Artigo

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Para os netos

Santiago(Ch), 23 de junho de 2024

Netos Kayllanne, Lívia, João e Mily

Em Natal,(RN-Brasil)

        Neste último sábado, 22, seus tios Polary – meu filho – e Sanara- minha nora – me levaram para um “tuor”. Primeiro fomos para o centro da cidade, aonde minha nora foi comprar chips para os clientes da BraChile, eu e Polary ficamos na companhia de Chico Buarque, Tom Jobim entre outros. Depois seguimos pela Plaza de Armas de frente ao Palacio La Moneda, sede do governo chileno, devidamente sob fragmentos da histórias ditos por meus “guias”.

        O estômago reclamando combustível para gerar energia para se contrapor aos 8 graus que penetrava em meus sexagenário ossos, logo fui levado ao Restaurante Malandros, na soleira pareceu-me entrando no Oba Show, nos anos de 1994, quando de jogos da seleção brasileira, o ambiente decorado com bandeirinhas brasileiras e bandeirolas verdes e amarelas, uma bela senhorita traz o menu, logo imaginei Mão-de-vaca, Sarrabuio, Mocotó, Tripa de porco com batata doce… Qual o quê? Meus olhos caíram sobre uma Muqueca de peixe a qual degustamos com suco de maracujá, Sanara me acompanhou, Polary se fartou com uma feijoada com uma caneca de cerveja, pela cor e transparência mais parecia ponche ou Ki-suco de abacaxi.

       Bucho forrado, saímos sob uma chuvinha fina, essa que os paulistas chamam de garoa e no nordeste os matutos sertanejos, do principado de Baixa do Chico, denominam de “lebrina” ou “chuva de moiar besta”, ela, aliada do frio, banhava a Van/Mercedes, adquirida no dia anterior para frota da Brachile. Roteiro ajustado, seguimos ao museu de cera  onde fomos bem recepcionados. Na entrada do lado esquerdo você tem um encontro com os povos originários, do lado direito caminha com os presidentes do Chile, já no final ao lado de Michelle Bachelet e Sebastián Piñera dei-me conta da ausência de dois ex-presidentes que marcaram profundamente a história recente deste país, Pinochet e Salvador Allende, entoce, perguntei a guia que foi taxativa “porque es un tema delicado”.

      Avante no tour, topei com Gabriela Mistral e Pablo Neruda, ambos Nobel de Literatura, confesso que fiquei acanhado, ia até puxar um papo com os dois, mas, viralatismo impediu e também fui advertido que eles eram de cera. Lembrei do criador da Embraer, general Osiris e Silva, no programa Roda Viva disse que estava em jantar, em Estocolmo, sentado ao seu lado estava um dos membros do comitê do Nobel, e ele perguntou porque o Brasil não tinha um Nobel, obtendo como resposta “Vocês brasileiros são destruidores de heróis”. Tuor encerrado.

Brito e Silva – Cartunista

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Ansiedade

Eu não sei se eram os antigos que diziam “tudo na vida tem preço”, adotei essa frase como lema de vida, não à toa ”meu amigo, o “camaradinha” – Caby da Costa Lima – quando a oportunidade de dize-la batia a sua porta, imprimia me citando.
Meu primogênito me presenteou com uma temporada de 34 dias na terra de Neruda, em razão dos meus 65 anos, no próximo 20 de julho, o que de fato, não é pouca coisa, se levarmos em consideração o afago dos meus netos Enzo, Aléssia minha nora Sanara e do próprio Polary – na chegada já me deu um violão virgem, imaginando que sei tocar alguma coisa – para completar o pacote eu iria – viria – na bagagem de Pollyanne – minha filha mais velha – e de minha neta Valentina. Quem em sã consciência recusaria tamanhos agrados de um filho que mora à distância de 7mil km?
Pois muito bem. Mala prontas, Felipe me aporta as 23h45 para irmos o aeroporto Aluízio Alves embarcarmos no A321da Latam para São Paulo com conexão seguindo rota traçada sobre os Andes com aterrisagem em Santiago. Fomos recepcionados no aeroporto de São Gonçalo com uma tesuda chuva – como dizia Canindé Queiroz – feitos pintos molhados embarcamos eu, Pollyanne e Valentia, comissários nos últimos preparativos e veio a notícia que a aeronave estava sem comunicação de bordo, nisto ficamos sentados vendo a manutenção desmontando a parte eletrônica da cabine, duas horas depois o piloto anuncia voo.
Voo tranquilo a Guarulho, mais tranquilo de São Paulo sobre os Andes à Santiago. Acolhido por minha nora, muitas conversas, notícias do mundo de lá e de cá. Todos aconchegados para um bom sono, comecei a sentir uma sessão de pressão alta. Sanara, meu neto e Clevinho – irmão de Sanara – me levaram à urgência, atendido, verificação de pressão, níveis de açúcar, eletrocardiograma veio diagnóstico: tudo normal. Agora, com o juízo no lugar, vou subir o Vale Nevada.

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Discutindo a quimera da vez: castração química

Por Pedro Chê

Apesar de ter passado na CCJ, e mesmo que aprovada no Congresso, esse PL enfrentaria a real possibilidade de ser entendida como inconstitucional pelo STF

A falta de fronteira para propostas e de censura são, sem dúvidas, elementos importantes para que o tema segurança pública seja tão fervilhante nos círculos de conversa. Afinal quem resistiria a discutir, num barzinho, sobre castração química, trabalhos forçados para presidiários ou pena de morte? É possível para conversar sobre cada um desses assuntos não apenas por horas, mas por dias, e sob diferentes perspectivas. Dá facilmente para abordar procedimentos médicos, antigo testamento e questões orçamentárias, e múltiplos assuntos. Não são muitos os temas que propiciam isso e com tanto desprendimento.

