Fé rasa, amor vazio.



Natal, 8 de abril de 2020

Aos meus netos

Outro dia, escrevi que depois desta pandemia e tudo que a voluma, as relações humanas serão diferentes: na empresa, com os amigos, parentes, filhos, pais, mães, netos, noras , genros todos terão uma nova visão. Em um vídeo Cortella diz algo parecido, credenciando o que penso. Eu, isolado, já estou experimentando. Algumas pessoas me bloquearam, o que de fato, devo reconhecer que tiveram dignidade, não deixaram o trabalho para mim, outros eu mesmo fiz e, ainda outros simplesmente me ignoram, o que não é de todo mau, entretanto, são estes que me metem medo. 

Há tempos, sendo mais preciso. Desde as eleições de 2018, houve uma divisão “ideológica” mais acirrada. Alguns sem entender escolhiam lados apenas por questões, religiosas, cor, raça, sexo classe social, poucos tinham ciência de suas opções, provocando o efeito manada tão propalado.

Apontando dedo criava-se tribos e culpando tudo e a todos, como em numa “santa” inquisição, caçam bruxas vermelhas, comunistas. “Esquerdistas” e “direitistas” disputando o monopólio da verdade. O coronavírus veio trazer suprimentos à já esvaziada e puída pendenga, colocando “inocentes” e “culpados” em lados opostos, como se fora, de fato, verdade e, assim pudesse ser. Ora, culpados somos todos. Portanto, não têm inocentes, assim sendo, há de haver mais compaixão, caso contrário, não sobrará ninguém para fechar a porta.

É verdade que todos temos lado, escolhas diferentes, sexo, cor, religião, mas isto, não nos faz inimigos, o contrário deveria ser.  Sempre aprendo com aqueles que discordam de mim, quando têm razão e, quando não, me confere a convicção de minha opinião. Aqueles que escolhem a curta e sombria vereda da inimizade, boa sorte, irão precisar, certamente, se consumiram em si, pois, não haverá luz a alimentá-los.

Desde cedo aprendi que não existem inocentes, todos somos culpados, de uma maneira ou de outra. E talvez, consciente disto, não culpo quase ninguém por meus erros, acertos, perdas, ganhos, saúde, doenças, alegrias e tristezas, como também não tenho fardos – podem até me titularem como proprietário de containers, mas, não me reconheço como tal – de mágoas, culpas e qualquer sentimento de rancor. Erros? Os meus são incontáveis, porém, são meus e somente a eles sou preso.

Sou ou tento ser, ciente, que aqui, sobre este torrão erroneamente navegante no universo sem fim, o que de fato, vale são seus atos e atitudes. Não adianta dizer que tem fé, que ama fulano, beltrano e cicrano se suas ações e obras não correspondem ao que diz. A fé rasa, o amor vazio, sem humanidade, sem razão, sem ação, alimenta apenas os tolos.

Este isolamento, a cada dia, me põe grudado na frase do filósofo São Thomas de Aquino: “fé sem ação, é morta”. 

Diante do féretro exposto uma romaria chora suas mágoas, culpas, rancores, antecipadamente, outros gastam as lágrimas da partilha e ainda outros, em seus mundos escuros repetem “Eu devia ter…”. 

Brito

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