Artigo

0

Trem Azul

Ontem(22), o Feice do jornalista Lindomarcos (que faz um trabalho muito interessante mostrando ex-alunos do Colégio Estadual, o Jerônimo Rosado de Mossoró/RN. Até lhe sugeri transformar em livro), publicou uma foto, daquela que foi a Mais Bela Estudante, por diversas vezes do Colégio Estadual e, nos desfiles cívicos de 7 e 30 de setembro, saía puxando um pelotão, com um zelo de uma porta-bandeira da Portela, era ela, minha Maria (que até então não sabia que seria minha eu, menos ainda). 

Fui arremessado para os anos 70, na esquina das ruas Augusto da Escóssia e Afonso Pena, em frente a casa de Cizinho, onde nós improvisávamos um campo de futebol e ali, passávamos boa parte da tarde, e só parávamos para algumas autoridades passar: Major Bezerra, que morava na Augusto da Escócia, caso a gente não suspendesse a partida de futebol ele tomava a bola. Aliás, se visse a bola tomava e, para ela, quando ia para o Colégio Estadual, momento raro e único de vê-la. 

Já adolescentes e morando na mesma rua, Augusto da Escóssia, já trocávamos alguns olhares irremediavelmente inocentes e despretensiosos, sem saber o que nos reservava o tempo – sempre ele, o tempo -. Amadurecemos, viramos adultos e seguimos viagem, cada um para seu lado.

Nos anos 80, trabalhamos no Edifício Cidade do Natal, no mesmo andar. Eu no jornal Estilo, do jornalista Toinho Silveira, que tratava de moda e do mundo social da Capital do Sol, Natal/RN e ela numa agência de modelos, Por minhas mãos passavam centenas de fotos de modelos para publicação, no entanto, nunca nos encontramos nem eu vi uma foto sua.

Quisera o destino nos juntar, em Mossoró/RN, no jornal Gazeta do Oeste, no ano de 86 e, lá se vão 33 anos dividindo sonhos, angustias, tristezas, alegrias muitas, enfim, a vida e um monte de filhos e netos.

Hoje, quando olho para trás, só me resta agradecer pelo que fomos, somos e estamos dispostos a continuar seguindo num Trem Azul. 

Feliz a Aniversária, minha Maria.

0

…Tê-los!

Eu e meu velho pai, seu Luiz, o qual me dá um orgulho danado de ser seu filho.

No Poema Enjoadinho, o poetinha Vinicius de Moraes, expressa, uma secular questão:

Filhos… Filhos?
Melhor não tê-los!
Mas se não os temos
Como sabê-los?

Sabiamente, a pergunta trás embutida a resposta, nos direcionando ao “melhor tê-los para sabê-los”, nos fazendo fugir do martírio pela eternidade da síndrome do epitáfio: “Eu devia…”. Assim sendo, ouvindo Vinicius, Chico, Caetano, Raimundo Fagner, Belchior, João Bosco fui fazendo filhos, todos sob a luz do sejam bem-vindos que serão amados quanto.

Com saber do meu primogênito, Polary que veio do Chile, para me ver? Como saber de Aléssia, sua filha, minha neta, que ora começa os primeiros passos no desenho? Como saber de Enzo, também seu filho, ligando de Santiago, com seu “Bom dia vovô Brito”? E, realmente transforma meu dia.

Como saber de Valentina (3), filha de Pollyanne me acordando em uma segunda-feira, nos intimando a ir com ela e a avó, ao cinema?

Como saber de Kaylanne, quando pequeninha, em suas visitas de sábados, deitava-se entre mim e avó, me mandava ficar de costas, se recostava nelas e dormia? 

Como saber de Lívia, em pô-la sobre meu peito, sentir o pulsar de seu pequeno coraçãozinho em um sono dos anjos?

Eu sei! Sei de Polary, que me enche os olhos com sua disposição e coragem de enfrentar a vida destemidamente, sem as lamúrias dos covardes; sei de Pollyanne e seus passos firmes, milimetricamente regidos pela ética e apego a solidariedade ao bem-comum dos povos e à família; Sei de Jade, que costuma repetir que a “ignorância é uma benção” e, sentindo as dores do mundo, tendo uma visão apaixonada pelas causas perdidas, mas que merecem ser lutadas; Sei de Larissa, minha caçula e bióloga, que lá de Mossoró, passamos hora a fio, em longas conversas de diversos assuntos, dos quais aprendo muito.