Mas não tenho horas ou dias com vocês, apenas algumas poucas linhas e um assunto único. Antes de tudo, apesar de ter passado na CCJ, e mesmo que aprovada no Congresso, esse PL (da Castração Química) enfrentaria a real possibilidade de ser entendida como inconstitucional pelo STF. Aliás, antes das modificações dentro deste projeto – que antes previa no rol de tratamentos voluntários a Castração Cirúrgica –, era um dado certo, pois não é ofertado no Brasil à discricionariedade sobre o próprio corpo nesses moldes, fosse assim, estaríamos a um passo de vendermos literalmente um rim para comprar uma motocicleta, e desse mal não padecemos.

Mas o que a proposta sugere? Ela oferece aos reincidentes em crimes contra a liberdade sexual a adesão a tratamentos de castração química (inibidores de apetite sexual) em troca de mudança de regime a partir da concessão de liberdade condicional. Na proposta original, inclusive, a partir da emasculação cirúrgica era possível a própria extinção da punibilidade. A proposta, em suas justificativas, pretende estar em consonância com o nosso ordenamento e com certas perspectivas técnicas, além de trazer exemplos de sua aplicação em outros países. Esse refino normalmente não é visto nas propostas de integrantes da “bancada da bala”.

Quanto ao “aprovar” ou “desaprovar”, embora entenda que essa não seja a questão mais na discussão, vou respeitar clamor envolvido. Embora seja crítico, não me alinho dentro de uma oposição ferrenha. Se, por um lado, esse tipo de projeto é quase sempre marcado por uma pobreza sistêmica, sendo inexoravelmente cartesianos, o que popularmente a gente pode chamar de “viseira de burro” -por outro lado-, entendo que o argumento de que a castração química fere a vedação existente a penas ou tratamentos cruéis apresentaria fragilidades desconfortáveis se posta em companhia a uma análise que entenda, por exemplo, que nossas formas de penalização atuais não sejam humanizadas e misericordiosas. A pecha da inconstitucionalidade perderia bastante cola, até por que não existe direito “dado”, mas sim interpretado.

Apesar de opiniões diversas, um ponto que não pode ser ignorado é que os crimes sexuais são uma espécie de ilícito de dificílima convivência em sociedade, produzindo máculas terríveis e inesgotáveis para as vítimas – que podem levar inclusive a vítima a repetir os fatos, dessa vez como autora. No entanto, a castração não vai mudar o problema de patamar. Talvez colabore com dados tímidos (como é costumeiro nas políticas voltadas a segurança pública), ou talvez prejudique, levando a uma nova onda de “punitivismo não resolutivo”.  Isso poderia abrir portas para que – num futuro próximo – estejamos discutindo a castração compulsória devido a ineficiência da voluntária.

E aqui reside o ponto mais importante dessa discussão: a pavimentação do que queremos para o nosso país. Qual nosso projeto de nação? Mesmo que a perspectiva de benefícios seja real, continuaríamos na saga das políticas públicas viciada em lidar com as consequências e não com as causas, em investir pesadamente na restrição e não na prevenção, abandonando a formação e optando-se pela seguida clausura – expurgo.

As nossas relações de convívio estão em processo de adoecimento: a tolerância ao outro e a nós mesmos aparenta estar cada vez menor, a violência segue este mesmo caminho e isto nunca é devidamente abordado. Parece que o nosso problema reside apenas numa falta de especialização legislativa e redentora. A Castração Química sendo a quimera da vez, fantástica, mas não deixa de ser uma utopia ineficiente.

A escolha pelo novatio legis como instrumento de mudança produz essa sensação interminável de “saco sem fundo”, e a política brasileira se tornou refém disso.

*Pedro Chê é policial civil no Rio Grande do Norte e membro do grupo Policiais Antifascistas.

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Quem tem filho, Chora!

Outro dia escrevi um arremedo de poesia, sim, arremedo. Tenho ciência de minha total desavença com a pena nas águas mansas da escrita e, principalmente, a mais refinada dentre todas: a poesia. Há muito entendi não pertencer ao seleto grupo de contemplados com o dom natural, o qual possuem estes senhores das palavras, estes magos que dão outros sentidos e ressignificam palavras lhes proporcionados sentimentos mil, entre os quais, está meu amigo iluminado o poeta Cid Augusto .

Pois, muito bem. Dizia eu “quem tem filhos chora”. Um amigo não entendeu bem minha mensagem – e a culpa não foi dele. O meu escrito que foi ruim mesmo – me enviou, in box, mensagem me dando força. Aceitei. Também não fui lhe explicar, primeiro seria mal-agradecido, se dissesse “não, não é isto, você entendeu errado”, seria um descaramento constrangê-lo e ao mesmo tempo prova cabal de minha completa incompetência. Haja vista, se você escreve e ninguém entende, a culpa só pode ser atribuída a você, com algumas exceções bovinas.
Era uma oração, a de São Francisco, “Ó Mestre, fazei que eu procure mais: consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado…” Ora, quem em sã consciência cometeria qualquer ato que pudesse minimizar tais palavras? Não, não seria que cometeria tal blasfêmia. Agradeci e fui ouvir Raimundo Fagner cantando Oração de São Francisco.

