Pra sempre ELIS REGINA.

Pode quem quiser meter o pau na Rede Globo de Televisão (eu inclusive faço muitas restrições do ponto de vista ideológico), mas é inegável a competência dela sobretudo com relação à questão do entretenimento. A qualidade técnica e artística das suas novelas, por exemplo, é reconhecida em todo o Planeta.

Acabo de ver no Fantástico uma matéria sobre a cantora brasileira Elis Regina, nos quarenta anos de sua morte. Tudo que diga respeito a ela me interessa e eu leio, vejo, curto e divulgo. 

Lembro-me do momento em que eu soube da notícia: estava no Terminal Rodoviário de Recife pegando um ônibus para Mossoró. Deu no Jornal Nacional através da voz solene e grave de Cid Moreira (se não me engano). Confesso que fiquei perplexo, paralizado, sem acreditar no que eu estava vendo e ouvindo: Overdose de álcool etílico com cocaína? Mas ela era conhecida no meio artístico como “careta” e não curtia muito droga!!! Impossível!!! Deve ser engano… uma pegadinha, talvez…. Ela estava no auge da carreira e sendo reconhecida como a melhor cantora do Brasil… vivendo um novo amor… Parecia que tudo estava dando certo! E agora? Como é que vai ser? Entrei no ônibus, me sentei na poltrona indicada pelo meu bilhete e comecei a pensar… era uma sensação esquisita de dor e anestesiamento… 

Passou como um filme na minha cabeça. Primeira vez que a vi foi no início dos anos 70. Eu trabalhava numa Empresa que ficava em frente ao Aeroporto do Galeão e todos os dias, no intervalo do almoço, eu e uns colegas íamos pra lá pra ver o movimento. Um dia vi quando ela se aproximou: vinha sozinha e duas coisas me chamaram a atenção: o seu tamanho (bem menor do que eu esperava) e o volume da sua bunda… Pensei: “Parece uma tanajura”. Ela ainda não tinha atingido o status que aos poucos foi conseguindo e eu ainda não era um fã tão ardoroso. O tempo foi passando, eu fui comprando seus discos, indo aos seus shows, até que, de repente, me dei conta que na trilha sonora de minha vida ela reinava absoluta. Estava presente nos principais momentos da minha adolescência e juventude, sobretudo na época da repressão. Fiquei triste com aquele desentendimento entre ela e o Henfil porque eu admirava demais os dois.

Com o tempo eu cheguei à conclusão de que ela era uma das maiores cantoras do Brasil. Um dia eu ouvi uma entrevista de Bibi Ferreira em que ela dizia que “a Arte é uma mistura do binômio técnica + emoção”. Alguns críticos acusavam Elis de que ela tinha muita técnica, mas quase ou nenhuma emoção. Foi quando a Rede Globo fez um especial em que ela cantava “Atrás da Porta”, de Chico Buarque e Francis Hime… Nunca mais me esqueci do close em que ela aparecia chorando enquanto cantava, com o rímel escorrendo pelo seu rosto misturado com as lágrimas. E eu fiquei pensando:

– Depois desta interpretação antológica, será que ainda vão fazer esta acusação? De que ela canta sem emoção? Impossível.

Até que cheguei à seguinte conclusão: ela não é apenas uma das maiores cantoras do Brasil, mas A MAIOR. E uma das maiores do mundo. Depois, já velho, sentenciei definitivamente: Ela é a MAIOR DO MUNDO.

Um amigo um dia me perguntou:

– E quais os critérios que você usou pra chegar a esta conclusão?

– Apenas um: nenhuma outra cantora no mundo toca a minha alma como ela. Nenhuma outra me faz ficar arrepiado quando as ouço.

Quarenta anos se passaram desde a sua morte naquele fatídico dia 19 de Janeiro de 1982. Ainda hoje sinto sua falta… ainda bem que, graças às novas tecnologias, a gente pode ouvir a sua voz insuperável. 

Dizem que ela tinha um temperamento difícil… Não foi à toa que Vinícius de Morais a apelidou de Pimentinha. Pode ser… mas e daí? Não bastava o seu talento extraordinário, beirando a genialidade? Ainda tinha que ser perfeita como gente? Talvez se ela fosse “boazinha” nem fosse a cantora em que se transformou. 

Obrigado, Elis… talvez agora, da eternidade, você possa dimensionar o seu valor pra todos nós. Pra mim, especialmente. Porque, sinceramente, acho que nunca existiu nenhuma outra cantora, não existe e acho muito difícil que possa existir alguém que sequer se aproxime de você em termos de qualidade técnica e de emoção.

Pra sempre ELIS REGINA.

Manoel Vieira Guimarães

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