Eu sei. Não faria nem mais nem menos do que tenho. Eles me bastam, não caibo em mim de tanta alegria de tê-los, sabê-los e sê-los.

Ao meu velho e querido pai toda minha gratidão e amor, pois, todos somos frutos do seu “tê-los”.

Feliz Dia dos Pais.

Brito – filho, pai e avô.

0

A MORTE DAS LITURGIAS

Paulo Afonso Linhares

            Em alentado estudo sócio-antropológico (inAntropologia Estrutural. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1970), o pensador francês Claude Lévi-Strauss alerta  para as diferenças entre o que  chama  de mito  e  o que entende por  ritual, quando afirma que enquanto este  é  “o modo  pelo  qual as coisas são ditas”,  os mitos seriam apenas, mas, não menos importantes,   “o que  dizem as palavras”. 

            O mais significativo é que, para Lévi-Strauss (p.603), os mitos se servem dos  rituais  para terem existência real, no mundo da práxis.  Invocando a permissão desse grande teórico que deu efetiva  contribuição para a sedimentação de estudos antropológicos e sociológicos de matriz brasiliana, é de mister introduzir outra categoria para tratar de temas políticos-institucionais: a liturgia. Sim, liturgia em sentido diferenciado daquele que lhe é tradicional e que se refere aos rituais de cunho religioso (liturgia católica, liturgia anglicana etc.). 

            Sim, definitivamente as boas práticas políticas seguem, no chão republicano e democrático, típicas ‘liturgias’ que se sedimentam a partir de usos e costumes políticos de cada povo e em diversas  latitudes. Veja-se, por exemplo, o costume que a Revolução Parlamentarista inglesa (século XVII), impôs à família real britânica: não se envolver na administração do Estado, nem sequer tratar em público de temas políticos. 

            Por isto que, a despeito de todo o transe político vivido atualmente pelos britânicos com essa lenga-lenga do Brexit, a família real britânica não se pronuncia sobre a permanência ou não do Reino Unido na União Europeia. Essa questão vai ser decidida pelo Parlamento e até já custou a cabeça da primeira-ministra Theresa May.  

            Então, Qual a posição da vetusta e amada Rainha Elizabeth II (66 anos como chefe de Estado!), ou de seu consorte, o príncipe Phillip (um boquirroto reconhecido), ou do príncipe William, a aposta mais concreta de se tornar o novo monarca britânico? Nada, mesmo os mais tenazes tablóides sensacionalistas ingleses conseguiram publicar algo que valha como posicionamento sobre o Brexit. A velha liturgia é seguida à risca, para preservar o sistema político, aquilo que os próprios ingleses chamam de “establishment”. Ao que parece, não disseram a Bolsonaro que, a despeito de HRM Elizabeth II  não dar entrevistas, não participar de debates na TV e não emitir opiniões nas redes sociais nem fora delas, continua a ser uma quase unanimidade em meio a seus tantos súditos.

            Diante da tentativa do Congresso Nacional lhe tirar a prerrogativa de nomear os dirigentes das agências reguladoras, o presidente Bolsonaro esbravejou: “Querem me deixar como Rainha da Inglaterra”. Dito isso, ele foi, no mínimo, grosseiro com a chefe de um (poderoso) Estado estrangeiro com o qual o Brasil mantém fortes laços políticos e econômicos. Uma inegável quebra de liturgia: os costumes políticos dos ingleses deveriam ser respeitados.

            Noutro episódio recente, um atabalhoado presidente Bolsonaro, em viagem oficial à vizinha Argentina, se imiscuiu na política interna dos “hermanos” e deu apoio à reeleição do desastrado Mauricio Macri, cujo governo tem sido um monumental fiasco econômico e político. Imagine-se uma derrota – nada improvável – de Macri nas eleições que se avizinham? Como o Brasil vai atuar diante da Argentina, nosso vizinho, parceiro importante e um dos pilares do Mercosul? Certamente, nesse cenário de possível vitória peronista, o Brasil terá muitas dificuldades. Sem dúvida, mais uma quebra ridícula da liturgia que imanta as relações internacionais brasileiras com as nações amigas.

