Artigo

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Ter ou ser

Ser ou não ter, ou ter e ser, eis a questão. Não se faz necessário ler três linhas de qualquer obra sociológica – ou algum escrito do sociólogo(?)Fernando Henrique Cardoso – e nem ocupar “Tico e Teco” em sua totalidade, para perceber que o capitalismo acirrou os ânimos entre os dois lobos que nos habitam. Diz o velho índio ao seu neto, que a vitória será daquele que for mais e melhor alimentado.

É notória a “pressão” para matarmos o SER de completa inanição, não supri-lo suficiente para reagir às vigorosas e contundentes investidas do TER. Logo cedinho um anúcio afirma que sua Smart TV LED 40″, Full HD, com Conversor Digital, 2 HDMI, 2 USB, Wi-Fi e o diabo a quatro, não serve mais para assistir o Neymar e os outros 10 coadjuvantes da seleção brasileira na Copa da Rússia, melhor mesmo é a LED 60″, Full HD, K4, com Conversor Digital, 2 HDMI, 2 USB Wi-Fi e o diabo a quatro; aquele Nike comprado ontem, também ficou obsoleto, já não lhe calça bem os pés, bom mesmo é o novo modelo com a logo da Copa; a camiseta da seleção da Copa do Penta, a qual você credita sorte, esqueça. Sorte mesmo, só com a “nova” do Tite; a surrada cueca de copinho, usada somente em dias de jogos do escrete de ouro, jogue-a fora, pois, a melhor mesmo é aquela marca que o Neymar costuma mostrar nas transmissões dos jogos, viu? Não basta SER torcedor, tem que TER produtos verde e amarelo. Difícil resistir, não?

O bombardeio é intenso, preciso e permanente contra o coitado e debilitado SER. Nesta seara muitos confundem TER com SER e vice versa.

Em um documentário sobre Nina Simone, onde com todo sucesso, cumprindo seu sonho – ou parte dele – de cantar no Carnegie Hall, em Nova Iorque, palco sagrado aos maiores, ela fala de sua frustração, pois diz TER se preparada para SER a primeira negra pianista clássica dos Estados Unidos a tocar ali, no entanto pisou como a maior cantora de jazz e blues: “Sim, estou no Carnegie Hall, finalmente, mas não estou tocando Bach”, disse, respondendo aos seus pais. Cada vez mais fico convicto que o TER e o SER, trilham diferentes rotas. O TER sucesso geralmente é depositado aos espaços que você galga, e até os números em sua conta bancária e, SER realizado só farta a alma e o coração.

Para um matuto, vindo lá do sertão de Angicos, dentro das devidas proporções, tive uma carreira profissional de sucesso, passei por todos os grandes veículos de comunicação do meu estado, fora dele e até com convites para outros países, de certa forma, me sentia realizado também, entretanto, parece que faltava algo, pôr a rolha, o carimbo. Ontem, recebi um pedido para fazer duas caricaturas que me comoveu. Valentina, uma bela criança de 10 anos, – prima de Maria -, juntamente com a amiga Lorrany, fazem o programa Conexão Kids na TV, no canal Brisanet (Tv cabo Mossoró, canal 172) com conteúdo gerados pelas duas e dentre outros cartunistas, me escolheram para tal empreitada.

Disse a mim a mesmo, que era isso que faltava para eu gritar aos quatro ventos SER um cartunista realizado, pois, se meu trabalho consegue atenção, respeito e admiração de crianças é porque certamente, valeu a pena e ainda podemos contrariar e combater o TER e, apenas, SERmos. São crianças assim, que SERão a diferença neste mundo do TER.

Ah! A foto acima é da minha neta Aléssia e seu desenho, que dá sinais de pisar nas pegadas do avô. Sim, sou cartunista!

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Libertas que sera tamen

Natal/RN, 21 de abril de 2018

Aos meus netos

Liberdade ainda que tardia

É óbvio que vocês sabem que o dia de hoje, 21 de abril, é dedicado a Tiradentes e, claro, como estudaram nos livros de História do Brasil, sabem que Joaquim José da Silva Xavier e o Tiradentes são a mesma pessoa.

Tiradentes, porque extraia dentes, mas ele foi muitas outras coisas: minerador, comerciante, militar(alferes) e ativista político pelo qual ganhou notoriedade por liderar uma revolta na Capitania de Minas Gerais, a chamada Inconfidência Mineira, contra os impostos cobrados pela Coroa Portuguesa.

Diz em seu livro Boa Ventura! A corrida do ouro no Brasil (1697-1810), o pesquisador Lucas Figueiredo, que o alferes, agitava o povo com discursos tensos e contundentes: ”que uns países tão ricos como estes [as Minas Gerais] estivessem reduzidos à maior miséria, só porque a Europa, como esponja, lhe estivesse chupando toda a substância”. Se estas palavras fossem ditas hoje, não soariam deslocadas no tempo, muito pelo contrário pareceriam ter sido ditas há poucos instantes, nossas montadoras de automóveis e os bancos, que o digam.

Morto enforcado e esquartejado. Teve partes do seu corpo exposto em postes espalhados pela estrada que seguia ao Rio de Janeiro, sua cabeça fixada na ponta de uma vara foi posta em praça pública em Vila Rica, como uma advertência a quem se atrevesse a tamanho desafio.

A elite sempre foi assim, mesquinha, egoísta, escravocrata, exploradora dos mais pobres, sem o menor pudor matava e mata quem tem ou tivesse a ousadia de contrariá-la, como a missionária Dorothy Stang, Marielle Franco, Martin Luther King e tantas outras vítimas anônimas, que jamais teremos conhecimento e se quer, entrarão nas estatísticas. E, nestes séculos nada se alterou, isto é, mudou: ficou mais sofisticada, hoje ousa métodos contemporâneos, como “golpe branco” ou “golpe parlamentar”, e também não enforca ou esquarteja corpos, mas, dilacera alma, mutila o espírito e a honra daqueles que tenham a audácia de enfrentá-la.

Nestes tempos, a elite – falo da gente dominante, rica, que detém o poder político e econômico, não dos pés-de-chinelos, os pobres de direita que se iludem pensando ser elite, esses são uns coitados, só servem para fazer o serviço sujo -, contrata computadores para que nas redes sociais divulguem e repliquem Fakes News, fomentando suas ideias ou maledicências contra seus adversários para retirá-los do caminho e assim, facilitar a jornada ao poder. Quer dizer desde o século XVIII e sua “libertas quæ sera tamen”, a ideologia dominante permanece a mesma, ainda assim, assino com os inconfidentes o “Liberdade ainda que tardia: e, podem apostar: vale a pena ser livre!

 

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Ganância dos Bancos mantém juros altos, mesmo com selic baixa

Considerando que a taxa Selic despencou de 14,25% para 6,5%, a maior baixa histórica e que estamos com a inflação em queda a níveis nunca sentidos nos últimos 24 anos, sendo registrado agora em março um acumulado 2,68% dos últimos 12 meses, não podemos admitir como sendo pelo ao menos razoável, as atuais taxas praticadas, que revela a enorme ganância do sistema financeiro nacional em manter as taxas de juros nas alturas. A manutenção das elevadas taxas de juros pelo Bancos, só tem contribuído para a descapitalização das empresas, famílias e geração de um contingente de quase 60% da população brasileira endividada.

Atropelando os limites da racionalidade, agora em março, houveram registro de novas altas nas taxas do cartão de crédito para 324% e o chegue especial continua com os juros extorsivos e abusivos da mesma forma, uma verdadeira agiotagem institucionaliza e somente acompanhada pelo Banco Central.

Consideramos como muito tímidas as medidas ensaiadas pelo BACEN até o momento, diante de uma distorção tão acentuada e na contramão das sucessivas baixas da Taxa Selic. Até o momento, na prática os poucos reflexos das intervenções do BACEN, sobre as taxas de juros abusivas dos agentes financeira, só tiveram reflexos efetivos com o fim do crédito rotativo dos cartões de crédito. O Governo está sinalizando também, indicativos de mudanças para outubro, das cobranças da modalidade para o chegue especial, que após 30 dias de uso por parte dos seus incautos usuários, os débitos dos mesmos, migrarão para outras modalidades de empréstimos menos corrosivos, passando-os possivelmente para um parcelamento de crédito pessoal.

