhas aptidões e brio não que tenha posto o pé na soleira da sabedoria, esteja sob a paz infinita, me tornado “iluminado”, encontrado meu nivarna. Caminho muito distante disto, meus pecados, defeitos são maiores que minhas boas qualidades. Todo santo dia, quando ele se esvai vejo que Leonard Vinci foi claro e preciso quando cunhou “A maior decepção que o homem sofre advém das suas próprias opiniões”. Juro que tento ser menos arrogante, mais humilde, mais compreensivo, sabendo que para isso é preciso ser forte e corajoso, porém, acabo me rendendo a fraqueza e a covardia. Talvez meus valores éticos, morais e visão de mundo tenham envelhecidos ou, talvez, já tenha me tornado em um velho tolo. Entretanto, como diz Gilberto Gil “os pecados são todos meus”. 

É certo, que a arrogância, a empáfia, a falta de humildade nos permeiam, nos cobre a pele como um grosso casaco de inverno dos esquimós e, por que isto? Não sei. Talvez quem sabe, lá no fundo d’alma, para aqueles que acreditam na “Palavra” não seja a vergonha de revelarem-se pobres diabos hipócritas descrentes, que apenas finge e assim se constituíram em sepulcros caiados”.

“Meu pastor não sabe que eu sei da arma oculta em sua mão”, música de João Bosco, Milton Nascimento e Toninho Horta. Me causa pena, dos que, com Bíblia na ponta da língua cultivam gestos e ações na ponta do ariete.

Quando digo que há pouca coisa para me arrepender, ora quero dizer que dessa vida nada se leva, se é que se vai algum lugar, nem as riquezas e menos ainda os sacrilégios. Haja vista, que aos que aqui têm o privilégio de andarem não se vão devedores, todos pagam seu quinhão, todos compram antecipadamente a passagem de ida.

Brito e Silva – Cartunista

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Especial: A casa de Quincas Saldanha nos Arredores de Caraúbas.

 Por Márcio de Lima Dantas.

oaquim Silva Saldanha nasceu em 11 de dezembro de 1872, faleceu em 14  de junho de 1936, na cidade de Caraúbas. Era Coronel da Guarda Nacional,  latifundiário de terras no Rio Grande do Norte e Paraíba. Essa titulatura,  menos remetia a se considerar como um quadro de uma instituição nacional,  e mais como espécie de título encomiástico que imprimia a quem houvesse  tê-lo, poder e valor, visto está quase sempre atrelado a personagens da região  Nordeste caracterizados pela posse de grandes datas de terras e ao criatório  de animais adaptados à região do Semiárido. 

O Coronelismo foi uma  instituição extremamente importante na gramática do teatro social, desde  sempre das gentes habitantes sertões adentro. Foi casado com uma prima, a  Sra. Joaquina Veras Saldanha, tendo gerado dez filhos. Passou e residir na  casa dos arredores de Caraúbas em 1920. 

Vinculado ao patriarcado das gentes nordestinas, administrava suas  propriedades rurais como um legítimo senhor de terras e gentes. Residiu por  muito tempo em duas suas fazendas: Fazenda Aldeia e Fazenda Amazonas,  sendo que nessa época estavam localizadas no município de Brejo do Cruz.  Na época, a aristocracia agrária se confundia com a política. Em assim sendo, 

participou da Revolução de 30 como um dos chefes no Rio Grande do Norte,  filiado ao Partido Nacional Socialista. Era conhecido pela alcunha de “Gato  Vermelho” (Informações acima podemos encontrar no livro A história  continua… Saldanha & Veras, de Francisco Galbi Saldanha, Natal:  Fundação Vingt-un Rosado, 2021) 

Saindo da região Assu/Mossoró, com destino à região Sertão do Apodi,  adentrando pelas quentes terras que caracterizam as condições  climatológicas oriundas das bodas entre um sol inclemente e da ausência de chuvas, sobretudo quando assoma a estação seca, eis que podemos encontrar  a cidade de Caraúbas. Pouco antes de chegar à zona urbana, do lado  esquerdo, ergue-se uma casa que quase obriga os passantes nos automóveis  a contemplar. É o que ficou conhecida como a “Casa de Quincas Saldanha”. 

A casa parece refletir a personalidade do seu proprietário. Os traços  arquitetônicos são inequívocos ao primar pela ordem, equilíbrio e  sobriedade, lançando para distritos outros que abriga o emotivo, sentimentos  de arrebatamento do espírito ou os chamados pulsares que ficou conhecido 

como coisas do coração. A própria cobertura de telhas, com sua água anterior  declinando para a fachada sugere ao visitante que se achega à casa firmar seu  contato primeiro com a residência. Não há como negar, um monumento  erguido não somente pela sua funcionalidade de habitar e servir de abrigo,  mas ergue-se discreta simplicidade de linhas retas, como objeto estético a ser  contemplado e fruído. 