            Outra babaquice caipiresca do atual inquilino do Palácio do Alvorada: empolgado com a participação no encontro do G-20, em Osaka, Japão, Bolsonaro disse que Donald Trump é “muito querido pelo povo brasileiro”, o que é uma enorme inverdade. E fechou por expressar o seu irrestrito apoio à reeleição do “Tangerine Man” à presidência dos EUA. Isso seria algo até para ser dito em “pétit comitê”, jamais para divulgação na mídia mundial. E se Trump der um “escorrego” e não se reeleger para a presidência dos EUA? As pesquisas de opinião, nos Estados Unidos da América, são vacilantes: à reeleição de Trump é, ainda, uma incógnita. Por isto, para seguir a boa liturgia das relações internacionais, o chefe de Estado brasileiro não deveria tomar partido, mesmo porque o seu apoio, neste caso, vale nada ou coisa nenhuma. E se o próximo presidente norte-americano for um democrata?

            A maneira grotesca de como demitiu o economista Joaquim Levy da presidência do BNDS, o general Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência do Brasil,  ou prometeu o cargo de ministro do STF ao ex-juiz Sérgio Moro quando sequer a vaga existe, mostram o desconhecimento de Bolsonaro da liturgia do poder. E o mais grave é que, diariamente, ele tem sido  superado, nas bobagens e bizarrices,  por seus filhos e auxiliares mais próximos.

            Outra quebra de liturgia: para aparecer como líder popular, Bolsonro se abalou de sua curul presidencial para visitar o jogador Neymar num hospital de Brasília. Até aí tudo bem, se ele não desse uma entrevista a defender as trampolinagens sadomasoquistas do moleque num hotel de Paris.  Grotesco episódio em todos os aspectos que possam ser examinados. O supremo mandatário da nação brasileira não poderia se rebaixar a tanto; deveria preservar a enorme dignidade do cargo que ocupa por decisão majoritária do povo brasileiro. E o velho Bozo desceu ao pântano. Lamentável.

            Um nível mais abaixo, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, por exemplo, tem excedido em gafes e cenas ridículas que protagoniza, como foi o caso da piada que fez a propósito da descoberta vexaminosa, no dia 26 de junho de 2019, de que um dos aviões que servem à presidência da República, na viagem que Bolsonaro fez ao Japão, transportava 39 quilos de cocaína, após prisão de militar brasileiro, sargento da Aeronáutica, Manoel da Silva Rodrigues, por autoridades espanholas, em Sevilha. Na sua conta do Twitter, Weintraub, pensando fazer piada inteligente, disse que “no passado o avião presidencial já transportou drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?” Nada engraçado. Apenas algo, rude, desrespeitoso e vil, de quem não tem a mínima noção do que representa o cargo que exerce. Nem o seu guru, Olavo de Carvalho, chegaria tão longe.

            Bem a propósito, o general Santos Cruz, que foi comandante das forças da ONU no Haiti e no Congo, Secretário Nacional de Segurança Pública e ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência do Brasil, defenestrada do ministério de Bolsonaro após pugilato verbal com o astrólogo Olavo de Carvalho, em recente entrevista à revista Época, dá a exata dimensão do febeapá que é o atual governo da República: “Tem de aproveitar essa oportunidade para tirar a fumaça da frente para o público enxergar as coisas boas, e não uma fofocagem desgraçada. Se você fizer uma análise das bobagens que se têm vivido, é um negócio impressionante. É um show de besteiras. Isso tira o foco daquilo que é importante. Tem muita besteira. Tem muita coisa importante que acaba não aparecendo porque todo dia tem uma bobagem ou outra para distrair a população, tirando a atenção das coisas importantes”. 