Bom, mas todos sabe “quem tem filho chora”. Hoje, eu chorei, não de tristeza é bem verdade, mas, chorei. Chorei de alegria. Minha Filha Larissa Brito, antes de finalizar seu mestrado a foi aprovada para o doutorado. Parabéns, filha minha. Não dúvidas de seu futuro brilhante. Eis aqui, um pai com o coração banhado de alegria.

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Trauma

         Nos anos 80, a minha eterna diretora de tv, Nadja Faria, arregimentou vários jornalistas de diversas áreas de atuação, aqui da terrinha dos comedores de camarão para trabalharem na TV Rio Branco, afiliada do SBT, na capital do Acre. De Mossoró foram Kléber Barros, Washington Aquino, Renato Severiano, como éramos colegas de Kléber e Renato, no jornal Gazeta do Oeste, ficaram nos “caningando” para nós alçarmos voo no rumo da floresta amazônica.

         Passados meses, mas a “cantiga” não mudava “venham embora, Nadja está precisando de alguém para dirigir o Departamento de Arte e Cenografia do jornal e da TV” e, nós sempre se esquivando, talvez o medo de cruzar a ponte Jerônimo Rosado, sobre o Rio Mossoró com destino ao Aeroporto Internacional Augusto Severo, em Parnamirim/RN ou quem sabe não queríamos sentir a dor da saudade dos nossos? Mas, em um belo dia de junho de 1988, como diz Guilherme Arantes “são as fraquezas que nos pode salvar” e, como é curto o caminho dos covardes, tomamos nossa taça de veneno e dissemos SIM e, em uma semana preparamos tudo: avisamos à família, vendemos os móveis, carro, telefone, recebemos as contas do jornal…

         Passagens da TransBrasil nas mãos, enviadas pelos nossos novos patrões, Natal/Recife/Manaus/Rio Branco. De repente Maria foi acometida da matutagem aguda, o medo de voar a possuiu, olhando-me fixamente bradou com voz trêmula “eu vou, não de avião”, sob irredutível e firme posição percebi a nulidade de qualquer argumentação, rendi-me. Lá fomos nós para Fortaleza comprar passagem de ônibus para Rio Branco. Ônibus luxuoso, dois andares e, no sábado pegamos estrada, a noite descendo a Serra de Tianguá, o motorista anuncia que perdeu os freios, o alvoroço tomou conta dos passageiros. Notei no rosto de Maria uma pontinha de arrependimento da troca.

         O motorista de fala mansa nos oficiou que desceria a serra sem maiores perigos, pois usaria o freio do motor do ônibus. Consertado o Marcopolo, nos danamos estrada afora. Lá pela região centro-oeste, sobem várias pessoas e, põe logo no RoadStar do “buzão” música de Xitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, dia e noite, noite e dia estridentemente não davam descanso aos nossos ouvidos. Depois de umas 48 horas os ouvidos clamavam por socorro, decidi pedir ao motorista para rodar nossa fita-cassete, gravada na Disco-Fitas, quando Raimundo deu os primeiros aboios, antes mesmo de vocalizar “Verde que te quero verde…” a vaia comeu no centro, até alguém lá no fundo do corredor gritar “tire essa porcaria” … …Tirei.

          Com tufos de algodão acalentamos os tímpanos até Porto Velho, lá nos puseram em transporte velho com cadeira de plástico, daquelas que têm o formato da bunda em baixo relevo. Sete dias depois de nos despedirmos da terra de Santa Luzia, o ônibus para em uma latada, desceu todo mundo e nós ficamos até o motorista avisar que ali era a rodoviária. Maria estava com as pernas inchadas, escorrendo água parecia um afluente do Amazonas. Renato Severiano já nos esperava no carro da TV. Ah! Na volta, Maria foi a primeira a subir no avião da Vasp.

Obs: Talvez, minha arenga com os sertanejos seja trauma e, que não quero me livrar.

Brito e Silva – Cartunista

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Olho por olho

Afirmou a policial que deu uma tapa na cara da mãe que espancou a filha “Por trás de uma farda existem pessoas”.

A policial virou heroína nas redes socais. “Ela não errou! Por favor, vamos deixar o mimimi de lado! Merece ser promovida” disse alguém “Você tá mais que certa!!!! Nós te apoiamos” confirmou outra. Creio que ninguém tem o direito de esbofetear outra pessoa, além, de estar na lei, é uma atitude de civilidade. Quando isto acontece, não é somente o corpo físico que recebe as pancadas, mas também a dignidade, o amor-próprio, a alma. Claro, as feridas da pele cicatrizam rapidamente, mas as lesões da alma, em geral, custam ou quase nunca saram e, aqui, me refiro a todos os envolvidos. Apesar da policial acreditar que agiu acertadamente, talvez, o tapa dado na criminosa, um dia pode doer em sua consciência.

Quase sempre costumamos atender e nos embriagarmos com o inebriante canto da sereia e sem uma análise do tom, da melodia, da letra mergulhamos de cabeça às profundezas da primeira impressão, percepção da maioria, que em boa medida, a rigor, não é certificado de verdade assertiva e por vezes podemos passar do ponto e seguir a manada.

Heroína? Não, não creio. Na verdade, acho que a policial catapultada a tal condição, no ato, pareceu mais uma “justiceira”. Corporação ou farda de segurança nenhuma autoriza quem a veste a fazer justiça com as próprias mãos, o fato, é que a policial não teve equilíbrio emocional ou inteligência emocional para lidar com a situação, não estou a julgá-la, mas seu comportamento, sua ação, certamente, não foi ensinada em sua formação.

