Ivan Cabral: “abridor de letras”

Por Brito e Silva – Cartunista

Ivan Cabral, nasceu em Areia Branca/RN, em 16 de agosto de 1963, Mestre em Educação pela UFRN, onde também é chefe do setor de Criação e Arte da Superintendência de Comunicação, escritor com três livros publicados e um dos cartunistas mais premidas do estado, participou e ganhou diversos salões de humor do Brasil, entre outros várias menções honrosas, criador do personagem Mosca Zezé.

Ivan publicou suas charges no extinto Diário de Natal, por 21 anos e, no Novo Jornal, também é membro do Grupehq – Grupo de Pesquisa de História em Quadrinhos, entidade fundada pelo cartunista Emanoel Amaral (In memorian) nos anos de 1971, além de fazer ilustrações para diversas editoras.

Felizmente para todos nós as previsões do seu pai não foram assertivas, as quais decretavam se Ivan seguisse a carreira de desenhista iria “morrer de fome, findaria sendo um “abridor de letras”. Ivan terminou por conquistar o pai, que virou seu fã, o mesmo acontecendo com todos nós. Ivan Cabral é o cara!

Sabemos que é na infância onde tomamos os primeiros contatos com pincéis, tintas, lápis e papel, com você assim? 

– Sim. Desde criança, antes de aprender a ler e ir para a escola, me encontrei brincando com os lápis.

Desenhar teve alguma influência ou você é a “ovelha negra” da família? 

– Nenhum desenhista na família. Mas meu pai comprava gibis pra mim e aquela linguagem me encantava muito. E comecei a copiar aqueles desenhos e por aí eu fui seguindo…

Quando tomou consciência que o desenho, mas especificamente, o cartum a seria sua profissão? 

– Desenhar sempre foi uma diversão. Até começar a publicar na Maturi, lá pelo início dos anos 1980. Mas, a substituição do eterno Edmar Viana no Cartão Amarelo do Diário de Natal foi a primeira vez que ganhei dinheiro com charge. Daí pra frente a ideia de ser chargista profissional foi ficando mais viável. Tirei férias de Cláudio na Tribuna do Norte e em 1988 iniciei uma sequência de 21 anos no Diário, quando a dupla Edmar e Everaldo migrou pra Tribuna.

A família apoiou? 

– Quando eu era um adolescente e dizia que queria ser desenhista meu pai, por limitações da cultura vigente, me disse: vai morrer de fome. Vai findar sendo um “abridor de letras”. Não o culpo. Depois, ele virou meu fã. Como eu rabiscava todo papel em branco que eu encontrasse comecei a desenhar no interior das capas de discos de vinil dele. Levava muita bronca e tal. Mas, bastava um amigo dele chegar lá em casa para ele dizer: Ivan, vai buscar as capas de discos com teus desenhos para eu mostrar ao meu amigo.

Quantos de anos estrada, amassando e rabiscando papeis em busca suplantar o desafio do papel em branco? 

– Se contar desde criança, dá uns 50 anos. Mas, como chargista atuei profissionalmente por mais de três décadas. Deixei dois jornais falidos (não por causa do meu salário) no meu rastro e hoje publico quando dá vontade nas redes e no meu blog.

Como avalia a qualidade do cartum brasileiro?

– O nível é muito bom. Acho que o humor do brasileiro, que faz piada com tudo, tinha que resultar num humor gráfico de muito força.

Você acredita que o cartunista brasileiro é bem remunerado?

– Não tenho dados e temos no Brasil uma discrepância de mercados regionais, mas, de um modo geral ele é mal remunerado. Lembro que no início dos anos 2000 um chargista do Correio Brasiliense ganhava uns R$ 3.000, contra os R$ 1.000 pagos por aqui. Certa vez, falando com Edmar Viana, um cara que passou quase quarenta anos na imprensa e é um dos pioneiros do humor gráfico potiguar, ele me falou quanto ganhava: O mesmo que eu, que comecei bem depois. 

No mundo dos traços quais foram suas influências e seu ídolo – se é que tem um?

– No cenário brasileiro temos feras como Laerte, os Carusos, Ziraldo, Angeli, entre outros, mas costumo citar prata da casa como o próprio Edmar que influenciou muita gente e o Cláudio Oliveira, com quem peguei muitos macetes trabalhando junto no Diário. Tivemos grandes nomes aqui como Emanoel Amaral, Amâncio. Sempre lembro do Solino que tem um humor refinado e perspicaz.

Qual a charge, cartum ou caricatura que gostaria de ter desenhando? 

Todos de Laerte.

A internet restringiu muito, quer dizer, praticamente acabou com os jornais e revistas impressos e consequentemente com os espaços para os profissionais do cartum, você acredita que também abriu outras oportunidades e novos mercados?

Sim. Não podemos ignorar essa vitrine. Os ganhos na comunicação, no acesso às referências de artistas de outros locais e a possibilidade de evoluir a técnica e a formação que surge daí são imensos. 

O que é ser um cartunista?

– O cartunista é o cara que faz você rir de si mesmo. Cutuca, provoca, denuncia e por isso é bastante amado e odiado por muitos.

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