            Enquanto os franceses se jactam de poder comer um queijo diferente a cada dia do ano – un fromage pour chaque jour! – nós, nestes brasis selvagens, a tirar pelo que diz o general Santos Cruz,  espantados vemos uma besteira a cada dia no governo Bolsonaro. E as liturgias do poder despedaçadas impunemente. Até quando? Tristes trópicos (Lévy-Strauss, encore)!

            Uma coisa é certa: o presidente Bolsonaro e seus principais auxiliares não se preocupam com a liturgia do poder, preferindo os arroubos ideológicos que atropelam, internamente, as difíceis relações com os outros poderes, principalmente com o Congresso Nacional. Tudo por ignorar as liturgias que imantam essas relações, o que constitui um motor de constantes crises, vexames e gafes. 

            Se trabalharmos com números, os 57,7 milhões de votos que o elegeram são bem inferiores aos 140 milhões de votos que receberam deputados federais e senadores em 2018, embora Bolsonaro e seus milicianos não faças estas contas. Por isto é que tudo deve levar em consideração a velha fórmula dos “balanços e contrapesos”, no difícil e não menos íngreme chão da democracia e dos costumes republicanos. As velhas e boas liturgias ajudariam a tornar mais seguros e curtos esses caminhos.

0

A Falácia da Reforma da Previdenciária

Paulo Afonso Linhares

            A despeito do corte ultra-liberal da visão econômica do ministro Paulo Guedes, fortemente radicado nos postulados conservadores da Escola de Chicago e no pensamento do seu principal guru, o economista Milton Friedman 1912-2006), prêmio Nobel de Economia de 1976, a sua presença na cabeça da equipe econômica do governo Bolsonaro ensejou um clima de confiança no mercado. 

            Claro, inegável que a passagem de Guedes pelo mundo das finanças, neste país, tem sido pontilhada por histórias de sucesso, sendo um dos fundadores do Banco Pactual  e de vários fundos de investimentos e empresas, o que reforça em muitos as expectativas que cercaram a sua ascensão como mentor do candidato Jair Bolsonaro que, na campanha presidencial,  se recusava responder sobre questões de economia e sempre fez vexatórias remissões ao seu “Posto Ipiranga”, como ‘carinhosamente’ tratava o seu futuro Ministro da Economia.

            Entronizado no Ministério da Economia, Guedes passou a ter poder e influência jamais imaginados por seu antecessores nos últimos cinquenta anos, inclusive, na montagem da equipe. No entanto, para desencanto de muitos, nada de novo apresentou para dar um novo ânimo à economia brasileira, passados seis meses de governo, apenas ‘requentando’ ações dos governos anteriores. E o país seguiu afundando no pântano no marasmo econômico, com projeção de uma cenário de profundas incertezas.

            O mais estranho é que o ministro Paulo Guedes, certamente para satisfazer subalternos aspectos ideológicos, se fixou na realização de (mais) uma reforma da Previdência Social como o “abre-te sésamo” econômico do governo Bolsonaro: sem ela, advertiu Guedes ao Congresso Nacional, nada poderá acontecer na economia. Enorme falácia. Bobagem mesmo.

            Ora, neste contexto uma reforma da previdência social resolve apenas aspectos secundários da economia, mormente, a busca do equilíbrio das contas públicas, porém, mantém intocados vários outros aspectos mais sensíveis e relevantes da gestão econômica: política cambial, retomada do crescimento, investimentos, redução do desemprego, aumento das exportações etc. Em si, a reforma da previdência preconizada por Paulo Guedes, se aprovada integralmente pelo Congresso Nacional sem uma vírgula a mais ou a menos, ainda assim deixaria irresolvidas as grandes questões que atravancam, hoje, a economia brasileira.

            O mais grave é que deputados federais e senadores jamais darão o que Guedes quer, até mesmo porque o governo Bolsonaro é órfão de bons negociadores com o Congresso Nacional. Isto o torna refém do bloco parlamentar conservador autodenominado como “Centrão”, que lhe tem imposto seguidas derrotas. Isto sem falar que o habilíssimo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que está cada vez mais desenvolto nas críticas a Bolsonaro, a tirar pelo comentário que fez no episódio da demissão do presidente do BNDES: um ato de enorme “covardia”. Pano rápido. Deu no osso do “Capitão”.