Claro, pode ter sido ímpeto de justiça ou injustiça que falou mais alto, entretanto, do ponto de vista legal, foi uma atitude desmedida e fora do procedimento. Para mim, ela não é bandida nem heroína, como também não tenho a capacidade de condená-la ou inocentá-la. Até porque também não sei o que faria ante a situação. A mãe? Ah! Mãe: uma criminosa, que deve pagar na justiça. Porém, não podemos banalizar a agressão, a incivilidade e a barbárie, se faz necessário um pouco mais de humanidade para darmos um passo à frente. É preciso conter esse nosso instinto primitivo. Imprimiu o grande pacifista Mahatma Gandhi “Olho por olho e o mundo acabará cego”.

Brito e Silva – Cartunista

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Vamos fazer cooper!

Nos anos 70, um cidadão chamado de Kenneth Cooper, médico cardiologista estadunidense chacoalhou o mundo dos esportes direcionando a uma nova metodologia de condicionamento físico, afirmando que o meio-termo entre a caminhada e a corrida era o segredo da saúde. Por anos me fiz de desentendido voluntariamente desdenhei do doutor e, para ter uma base solida à minha tese coloquei deliberadamente, no bestuto que o Ms. Cooper estava me dizendo para deitar na rede e relaxar, foi o que fiz anos a fio.

         Entretanto, como dizem os viventes lá do Congresso Nacional “não existe almoço de graça”, posso testemunhar positivamente a cunhada afirmação e não da maneira mais agradável: em 1º de maio de 2019, foi acometido de um AVC isquêmico. Muitos exames, neurologista pra cá, nutricionista pra lá, até bater à porta do cardiologista, depois de me escarafrunchar com tantas perguntas, andar na esteira e martelar meu joelho foi taxativo “senhor Brito, o senhor terá que caminhar”, desse então obedeço-o religiosamente.

        Não digo que caminhar não me faz algum bem. Talvez, meu velho coração agradeça, mas, a minha mente continua preguiçosamente dizendo “homi, vá deitar na rede me exercitar lendo um bom livro”, tento convencê-la que uma coisa não anula a outra e, assim sigo minha rotina. Entretanto, caminhando já me peguei rindo sozinho e gostando do caminhar, porque promove encontros, conversas, que as vezes você esquece até do porque foi ali, ontem foi um desses encontros.

      Caminhando contra o vento, perdido em meus pensamentos foi aterrissado por um “Hei! Quer fazer uma caricatura? É de graça?”, atendendo ao chamado me sentei frente a Mário, cartunista e artista plástico de fino traço, em segundos me desenhou, aproveitei para dar vazão a minha preguiça e, fiquei por lá um bom tempo. Revi o Júnior Bizunga, fotógrafo e produtor cultural, com quem cruzei em algumas ocasiões, em almoços lá no Bardallos e Paulo, um músico e advogado, o qual com seus dreads e skate já havia visto dando seus Ollies na pista, pessoas que entraram para lista de amigos. Enfim, foi um encontro agradável. Viva à caminhada, vamos fazer cooper!!!

       Mário! Vamos marcar um cafezinho, para botar em dia nossos traços.

Brito e Silva – Cartunista  

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Ziraldo encantou-se

Em uma de suas palestras “Se você não existisse, que falta faria?” o filósofo Mário Sérgio Cortella diz que morrer é ser esquecido, portanto, se você viveu com dignidade e transformou sua labuta em algo de real significância à sociedade e ao seu tempo e, ainda projeta em novas e futuras gerações impacto de admiração e carinho, essa pessoa não morre, é o caso: Ziraldo não morreu, encantou-se neste 6 de abril de 2024.

          No livro em homenagem aos 90 anos há belíssimos testemunhos de vários cartunistas do Brasil, onde contam seus contatos e histórias vividas ao lado do pai do “Menino Maluquinho”, não participei, entretanto, figurei na Edição da Revista Huai, editada pelo jornalista/cartunista Edra, que trazia noventa caricaturas do mestre Ziraldo, desenhadas por 90 cartunistas, dentre elas uma minha.

         Não tiver o prazer de conhecer Ziraldo pessoalmente. Nos anos 80, Canindé Queiroz, diretor-presidente do jornal Gazeta do Oeste, me trouxe de São Paulo, vários exemplares do Pasquim e um livro de Ziraldo – o qual perdi na mudança para o Acre – que aliado a outro livro do grande cartunista, o cearense Mendez consolidaram definitivamente minha opção pelo cartum, apesar de ter sido Diretor de Arte de várias agência de publicidade, Diretor de Arte e Cenografia de TV e Jornal, comentarista de política na TV – a Nankin nunca deixou de correr em minhas veias e o mineiro lá de Caratinga, o Ziraldo Alves Pinto foi um dos culpados.

         De fato, queria ter a sua habilidosa inteligência para retratá-lo em forma de homenagem e agradecimento, entretanto, me apequeno em minhas limitações e, assim sendo, só quero agradecer por poder contar aos meus netos que fui seu contemporâneo e que partilhamos arte dos traços. Ziraldo não morre, pois jamais será esquecido. Viva Ziraldo.

Brito e Silva – Cartunista

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Mentir é preciso

Mintam, mintam por misericórdia – Nelson Rodrigues

Lá na embaixada de Mossoró/RN, em Baixa do Chico, no pé do serrote, deitado numa rede de telecelada na cidade de Jaguaruana/CE estava sempre meu tio Nôga – in memoriam – a se deliciar do aconchego da exuberante sombra de um pé de manga-rosa a contar estórias. É assim, nesta bela imagem que tenho o meu tio emoldurado na parede do museu de minhas memórias.