Com efeito, essa fachada, ausente de porta de entrada, ergue-se a partir de  uma cumeeira que cai em duas águas. Ao invés do que tradicionalmente  consta na arquitetura dita clássica, visto que as duas águas mestras  encontram-se no cume do telhado, conformando um triângulo retângulo cujo  pico do telhado é o encontro das duas águas, aqui é diferente, remetendo  muito mais as casas construídas em regiões quentes. A altura possibilita a  entrada e a circulação do vento, refrescando o interior da casa. A porta de  entrada localiza-se do lado direito, onde há um oitão largo e longo, separando  essa casa da residência do que parece ser a de um morador. 

Retornemos à fachada principal. Há uma platibanda de pouca altura, se  considerarmos uma linha que sobrepõe todo um retângulo circunscrevendo  as duas faces exatamente iguais, quer dizer, podemos riscar uma linha  cortando a fachada ao meio: teremos duas janelas de cada lado, dentre outros  elementos ornamentais, também com presença bilateral, provocando uma  suave harmonia no espírito de quem avista a casa pela primeira vez. 

Dessarte, a platibanda com essa compleição, deixando nu o telhado que cai  para a fachada principal, não consegue esconder o que ficou conhecido como  sua função. A saber, disfarçar ou esconder o que recobre uma casa. Talvez  essa obrigação de obliterar o telhado ou elementos da cumeeira, como  madeira mais espessas ou caibros, esteja relacionado às residências urbanas,  de cidades pequenas ou não, no qual a aparência deve ser algo valorizado. 

Há quatro janelas, cuja porta de entrada do lado direito permitiu que se  organizassem os elementos acima citados. Toda estrutura e repartição em  cômodos remete à arquitetura das casas sertanejas, apenas a fachada refoge,  evocando em sua compleição as casas urbanas, embora esta detenha um  requinte estilístico que a faz conter em seu conjunto uma planta que diz  respeito a determinadas tradições estéticas dos estilos históricos que  podemos, sem muito esforço, encontrar os traços. 

Isso posto, ainda temos a levar em consideração formas que persistem na  História da Arte desde sempre, emergindo de vez em quando, consoante a  necessidade ou demandas de condições históricas relacionadas a povos ou  países. Eis o caso do Barroco. Alguns pesquisadores apontam as 

especificidades do cone semântico nos quais determinados elementos  integrantes das edificações do século XVII. 

Isso não quer dizer que essa escansão seja rígida, como se ao findar  determinado Ar do Tempo, imediatamente encerrassem as formas de sentir  e agir de grupos sociais. 

Essa digressão nos permite compreender e classificar o estilo da casa de  Quincas Saldanha como caudatária do que ficou conhecido como estilo  Clássico, sendo que nesta todo o vocabulário de elementos manuseados  encontram-se estilizados ou são paráfrases, ou seja, não iremos encontrar o  glossário de referente aos elementos integrantes das edificações grecolatinas.  Contudo, um expectador mais atento encontrará os princípios que regem a  arquitetura dessa tradição que sempre acompanhou a História da Arte  ocidental. 

Faz-se necessário remarcar a compleição da fachada. Apenas as quatro  janelas detém um caráter funcional, na medida em que servem para deixar a  luz iluminar o interior dos cômodos, bem como permitir a circulação do  vento, refrescando e funcionando como “limpador” das energias paradas do  interior da casa. 

Podemos observar uma série de elementos em autorelevo. Foi o que  insistimos em nominar de estilização ou paráfrase. Cinco colunas  quadráticas perfilam toda a fachada, tanto nos extremos direito e esquerdo  quanto como adereços separadores das janelas. As duas janelas centrais são  encimadas por espécies de frontões mais elevados do que o retângulo  horizontal observado na totalidade da fachada. São puramente decorativos,  sendo que destoam um tanto do conjunto, pois aparece e predomina a linha  curva, sem ostentação ou extravagância. Ao que parece, imprime uma certa  solenidade para visitantes, antes de chegar na calçada da herdade, sendo o  que arremata todo o conjunto a existência de dois triângulos, com volutas  voltadas para baixo. Há que remarcar o adorno presente em todas as  estilizações das cinco colunas: conchas superpostas, encerrando lá em cima  o ataviamento da platibanda. 