O que causa muito indignação, na avaliação do representante dos economistas do RN, é que o sistema financeiro nacional, praticamente é o único segmento da economia nacional que não vem passando pelos sacrifícios da crise nacional que se aprofundou de 2014 para cá. Ao contrário, pelos anúncios dos seus balanços, notadamente do setor privado, registram lucros cada vez maiores, obviamente pelos manutenção dos Spreads elevados, subidas expressivas taxas bancárias e cobrança de juros extorsivos e abusivos.

De concreto de alguma medida plausível, o que estamos observando ultimamente, tem sido algumas declarações de advertência do Armínio Fraga, aparente mais como jogo de cena, do que para alguma medida mais efetiva do governo Central, para coibir tamanha abusividade.

O Banco Central agora diz com frequência, que está preocupado em aumentar a competitividade no setor bancário, o que nos parece uma ironia, já que os últimos governos desde a adoção do plano real nos anos 90 para cá, assistiram de forma passiva, a aquisição dos pequenos e médios bancos, que antes sobreviviam graça as cirandas financeiras, fraudes e inflação descontrolada. Com a estabilidade da moeda a partir do plano real, os pequenos e médios bancos, foram engolidos pelos grandes conglomerou notadamente do Bradesco e banco Itaú, entre outros.

Essa realidade que foi assistida passivamente pelo Governo via o seu órgãos de controle o Cade, a concentração dos poder dos maiores bancos, passou dos 57% em 2000 para 82% de todos os ativos em financeiro em 2017 nas mãos de cinco grandes grupos financeiros do Brasil.
Nos parece muito óbvio, que além da gula sem limites dos agentes Financeiros, os riscos dos empréstimos em alta, os spreads exorbitantes dos bancos, que navegam em mercado poucos concorrido, sejam uns dos maiores motivos dos juros abusivos, mas não justificáveis, diante de uma queda tão expressiva e sucessiva que a Selic teve nos últimos meses, e que ainda deve despencar para 6,25% na próxima reunião do BACEN.

As únicas de baixas a ser comemorada, embora ainda sejam modesta, foram as registrados nos crédito para financiamento de bens duráveis, como para os veículos e para casa própria, tendo em vista, os riscos serem infinitamente menores, pelas garantias reais dos próprios  bens financiados.

PRINCIPAIS TAXAS EXTORSIVAS

As taxas maiores  são as do chegue especial e do cartão de crédito, notadamente se a dívida não for liquidada  no vencimento, e o consumidor passar a rolar essa dívida, que passa para a fábula dos 334%, taxas comparáveis às cobradas na clandestinidade da agiotagem. Segundo dados  da plataforma de financias pessoais, Guia de bolso, divulgadas em Janeiro/18, cerca de 33,22% dos orçamentos familiares estão sendo destinado a quitação das despesas mensais feitas com o dinheiro de plástico, muito acima dos números recomendado, que não passe de 10%, sendo este o maior vilão de superendividamento das famílias brasileiras.
As boas notícias,  ficam para as taxas médias para financiamentos imobiliários situados na faixa dos 11% ao ano em fevereiro, dados mais recentes do Banco Central. Igualmente houveram reduções de taxas para as compras de automóveis, que cederam para os 22,5%, e que está contribuindo para a retomada da produção às fábricas automobilística.

Os empréstimos consignados, descontados no contracheque, praticamente com risco zero, e que assim poderiam ser inclusive mais baixos ainda, custavam em média 26% a.a. Para o crédito pessoal (“crediários”), a taxa ainda não estar muito convidativa na casa dos 126%, menor do que as do cartão de crédito e cheque especial de mais de 324%. Assim recomendamos, que quem esteja encalacrado em dívidas de cartão de crédito e cheque especial, que façam a migração dessas despesas para um crédito pessoal com urgência. Do lado das empresas, os recursos destinados para necessário capital de giro, os juros médios em fevereiro ficaram na opta dos 18.7% ao mês, 11.3% para crédito de exportações e por fim para o crédito rural de 8,1%.

Diante desde balanço, cabe-nos indagar? Porque tamanhas diferenças e taxas ainda tão elevadas se a Selic desabou de 14,25 para 6,5%a.a.? Porque tamanha omissão do Governo Temer e do BACEN, se juros altos travam o crescimento nacional, estimulam só o rentismo e corrói a capacidade de pagamento das empresas e das famílias?

Fazendo uma análise das atuais taxas em prática no mercado, não conseguimos encontra nenhuma justificativa plausível para tamanha abusividade nos juros notadamente do cartão de crédito e do chegue especial, tão acima da taxa Selic. Nem mesmo o propalado discurso, que o risco de calote ainda está elevado, pois mês a mês as taxas de inadimplência estão caindo. Nada comporta e justifica um Spread e taxas de juros tão elevada do sistema financeiro nacional.

E frise-se que os Bancos, gozam inclusive, de menos sacrifícios fiscais do que muito outros setores produtivos nacionais, que geram milhões de empregos, ao contrário da prática do rentismo e da especulação financeira, sendo assim já basta, de tantos privilégios históricos do sistema financeiros nacional.

Já passa da hora do Banco Central e do Governo que se diz reformista do Temer, agir sobre a prática da agiotagem e rentismo em prática pelos agentes financeiros e seus conglomerados, onde a prática especulativa trava o crescimento nacional, destrói os orçamentos familiares e das empresas em geral, além de alimentar os elevadíssimos custos da nossa dívida pública exorbitante.
Nos aparece muito claro, que a exemplo dos muitos segmentos da economia que tem
seus preços administrados,  que se claro não podemos fazer o mesmo controle com o sistema financeiro, que seja pelo ao menos aberta e controlada a caixa preta dos spreads dos bancos, verdadeiro celeiros de lucros exorbitantes e gananciosos do sistema financeira nacional.
Cabe-nos no mínimo questionarmos,  que se a Taxa Selic é uma sinalizador das taxas de juros a serem praticadas no mercado, de acordo com as condições macroeconômicas, como eficiente ferramenta de controle monetário  e da nossa economia, que sirva como referencial para o BACEN criar os limites de intervalos possíveis de praticais de taxas de juros pelos
agentes financeiros.

Se o Governo Temer julgou oportuno a criação do “Teto” dos gastos públicos por 20 anos, porque o BACEN não pode igualmente cria um “teto” do intervalo máximo de percentual a ser aplicado aos juros sobre a nossa Selic?  Se o Governo dito reformista do Temer, foi capaz de limitar os gastos públicos por 20 anos, inclusos os gastos, inclusive para a saúde, Educação e segurança, não pode criar igualmente um “Teto” que irá corresponder ao limite de intervalo percentual de rentabilidade dos bancos sobre a taxa Selic e assim controlando e colocando limites e estimulando a livre concorrência entre o sistema financeiro nacional.

Não controlar a ganância e ganhos exorbitantes dos agentes financeiros nacional, é atestar que o rentismo e a especulação financeira, é mais importante e prioritária do que promover um ensino público de qualidade, garantir o direito de ir vir de cada cidadão viver em segurança e sem violência, e de preserva o direito sagrado mais importante da humanidade, que é o direito a vida.
Assim nada mais Justo e racional do que o Governo crie o “Teto”, limitando o intervalo máximo de cobranças de taxas de juros bancários, tendo como referência a justa Selic.

Ricardo Valério Costa Menezes
Presidente do Conselho Regional Economia

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A OMISSÃO DE TEMER

  

Paulo Afonso Linhares

O julgamento de habeas corpus impetrado em favor do ex-presidente Lula, denegado  pelo placar mínimo de um voto, propiciou a prisão do líder petista precedida de uma tensa permanência deste, por dois dias, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC paulista onde, aliás, o começo desse que tem sido um dos mais relevantes fenômenos políticos da história republicana, que foi a criação do Partido dos Trabalhadores e a ascensão política de um torneiro mecânico que terminou eleito presidente da República e, neste momento, ocupa uma pequena cela de 15 metros quadrados em cumprimento de pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Esse episódio que vai da decisão do STF e consequente prisão de Lula produziu, no Brasil e alhures, uma montanha de artigos e reportagens com os mais díspares e variados enfoques, numa explosão de paixões e ressentimentos. Enfim, para o bem ou para o mal  tudo foi dito e escrito, de reles desaforos e xingamentos vulgares a belas peças literárias.

No entanto, em toda essa torrente de opiniões que tem passado através dos diversos espaços midiáticos, sejam veículos da imprensa tradicional ou nas redes sociais, algo estranhamente não mereceu maior atenção: o efetivo papel de presidente Michel Temer na decisão do STF que selou, ao menos por enquanto, a sorte do presidente Lula, negando a habeas corpus preventivo que evitaria a prisão deste, cuja condenação penal fora mantida por órgão judicial de segundo grau.