        Outro dia vi uma entrevista do grande dramaturgo Ariano Suassuna onde admitia admiração profunda pelos mentirosos, não os mentirosos que tornam a mentira em um crime, mas daqueles que inventam novas realidades, enfeitam a crueldade veracidade da vida, cravou também quem escreve carrega sempre na tinta uma boa dose de mentira, isto é, impõe à realidade uma bem requintada fantasia transformando um pedaço de chão rachado ou uma capoeira ressequida pelo sol escaldante em um vasto campo verdejante, com montanhas azuladas ao fundo, compondo a obra de arte imaginária, em primeiro plano, sob o sol da primavera corre, com os pés desnudos, uma linda e singela donzela com um vestido branco translúcido e esvoaçante ao vento, deixando amostra seu delineado corpo juvenil, revelando a beleza da cor de sua pele. Indubitavelmente, é um convite ao leitor registrar essa imagem que não existe. 

         No ano de 2008, o Zé Ramalho na versão de “Things Have Changed” do prêmio Nobel de Literatura de 2012, o cantor americano Bod Dylan cunhou que “a verdade do mundo vem de uma grande mentira” e, de fato, não há saída a mentira é parte tão intrínseca de nossas vidas que de tão íntima, muitas vezes não percebemos sua utilidade no dia-a-dia. Todos nós mentimos. Calminha aí! Não precisa se ofender, basta admitir que mente.

        Lendo, algum hipócrita, certamente, soberbamente dirá “eu não minto”, esse tipo, em geral, acredita no que diz. Pode até ser haja uma pessoa de alma tão limpa que não minta para outrem, ainda assim, mente para si mesmo. É bem verdade que existe mentira e mentira, cabe a você saber qual das duas faz parte do seu viver. Há quem minta pelo prazer do bem, isto é, de uma bela gargalhada, também há o sádico que mente pelo prazer de ver o sofrimento.

        Voltando ao Tio Nôga. Fomos lhe fazer uma visita em um sítio ali pelos arredores de São Gonçalo do Amarante/RN e, soubemos de um entrevero dele com um sujeito das proximidades, preocupados, o inquirimos:

– Foi nada não meu sobrinho.

– Nos disseram que houve até agressão física…

– Não, não! Foi uma besteira.

– Besteira?

– Sim, um “bebo choco” encostou a “zurêa” dele na minha foice.

          Esse era meu tio, cheio de pilhérias, gostava de contar estórias, tal qual Chicó. É certo, uma mentira bem contada e bom pra danado. Já disseram que mentir é preciso, viver não é preciso!!!  

Brito e Silva – Cartunista

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Peter explica

Outro dia, dentro do meu breve e franzino espectro do conhecimento da alma humana, falei sobre saudade e suas várias definições poéticas e filosóficas, é bem verdade, algumas foram piegas de doer a muleta, outras até com uma fina superfície de uma presumida verdade. Entretanto, definir este sentimento “muito embora sendo fã da ciência, e por isso mesmo sei que não é precisa e a verdade absoluta não é perseguida” fica faltando um pedaço, como um quebra-cabeça que não se completa se uma única peça estiver ausente. Logo, conceituar saudade, seja por belos e melódicos versos dos mais criativos poetas ou mesmo os elaborados pensamentos filosóficos, certamente, o conceito ficaria manco, capenga necessitando de muletas para se manter de pé, como sempre ocorre.

Saudade é um sentimento que permeia toda a raça humana e até parece também atingir outros mamíferos como os cães. Os mitos, as crendices populares também têm nos revelado, o que antes do Reino Vegetal, campeavam pelo mundo sobrenatural, metafísico, transcendental, agora pode ser real. Por exemplo: as árvores podem ter sentimentos, não sei se de saudade, mas segundo estudo cientifico do alemão, especialista em árvore Peter Wohlleben, garante que elas possam sentir dor e até outras emoções como o medo.

É notório que as superstições entre os humanos de todas as civilizações muitas delas envolviam membros do Reino Plantae. Na cultura indígena os curandeiros em suas pajelanças usam galhos e folhas para aliviar dores e curar o mal, também nas cidades e pequenos povoados pessoas utilizavam ramos de plantas para “rezar” curando “espinhela caída, dor no estombo, incosto…” assim como a Espada de São Jorge e pé de Peão Roxo eram (são) cultivados nas casas e apartamentos para proteger o ambiente do mau-olhado, gente invejosa e pessoas de “olho gordo”.

Tal qual o alemão Peter que atestou o sentimento das árvores, posso dizer o que Damiana – uma das minhas três mães – também percebeu algo que a deixou perplexa: a rebeldia do pé de mangueira plantada por meu pai, seu Luiz, a qual ele zelava como se cuidava de uma neta, em troca recebia mangas docemente suculentas e deliciosas. Entretanto, após sua “ida falar com Deus”, a Mangifera se recusa terminantemente ser cortês com aqueles que costumavam se deleitar com seus frutos, agora lhes oferecendo em sua primeira carga e todas as outras subsequentes os seus frutos azedos, impossíveis à degustação. Talvez, seja saudades da companhia de seu Luiz.

Também é bem verdade que Maria no início das manhãs dedicava longas conversas com as roseiras e suas três-marias, isto quando morávamos, na Rua Ana Neri, em Petrópolis/Natal/RN, nos confidenciou a amigo vizinha que todas murcharam e morreram logo após nossa mudança. Saudade? Não sei. O Peter explica.

Brito e Silva – Cartunista

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Sonhos

Dizem que na vida há tempo para tudo: nascer, crescer e morrer, esta é a lei mais proeminente e, sem adendo, da natureza na qual todo ser vivo desde uma bactéria aos mais sábios de todos os homens, têm a ela o seu chamado atendido.