Por certo, foi para compor uma harmonia, tendo em vista o aparecimento da  linha curva, e sua reverberação, que puseram dois círculos no meio e em cada  lado, uma redução em linhas gerais de uma flor, como soi acontecer em toda  a História da Arte no Ocidente, no qual foi presença marcante no estilo 

Gótico. Sintomático que apareça justo nos dois lados da linha que separa a  fachada em duas faces exatamente iguais. Essa forma da rosácea sempre foi  manuseada no âmbito das edificações para serem usadas como janelas e 

filtrarem a luz para o interior da construção. No nosso caso, os dois círculos  com traços evocadores de uma rosa no seu interior, ou seja, a metonímia da  parte pelo todo, visto não existir pétalas, mas riscos que emanam do centro,  parecem sugerir insígnias invocadoras de uma geometria relacionada ao  sacro, pois desde sempre as tradições religiosas relacionaram o círculo como  totalidade, simbolizando Deus. 

De fato, consciente ou inconscientemente, organizou-se na fachada  representante da moradia do Coronel Quincas Saldanha simplificações  geométricas de formas que atentamente observadas podemos encontrar uma  confluência de símbolos que reforçam o lugar social do seu morador. No  caso dos círculos, eis a representação e presença do divino. O deus aqui  presente é o relacionado às tradições da Igreja Católica, desde muito  dominantes nesses sertões interior a dentro. Cúmplices e justificadoras de uma microfísica do poder, imperando por meio de alianças cujo Deus  legitimava a ideologia do Patriarcado Rural. 

Por fim, destacaremos a casa de morador do lado direito, edificada com  extrema simplicidade. As duas águas seguem o paradigma das casas oriundas  dos sertões: pé direito sempre alto, abrindo espaço interno para a ventilação,  haja vista o clima tendo dias longos e quentes, esse artificio permite um tanto  de conforto. Há uma porta e uma janela, na sua fachada nua, desprovida de  qualquer ornamentação, quer dizer, tudo é funcional, mesmo a calçada um  tanto alta, para nivelar o sítio onde está a casa. 

Outra coisa é a parede circundante do curral, a qual foi construída em  alvenaria, dividida meio a meio. A parte inferior é maciça, já a parte superior  tem uma alternância de colunas separadas por espécies de ripas de concreto,  em número de três. E assim segue o mesmo padrão, sendo que apenas na  linha onde se encontra a porteira prevalece. Essa corporatura,  provavelmente, não é muito comum nos currais das casas de moradores mais  modestos ou mesmo detentor de vastas propriedades. 

Para encerrar, se faz necessário proclamar a beleza da Casa de Quincas  Saldanha, chantada nos ermos das terras agrestes do Semiárido. Sua  simplificação geométrica nas formas expressa uma disposição de espírito inerente, quase sempre, aos que nascem sertões afora, voltados para rotinas  vinculadas a um escandir do tempo preocupados com as duas estações: a seca  e a chuvosa. Quando a seca se estende por muitos meses ou anos, há que  buscar artifícios de sobrevivência, mesmo para pessoas abastadas, como é o  caso do proprietário dessa herdade.

Por fim, gostaria de registrar uma informação acerca de Quincas Saldanha,  o seu neto Joaquim da Silva Saldanha Neto (31.05.1937 – 28.07.1979), filho  do Sr. Benedito Veras Saldanha (Beni Saldanha) e da Sra. Helena Saldanha, médico formado no Recife, sendo que faleceu no Rio de Janeiro. Beny era  filho de Quincas Saldanha. Casou-se com a Sra. Isaura Amélia de Sousa  Rosado Maia (*09.10.1947), em 09 de outubro de 1969, filha de Dix-Sept  Rosado e Adalgisa Rosado. Esse médico exerceu a profissão em Mossoró,  conhecido como gentil e generoso, querido pelos mais humildes, nunca  recusando atender qualquer pessoa. Era agropecuarista de região de Campo  Grande (RN) e Belém do Brejo do Cruz (PB).

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Especial: A (meta) pintura de Laércio Eugênio

Por Márcio de Lima Dantas 

Laércio Eugênio (Sítio Mata Seca, Frutuoso Gomes, 1959) assenta-se, contemporaneamente, como um dos mais importantes artistas plásticos do  Rio Grande do Norte. Detentor de uma dicção pictórica assaz original no que  concerne aos meios utilizados pela pintura desde sempre. Acontece que o  artista optou por outro caminho, imprimindo à sua obra um tanto de  originalidade, fazendo com que marque um diferencial com relação aos seus  pares. 

