Saudade

Hoje, 1º de abril, diz a cultura popular, ser o Dia da Mentira, mas, que mentira absurda! Aqui na gleba Cabrália, essa tradição francesa foi ampliada para o resto dos outros 364 dias do ano. Mentimos para o guarda da esquina, para o médico, para o bispo, simplesmente mentimos. Não sei se hoje, o sol, religiosamente da minha janela, todos os dias, logo ali, beirando às 5h, surge sob a ponte Newton Navarro rasgando as águas do Atlântico. Hoje, talvez, por vergonha de tanta falta da verdade, parece não querer mostrar-se tão cedo.

Do meu lado, Maria me revela que não é isso não. Descuidado e desapercebido que sou, pergunto de que é então? Ela me responde que é de saudades.

Claro, é a mais pura verdade: a saudade já se faz presente. Hoje a casa está vazia, aparentemente silenciosa, não aquele silêncio de Chico, do vizinho reclamar. Mas, um silêncio maravilhosamente barulhento.

Em cada canto da casa vemos cheiros, escutamos sons, ainda na geladeira os gostos se misturam. É verdade, todos se foram para suas vidas: Polary para Mossoró levou Sanara(nora) Aléssia e Enzo (netos), além da caçula Larissa – que em meu teclado sinto suas digitais, pois, enquanto soavam gargalhadas, choros, gritos, músicas ela fazia um trabalho da faculdade, na corrida para recuperar o tempo de greve -; Felipe(genro) deu meia-volta com Pollyanne e Valentina – o mais novo membro da família – para Avenida Airton Sena; Roberto e Jade bateram asas para Nova Parnamirim. ficamos eu e Maria, Maria e eu e a casa vazia.

Mentira: a casa não está vazia e também não estamos sós. A casa está cheia, “esborrotando” de saudades, isso sim. Saudades de sexta-feira e sábado. Sós, nunca. Há pouco ouvi Valentina(beatlemaníaca), em cantinho da minha mesa, rindo ouvindo Beat Bugs, sucedido por Enzo que exibia seus dotes de cineastas tendo a Newton Navarro em seu foco e Aléssia me pedindo dicas de desenhos. Então como poderíamos dizer que estamos sozinhos, se estamos transbordando de saudades que irão nos alimentar até a próxima reunião?

Sem falar dos outros sons, que agora escorrem pelas minhas bigornas e estribos que veem da mesa principal, onde falávamos de política, futebol e religião. É meu filho, em nossa república todo mundo é bamba em democracia. Tem evangélico, católico, Kardecista e outros que não pagam dízimo; tem quem pense mais a esquerda e outros um pouca à direta; tem Fla…(esse mesmo que você pensou) Vascaíno, abcdista e, se procurar bem direitinho é capaz de encontrar um americano na moita e, claro, botafoguense. Falamos de Estados Unidos e Europa, mas isto é outra história. Em verdade vos digo, foi muito samba, muito choro e Rock’In Roll. Entretanto, o que mais existe, de fato, neste micro-universo, é respeito carinho e muito amor. Filhos meus, já estou com saudades.

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