Os sonhos também nascem, crescem e morrem. Já sonhei acordado algumas centenas de vezes, estes, na verdade são apenas delírios e desejos que jamais sairão deste universo. Há sonhos que você alimenta, cultiva, rega, capina, asfalta o caminho por onde ele deverá passar, criando atmosfera aonde se realizará a metamorfose, deixando de ser sonho e, sim, tornar-se uma concretude. Claro, neste tipo de empreitada o dispêndio de energia, provavelmente, será volumoso, ainda assim, compensador e prazeroso. Entretanto, há outros nascidos pré-determinado a deixar o berçário apenas para se acomodar no baú do esquecimento, de fato, pode até ser que não fora nem sonho, mas, apenas um desejo fugaz.

Lá na boa terra da Santa dos Olhos, Mossoró, no final dos anos 70, precisamente, em 1979, deu-se início a minha carreira profissional quando fui contratado pelo Jornal Gazeta do Oeste. Na cidade haviam dois jornais, O Mossoroense – terceiro jornal mais antigo da América Latina – carinhosamente chamado por todos de “O Mossoroense velho de guerra” e naturalmente a Gazeta, porém, circulavam na urbe O Diário de Natal, O Poty e a Tribuna do Norte dentre outros do “Sul maravilha”, com um delay de dias.

No meio se dizia “quem trabalhava N’O Mossoroense queria trabalhar na Gazeta e quem trabalhava na Gazeta, queria um dia trabalhar na Tribuna do Norte”. Pois, muito bem, fiz meio ao contrário – porém desejando seguir à risca – do jornal Gazeta fui convidado por Marcos Aurélio para a gráfica RN Econômico, momento em que a sociedade da revista homônima estava se desfazendo para surgimento do jornal Dois Pontos.

Por aqui na capital potiguar, em 1982, trabalhei na Cooperativa dos Jornalistas de Natal, no jornal Estilo, de Toinho Silveira, quando fui convidado pelo jornalista Dorian Jorge Freire a voltar para Mossoró e participar de um novo projeto do jornal O Mossoroense e, lá se foi meu sonho(?) de fazer parte da equipe da Tribuna do Norte. Em 1989 fui para Rio Branco/AC, dirigir o departamento de Arte e Cenografia da TV e jornal Rio Branco e, portanto, o sonho definhou.

1999, vim morar em Natal, prestei serviço, nas Tvs Tropical, Intertv e na Tv União, onde participávamos do programa político Liberdade de Expressão fazendo trinca com Manoel Ramalho e Professor Luis Carlos Noronha. Um belo dia o meu amigo cartunista Brum, da Tribuna do Norte, naquele período, em meados de 2018, me convidou para eu tirar suas férias, percebi que aquele sonho tinha virado notícia do jornal de ontem, sem alternativa, disse não. Afinal, eu não era mais aquele Brito de antes e, certamente, a Tribuna do Norte, já aquela época não era mais a mesma.

Brito e Silva – Cartunista

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Belchior, apenas um cidadão comum

Sempre tive uma “queda” por música; cheguei a acreditar que seria um músico, cantor ou compositor, todavia as mães sabem o que fazem, a minha percebeu logo minha inabilidade, para me proteger – creio – livrou-me da frustação do insucesso que certamente, estaria me aguardando. Não sei se a ideia era apenas uma ilusão romantizada da minha enevoada percepção do mundo artístico e, principalmente, quando a revista Manchete ou Veja trazia Vinicius de Morais, na sua banheira com um copo de uísque na mão e um charuto na outra, um litro de uísque ao fundo e Toquinho de violão em punho finalizavam o cenário.

Aí vem Zé Ramalho cantando Avôhai, Admirável Mundo Novo; Raimundo Fagner com Manera Fru Fru Manera, O último Pau de Arara; Alceu Valença Agalopado, Papagaio do Futuro; Ednardo voando em um Pavão Misterioso, Enquanto Engomo a Calça; Geraldo Azevedo em Caravana na Barcarola do São Francisco, por aqui na terra dos Potiguaras Terezinha de Jesus balançava as palhas do coqueiros em Prece ao Vento; Impacto Cinco nos afagava com Mãos de Seda Coração de Ferro, no solo sagrado da terra da Santa dos Olhos, o Trio Mossoró cantava Santo de Barro, do grande Iremar Leite.

Nesta profusão de sons de alta qualidade com medo de avião desembarcava, na Hora do Almoço, um sujeito cantando “Eu sou apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior” logo arregimentou milhares (milhões) de fãs Brasil e mundo afora, muitos entenderam a mensagem carregada de críticas sócias demonstrando seu inconformismo, descontentamento com a realidade posta no Brasil e no globo, outros tantos, voluntariamente não quiseram compreender sua alucinação em expor suas impressões sobre a realidade e as dores do mundo.

Creio, quase todos da minha geração foram pegos e afetados por “Apenas um rapaz latino-americano” que vestia como uma luva, isto é, uma segunda pele a embalar a alma, para aqueles – nós – jovens dava uma identidade, uma “causa” pra chamar de sua, não apenas pelo momento político do país, porém, também por todas as inerentes ilusões, temores e medos de quem queira mudar o mundo. O certo, é que Belchior, passou a integrar o cotidiano de toda uma geração de forma arrebatadora, sem fanatismo, conscientemente.