Com efeito, suas telas parecem ser puro pretexto para questionar uma  representação realista ou abstrata do mundo que o cerca ou como chegam as emissões do real em seu íntimo. Ora, o que parece almejar é discorrer acerca  do ato de retratar qualquer que seja o tema, em um movimento que se volta  sobre si mesmo, chamando atenção e proclamando, – por meio de precisas  pinceladas mais espessas, ora usando o pincel, ora arrematando com a  espátula, – que o sistema semiótico pintura é uma outra realidade. 

Assim sendo, descobrindo seus próprios meios, ou seja, autodesvelando-se,  em uma atitude que tem muito de crítica, no sentido de que a tela não mais  busca ou salienta o que chamamos de tema, conteúdo ou significado. Vai  valer pelo significante, pela forma, em movimento que se volta sobre si  mesma. Ora, nada mais é do que aquilo que sempre foi a ontologia da Arte:  há que mirar-se na forma, e não no conteúdo. 

A obra do pintor Laércio Eugênio é um discurso que se pretende um “tratado  de pintura”. Eis a tinta ocupando o lugar que seria do desenho, conformando  um possível lugar de volumes quase sempre estáticos, reafirmando o que  dissemos. É uma espécie de contemplar objetos isolados ou em conjunto,  conduzindo o ato de pintar para engendramento de uma outra realidade,  antípoda ao que chamam de real empírico, lugar onde sucede a interação  entre os homens, seus objetos, seus sistemas de valores, suas maneiras de  agir ou representar. E suportando todas as atribulações, sendo espécies de  marionetes, em um eterno embate com as forças que nos chegam à nossa  revelia, impondo mando e jugo. 

Mas eis que temos a arte para nos redimir, uma dimensão outra perpetrada  por uma singular presença no mundo, consignando contornos, inventando  perspectivas, percebendo ângulos inusitados, alterando a ordem ditada pela Ideologia, fazendo-nos crer em uma possível outro jeito de pensar. Enfim, o  que de um imo singular emanou, dessa presença individual chantada nos  logradouros da realidade, de um que ousou pensar diferente e tornou essa  matéria em arte, eis a suprema capacidade de expressar uma pluralidade, um  coletivo, uma etnia, um país, um dado momento histórico e o seu Ar do  Tempo. 

Antes do mais, há que dizer que farei uso livremente das funções da  linguagem propostas pelo linguista russo Roman Jakobson (1896 – 1982).  Sua proposta das funções da linguagem é bastante dúctil, possibilitando que  se analisem outros sistemas semióticos, não apenas a Língua. O termo  Linguagem amplifica-se a todo e qualquer fenômeno da cultura, sendo que à  medida que houve uma evolução dos primeiros agrupamentos humanos de  caçadores e/ou agricultores, a língua foi se impondo como um dos mais  importantes meios de comunicação, dada a sua versatilidade e economia de  paradigmas conformando um sintagma. Quer dizer, um reduzido número de  fonemas é capaz de dar conta de línguas circunscritas a áreas geográficas ou  etnias com o mesmo laço de parentesco. 

Mesmo assim, as artes visuais seguiram paralelas, organizando  representações por meio de escrituras rupestres nos abrigos e cavernas,  também em baixos-relevos sobre o granito, como se tivesse sido riscado pela  mesma pedra. Esses são apenas alguns exemplos. Para além da dimensão  mágico-religiosa, havia a necessidade de expressão de um indivíduo à cata de inscrever fora de si uma outra realidade. Eis o que motiva o surgimento  da arte enquanto fenômeno de cultura, da mesma forma o que impulsiona  aos que, parece, sentem necessidade de cumprir determinada ordem vinda  das regiões mais profundas do seu íntimo. 

Esse conceito de Função Metalinguística empregaremos para analisar em  uma perspectiva ensaística a obra de um pintor originalmente relacionada  com o desenho, visto ter colaborado durante muito tempo como cartunista  do jornal Gazeta do Oeste, tendo despertado para a pintura em 1988. Aqui já  expusera seu talento em um desenho firme e detentor de uma dicção  extremante criativa. 

Separaremos, para fins didáticos, sua obra em três arranjos. As naturezas mortas, as paisagens e as marinhas. 

Suas naturezas-mortas detém características bem particulares, começando  por manusear uma rica paleta de cores e seus respectivos tons. Expressa o  pleno domínio da luz que esplende sobre arranjos de flores ou frutas isoladas,  em um preciso sombreamento. A luz nessas telas assoma sempre de um ponto, maneira arguta e sensível de fazer com que o objeto em cena quedado proeminente, resplandecendo a luz que ilumina a composição retratada por  meio da técnica expressionista: consistentes pinceladas que mais parecem ter  sido feitas de chofre, como se não houvera previamente o desenho. Evoca  uma espécie de pressa, no melhor sentido que possa haver. As grossas  pinceladas sugerem mais um artista pleno no domínio de seus meios. 