Ora, a lógica mais elementar mandaria  que Temer lançasse mão de sua influência – talvez restrita a apenas um dos ministros da Corte, Alexandre de Morais, ex-auxiliar por ele nomeado, porém, que seria suficiente para concessão da ordem – não propriamente em favor de Lula, mas, para consolidar, na Corte Suprema, a jurisprudência que reconhece o aprisionamento de pessoa após condenação penal mantida na segunda instância como franca agressão ao princípio da presunção da inocência expressamente previsto no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, pelo qual “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória“.

Ressalte-se que, se não existisse tal princípio chantado na Constituição da República, ainda assim o Brasil deveria observar a regra de que a prisão de uma pessoa somente deve ocorrer com o chamado trânsito em julgado das sentenças penais condenatórias, ou seja,  quando esgotadas todas as possibilidade de defesa, inclusive, aquelas veiculadas via recursal. E por quê? Porque é signatário de dois importantes pactos multilaterais, cujas disposições por isso, fazem parte da ordem constitucional, por força dos parágrafos 2° e 3° do artigo 5° da Constituição Federal: A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, artigo XI,1 (“Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa”); e a Convenção Americana Sobre os Direitos Humanos, também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, artigo 8º, 2, (“Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa”). Simples assim.

O dr. Temer fez de conta que nada tinha a ver com a decisão do STF no caso Lula. Ora, todos os seus amigos mais próximos ou estão presos (preventivamente) ou respondem a processos por corrupção e outros crimes conexos, ademais de constituírem aquilo que a crônica política e policial chama de “quadrilhão do Temer”. Ele próprio figura em vários inquéritos que, por força do seu cargo de presidente, estão paralisados à míngua de autorização da Câmara dos Deputados, porém, terão prosseguimento a partir de janeiro de 2018 quando, atida evidência, deixará de ser inquilino do Palácio do Planalto.

Assim, a despeito de ser um experiente e atilado animal político, Michel Temer parece não perceber que inelutavelmente é vítima do tal “efeito Orloff”: ele poderá ser Lula a partir de janeiro de 2018. Isto será a realização daquele vaticínio popular que se traduz “na volta do ‘cipó’ de aroeira no lombo de quem mandou bater”, ou deixou que batessem. Isto sem levar em conta de que grande parte da bandalheira que grassou nos governos petistas de Lula e Dilma pode ser colocada na conta de Temer e seus correligionários peemedebistas, estes que sempre ficaram com boa parte da pilhagem dos dinheiros públicos empreendida, nas últimas décadas, por políticos, empresários e altos executivos de empresas estatais, e que resultou nessa ‘lavagem a jato’ a qual, sob o pretexto de combater a corrupção, empurra o Brasil ladeira abaixo no rumo do retrocesso político-institucional em que direitos e garantias fundamentais do cidadão, de berço constitucional, passam a ser olimpicamente desrespeitados.

No mínimo, deveria desejar melhor sorte ao líder petista, por um gesto de solidariedade daqueles que até bandidos e mafiosos são capazes de expressar. De lembrar que, aos omissos, o poeta Dante reservou os lugares mais quentes do Inferno. Também, não deve ser olvidada, quanto aos que se omitem, aos que vestem a capa da indiferença, aquela severa advertência contida numa das célebres passagens do Apocalipse de São João: “Eu conheço as tuas ações e as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera que foras um ou outro, frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és frio nem quente, te vomitarei da Minha boca!… sê pois zeloso e arrepende-te!” (Apocalipse 3:15,16,19). Indiferente, omisso, nem frio nem quente, o morno Temer logo será vomitado da boca do poder e o cutelo do ímpio Barroso irá ao seu encontro, mas, essa será outra história.

 

 

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Natal(RN), 3 de abril de 2018

Natal(RN), 3 de abril de 2018

Aos meus netos

Kayllane, Aléssia, Enzo e Valentina, sem dúvidas sei que nesta data em que escrevo, vocês não têm ciência dos tempos difíceis em que vivenciamos. Por outro lado, agora (neste futuro, se estiverem lendo), já devem ter visto nos livros de história sobre o acontecido com o maior líder da América latina e um dos melhores presidentes do Brasil e toda conjuntura envolvida.

Em nome do combate à corrupção, massacraram moralmente militantes de esquerda, querendo tatuar a criação dos desvios de caráter a um partido, a um pensamento, levando uma camada de hipócritas às ruas vestindo camisetas amarelas guiados por um pato amarelo, patrocinado pela FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo-, vomitarem e disseminar ódio.

Devo dizer que houve sim, uma conspiração – estou falando baixinho, visto que, se for ouvido, certamente, serei linchado em praça pública, pois também há uma onda de intolerância, uma espécie de neofascismo, neonazismo uma mistura de ignorância involuntária e voluntária e, esta, insiste na implementação, – guardando as devidas proporções -, de um novo modelo de caça as bruxas contemporâneo, jogando quem pensa, opina, tem ideias e, principalmente, aqueles que fazem a defesa de um sistema político que priorize ou tenha como foco os mais humildes e mais pobres, numa desmoralização pública, se utilizando das redes sociais, a mais nova nefasta moda, a tal das fakes news -. Sem ir a miúdo, da força e imposição dos grandes conglomerados da comunicação nacional, todos sem exceção, apoiaram e fazem campanhas pressionando os mais altos agentes operadores da lei a tomarem decisões que lhes afaguem seus interesses comerciais.

Para vocês terem ideia, um procurador da República, da operação Lava Jato, o famoso Deltan Dallagnol, criador de um PowerPoint, onde incriminou Lula e no final diz uma frase: “não temos prova, mas temos convicção”, está fazendo jejum, para que o Supremo Tribunal Federal, vote confirmando a prisão de condenado em 2ª Instância. Numa demonstração cabal de falta de confiança em sua tese acusatória.

Alguns mais sensatos, tanto da direita quanto da esquerda, sem se apequenarem às ideias radicais ou ideológicas, dizem da notoriedade insana imposta ao Presidente Lula, colocando sobre seus ombros crimes sem provas e o condenando, estuprando a Constituição – desculpem seu velho avô, mas é a palavra que, de fato, encontrei para dizer do ocorrido com o 5º artigo da Lei Maior: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” (art. 5o).

Logo, me é possível pensar, que a Constituição foi e é usada, com viés da conveniência de quem o faz: Rasgam, remendam, rasgam novamente e novamente remendam.

Claro, que a história, já deve ter sido escrita e, pode estar na linha que digo ou diametralmente diferente, entretanto, é preciso entender e ler a história do Brasil desde seu início, em 1.500, com um olhar mais crítico, para se situar nestes tempos dos anos 2018.

Porém, netos queridos, lembrem-se que a história é contada pelos vencedores.

 

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Meu nome é Enéas

Aqui, em meio a rabiscos, lembrei do que me disse Paulo Linhares, pelo WhatSpp: “Todos nós temos nossas batalhas”, o que me levou a Mário Sérgio Cortella, em sua palestra, onde fala da necessidade de termos inimigos fortes, amigos sinceros que nos digam, na lata, na cara dura aquilo que precisamos ouvir e não o que queremos ouvir e ver, pois assim, nos tornamos mais fortes para as lutas do dia a dia. Em geral, se deixarmos os elogios ultrapassarem os limites de sua verdade, estaremos fadados ao fracasso, a luta será, inevitavelmente, perdida, não importando a arma que empunhemos.

É verdade, Paulo: temos nossas lutas também e, sem dúvida alguma, a maior delas é contra nós mesmos. A Teoria da Psicanálise de Freud diz que o superego é responsável por “controlar” o Id, isto é, reprimir os instintos primitivos com base nos valores morais e culturais. Devo confessar que já pensei – veja a ousadia – como Vinicius de Moraes, que certa vez disse: “Críticos são sujeitos que têm mau hálito no pensamento”. Depois de muitos banhos de água de sal para sarar as feridas, hoje, costumo observar com muito mais cuidados às críticas negativas ou aquelas mais contundentes, certamente, me dizem algo a mais. Também não serei hipócrita de afirmar que desconsidero as críticas elogiosas, seria uma grosseira mentira: tenho um silo esborrotando delas e, algumas penduro na parede de entrada. É certo, que também existem, aos borbotões, aquelas disfarçadas, que na verdade é inveja, tais como: esse texto não foi ele que fez, essa publicidade também não, ele não é tão criativo assim, ele não tem capacidade de fazer isto…Ora, estas já apertei o botão da descarga faz tempo.