Entretanto, quase todos os músicos acima citados, conseguiram sobreviver as intempéries, solavancos do mercado comercial da música brasileira, infelizmente, Belchior, em 30 de outubro de 2017, nos deixou, no plano físico, porque, de fato, nunca saiu de nossas vidas. É verdade que às vezes desaparecia e voltava, desaparecia novamente, voltava…

O certo, é que Belchior atravessou gerações. Contudo, agora nestes anos de 2020 a galera, uma nova geração cheia de sonhos e, talvez, entendendo o Antônio Carlos, o descobriram(?) em toda sua extensão, no sentido lato, expondo com força e com vontade suas músicas, textos, pensamentos e ideias nas redes sociais, se tornando um movimento sólido. Aqui, do meu cantinho como um cidadão comum, destes que se vê na rua, estou ciente que um dia “O anjo do Senhor, descerá para uma cerveja, e, se tiver sorte, serei levado feito um pacote no seu manto…”.

Rogo o perdão do meu amigo poeta Caio César Muniz, ante seus imensos saberes, pelo sacrilégio em falar sobre o Belchior, é que lá em casa tinha uma Frigidaire, de quem fui amante e nas madrugadas traíamos a Telefunken.

Brito e Silva – Cartunista

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Dorian Jorge Freire

Ontem, sonhei com o jornalista Dorian Jorge Freire, o cenário imposto por Morfeu, pareceu-me muito familiar, aquelas estreitas escadas, as quais subi algumas milhares de vezes, indo a sua sala e a de João Newton da Escóssia, então nosso diretor administrativo, jamais poderia esquecer. Pois muito bem, quase nos últimos degraus perguntou-me o velho jornalista “Valeu a pena?”, mostre-lhe dois dedos em “V” – não o responderia assim, certamente, diria “Sim, valeu a pena” – mas, foi só sonho.

Isto lembrou-me de 83, quando fui chamado por ele para voltar para Mossoró (indicado que pelo amigo de Gazeta, Laércio Eugênio Cavalcante) depois de 2 anos de Natal entre a Cooperativa dos Jornalistas de Natal, RN Econômico e Jornal Estilo – de Toinho Silveira –  pois, imaginava dar uma nova cara, revitalizar o velho “O Mossoroense” de guerra, em formato e conteúdo, queria fazer frente ao jornal de Canindé Queiroz, de onde éramos oriundos.

Detalhes ajustados, passei dias queimando as pestanas na prancheta, criando um novo layout o qual, aos olhos dele, pudesse ser a programação visual ideal pretendida. Em um domingo qualquer de março de 1983, em sua casa à rua 30 de setembro, de frente a praça da antiga União Caixeiral – que ostenta uma estátua em sua homenagem – nervoso apresentei-lhe nossa ideia, com atenção meticulosa do principal personagem do escritor Sir Arthur Conan Doyle, como quem procura indícios de um crime barbaramente “perfeito”, folheou as 12 páginas, olhou-me através de duas grossas lentes, franziu a testa e disse o que ansiava ouvir “sensacional”. 1º de abril de 1983, João Newton assinou minha carteira profissional.

Todos no jornal tinham uma espécie de misto de respeito e medo de Dorian, hoje quero crer, que ele gostava disto, talvez, para manter uma certa mistificação. Logo avisaram de sua ranzinzice, seu mau-humor. Entretanto, por vezes o encontrei a gargalhadas ao telefone. Também testemunhei na redação rasgando matérias de jornalistas, esbravejando dizendo que estavam mal escritas, uma bosta, dizia. Imaginava que meu “dia” chegaria e chegou. Em um belo sábado me diz para eu abrir espaço de meia página no jornal para uma coluna que seria assinada por Dr. Layre Rosado, entregou os textos, desci, fiz a diagramação, mas as “margaridas” não colaboravam muito – esferas que traziam o alfabeto em alto relevo – haviam apenas três modelos: corpo 8,10 e 12 – para digitação nas composer IBM, quando diagramava em corpo menor faltava texto, se aumentava o corpo “estourava”, foi reportar-lhe, soltando fogo pelas ventas:

– Você não saber é fazer, nada!!!

– Então faça você! Devolvi-lhe.

Com cara de poucos amigos, ironizou:

– Dá para “senhor” descer e chamar Laércio, outro cabeça de vento.

Laércio Eugênio Cavalcante, chefe das oficinas, subiu e por lá resolveu. Ficamos de “mal” um certo tempo, pouco me dirigia a palavra e a recíproca era verdadeira.

Mas, quando a coisa está ruim, fique certo, vai piorar. Em outro bendito sábado, já pisava na soleira da porta da frente do jornal, com direção certa ao Ponto Frio – de Dona Luzia – eram por volta das seis em meia, isto é, 18h30, quando Vovô fala:

– Brito, seu “pai” quer falava com você no telefone.

– Alô…

– Brito, fechou a capa?

– Sim Dorian, estava de saída.

– Vamos ter que abrir um espaço…

– Tá certo, vou esperar o senhor aqui.

– Não, não, quero que você traga a capa do jornal aqui em casa.

– Aí, eu não vou não.

– O quê?

– Aí eu não vou não!

Desligou na minha cara. Ora, eu doido para me juntar a turma que já tinha “derrubado” um monte de “burrinhos” com mão-de-vaca. Vovô me chama, era Dorian:

– Alô…

– Dono do mundo. Abra um espaço onde você quiser e coloque “Embaixador da Inglaterra pernoite em Mossoró”.

Acima do logo do jornal pus a manchete, já contando com minha demissão. No final tarde da segunda-feira, ele desce vai até minha sala, entrega sua coluna, com um “tapinha” no meu ombro acompanhado de “por que todo baixinho é metido a besta?” Deu-me as costas e saiu caminhando leve, como quem imita Frei Damião.

