Minha singela homenagem à mulher, no seu Dia Internacional.
Sempre que miro uma oportunidade, não me furto em dizer da sorte que tenho de viver rodeado por mulheres, aliás, delas me permitirem orbitá-las.
Todos os dias, com elas, sou aprendiz. O quê seria de mim sem elas?
Quando penso em gritar, elas me doam silêncio,
Quando ponho o elmo à guerra, elas me falam de paz.
Quando, de joelhos, penso em desistir, elas me mostram o alvorecer.
Quando a iria me ferve o sangue, elas me dizem serenidade.
Quando as lagrimas minam dos olhos, elas me mostram o sorriso.
Quando choro, Elas me oferecem colo!
Então, por que ainda as ferem?
Por que ainda as batem?
Por que ainda as matam?
Por quê?
Diga, por quê!!!
Lutem, protestem, gritem! Gritem alto, gritem para todo mundo ouvir. Diga pelos 5 mil alto-falantes que vocês ainda são xingadas, humilhadas, estupradas, apanham e até são mortas, por homens – que na verdade não gostam de mulher -, que em nome de um “poder” masculino praticam tais atrocidades.
Que me perdoem estes “machões” que não gostam de mulher. Mas, este maravilhosamente belo ser, aparentemente, – por pura humildade -, frágil, é fundamental!
Obrigado à mulheres que passaram e estão em minha vida. As minhas três mães, minhas três irmãs, minha mulher Maria; minhas filhas: Pollyanne, Jade e Larissa; netas: Kaillany, Aléssia e Valentina; Nora: Sanara.
Meus dias, certamente são mais luminosos com vocês!
O escritor peruano Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura de 2010, é um dos mais lidos escritores hispano-americanos da geração dos anos ’70 do século XX. Embora menos talentoso e carismático, ele pode ser considerado uma versão direitista de Gabriel Garcia Marquez. Sim, Vargas Llosa tem aliado a sua atividade literária com a militância política, que começou no campo socialista, em sua juventude, quando apoiava entusiasticamente a Revolução Cubana, porém, mudou a direção para o lado liberal-conservador e chegou a concorrer à presidência do Peru, em 1990, pela coalizão liberal de direita Frente Demócrata (FREDEMO), em que venceu o primeiro turno, porém, perdeu a eleição no segundo turno para Alberto Fujimori. Desgostoso com o veredito das urnas, deixou sua pátria e obteve a cidadania espanhola em 1993, onde até se tornou um dos pares do Reino da Espanha, agraciado que foi, em 2011, pelo rei Juan Carlos I, com o pomposo título de nobreza de Marquês de Vargas Llosa.
Na militância política cada vez mais conservadora, Vargas Llosa tornou-se um autêntico e não menos chato boquirroto, mesmo porque há sempre seletas plateias e importantes veículos da mídia mundial dispostos a ouvir o que diz alguém que tem o poderoso charming de manter na prateleira uma dúzia dos prêmios literários mais importantes, à frente o Nobel de Literatura. Assim, o Marquês de Vargas Llosa aproveita o prestígio e ‘desce a chibata’ conservadora ao analisar, sobretudo, os altos e baixos da volátil política sul-americana.
Aliás, como pensador político estaria a anos-luz atrás do peruano, um nobre inca, na verdade, chamado Felipe Guamán Poma de Ayala (1534–1615), que escreveu em forma de carta ao rei espanhol Felipe III, entre 1600 e 1616, com inimagináveis 1.180 páginas de texto manuscrito com 397 desenhos de ilustrações, intitulada El primer nueva crónica y buen gobierno (A primeira nova crônica é bom governo), que se constitui o mais importante libelo contra as atrocidades dos colonizadores espanhóis na América. Lastimavelmente, a crônica nem chegou a ser lida pelo soberano espanhol, que certamente não daria qualquer importância ao escrito de Poma de Ayala, porquanto o manuscrito desapareceu no percurso para a Espanha. Muitos anos depois foram encontrados os originais que hoje fazem parte do rico acervo da Biblioteca Real da Dinamarca. A leitura dessa crônica faz de tudo que escreveu o Marquês de Vargas Llosa ridículos espasmos literários e do seu autor um liliputiano em dignidade e amor à terra em que nasceu. Certamente, Poma de Ayala jamais seria um par – barão, conde ou marquês – do reino sanguinário que conquistou seu país e escravizou o seu povo.