Tenho para mim, que os vasos de flores talvez sejam o que de melhor  conseguiu fazer valer sua estética, em uma maestria capaz de lograr êxito a  partir da sua experiência com as telas e os pincéis, demonstrando suas  capacidades de imprimir uma hegemonia da cor sobre o desenho, em um  despotismo de formas, cores e contornos capazes de desmistificar o retratado  como lugar agradável e puramente decorativo. 

O Expressionismo enquanto estilo histórico ou escola vinculada às  vanguardas que surgiram no início do século XX, caracteriza-se por buscar  a transmissão de emoções por meio de uma técnica muito parecida com uma  forma abrupta de transmitir para a tela o real e seu entorno. Isso mesmo, uma  espécie de pressa ao colocar em grossas camadas ou pinceladas, com  espátula ou pincel, o que se apresenta ao olhar ou se movimenta no entorno  do artista. Desse modo, alguns procedimentos empregados desde sempre são  esquecidos. Basta ver como os vasos com flores estão muito mais do lado de  insculpir emoções do que imprimir na composição um equilíbrio de formas  ou procedimentos desde sempre buscados por escolas de pinturas do  passado. 

Por isso, fomos buscar adjutórios, para efeito de compreensão, nas funções  da linguagem. Essas telas referendam uma arte que se dobra sobre si mesma,  como se quisesse testar o código. Assim sendo, podemos inscrevê-la como  uma arte metalinguística, na medida em que não busca retratar aspectos  tendo em vista uma cópia da realidade, como por exemplo, a estética  Realista, Romântica ou Acadêmica. Ao dobrar-se sobre si mesma, acaba por  revelar o caráter de que estamos diante de um objeto no qual outorga um  discurso de que não passa de uma composição, cuja organização cromática  chama atenção para as possibilidades de se plasmar algo que pode até  remeter a um referente do real, mas não se quer uma cópia deste. 

As paisagens propostas por Laércio Eugênio também remetem ao que acima  discorremos, no sentido de buscar a luz, sendo que aqui procura captar a  luminosidade natural, quer seja nas praias, quer seja em ermas zonas,  parecendo muito mais fruto da imaginação do que factíveis de existirem.  Reforçando a ideia de recortes do real muito mais como desculpas para se elaborar o luzir claro de um possível sol e uma possibilidade de encetar  contrastes entre cores e nuances que se opõem, como o azul, a terracota e o  verde.  

Com efeito, encontramos nas telas amplos céus azuis, conformados por meio  de espessas pinceladas em diversos tons dessa cor. A perspectiva é  conseguida quase sempre através de alguma nuance, não do desenho, que  desaparece, para dar espaço e vida às cores que entram na composição.  Sugere precisão e uma falsa urgência, pois sabemos que essa espécie de  técnica requer tempo, silêncio e um olhar atento, distanciando-se, vez em  quando, para saber a exata medida do que se está elaborando. 

Fica difícil não chamar atenção para a luz, com sua clara transparência, assim  como se passasse direto, vinda do firmamento, não recebendo nenhum  obstáculo. O artista consegue com destreza alcançar, com imensa  propriedade, esse privilégio das zonas rurais ou de algumas cidades  nordestinas. 

Por fim, vejamos o virtuosismo do artista em dos seus temas principais, as  marinhas. São detentoras de imensa beleza cromática, fazendo valer o que  ousou e usou nas paisagens. Nada devendo a ninguém. Limita-se a engendrar suas telas, como pessoa um indivíduo discreto e sem nenhum vestígio de  soberba, apenas transforma em paisagens marítimas as ordens que emanando  seu interior. Esse mando e necessidade que forças da natureza demandam  transformar em “energia” uma “dínames” (Aristóteles). Assim como se fosse uma imanência, algo que chafurda dentro de si,  ansiando por se tornar Arte. E com o pintor Laércio Eugênio, encontramos  esse A no melhor sentido, de benfazejos objetos incorporados aos que o  cotidiano já detém, sendo que na Arte, e sobretudo nas marinhas, há uma  nova forma de contemplar a realidade, na medida que há um diferencial, pois  refrata o que formos acostumados a ver ou o que nos dizem como ver. Aqui  há um novo projeto de vida: transmitir sentimentos por meio de uma  determinada maneira, ou seja, de como se assenta a realidade no interior do artista. E assim ele transmite, por meio da sua pintura, as emoções que  rebentam em seus músculos, ossos sangue, estrumando os cães adormecidos  na sua alma, fazendo com que se transformem em uma outra realidade  possível.