“Lá,lá,lááá,lá…Lá,lá,lááá,lá ou Hallelujah





Nós, os latinos somos um povo que falamos não só com o conjunto bucal, mas também o nosso corpo todo expressa uma carga de sentimentos e desejos. Gostamos do contato físico, do afago, de um aconchego, um cafuné, um abraço. É impossível e totalmente inaceitável encontrar um amigo e não oferecê-lo um abraço e ainda, dentro dele uns tapinhas nas costas, como reafirmando, que aquele encontro é generosamente prazeroso e feliz. “O melhor lugar do mundo é dentro de um abraço”, diz a banda Jota Quest, numa feliz inspiração em sua música Dentro de Um Abraço. Não poderia ser mais precisa e real tão bela frase.

Entretanto, nestes tempos de medo e pandemia, um desalmado vírus nos impôs compulsoriamente o isolamento social. Nos separando fisicamente dos amigos, dos filhos, netos e parentes, trancafiando e condenando todos nós à solidão, de noites sem luar e dias sem calor. Diz Zeca Baleiro que anda tão à flor da pele que qualquer um beijo de novela o faz chorar. Ora, Zeca meu amigo, eu choro até assistindo MMA. Sou chorão por nascença.

Devo confessar que tenho chorado pra cachorro, principalmente, de saudades dos netos, os quais são nossa alegria de vida, são eles que enchem a casa ocupando todos os espaços, espalhando luz e vigor por todos os lados, quando estão o silêncio rende-se a algazarra. Há uns quinze dias toca meu telefone, era minha filha Pollyanne – mãe de Valentina – dizendo pra eu sair na janela, que Valentina tinha pedido a Felipe – pai dela -, para ver vovô “Bito” e vovó “Totorro”, pois estava morrendo de saudades. Quase não a vi, por causa das águas que jorravam dos olhos. Neste sábado,19 de dezembro de 2020, foi Lívia, filha de Jade Brito/Roberto, que a menos de dois metros nos oferecia seus abraços e, ante as nossas recusas, sem entender ela sorria e cantava “Lá,lá,lááá,lá…Lá,lá,lááá,lá. Ah! Vírus maldito, maldito seja vírus ruim, sem coração. 

Porém, para restabelecer minha esperança, como não sei rezar, canto. Todos os meus netos têm uma música, para que possam permanecer próximos, mesmo em Santiago do Chile ou nas Quintas, no Serrambi ou a quatro quadras da minha casa, no Barcas, quando a saudade bate ligo o player. 

Kaylanne minha neta mais velha, quando começou a aprender tocar violão gravou um vídeo dedilhando “Parabéns, pra você…” Portanto, se um dia eu cantar “Parabéns, pra você”, fique certo estou lembrando dela; Aléssia “Puro e Simples”, uma linda música gospel. Certa vez no carro ouvíamos Aleluia e Enzo com uns dois anos começou a cantar, logo se apropriou; Valentina, ainda criança com uns dois anos – hoje, com 4, mas acredita ter 15 -, cantava João e Maria e dizia Vovô “bito” e Lívia quando antes da pandemia, com poucos meses de vida Maria balançava ela para dormir cantarolando Aleluia, na base do “lá, lá, lá”, hoje ela nos embala e dispersa nossas saudades, via vídeo, cantando “Lá,lá,lááá,lá…Lá,lá,lááá,lá!”

Brito e Silva – Cartunista e avô.

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