Doutra parte, em recente artigo escrito para o jornal El País, da Espanha, e replicado, claro, pelo O Estado de São Paulo, referindo-se à atuação do juiz Sérgio Moro, esse novo herói de todos os conservadores, direitosos e direitistas de carteirinha, daqui e de alhures, afirmou o Marquês de Vargas Llosa, entre outras tolices: “É um milagre que continue vivo”. Somente uma mente politicamente tosca pensaria desta maneira. Ao dizer isso, ele nada mais faz que uma leitura da polêmica atuação do juiz Moro sob o prisma de algumas das novelas de estilo policial que escreveu, inclusive com a característica de uma sempre exagerada dramaticidade.
O escritor (ex)peruano não dá ponto sem nó: busca na discussão de polêmicos temas políticos sul-americanos extravasar as frustrações que adquiriu na militância da política peruana. A complexa ‘trama’ da Operação Lava Jato e seus múltiplos efeitos e desdobramentos lhe cai como um luva, enquanto mote para estéreis polêmicas e invectivas descabidas. Nesse caso, é ridícula a sua intervenção, sobretudo, por demonstrar enorme desconhecimento da realidade brasileira, ademais de usar modelos já superados e inservíveis para analisá-la. Óbvio que, do alto de sua fama ‘nobelesca’ e nobiliárquica, pode escrever o que lhe ‘der na telha’, todavia, nada igualmente impede de ser refutado até mesmo por poucos conhecidos escribas provincianos.
A propósito, tome-se como exemplo a sua obra ¿Quién mató a Palomino Molero? A oitava novela de Vargas Llosa, publicada inicialmente em 1986, narra um acontecimento aparentemente desvestido de maior importância incursionando não apenas no terreno obscuro da natureza humana, mas, também, revisita cenários passados da política do Peru dos anos 1950, marcados pela corrupção no mundo da política, pelas práticas autoritárias de gestão do Estado e pelo predomínio de uma elite nativa em nada distante da crueldade e violência com que os espanhóis ensanguentaram os Andes peruanos, no século XVI, em busca de ouro e prata, quando ao lado de milhares de mortes se destacou o martírio do rei Túpac Amaru I (1545-1572), último rei inca da dinastia rebelde de Vilcabamba, perversamente assassinado pelo conquistadores espanhóis mesmo após lhes entregar um rico tesouro destes metais preciosos: depois de barbaramente torturado foi queimado vivo. Com Palomino Molero, tenente da Força Aérea peruana encontrado morto numa base militar, personagem de Vargas Llosa, não foi assim tão diferente em tortura e assassinato, à exceção do fogo. Num transcurso cheio ambiguidades e situações imprevisíveis que desviam o rumo de quem seria o culpado pelo crime, o leitor é levado ao desenlace da trama apontado na investigação policial que se seguiu. Sem dúvida, uma bem construída e instigante narrativa.
Inegável que Vargas Llosa é um grande escritor e como tal conhece o apelo popular dos folhetins, sobretudo, algumas das corriqueiras fórmulas de sucesso folhetinescas, como é o caso do açulamento da curiosidade das massas para saber quem teria sido o assassino de certa personagem na trama novelesca. “Quem matou Odete Roitman?”, foi a indagação feita no final da novela global “Vale Tudo” (1988-1989), de Gilberto Braga, que eletrizou o Brasil por muitos duas e mexeu com a cabeças de milhões de telespectadores da “Vênus Platinada”, ou seja, dois anos após a publicação do livro de Vargas Llosa. Talvez isto não tenha sido mero acaso, mas, uma inspiração, no mínimo, intertextual, para usar a categoria forjada pelo filósofo russo Mikhail Mikhailovich Bakhtin, o teórico fundamental da linguística e da literatura. Em linguagem mais simples: Llosa pode ter inspirado Braga no uso dessa eficaz e ardilosa ‘ferramenta’ literária.
Com efeito, na fórmula de Braga – do “quem matou?” – segundo Nilson Xavier, o “objetivo é claro: gerar algum burburinho para despertar a audiência adormecida da novela. Ainda que o recurso seja visto como ‘golpe baixo’, uma vez que já foi usado à exaustão” (disp. em < http://bit.ly/2lJauG5 > acesso: 20 fev 2017). Bem, de todo modo é um subterfúgio que, nos folhetins da teledramaturgia tupiniquins, sempre tem dado certo para incitar a curiosidade das pessoas e aumentar os índices de audiência das telenovelas fracassadas e insossas (só Gilberto Braga já usou – e abusou – desse recurso em cinco das telenovelas que fez na Rede Globo…). Transposto para o ambiente mais nobre da literatura, o artifício também desperta grande interesse e não é menos chamativo. Por isto que com o “Quem matou Palomino Moleiro?”, de Vargas Llosa, não foi diferente: um absoluto sucesso, tanto que, editado em mais de trinta outros idiomas, além do espanhol, vendeu milhões de exemplares no mundo inteiro.