Não há duvida que aquela opinião que entra em choque com a sua, certamente, lhe causa mais impacto, ela sempre nos pega de surpresa, principalmente relativa a seu trabalho. Onde quase ou sempre, você espera elogios aos milhões e, na net então, os likes e comentários positivos, têm que serem capazes de encher a Armando Ribeiro Gonçalves.

Pois, bem. Semana passada desenhei Raul Seixas e Jairo, meu amigo de 40 anos e lá vai fumaça, achou parecido com Enéas Carneiro, aquele do Prona, candidato à Presidência da República, do “Meu nome é Enéas”. Fui para prancheta, desenhei, redesenhei e ficava igual ao já feito, como não saía do lugar fui ao auxílio de Maria – ela, anos-luz mais inteligente que eu -, disse: desenhe Enéas!

Pronto, eis o dito cujo. Obrigado, amigo Jairo, pela sinceridade. Agora, é com você.

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Que Brasil você quer para o futuro?

À

Rede Globo de Televisão

Cara Globo, não pretendia, confesso até que ultimamente fazia de tudo para não assisti-la, com medo danado de cair nos seus encantos sedutores. Pois, mais que qualquer outra sabes, como uma sereia, usar o embruxamento para nos hipnotizar e tornarmos zumbis diante de sua telinha.  Porém, sexta-feira(17), parei frente ao Jornal Nacional para ouvir o que tinhas a dizer sobre a morte de Marielle, batata, não deu outra: fui pego e cá estou entregue, aos pés do platinando Plim, Plim, respondendo o que quero para meu país.

Que Brasil você quer para o futuro? Eis o título do seu apelo. Pois, muito bem.

Na verdade Rede Globo, não queria para o futuro, mas para anteontem, ontem, nem mesmo para amanhã, no máximo para hoje. Não sei se você sabe, mas no horizonte o 20 de julho se acena e, com ele meus 5.9, entre os quais mais 90% deles foram ouvindo que o Brasil é o país do futuro. Aliás, o que também não é nada original, já que roubamos o título do livro “Brasil, país do futuro”, do escritor austríaco, Stefan Zweig, e passamos a dar esperança a uma legião de milhões de analfabetos políticos e intelectuais.

E, neste meio tempo: matamos, esquartejamos, humilhamos quem ousou pensar em um futuro para o Brasil, quem falava em democracia e sonhava com um mundo mais justo e melhor. E se não me engano, você mesma, saltitava veiculando que o Brasil seria o “celeiro do mundo”, no entanto retornamos para o mapa da fome; “Este é um país que vai pra frente, voltamos a termos um “pibinho”; “90 milhões em ação”, na verdade foram alguns “verdinhos”, com seu apoio; e por fim, o “Brasil, o país do futuro” foi posto de quatro, no brejo.

E, agora você vem com a mesma baboseira: Que futuro eu quero para o Brasil? Ora, vai te catar.

Todavia, ainda assim vou dizer o que quero, não para o futuro, mas para o mês passado: Que

deixemos de ser vários Brasis e sim, passemos a uma só nação com todos os brasileiros tendo os mesmos direitos, as mesmas oportunidades com possibilidades de realizar o almejado. Que os sonhos dos mais pobres sejam tão realizáveis como os dos mais ricos.

Quero salários dignos para magistrados que não “precisem” de auxílio-moradia, mas também exijo o mesmo para professores; quero que justiça seja rigorosa com o PT, mas também com PSDB, DEM, MDB e tantos outros envolvidos em malfeitos; quero os direitos dos trabalhadores restaurados e “imexíveis e imorrível” – como disse o ex-Ministro Rogério Magri -, como fizeram com os salários do militares e funcionários do Congresso Nacional; quero mais pobres nas universidades; quero ver na cara dessa gente os olhos brilharem de dignidade. Quero crer na justiça brasileira. Hoje, não tenho um pingo de fé, respeito e cumpro-a, mas, não ponho minha mão no fogo por ela.

Sonho com postos de saúde sem aquelas horrendas filas de miseráveis mortos-vivos; também vislumbro transporte coletivo de primeiro mundo para todos os cidadãos do Oiapoque ao Chuí. Bom, dona Globo, é basicamente isto. Sei que você vai dizer: “acorda, Alice”, também sei que se depender de você isto ficaria apenas no sonho mesmo.

Tenho todos os motivos para desconfiar desta sua benevolência toda, em saber o que queremos para o futuro do Brasil, você pode ter esquecido, eu não: você apoiou o golpe de 64 e, com a cara mais lavada veio pedir desculpas, agora novamente, fez o mesmo com a Dilma, então sua história lhe condena.

Não, não estou sendo radical, apenas um pouco cético em ralação as suas boas intenções, com esse mundão de gigabytes de informações do povo. É que daqui, vejo a arma oculta em sua mão e, certamente, não é para suicídio.

Desculpe, meu pé atrás com você. Mas…

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PARA MARIELLE

Paulo Afonso Linhares

Mais dois jovens trucidados, a exemplos de milhares de pessoas que sucumbem na guerra fratricida que incendeia o Brasil. Marielle Franco e seu amigo Anderson tombaram diante dos sicários que viram, nos estampidos de suas armas assassinas, o único modo de calar a voz corajosa dessa jovem mulher, negra, mãe e lutadora das causas de seu povo.

A indignação e a cívica vergonha que nos atinge, diante do martírio de Marielle e Anderson, não exclui os tantos brasileiros criancinhas, jovenzinhos, idosos, mães e pais de família que, também, sucumbem à violência que grassa por este país, embora não saibamos seus nomes ou conheçamos seus rostos. Choramos por eles, também, sempre que as sucessivas tragédias e suas fortes cores assustam nossas retinas e pesam em nossos corações. Sou humano, nada do que é humano me é estranho, reza o belo verso de Publius Terentius Afer: “Homo sum; humani nil a me alienum puto.”

Lamentável é que indecentes, hipócritas e insanos de vários matizes, camisas pardas, galinhas verdes, estão a grunir neste chão conflagrado do Fecebook: querem punir Marielle por ela ter-se tornado, tristemente, uma celebridade mundial seu marido com seu martírio.

Alguns, desvestidos de qualquer traço de humanidade, até insinuam que Marielle e Anderson teriam pedido para ser vítimas e como tal objeto da atenção do mundo, na imprensa e nos grandes fóruns internacionais. Fazem troça e gracejam do trágico fim desses jovens. Com se eles tivessem chamado seus algozes a fazê-los “famosos”. O mal banalizado. Corja desumana!

Claro que devemos chorar pelas crianças mortas pelas balas perdidas que as acharam em tempo e lugar errados por este Brasil afora ou pelos policiais tantos que têm morrido no cumprimento do seu dever, os pais e mães de família assassinados, jovens e idosos de todas as classes sociais, credos ou gêneros, independentemente de rostos ou nomes. Merecem a nossa indignação cívica mais profunda.

No entanto, nada disso impede que o mundo chore a morte de Marielle e Anderson, mesmo porque esse confronto maniqueísta que alguns idiotas fazem ao dividir a sociedade brasileira em bandidos e mocinhos é falso e babaca, idiota mesmo, sobretudo, quando impõem um corte político e ideológico à discussão sobre a espiral da violência que engole o Brasil, em todos os quadrantes.

O partido de Marielle não importa, como também se era negra, lésbica ou favelada. No mínimo, a sua memória e seu corpo merecem humano respeito, decorrente de um direito imemorial e sagrado da humanidade que, segundo Agostinho de Hipona, teria Deus escrito no coração das mulheres e homens; o sagrado direito a um sepultamento com dignidade, como exigiu Antígona do tirano tebano Creonte, como se lê na obra imortal do dramaturgo Sófocles: “… nem eu creio que teu édito tenha força bastante para conferir a um mortal o poder de infringir as leis divinas, que nunca foram escritas, mas são irrevogáveis; não existem a partir de ontem, ou de hoje; são eternas, sim! e ninguém sabe desde quando vigoram!”

Marielle e Anderson, requiescant in pace.