            Assim, a reforma previdenciária sairá diferente daquela que Guedes planejou, restando-lhe acudir a outros espectros mais relevantes da gestão da Economia. E terá que dizer a que veio, o que não fez até agora. Se não der uma repostas positiva, aprofundará perigosamente a crise econômica. 

            Óbvio que o mercado tentará ganhar com isto, todavia, aos cidadãos comuns não restará  alternativa, senão  da resignação pura e simples, bem nos moldes da lição pessimista do mesmo Milton Friedman, na introdução do sua obra “Capitalismo e Liberdade”: “Se o governo deve exercer poder, é melhor que seja no condado do que no estado; e melhor que seja no estado do que em Washington. Se eu não gostar do que minha comunidade faz em termos de organização escolar ou habitacional, posso mudar para outra e, embora muito poucos possam tomar esta iniciativa, a possibilidade como tal já constitui um controle. Se não gostar do que faz o meu estado, posso mudar-me para outro. Se não gostar do que Washington impõe, tenho muito poucas alternativas neste mundo de nações ciumentas.” 

                       Se trocarmos “condado” por “município” e “Washington” por “Brasília” teremos a dimensão do pouco espaço de manobra que resta aos cidadãos comuníssimos (nada a ver com comunista!) que somos nós, a não ser fugir para alguma dessas “nações ciumentas”. Onde, aliás, por pura precaução, não haja nenhum “Posto Ipiranga”…

0

EQUINÓCIO IRREDENTO

Paulo Afonso Linhares

            Na sabedoria dos camponeses nordestinos, o dia 19 de março em que homenageiam São José, o pai mortal de Jesus, é balizador decisivo para boa estação chuvosa e, por consequência, boas colheitas. A sabedoria popular, todavia, não é desprovida de cientificidade. O equinócio de outono, acompanhado do fenômeno da superlua, ocorreu neste 20 de março de 2019. Se chuvas ocorrem nesse dia, há uma infalível certeza de ‘bom inverno’.

            Desta feita, mal vencido o equinócio de 2019, eis que a Polícia Federal faz cumprir, em São Paulo, mandados de prisão preventiva, expedidos pelo juiz Marcelo Bretas (aquele do olhinho baixo…), do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro Wellington Moreira Franco, este também conhecido no submundo da corrupção como “Gato Angorá”.

            Claro, municiado de informações privilegiadas, o cartel da mídia brasileira revelou, finalmente, as personagens que faltavam nessa ópera bufa cuja cena única era, até agora, a daquele velhinho barbudo, com nome  de intragável crustáceo, que, de rigor, nem deveria estar ali.

            Enfim, cenas de uma prisão anunciada: o chefe da quadrilha do MDB vai para o xilindró. Nada a comemorar, mesmo porque tais prisões são apenas de caráter preventivo, sem qualquer culpa formada relativamente aos presos. As repercussões midiáticas  parecem evidentes, no Brasil e no mundo. De repente, aquele juiz de olhinho à Ceveró passa a ocupar o lugar que há bem pouco tempo era do draconiano juiz Sérgio Moro, hoje envergonhado ministro da justiça do capitão Bolsonaro.

             Afinal, desde que essa desavergonhada república existe, apenas dois ex-presidentes foram, com ou sem razão encarcerados, como criminosos comuns: Lula, sob o tacão do juiz Moro, e Temer, por decisão do juiz Marcelo Bretas. Sequiosa de ancestral vingança,  brasileiros de classes sociais diversas  exultam. Claro, jamais imaginam como age essa máquina judiciária que, atendendo às pautas de um empoderado ministério público, que pretendem, em conjunto, fazer um redesenho do Brasil que contemple unicamente a sua hegemonia. 

            O que poucos imaginavam é que, entre a “cutucada e a imediatidade do ‘êpa!”, o desembargadorfederalAntonio Ivan Athié, do Tribunal Federal da 2ª Região, abrisse a ‘ gaiola’ para libertar Temer, Gato Angorá  e mais outros cinco presos envolvidos na mesma investigação. Sem entrar no mérito das ‘virtudes’ judicantes do desembargador Atihé, inclusive, vários processos em que foi envolvido na condição de réu, aliás, brilhantemente absolvido em todos eles, sua decisão foi juridicamente irretorquível; julgou corretamente em se tratando de uma prisões preventivas inspiradas não nos requisitos legais incrustados no remendadíssimo Código de Processo Penal, mas, nas motivações midiáticas do juiz Bretas e dos membros da força-tarefa da Lava Jato no Rio de Janeiro.