No entanto, é especulação barateira e descabida essa de Vargas Llosa sobre o “milagre” de o juiz Sérgio Moro ainda não ter sido assassinado. O problema é que ele, do alto de seu marquesado nos enxerga, a nós brasileiros, como nativos de uma inarredável Banana Republic. Ele não sabe que o Brasil não é mais aquele que conheceu quando das pesquisas do seu “A guerra do fim do mundo”, em que narra o episódio de Canudos, sempre na segura trilha de Euclides da Cunha (ainda prefiro mil vezes Os sertões que o romance de Llosa…).
Pois é, senhor Marquês de Vargas Llosa, o Brasil tem mudado muito, de modo que resolvemos nossas querelas dentro dos marcos da legalidade. Quem mataria (ou mandaria matar) o juiz Moro, o ‘espadachim’ da Lava Jato? Idiotice! Na condição de pessoa que vive num país com alto grau de violência urbana ele pode até ser vítima de ato criminoso, um assalto ou outro tipo de agressão, como têm sofrido muitos outros cidadãos deste país. Agora, em razão de sua atividade profissional de magistrado, sobretudo, de sua atuação frente à “Operação Lava Jato” essa especulação é uma enorme besteira.
Ora, mesmo aquelas pessoas ou grupos que se ressentem da atuação do juiz Moro devem saber que, hoje, se ele “levar uma topada” o Brasil pegaria fogo. Por outro lado, tirá-lo dos processos que envolvem ex-executivos da Petrobras, doleiros, empresários e políticos, envolvidos numa das mais intricadas redes de corrupção que se tem notícia no mundo, seria outra grande besteira: quem o substituísse dificilmente faria diferente do que ele faz e, portanto, as prisões provisórias e as severíssimas condenações seguiriam seu curso normal. Em resumo, seria isto outra “burrice esférica”, como resumiria o meu amigo juiz Assis Amorim, que faleceu recentemente. E a burrice é esférica, segundo definia com argúcia Amorim, quando se manifesta em todos os ângulos e pontos; onde quer que se toque, ela é burrice absoluta e irritante.
Ao que parece, somente uma prodigiosa mente novelesca conceberia matar um juiz para dar cabo ao processo. As nossas elites podem ser corruptas e perversas, ainda, mas, já ultrapassaram o estágio da violência rasteira “do tempo dos coronéis” e seu jagunços implacáveis. Claro, não se pode aconselhar ao Dr. Moro que relaxe com sua segurança pessoal e ande desabridamente nas ruas de sua Curitiba ou em qualquer outra grande cidade brasileira: a qualquer instante, estrela global que é, ele pode ser reconhecido e como tal agredido por algum maluco do tipo Mark David Chapman, o esquizofrênico que matou John Lennon, em 8 de dezembro de 1980, apenas para se tornar (tristemente) célebre.
Em resumo, esse besteirol do Marquês sobre o juiz Moro é exagerado, caviloso e sem fundamento. Certamente, impõe o costume republicano absoluto respeito à vida e à dignidade da pessoa humana: que viva em paz com sua família o jovem juiz Sérgio Moro, até quando a natureza lhe permita viver, goste-se ou não do seu agir profissional. E que tenha todo o tempo do mundo para refletir sobre o que fez ao seu país, para o bem ou para o mal. No mais, com toda essa baboseira parece até que Vargas Llosa deseja mesmo é escrever uma sequência da sua novela anterior, com um título mais ou menos assim: “¿Quién mataria a Sergio Moro?” E venderia muitos exemplares em diversos idiomas. Por isto, ao aproveitador e falastrão Marquês de Vargas Llosa, é essencial dizer: vire a boca para lá, urubu-da-asa-quebrada! Vai agourar noutro lugar! Arre!
P.S.: quem leu este artigo achou o título muito forte. Claro, nem de longe é um desejo ou tentativa de vaticínio. Por precaução usei o futuro do pretérito mataria para imprimir a marca da condicionalidade. Por fim, apenas usei o poder da técnica do “quem matou?” Imortalizado por Vargas Llosa e abusivamente usado pelo telenoveleiro Gilberto Braga. Se você lendo chegou até aqui, o artifício foi eficaz mais uma vez.