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BRASÍLIA: A DANÇA DAS CADEIRAS

Paulo Afonso Linhares

Um estouro de boiada ou, mais precisamente, um velho caminhão sem freio a desembestar ladeira abaixo, são as imagens mais aproximadas que vêm à mente quando o assunto é o governo Temer. No entanto, enquanto chão de vivência do poder, o cotidiano dos gabinetes brasiliense segue o ritmo daquela brincadeira infantil chamada “dança das cadeiras”.

Para reavivar as lembranças da infância, esse jogo consiste na formação  de uma roda de cadeiras e outra de pessoas, em que o número de cadeiras deve ser sempre um a menos. Toca-se uma música animada. Quando a música parar, todos devem sentar em alguma cadeira. Quem não conseguir sentar, é eliminado e tira-se mais uma cadeira. Ganha quem sentar na última cadeira disponível.

Na realidade de Brasília, as cadeiras são os postos de comando da alta burocracia federal e as pessoas os tantos pretendentes a cargos que se aboletam em azeitadas máquinas partidárias. A música variada, tanto pode ser o circunspecto Hino Nacional, o ‘Moonwalker’ de Michael Jackson, uma ária de Puccini, o ‘Que Tiro Foi Esse?’ da funkeira Jojo Todynho ou, em derradeiríssima hipótese, valem mesmo essas coisas da moda que são as politicamente corretas ‘ladainhas’ da Lava Jato, recheadas de delações premiadas e outras atrocidades do ramo, seja na versão da banda do STF ou no ritmo curitibano do califa Sérgio Moro e seus dellagnolzinhos amestrados. Pode nem sempre ser assim tão animado, mas, que dá ‘rolo’ isso dá…

A última rodada de acontecências brasilienses (algo a ver com aquela estrofe da Acontecência, de Jorge Vercillo: “Não importa a hora que terei de acordar amanhã/Tudo é ver seu respirar, acelerar, desenfreado/Seu discurso em meu ouvido vai arrebatar qualquer eleição…”), o dernier cri nos jornalões e netuorques tupiniquins, é a criação do decantado Ministério da Segurança Pública.  Aí, sem menor sombra de dúvida, o mordomo do soturno Palácio da Alvorada, ‘seo’ Michel Temer, se superou.

Embora acossado por um rosário de fiascos políticos e econômicos, além de uma avalanche de processos judiciais, Temer ensaia a pretensão de ser candidato à eleição presidencial deste 2018. Em especial porque sabe – e ele é um político muito ladino – que se Lula for impedido de disputar, o que restar é tudo ‘japonês’, tudo igual, de modo que aumentam exponencialmente as suas chances de manter, por mais quatro anos, os seus velhos glúteos chantados na curul presidencial.

Para isso, contudo, algo relevante – e bem visível político-eleitoralmente! – precisava ser feito. Para que o ‘efeito de demonstração’ fosse completo, com a produção de um fenômeno das influências recíprocas entre meios distantes, Temer, com primeiro movimento, decretou uma polêmica intervenção parcial no combalido Estado do Rio de Janeiro, focada no caótico segmento da segurança pública; num segundo movimento, sacou do bolso do colete à criação  de mais um desses mastodontes da Administração federal: nasce o Ministério Extraordinário da Segurança Pública, que engloba o DPF (Departamento de Polícia Federal) a PRF (Polícia Rodoviária Federal), o Depen (Departamento Penitenciário Nacional), o Conasp (Conselho Nacional de Segurança Pública), o CNPCP (Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária) e a Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública). Estranho é que todos esses organismos existem e estavam congregados já no Ministério da Justiça.

O novel Ministério, segundo a letra de Medida Provisória que o instituiu, tem como competência “coordenar e promover a integração da segurança pública em todo o território nacional em cooperação com os demais entes federativos“.

Apesar do mortal esvaziamento do Ministério da Justiça e Cidadania (MJC), literalmente reduzido. “Extrato de pó de traque”, um resignado dr. Torquato Jardim, atual titular da pasta, disse que  “continuará trabalhando 14 horas por dia“. Em que mesmo não se sabe ao certo. Ora, para ele rigorosamente apenas restou o imponente Palácio Raimundo Faoro, aquela estrutura moderno-gótica desenhada pelo genial Niemayer, cuja fachada se caracteriza pelo desalinhado conjunto de cascatas artificiais que correm por calhas de concreto e caem num vistoso espelho d’água.

Brincadeira à parte – afinal, trata-se aqui de ‘danças das cadeiras’… – o MJC ainda ficou com a Fundação Nacional do Índio (Funai), Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), Secretaria Nacional de Justiça (SNJ) e o Arquivo Nacional. Poucas e não menos bolorentas emoções para o operoso dr. Jardim. Aliás, à exceção do Senad e do SNJ, todos os outros têm estruturas e funcionamentos autônomos em face do MJC.

A gestão do novo rebento incrustado no gigantesco organograma do Governo Federal ficou a cargo de Raul Belens Jungmann Pinto, pernambucano e de ascendência germânica pelo lado paterno, deputado federal e ex-ocupante de várias pastas ministeriais, inclusive, o Ministério da Defesa no atual governo Temer, com inegável êxito. A tarefa de Jungmann, todavia, não será assim tão simples, a começar pelo clima de guerra civil que se observa em quase todos os grandes centros urbanos brasileiros, a exemplo do Rio de Janeiro, aliado às dificuldades materiais de seu enfrentamento decorrentes da grave crise fiscal por que passam os Estados e Municípios deste país. Falta dinheiro para quase tudo, inclusive, para segurança pública.

Por fim, essa dança de cadeiras do governo Temer, todavia, afigura-se mesmo com um exercício de inutilidades. Ora, sem dúvida foi desnecessária a criação de mais um ministério: bastaria transformar o Ministério da Justiça e Cidadania em Ministério da Justiça e Segurança Pública, a ser gerido por Raul Jungmann. E se Torquato Jardim não fosse ‘encaixável’ no Ministério da Defesa, e não parece ser, ficaria sem cadeira nessa dança do poder, nestes tempos bicudos. Simples assim.

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Senhor de idade

Vi uma postagem do amigo, Ruy Glay, em que mostrava um interruptor do tipo pera e insinuava se você reconhecesse o objeto, certamente, seria uma pessoa velha. Ruy, o reconhecimento de minha velhice foi mais traumatizante – Já escrevi sobre isto, há uns três anos -, mas, todas às vezes que alguém retoma o assunto o dano emocional explode com força do Krakatoa e, para minimizar minha dor, sigo à risca ditada pelos amigos psicólogos, Guadalupe Segunda e Mayron Marcos, que é “falar sobre o assunto”.

Há uns três anos vinha de Parnamirim, da casa do meu pai, depois de uma visita ao meu cliente e amigo Moacir, isto por voltas das 18h, quando meu carro decidiu, sem minha permissão e sem comunicado prévio, fazer greve-geral, bem ali próximo ao Posto Dudu, simplesmente parou. Para não incomodar meu irmão Elian – Pois, se viesse me socorrer, a volta seria um tormento, pegaria todo engarrafamento -, resolvi pegar um ônibus. Para consolidar minha vontade de pôr fogo no carro, fui contemplado com uma chuvinha fina, essas de molhar gente besta, até a parada. Porém, logo um micro-ônibus surgiu, fiz saber o meu destino ao motorista, respondendo prontamente disse que passaria ao lado do Nordestão da Deodoro, “sartei pra dentro”.

De camisa azul, de punhos, mangas dobradas até o cotovelo, calça e sapatos sociais, minha pasta de couro companheira dileta de árduas batalhas na mão direita e, feito um pingente pendurado pela mão esquerda agarrada ao corrimão no tento do transporte, parecendo um pinto molhado. Logo percebi uma galera bastante descolada: rapazes de camisetas e bermudas, meninas de vestidos, shorts, blusinhas com jaquetas amarradas na cintura. Sem falar, que a grande maioria ouvia algo no celular e não davam bolas para minha exótica presença, alguns de livros em punho. Conclui que eram alunos da minha ilustre vizinha UNP.

Deslocado, sim! Mas, aquela moçada me fez sentir um vigor juvenil e retroagir ao tempo de estudante quando fazíamos excursões e quase senti uma lágrima correr no canto do olho, não de nostalgia boba, mas de ter vivido aqueles tão irresponsavelmente momentos de singela alegria. Por um bom tempo fiquei por lá, sentido às águas de uma cachoeira a qual tomamos banho, lá em Portalegre/RN e a brisa do Atlântico soprando no alpendre da casa de Soutinho, em Tibau, quando senti um leve toque em minhas costas e uma voz suave, sussurrava: “Senhor, senhor…”, virei-me atendendo o chamado e vi uma bela jovem, de cabelos negros lisos, olhos grandes amendoados, lábios carnudos, jurei por longos milésimo de segundos ser Angelina Jolie – Diga à Maria não, viu Florinda -, ainda em movimento de rotação ela perguntou-me: Senhor, quer sentar? Broxei, quer dizer, aceitei.

