Tenebroso inverno mossoroense.

Têm algumas notícias, que não merecemos saber em certos dias. Porém, desobrigo o amigo Erasmo Firmino, de me deixar triste, pois, seu papel é dizer a verdade nua e crua, doa a quem doer. Confesso que doeu, está doendo, abriu pequenas chagas em minha já combalida, memória.

Feia, horrorosa e desmedida esta cena de escombros de uma parte importante e rica história da comunicação de Mossoró, os restos mortais do jornal Gazeta Oeste estendido e mutilado no chão.  Histórias e estórias foram construídas ali, entre aquelas paredes, birôs, lápis, papéis e barulhos das máquinas de escrever. Muitas foram escritas, oralizadas, gritadas, outras não, e, ainda outras tantas jamais serão ouvidas, mencionadas, no máximo cochichas ao pé do ouvido, por entre os dentes. Além de muitas lendas e mitos criados. Local onde mais se vertia contos era na cozinha de Dona Neide – que merece um livro -. Tenho sim, saudades daqueles tempos.

Sei que vocês vão dizer que estou exagerando ou faço coro com aqueles que costumam desmerecer a cidade que pôs Lampião a correr, não mesmo, não me acorrento a isto. Mas, a voz do povo diz que Mossoró é “a cidade do já teve” e, de fato, os administradores da cidade nunca se deram ao trabalho cuidar do patrimônio cultural arquitetônico, contribuindo em demasia para este título. Nos meus 59 anos vi muitos prédios históricos se transformarem em entulhos, em tralhas retorcidas e suas histórias virarem pó. Não preciso me estender nesta realidade cruel e danosa à memória da cidade de Santa Luzia.

Minha neta, Aléssia, de 10 anos, que veio passar o Reveillon, aqui comigo, em Natal, logo na entrada disse: “Vovô Brito, fecharam a Livraria Saraiva em Mossoró…”. Ontem, foram ao Midway, ela se enfurnou na Saraiva a comprar um livro, que já comeu faz tempo.

É sim, Mossoró é “a cidade do já teve”. Já teve o jornal Gazeta do Oeste, ancorado em sua casa azul com detalhes brancos, que marcava a rua Cunha da Mota, servindo de referência aos transeuntes da região oeste, que ali se amontoavam para pegar transportes de volta às suas cidades. Agora, acabaram de pôr uma pá de cal em seu nascedouro, somente entulhos a triste cena anuncia. Certamente, as boas almas que habitavam aquele sagrado chão, não foram suficientes para aplacar o sacrilégio e a voracidade do capital.

Canindé Queiroz, dizia se roubassem a Catedral de Santa Luzia, com sua fundação e tudo, não haveria uma voz contrária. Fico imaginando quando irão incendiar o seu arquivo, com a justificativa se aquecerem no tenebroso inverno mossoroense.

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