Não sou lá um romântico à moda antiga, daquele tipo que ainda manda flores, apesar da velha calça desbotada, e esta, sempre foi uma cobrança de minhas namoradas de infância, adolescência e a atual – que está comigo há 31 anos, lembro quando dizia: Eu te amo! Nos seus olhos, eu percebia a exigência de um retorno positivo, então respondia: idem! “-. Talvez isto, até seja um dos meus grandes defeitos.
Porém, nada de machismo não. Apenas, acreditava (creio ainda) que Amor, o “Eu te amo” tem uma certa sacralidade e lhes são resguardados uma não vulgaridade, basta sentir e pronto! Exprimi-lo, somente em momentos de terna simplicidade, sem exibição. Lembram do “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão?” É por aí. Por falar, em Amor, o quê andam falando em vão, principalmente as religiões, é um carnaval.
Como qualquer cristão – que ainda não tem a posse carimbada e certificada da salvação -, entre as centenas de pecados que me pesam os ombros, um deles era dizer que não gostava da “invenção do diabo, que Deus abençoou”, o carnaval. Mesmo na adolescência me recolhia ao baralho de cartas com Cicciolina.
O grande Lima Barreto disse que “O carnaval é a expressão da nossa alegria”, amparado no dito do Lima e, hoje, com 5.6, certamente vejo esta exuberante manifestação popular com outros olhos. Se é isto mesmo, então, às purpurinas, ora, que sejamos alegres.
Consciente, fiz como fazem muitos “caba macho” que durante o ano se estapeiam, se esfolam e até se matam nos estádios de futebol, e quando chega fevereiro revelam-se noivas, fadas e bruxinhas, também revelei-me assumi pronto, falo: Eu amo carnaval!
Nunca duvidei da força da palavra, mas também nunca pensei que emitir apenas três palavrinhas, me fizesse parecer ter tirado o fardo de Sísifo das minhas costas. Credito a negação do amor – neste caso não é sacrilégio e muito menos vulgar – que sentia e sinto pelo carnaval à minha precoce rabugice. Sem medo somar pecados à minha robusta lista, digo e repito “eu amo carnaval”, principalmente, se estiver no mínimo, a uma centena de quilômetros de minha casa. Quanto maior a distância, mais meu amor se torna infinito. Viva Momo!
Em várias oportunidades e lugares diversos, externei meu irrefreável desacordo com o modelo da Suprema Corte brasileira desenhado na Constituição de 1988, seja tocante à sua indefinição institucional, sobretudo, por ser um misto complicado de corte de jurisdição comum, ‘chave de abóbada’ (Clé de voûte) do Poder Judiciário, em caráter extraordinário, e de jurisdição constitucional, na tarefa de controle concentrado de normas e desempenho do pomposo mister de “Guardiã da Constituição”.
Critica-se, com razão, o método como o Supremo Tribunal Federal decide em que enfatiza a personalização dos julgados, na figura do relator, em detrimento daqueles construídos pelo coletivo de juízes da Corte, a exemplo do que ocorre nos melhores tribunais constitucionais europeus, à frente a Corte de Karlsruhe, que é o Tribunal Constitucional da Alemanha (Bundesverfassungsgericht, na língua de Goethe), nos quais as decisões expressam o tribunal e não apenas resultam da atuação individual de seus juízes. No STF, os seus juízes (ditos “ministros”) tanto podem decidir individualmente – as decisões monocráticas -, quanto em colegiado, mas, mesmo nesta última hipótese os julgados trazem a marca definitiva de cada relator, originário ou designado para o acórdão, no caso de vitória do voto divergente.
Causa espécie, muitas vezes, as decisões contraditórias do STF, mormente quando aplica soluções opostas para casos assemelhados, segundo a reprovável fórmula do “dois pesos, duas medidas” (estava faltando a outra aspas). Exemplo: em decisão monocrática do ministro Gilmar Mendes, entendeu o STF que o ex-presidente Lula não poderia assumir o cargo de ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, nomeado que fora pela então presidente Dilma Rousseff, pois ganharia foro privilegiado e não mais seria processado pela Justiça Federal do Paraná, o que configurar uma burla à lei. Entretanto, embora citado 34 vezes em delações da Operação Lava Jato, Wellington Moreira Franco foi nomeado pelo preside Temer ministro de Estado. Caso idêntico ao de Lula, porém, submetido o caso ao STF, o ministro Celso de Melo, decano da Corte, aplicou solução inversa: reputou como irretorquível a decisão presidencial, que Moreira Franco tinha direito, sim, ao foro privilegiado e isto não representa qualquer risco à Operação Lava Jato, mesmo porque no STF os julgamentos são criteriosos e decerto em nada inferiores aqueles das instâncias inferiores, claro. Enfim, para Lula um entendimento, para Moreira Franco, conhecido pela alcunha de “Angorá”, nos registros de propinas dadas e recebidas.