Com as pernas e os calcanhares em frangalhos, feito uma jaca podre que cai do galho se esborrachando no chão, me “apragatei” na cadeira cedida pela sósia de Jolie. Naquele instante me dei conta que era um senhor de idade.

A minha história é essa, é talvez igual a sua, que me lê agora.

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Bom dia!

BOM DIA, amigos do oitão. Assim digo logo que posso aos que me fazem companhia nas redes sociais e, para meus filhos expresso bom dia e desejando um bom trabalho e, para Larissa, a caçula, que ainda não “trabalha”, faz faculdade (quando a UERN não está em greve), desejo boas aulas. Este é meu rito cotidiano e, confesso, não dói nada, me sinto até muito bem.

Sou sim, um otimista incorrigível, não destes que acreditam em duendes, Papai Noel ou Mula Sem Cabeça ou no temer, até que sou, às vezes, um pouco realista demais, porém, sem perder de vista a esperança, pois olhar para frente é preciso, ter um horizonte é imprescindível para que se tenha algo à lutar, por isso, digo BOM DIA.

Viver? Ah! Viver não é mole não, viver é uma batalha diária e constante, onde somos desafiados a todo momento, em maior ou menor grau de dificuldades, e, isto, nos tornam mais fortes, que em boa monta não percebemos alguns obstáculos ultrapassados no dia anterior, não porque os desdenhamos, mas porque o vimos do tamanho que eles realmente eram. E, em certos casos nos pegamos afagando nosso próprio ego por termos resolvido determinado problema: “Eu fui capaz de solucionar…, que bom”. Sem recorrer aos grandes filósofos, isto é viver numa realidade otimista.

Segundo The State of Food Security and Nutrition in the World 2017, afirmou que 815 milhões de pessoas passam fome diariamente no planeta. Ora, em meio a 7,1 bilhões de pessoas habitando a terra e, você, não importa se é rico ou pobre, tomou café, irá almoçar e, certamente tem seu jantar garantido, então, por que não um BOM DIA?

Dou BOM DIA hoje, porque meu mundo é agora, hoje, e, creio que o seu também. Claro, não acordo com um sorriso escancarado e o humor de Jerry Lewis, Charles Chaplin, nem tão pouco de “seu Lunga”, mas, nada que um cafezinho e a perspectiva que o dia será melhor que ontem, não possa resolver. Quando falo BOM DIA, já esqueci o aconchego da cama que insistia em me seduzir. E, BOM DIA, convenhamos, são apenas duas palavras. Agora, não cabe a mim, fazer do seu, um BOM DIA.

Sou assim, sou um crente na vida, entretanto, gosto dela agora. Então, se quiser, me desejar um BOM DIA, o faça hoje, agora, já, afinal, o amanhã não é. “Eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim…”, versos da música, Meu Mundo é Hoje, de Wilson Batista, sucesso na voz de Paulinho da Viola. Eu sou assim, otimista por convicção, não por conveniência, quem quiser gostar de mim, eu sou assim. Meu humor ou otimismo, não depende de minha conta bancária. Desejo a todos: otimistas, ranzinzas, bem-humorados, filhos, pais, mães, a todos:Um BOM DIA!

Ah! Aos pessimistas, o erro, é isto que lhes dedico e, um BOM DIA, claro!

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Ele que se dane

 

No princípio, o homem para adquirir um produto ou qualquer coisa que lhe despertasse interesse e este pertencesse a outra pessoa, em comum acordo, usavam a troca, o famoso escambo. Mas, ao longo do tempo surgiu a necessidade de algo que pudesse ser levado com mais facilidade, então se testou de tudo: pedra, pau, sal e vieram as moedas no século 1º A.C., 18 séculos depois, criou-se o dinheiro de papel, o qual até, e talvez, muito mais hoje, as pessoas são capazes de tudo para tê-lo em grande quantidade, mais e mais e mais e, quanta mais, melhor.

Pessoas fazem tudo por dinheiro, de jurar amor eterno a matar pai e mãe pelo “desejado” e, cá prá nós, o canto do “bicho” é inebriante e envolvente melodicamente como de uma bela sereia, se o sujeito não tiver firmeza em suas convicções, certamente, mergulhará de cabeça, de smoking e tudo. Não, não estou dizendo que precisamos queimá-lo em praça a pública, até porque é muito mais fácil se fazer fogueira com livros – A Santa Inquisição e Hitler já provaram e, se deixarem o Bolsonaro, certamente, também o fará -, mas, tenho minhas reservas a ele, também não estou dizendo que não queria uma Mega Sena – o diabo é que não jogo -, todavia, minha relação com dinheiro nunca foi das melhores, temos algumas incongruências, incompatibilidades antigas, não nos cheiramos bem, essa é a verdade.

Há alguns anos, um “amigo” ficou mal comigo por causa de R$ 15,00, pois fui depositar-lhe R$ 900,00 e o banco descontou a taxa do DOC, ele não ficou nada satisfeito e não quis me ver nem pintado de ouro, depois, desfiz uma sociedade informal com outro “amigo”, por causa de “centavos”.  Todas às vezes que íamos dividir os lucros, 50% para cada um, ele ficava com R$ 5, 00 a R$ 10,00 a mais, percebi que a necessidade dele era maior que a minha, deixei ele com tudo (1 site). Não contando os que me devem e fogem de mim como o diabo da cruz e, sem falar de outros dissabores.

Dindim, mufunfa, nota, tostão, Real seja lá o apelido que damos, a ele, não me dobro nem a pau. O uso, apenas o uso nas necessidades, como quem usa papel higiênico. Um amigo diz que é preciso gostar do dinheiro para haver recíproca. Talvez, este meu comportamento reforce e alimente essa intriga dele comigo, mas, ele que se dane.

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‘ESQUERDA HEINEKEN’ É A VOVOZINHA!

Paulo Afonso Linhares

É por demais decantada a incapacidade do burguês de compreender o humor, segundo feliz parêmia de Hermann Hesse, no seu Der Steppenwolf (O lobo da estepe, já referido por mim noutros textos). Enfim, o espírito burguês, no máximo, atinge às raias do cinismo quando busca o humor que, na acepção latina, quer dizer líquido.

O espírito verdadeiramente burguês e conservador tem enorme dificuldade de acessar essa fluidez, essa ‘felicidade líquida’ que constitui um estado de espírito que se caracteriza pelo equilíbrio psicológico e emocional da pessoa que consegue vislumbrar graça e riso nos diversos aspectos da condição humana; não raro, o humor representa sempre perspectivas de rupturas de paradigmas e da construção de novos cenários da vivência humana.

Que os bondosos leitores deste escrito de quarta-feira de cinzas não se iludam: aquele famoso riso das hienas é apenas o esgar doloroso desses bichos que comem fezes e somente transam uma vez por ano…

A alma conservadora, contudo, não desiste de utilizar, na defesas de seus interesses políticos e propósitos ideológicos, imagens que chegam próximo às fronteiras do humor sem jamais ter energia suficiente para transpô-las. Assim é que, nas lutas político-ideológicas que trava, tende sempre lançar mão de formas diversionistas e raciocínios que desqualificam e diminuem seus adversários, mesmo que por vezes resvalem para grosserias e agressões à condição de existência da pessoa. Tratar, por exemplo, o ex-presidente Lula de “Nove Dedos”, como fazem seus adversários, nas redes sociais e fora delas, não deixa de ser um menoscabo ridículo à dignidade da pessoa humana, pois, não é razoável imaginar que alguém em sã consciência deixe esmagar em engrenagem mecânica parte de seu corpo para disso extrair vantagem qualquer. Pura maldade. Humor negro.

No atual momento em que, na sociedade brasileira, se confrontam projetos políticos radicalmente antagônicos na corrida presidencial de 2018, afloram absurdos de variados calibres. No passado, quando existia ainda a União Soviética e seus satélites, os conservadores de muitos matizes, no Brasil, lançavam contra seus adversários o anátema de “esquerda caviar” para simbolizar, em forma de gracejo, uma desqualificação dos inimigos da ordem burguesa e liberal, da qual não escapavam nem mesmo os leitores de Stendhal que, por manterem exemplares do instigante “O vermelho e o negro”, em suas humildes bibliotecas, foram arrastados para as enxovias da ditadura de então e lá muitos até perderam suas vidas ou foram marcados para sempre por insanas sessões de tortura física e psíquica.