Para mim, foi um selo de paz, que assegurava o meu emprego. Trabalhos juntos por anos nos quais consolidamos o respeito mútuo, é certo que neste ínterim, claro, tivemos outros entreveros, de poucos danos ou sem nenhum. Em 89, fui dirigir o departamento de arte e cenografia do Jornal e Tv Rio Branco, no Acre, na volta em 92, para o Jornal Gazeta do Oeste, fiz minha primeira exposição de caricaturas em sua residência. Dorian, foi uma grande inteligência da boa terra da Santa do Olhos, junto com Canindé Queiroz alicerçaram os pilares do jornalismo mossoroense. Bravos!!!

Brito e Silva – Cartunista

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Porra de AI

Evidente que pouco ou nada mesmo a fazer contra a Inteligência Artificial – AI, o que, de fato, podemos é usá-la de forma mais racional possível. Claro, existem muitas preocupações em todas as camadas sociais, aqueles não entendem ainda assim, o cuidado tem sua verdade. Cientistas de todas as áreas dos conhecimentos humano também cultivam desse sentimento, é certo, que isso tem a ver com ética, humanismo e, medo mesmo.

Entretanto, o neurocientista Miguel Nicolelis foi taxativo em afirmar que não existe inteligência artificial “inteligência somente é orgânica”. Do alto da minha cristalizada sapiência do mundo da tecnologia, devo concordar com o Miguel, que mesmo antes do Elon Musk, em 2021, fazer um estardalhaço danado quando a sua startup Neuroalink implantou um chip em um macaco e o fez jogar videogames com a mente, o brasileiro já fazia o mesmo lá por volta de 2016.

Outro dia recebi do amigo Laércio Eugênio Cavalcante, uma foto legendada “E ainda com todos os personagens vivos. Kkk”, na verdade se tratava de um bilhete do grande cartunista/jornalista Cláudio Oliveira, na sua época de Tribuna do Norte:

LAÉRCIO

1º lugar: um beijo (vôts).

2º lugar: conheça o Chafurdo.

3º lugar: envie-nos também seus desenhos junto como os de Brito e Jaques Cassiano.

4º lugar: estamos vendo com vocês a possibilidade de distribuição do jornal (mensal) aqui em Mossoró.

5º lugar: gostaríamos também de vera a possibilidade de conseguir anunciantes.

6º lugar: gostaria que você estudasse também se é mais barato imprimir o jornal aqui em Mossoró.

7º lugar: A ideia é montar um esquema semelhante ao “Salário Mínimo”, que era impresso na Astecam com aquele papel do Fradim, lembra?

8º lugar: Se for mais barato ou igual vale à pena imprimir o jornal aqui a gráfica de Natal cobra hoje a impressão de 1.000 exemplares do tabloide de 8 páginas,

16 mil cruzados, na Astecam quanto é? Canindé Queiroz não barateava em troca de publicidade, etc?

9º lugar: e no jornal “O Mossoroense”?

10º lugar: escrever pra gente, porra!

Cláudio Oliveira – 3/1/88

Duvido que a porra da AI tem capacidade de Cláudio para escrever uma “porra” tão carinhosa, carregada de afeto, respeito e amizade sincera. Antes, que eu me esqueça, vai pra porra AI.

Brito e Silva – Cartunista

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Me guardando pra quando o carnaval chegar

“Quem me vê sempre parado, distante garante que eu não sei sambar
tou me guardando pra quando o carnaval chegar…”Chico Buarque 

É da natureza do tolo ficar parado esperando apenas por esperar algo acontecer sem se preparar para quando o “carnaval chegar” e, no momento em que a folia chega faz a festa, e assim como veio vai-se embora. O estúpido não percebeu, não viu, não sentiu, sendo assim, espera sentado culpando e pendurado na longevidade da esperança. 

Outro dia, pela manhã na fila do pão do Carrefour uma senhora, mas enfeitada que a “burrinha de Zé Garcia” reclamava do preço do pão, do motorista que chegara atrasado e não trouxe o guarda-chuva, assim proporcionou que os pingos de chuva ousassem se precipitar sobre aquele acúmulo de produtos, que fazem uma espécie de domo químico, sobre suas madeixas de raízes esbranquiçadas que expõem sua verdadeira conservação, ora camuflada com um tom loiro. 

Um provérbio chinês imprimi “quando um sábio aponta o céu o ignorante olha o dedo”. Poucas vezes se prepara para o sucesso ou derrota, no tempo em que se chega ao sucesso aflora o despautério, a arrogância e a cegueira, não vê a beleza do céu azul, das noites de lua cheia, da mãe terra engravidando depois de uma “tesuda chuva” – como grafava o jornalista Canindé Queiroz – o nevoeiro da ingratidão meramente esbraveja contra o forte clarão do sol, da fraca luz da lua, do torrão molhando provocado pelos pingos de vida que por aquele chão fluiu em correntezas aos riachos, ribeirões, rios até aos oceanos.

Quando não se planeja e o contratempo bate a soleira da porta, uma topada no dedão do pé, alguns pingos de chuvas, a luz do Astro-Rei ou o prateado luar se torna uma cruz, um castigo similar o de Sísifo. De fato, o tolo não enxerga além do próprio nariz, não cultiva a compaixão, o agradecimento, na verdade não consegue minar os olhos com a beleza do milagre de viver.   

Vou ali me banhar na sapiência dos netos, para quando o carnaval chegar.

Brito e Silva – Cartunista