Entretanto, a crítica mais justa ao modelo desenhado na Constituição Federal se refere ao modo de como são escolhidos os onze ministros do STF. Com efeito, a escolha de cada um desses juízes depende da vontade imperial do presidente da República que, em homenagem ao sistema de separação de poderes, é submetido a uma sabatina no Senado Federal para aferição mais larga dos critérios constitucionais da reputação ilibada e do notável saber jurídico que devem exibir os agraciados com uma curul no STF. Claro, a despeito de alguns sabatinados não preencherem um ou ambos os critérios antes referidos, não há notícia de caso de reprovação nessas sabatinas senatoriais, à exceção do caso do ministro Barata Ribeiro, ocorrido no final do século XIX, a ser comentado adiante. A indicação presidencial dificilmente cai no Senado porque é raríssimo que o presidente da República não tenha ali uma base parlamentar majoritária.
Quando a escolha de ministro do STF é mais técnica – de um (tinha “uma” ao invés de um) respeitado e respeitável jurista em saber jurídico e probidade – as críticas são inexistentes ou poucas; quando é uma escolha ‘política’ o alarido midiático é sempre maior. Claro, apenas teoricamente, qualquer cidadão brasileiro nato maior de 35 e menor de 60 anos, no gozo integral de seus direitos, pode ser indicado ministro de STF, mesmo alguém que não tenha cursado uma faculdade de direito, mas, pela vivência, demonstre ter notável saber jurídico e reputação ilibada. Houve um caso: o médico Cândido Barata Ribeiro, foi nomeado pelo “Marechal de Ferro” tupiniquim, Floriano Peixoto, em 23 de outubro de de 1893, ministro do Supremo Tribunal Federal, sem ser bacharel em Direito, porém, em 24 de setembro de 1894, o Senado negou aprovação ao seu nome porque o parecer da Comissão de Justiça e Legislação considerou que ele não atendia ao critério do notável saber jurídico. Mesmo assim, ainda passou onze meses como ministro do STF, no pleno exercício do cargo, sob a proteção do seu poderoso padrinho: era notório o desdém que o Marechal Floriano Peixoto devotava à Corte suprema do Brasil, a ponto que, informado de que o advogado Ruy Barbosa impetrara no STF um habeas corpus em favor de vários oficiais-generais presos por sua ordem, indagou, entre sorrisos de menosprezo, sobre quem concederia habeas corpus em favor dos ministros do Supremo Tribunal Federal!…
Recentemente, a indicação feita pelo presidente Michel Temer do seu ministro da Justiça, Alexandre de Morais, para a vaga do ministro Teori Zavascki, vem causando muitos comentários negativos que, de modo genérico, se resumem nas assertivas de que lhe faltariam ambos os requisitos constitucionais do notável saber jurídico e da reputação ilibada, o que não deixa de ser um exagero. De princípio, cabe aludir que a indicação é prerrogativa exclusiva do presidente da República e que enfrenta apenas o óbice da aprovação pelo Senado Federal. Uma das críticas trombeteadas pela mídia nacional se refere à grave acusação de que Morais plagiara trechos de obra de jurista espanhol em um dos seus livros, merecendo restrições, também, o exercício de cargos de indicação político-partidária, em São Paulo.