Nos tempos de hoje, o caviar não faz mais sentido com o desmoronamento da tal “cortina de ferro” e o fim de “guerra fria”. No pouco definido cenário político brasileiro de agora, à sombra dos poderosos rebenques judiciais, a imprensa conservadora e os reacionários de diversas extrações brandem seus porretes contra uma “esquerda Heineken”. A inteligência rarefeita desses energúmenos chegou a tal resultado à vista de uma torturante estrela vermelha que estampa o rótulo da primeira cerveja premium da Holanda que, ao lado do nome da família do seu criador, Gerard Heineken, há 145 anos (1873-2018), tornou-se um dos símbolos nacionais daquele país e distribuída em mais de 190 países.

E agora, com o inimaginável segundo lugar da desconhecida escola de samba Paraíso do Tuiuti (ou simplesmente PT…) no desfile do carnaval 2018, do Rio de Janeiro, que levou para a Sapucaí um enredo com duríssima crítica social e até exibiu um avatar vampiro do presidente Temer, essa raiva vai aumentar. Comemoração certamente puxada à verdinha Heineken! E pensar que até bem pouco tempo diziam os brancosos da tosca direita verde-amarela que a Itaipava era de Lula…

Verdade é que a tal estrela vermelha da Heineken, nada tem de comunista, socialista ou petista, como, aliás, essa empresa esclareceu na resposta ao Governo do nacionalista e ultraconservador Víktor Orbán, da Hungria, que, tendo como pano de fundo uma briga comercial da multinacional holandesa com pequena cervejaria local, tentou proibir “o uso comercial de símbolos totalitários como a suástica nazista, a foice e o martelo, a cruz com flechas e a estrela vermelha, utilizada desde 1917 como símbolo comunista”, segundo notícia veiculada no El País, da Espanha (28 mar 2017). Os conservadores tupiniquins seguramente ‘beberam’ desse aguado chope magiar, para ter mais uma diarreia mental.

Aliás, a estrela vermelha como emblema comunista somente foi usado a partir da Revolução Russa de 1917, a partir de famoso diálogo que teria ocorrido entre Leon Trótsky e Nikolai Krylenko. Nestas paragens, tornou-se logomarca do Partido dos Trabalhadores. Daí a pecha atual de “esquerda Heineken”. Isso pode até parecer uma chiste inocente e bem humorada. Qual nada: nem uma nem outra coisa; é só veneno destilado. A invectiva é maldosa quando, no mínimo, associa a militância política de intelectuais, artistas, profissionais liberais e outros segmentos da classe média urbana brasileira, aos convescotes de mesa de bar regados a cerveja.

Vale lembrar que, no passado como hoje, os refutadores do pensamento socialista sempre tentaram (e ainda tentam!) desqualificar as ideias do filósofo alemão Karl Marx por ter sido ele um bebedor de cerveja, alguém que nunca trabalhou e que viveu às custas de sua esposa rica e do dinheiro franco de seu amigo, o também filósofo Friedrich Engels. Bobagens.

Quem leu qualquer relato biográfico de Marx, por mais ralo que seja, sabe que isso é idiotice por várias razões: beber cerveja jamais foi símbolo de devassidão ou algo assemelhado, tanto que algumas das melhores marcas da velha Europa eram feitas por ordens religiosas (Franziskanen, Dominikanen, Benediktinen etc.) e democraticamente apreciadas, até hoje, por todas as populações de países europeus.

No velho mundo, quem não bebe cerveja, vai de vinho, de conhaque, de vodca… Não sem razão, o comediógrafo irlandês George Bernard Shaw (1856-1950), prêmio Nobel de Literatura (1925), de finíssimo e inigualável humor, galhofa, na comédia Candida (de 1894, III): “I am only a beer teetotaller, not a champagne teetotaller!” Mais ou menos assim, numa tradução livre, “sou apenas abstêmio de cerveja, não um abstêmio de champanhe”. Estranho que o velho Shaw, na terra da famosa Guinness, a cerveja irlandesa mais famosa do mundo, cuja forma mais clássica exala um marcante sabor, com o equilíbrio perfeito entre o forte amargor e o doce suave, com toques de café e chocolate. Além das Pale e Bitter Ales, e as Porters/Stouts, também mundialmente famosas…

O casamento de Marx com Johanna “Jenny” von Westphalen, filha do Barão von Westphalen, pouco ou nada lhe acrescentou materialmente, mas, lhe deu uma feliz e profícua convivência de 40 anos, além de sete filho. Marx trabalhou profusamente para escrever uma obra de milhares de páginas durante toda a sua vida, tendo ao lado sua Jenny que, a despeito de todas as dificuldades financeiras e de precária saúde, também copiava, penosa e copiosamente, os manuscritos do marido, que conformariam um dos pilares do pensamento ocidental.

Mesquinharias direitistas essas críticas ao filósofo de Trier, que deve e merece ser enfrentado no campo das ideias, não com tais bobagens. No mínimo, por lei natural e inalienável direito, como lembra Sófocles, na peça Antígona, cabe-lhe, sim, um obsequioso descanso na sua tumba londrina do bucólico Hyde Park…

Assim, denominar simpatizantes da esquerda em geral, os petistas ou os tais “lulopetistas”, de classe média, como “esquerda Heineken”, o que mais pode fazer é aumentar o consumo dessa cerveja que já tem uma presença importante no mercado mundial (ocupa o sétimo lugar no market share global) e no brasileiro (com a recente aquisição da Brasil Kirin – dona das  marcas especiais de cerveja Baden Baden e Eisenbahn e da Skin e Devassa  – a Heineken salta para o segundo lugar entre as maiores cervejarias do Brasil, com uma participação de quase 19%), tudo mesmo é para alegria dos acionistas da cerveja Heineken, a preferida dos diabéticos e demais glico-inimigos graças à fama do baixíssimo teor de açúcar em sua composição, o que decerto poderia até impor, para desconsolo dos ‘coxinhas’ de todas as frituras, uma releitura daquela famosa frase de Marx-Engels, do tonitruante Manifesto Comunista, de 1848: “Cervejantes de todo o mundo, uni-vos”!

Prof. Dr. PAULO AFONSO LINHARES
paulolinhares@hotmail.com

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O ENFADO DAS MORTES ANUNCIADAS

Paulo Afonso Linhares

Nada mais enfadonho que a linearidade das coisas, a mesmice mortalmente previsível, as bobagens do politicamente correto, a cega crença em valores que nada valem, como é o caso da justiça que, na  certeira concepção do filósofo Nietzsche, é apenas uma concessão de quem detém efetivamente o poder. Como um ser-em-si a justiça não existe. Justiça, não deixa de ser aquela  ilusão de equidade, categoria conceitualmente indefinida que não raro se converte na vontade política de uma elite perversa e não menos grotesca que impõe à sociedade o seu modo de existir-no-mundo. É no poço da equidade que os juízes ‘encontram’ as razões de decidir que até podem transcendem o direito posto – a lei, a jurisprudência, os uso e costumes – para formar seu livre convencimento na apreciação das provas, mesmo quando estas não existem.

Lamentável que o “povo do PT”, além de outros equívocos, acreditava que a fronte áurea e o argênteo peitoral da deusa Themis reluziriam a verdade no julgamento da apelação do ex-presidente Lula pela 8ª Turma do TRF4, ocorrido em 24 de janeiro de 2018. Mortal engano. Enquanto o fatigada divindade se consumia nalgum bordel do Olimpo, de Paris, Hong Kong, Miami ou de Istambul, esses meninos traquinos, pomposamente denominados ‘desembargadores federais’, em seu nome, solenes e circunspectos, envergaram mortalmente o direito, enxovalharam a Constituição do Brasil, para impor terríveis castigos a esse retirante nordestino que um dia ousou, como um Prometeu caboclo, inverter a equação dos senhores da Casa-Grande. Querem devorar o seu fígado, sentença a sentença. Outros processos, igualmente aleijões jurídico-processuais, estão nas retortas do Califado de Curitiba e desaguarão na mesma vala comum do caso recentemente julgado em Porto Alegre. Resultados previsíveis.