Fato é que, no mínimo, há mais de quatro centenas de juristas brasileiros que estariam até em melhor posição, nestes dois critérios, que Alexandre de Morais, todavia, não contam com o poderoso e decisivo beneplácito do presidente da República que, pelas enormes prerrogativas que enfeixa em suas mãos bem que poderia envergar, hoje, aquele que no passado serviu como dístico ao soberano francês Louis XIV, o “Rei-Sol”: Nec pluribus impar. Literalmente, “não desigual a muitos” ou, numa tradução bem livre da língua de Cicero, “acima de todos os homens”…
Por fim, duas coisas em favor do novo ministro: tendo em vista os critérios constitucionais já tão referidos, ele certamente é melhor dos que algumas dezenas de outros ministros que já passaram pelo STF e, em segundo, é balela essa história de que sua indicação seria parte de um plano para deter a Operação Lava Jato que, no STF, já tem um relator, além de estar sob os holofotes da grande mídia brasileira, de modo que a chegada de Alexandre de Morais pouco vai influir no resultado. No mais, o que conta mesmo é a tarefa inadiável de um redesenho da estrutura e do funcionamento do Supremo Tribunal Federal, com ênfase na adoção de um método de escolha de seus juízes que confira um maior grau de legitimidade política, com a redução do poder presidencial nessa indicação e permita a participação de outras instituições do Estado e da sociedade brasileira. E pode evitar outros supremos vexames.
Pessoas circulam sob a ação de qualquer força motriz
pelas estradas atulhadas, de transporte, gente, animais.
Hoje uma Índia no meu nordeste.
Trinta anos atrás era tão belamente pequena e modesta.
Conta à história que muita coisa foi deficiente
testemunhei algumas, outras só ouvi,
delas me fiz presente na labuta
algumas vezes desenhei, outras até escrevi.
Caminhar madrugada afora
Pois, essa era hora da voltar ao trabalho,
parando aqui e ali: namoro, história, estórias,
regada a gargalhadas e cervejas.
Volto e quase nada encontro,
meus jornais já não existem,
não sinto mais o cheiro da tinta,
a paz daquelas madrugadas foi roubada.
Minha cidade cresceu, população nova.
Cruzo com gente e não sou reconhecida:
amigos, ruas, calçadas, todos mudaram.
Só o seu calor ainda aconchega a gente.
Muitos anos aqui vivi, tanta gente conheci
andei por lugares longínquos, em jornais.
Porém, seu cheiro e calor nunca encontrei igual.
Regressa à minha cidade é menear à memória.
Buscar em cada cantinho um fragmento,
uma lembrança, uma estilha daquele tempo.
A realidade daquilo tudo ficou gravado
na carne e na vida que dorme comigo.
Arquejando seus últimos suspiros, 2016 teima em não descer a sete palmos, parece nos jogar na cara um aviso de apelo convincente e desesperado, suplicando para que nós não o esqueça, e quem poderia fazê-lo?
De fato, 2016 não foi generoso – nem será de fácil esquecimento- , com o Brasil, aliás, com o mundo. Perdemos figuras importantes da fauna humana global, guerras se intensificaram, eleições inimagináveis em tempos menos turbulentos, sem falar dos imigrantes e refugiados sírios que perambulam ao léu em terras do velho continente, expondo a indiferença e indecência da poderosa Europa em não ter uma resolução definitiva para o problema.
Aqui, na aldeia, Tupã, com vergonha nos deu as costas. Afirmar que sofremos um golpe “branco”, que a democracia foi ferida seria chover no molhado. O certo é, nossas feridas ainda levarão algumas décadas para sarar (se é possível). Listar os desacertos e mazelas contidos nos 365 dias de 2016, levaríamos no mínimo mais de légua e meia (bem contadas).
Entretanto, farei uma defesa desta pequena fração de tempo, no campo pessoal. Puxando a brasa para minha sardinha, 2016, a mim, foi muito bom, quer dizer, foi ótimo: Me dei ao luxo de fazer uma limpa, descartar pessoas e clientes que não poderiam me acrescentar nada, no plano financeiro e muito menos ainda no humano; dei um “chega pra lá” no embuste de ser seguidor de Kenneth H. Cooper; assumi meu lado sedentário e, hoje, me dou ao desplante de comer um pão francês recheado com uma farta tora de queijo coalho; fui apresentado a rede social espanhola www.bebee.com a qual fiz generosas e valiosas amizades (Javier, Juan Imaz, Tifany Rodio e Marcos Vinicius Fernandes Ferreira; recebi velhos e bons amigos em minha choupana e sem dizer que meus filhos, apesar de todos, terem sentido as mesmas dores de 2016, estão todos com saúde e felizes.
Ah! Minha fortuna pessoal cresceu! Somou-se, Valentina, minha neta, o mais novo membro da tribo Brito. Com Maria Socorro de Oliveirative duas arengas e meia (de três segundos cada), por causa (e quase sempre) do exagero de exercícios que faço dias a fio no controle remoto da televisão, então, fui feliz sim, em 2016.
A 2017, que venha e não seja tão carrancudo quanto seu antecessor!