Longas e não menos enfadonhas preleções destituída de juridicidade e da lógica mais elementar, tornadas mais bizarras e desconexas à medida em que escorregavam das bocas togadas desses meninos-juízes-poderosos do Tribunal Regional Federal da Quarta Região. Mentiras ganharam foros de incontestáveis verdades; provas que eram meros simulacros de verdade passará à condição de absolutas certezas. Sim, esse sonhador e não menos ingênuo retirante nordestino que lutou para resgatar da miséria mais de trinta milhões de brasileiros deveria pagar por tamanha ousadia. Ora, não deveriam ele e seus ‘protegidos’ esperar que o Mercado-deus lhes absolvesse, sobretudo ele, o Lula que tantas concessão fez aos poderosos da “livre iniciativa”? Adjuva nos et redime nos!

Coisa nenhuma! A chibata da lei tergiversante deve vergastar impiedosamente o lombo de Lula até que ele se lembre de onde veio e para onde jamais poderia ter ido. A retórica  implacável do meninos-togados da 8ª Turma do TRF-5 vai jogá-lo naquele círculo do inferno destinado aos ingênuos, que o poeta Dante sequer ousou descrever. E espicharam uma pena que já era ridícula em nove para pesados doze anos, para gáudio da Rede Globo e congêneres do baronato midiático, dos conservadores e idiotas de todos os matizes. Lula na cadeia tudo se resolve? Parece que sim, pelo que se vê dessa confusão de vozes que grassa no terreno pantanoso das redes sociais.

Certo é que essas coisas anunciadas, como foi a manutenção da sentença  do califa Sérgio Moro pelos juízes da 8ª Turma do TRF4, no julgamento da apelação do ex-presidente Lula, ocorrido em 24 de janeiro de 2018, não deixam de ser enfadonhas: de um ou de outro lado, todos sabiam que ‘ferrar’ uma possível candidatura presidencial do líder petista começaria com a sua condenação por um órgão colegiado de segunda instância, nos marcos da Lei da Ficha Limpa que, aliás, recebeu a sanção de Lula, à época poderoso inquilino do Palácio do Planalto. Ele foi na onda do politicamente correto e ajudou trazer a lume uma lei que atropelou importantes direitos fundamentais, como a presunção da inocência que proíbe a prisão antes de esgotados todos os recursos processuais. Enfim, Lula fez o laço que agora querem apertar no seu pescoço.

A sentença de primeiro grau não apenas foi mantida, como ampliado o período de prisão de Lula, de nove para doze anos, em regime fechado. De um lado, pessoas indignadas com essa pouco compreensível livre convicção que ronda as cabeças dos empoderados juízes deste país e que constitui num álibi perfeito para todas as teratologia que possam parir enquanto privilegiados intérpretes e aplicadores das leis segundo suas próprias convicções. Do outro, aqueles que,  por múltiplas razões, querem ver esse cabeça-chata nordestino a espiar o grave pecado de ter sonhado com um Brasil para todos, sem miséria e com cidadania. Infelizmente, para conseguir essas coisas, ele se juntou com quem não devia. Lula e seu partido pagarão um alto preço pelas alianças espúrias que fizeram com conservadores e corruptos de todas extrações, para garantir o acesso ao poder e a governabilidade.

O artifício jurídico de impedir a candidatura de Lula não encerra a questão nem evita que o seu nome continue na ponta das pesquisas eleitorais, algo que se ampliará com sua quase certa prisão. Fato é que, onde quer que ele esteja terá peso na eleição presidencial deste 2018: o seu apoio poderá eleger o próximo presidente da República. Isto nenhum tribunal poderá impedir. No mais, é torcer para que as forças vivas desta nação tupiniquim possam acertar um projeto comum que fortaleça as conquistas políticas e materiais da sociedade brasileira. Já é tempo.

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AS  INCÓGNITAS DE CADA DIA

Paulo Afonso Linhares

É bem certo que a palavra “incógnita” não deveria compor o título de um texto destinado ao grande público, sobretudo, aquele diariamente ‘arranchado’ no chão instável das redes sociais. Todavia, vai ela mesma à míngua de qualquer outra capaz da expressar a enorme expectativa que causam as eleições de 2018, nestes dez meses de sua realização. A expectativa, neste caso, é traduzida em diversos impactos causados por mudanças legislativas, em especial a proibição de financiamento de campanhas ou candidatos por empresas privadas, além do comprometimento dos maiores partidos políticos e suas principais lideranças em processos judiciais em que são apurados graves casos de corrupção, como na Operação Lava Jato, Operação Zelotes etc., cujas condenações poderão impedir a participação no processo eleitoral, como candidatos, de expressivas figuras da política brasileira.

Essas incógnitas impõem dificuldades em se traçar previsões acerca das próximas eleições (quase) gerais deste 2018. Os diversos ‘pontos cegos’ levam a incertezas e, por conseguinte, a insegurança jurídica e, ainda, alimenta uma forte desconfiança do mercado, o que não deixa de aprofundar a aguda crise econômica e fiscal que se abate duramente sobre o Brasil. O mais grave é que não se pode vislumbrar, desde agora, como caminhará o novo governo central a partir de 2018, que forças estarão hegemonizando o poder federal, a presidência da República, a partir de 1º de janeiro de 2019. No movediço cenário politico brasileiro atual, nem os mais hábeis videntes arriscam um palpite: tudo pode ocorrer, a eleição de uma figurinha carimbada da política ou alguém que nunca militou na política, mas, noutras atividades, os chamados outsiders.

De um ou de outro modo, como no belo filme de Fellini, e la Nave va. A sociedade brasileira há de transpor todos os obstáculos que ora atravancam a sua caminhada, sem se afastar dos marcos da democracia que balizam a Constituição de 1988. No processo de evolução das instituições jurídico-políticas são inevitáveis os solavancos na política, na economia, no direito e até no campo da ética, tudo como ‘fermeto’ imprescindível ao processo evolutivo dos povos.

A superação desses óbices criam algo que, à falta de melhor definição, pôde-se chamar de “anticorpos sociais”, resultando num feixe de ricas interações dialéticas que se projetam e se incorporam no cotidiano das pessoas. Basta ver, exempli gratia, o perfil do sistema eleitoral que o Brasil tinha há cinco décadas e aquele que será posto a prova, mais uma vez, nas eleições de 2018. Outro exemplo de notável mudança social refere-se à incapacidade relativa que traduzia os status civil e político da mulher brasileira, no começo dos anos 1960 e a posição que ela tem hoje na sociedade, fenômeno tão bem captado pelas lentes do pensador potiguar João Batista Cascudo Rodrigues, na sua monumental obra A mulher brasileira: direitos políticos e civis, edição de 2003, publicada pela Editora Projecto. Embora ainda deva superar graves problemas, como os corriqueiros casos de violência doméstica ou o tratamento desigual do trabalho feminino no mercado, além de outros, inegáveis os progressos das mulheres deste país.

É claro que numa conjuntura de crises múltiplas – ética, política e econômica -, como as que vive a sociedade brasileira, neste momento, as pessoas se abatem na medida em que perdem seus referenciais valorativos, mormente quando visivelmente percebem que “tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas,” tomando por empréstimo conhecida assertiva do filósofo Karl Marx.

Entretanto, esse preocupante esfumaçar de bem assentadas certezas não é o fim das coisas, mas, enquanto superação é apenas uma inevitável  passagem  ao estado de modernidade imediata, uma nova circunstância ‘leve’, ‘líquida’, ‘fluída’, ademais de veicular uma dinâmica bem superior àquela  que se esvaiu, como ensina  Zygmunt Bauman, na sua Modernidade líquida, de 1999. Apesar disto, é claro que pessoas sofrem, se desesperam e até se autodestroem, quando não compreendem que o sofrimento, o vexame, os desencontros, as dores, são igualmente despidas de definitividade, passam, também se esfumaçar.

Por isto é que as incógnitas que rondam os processos históricos devem ser resolvidas à razão direta de suas aparições. Daí ser pouco importante, por exemplo, não ter claro quem será o presidente do Brasil a partir de janeiro de 2019. Fundamental é a certeza líquida, leve e fluída de que os agentes políticos eleitos para os diversos cargos executivos ou parlamentares, em 2018, terão haurido legitimidade na Soberania Popular prefigurada no artigo 14 da Constituição, sem atalhos profanos ou renitentes vícios que ecoam de um passado mal resolvido. Então, toca para frente. E para o alto.