            Com efeito, no aprofundamento da democracia, tais ‘efeitos de demonstração’ se tornam inevitáveis. Ninguém estaria acima da lei. Assim, sejam quais forem os propósitos dessa guerra surda contra o dragão da maldade da corrupção, a exultante expectativa é a de que a “velha política” seja derrotada. Será? Parece que não: a armação dos procuradores da República para arrancar 2,5 bilhões de reais da Petrobras para criar uma “Fundação Lava Jato” de cunho  privado fez cair uma pesada e não menos suspeito véu. A ação vigilante da imprensa e das redes sociais evitou fosse concretizada a ministerial falcatrua que, aliás, mereceu até o repúdio de dona Raquel Dodge, procuradora-geral da República do Brasil, que ajuizou uma ação no STF contra isso. 

            O episódio mostra as vísceras de um velho costume político brasileiro: corruptos são sempre os outros; do outro lado, somente anjos vingadores que cumprem a lei e desejam esvurmar os bulbos infectos da ‘peste vermelha’ que teria assolado o país. Balela, avassaladora hipocrisia política praticada à sombra das instituições democráticas e republicanas que avultam do seio da Constituição, em que a busca da sobrelevação dos interesses populares que traduzem, no máximo, os apetites insaciáveis das corporações que dominam a máquina burocrática do Estado, no Ministério Público, no Judiciário, no aparato de segurança e mesmo nalgumas ‘manchas’ conservadoras do Congresso Nacional. Tudo a muitos anos-luz da ideia-força de radicalização da democracia imaginada por Rosa Luxemburgo.

            Com efeito, escarafunchar o passado é fácil; difícil é conviver com o presente e antecipar o futuro. O desiderato, agora, é adular os patrões da Wall Street, a CIA, as insanos arreganhos de Washington e de seu atual contestável Danald Trump, afinal, essas coisas de liberdade, inclusive, a de imprensa, de autonomia e harmonia dos poderes do Estado, o equilíbrio federativo, são, nos dias que correm, apenas anacrônicos delírios dos “pais fundadores” da pátria norte-americana que serviram de inspiração a outros povos do mundo, inclusive, o brasileiro. 

Esses valores, diante da ressaca conservadora e de fortes pendores autoritários, não passam de frágeis velas ao vento – “candles in the Wind” – que ameaçam o legado das luzes e podem fazer  com que estes trópicos confusos afundem numa nova era de desalento e escuridão. 

            Afinal, cá para estas bandas, o presidente Bolsonaro já decidiu que ao menos os quartéis, “que nos ensinam antigas lições”, como dizia o poeta Vandré em tempos idos e de triste memória, devem comemorar com ardor o aniversário de 55 anos do ‘movimento’ cívico- militar de 31 de março de 1964. Ocorrendo isso, tantos brasileiros torturados, mortos e ‘desaparecidos’ sob o tacão do regime militar, jamais poderão dizer “presente”, varridos que estarão sendo para debaixo do perverso tapete da História. 

Contudo, estaremos vigilantes. Ave, Anatália de Melo Alves!

0

Barrados no baile

O Ex-governador Geraldo Melo, apareceu triste em um comentário da sua página do Facebook, no seu post dizia das comemorações dos 69 anos do jornal Tribuna do Norte, e expressava sua vontade de ter participado da solenidade, da Assembleia Legislativa, ocorrida na última terça-feira (26).

Deu para perceber sua frustração, pois, ao olhar de todos que comentaram, ele deveria ter sido parte ativa desta data, uma vez que fora colaborador logo das primeiras horas do jornal Tribuna do Norte, quando aos 21 anos, era o chefe de redação (função que então muitos chamavam Redator-Chefe, segundo o próprio Geraldo).

Este episódio me catapultou ao fato ocorrido comigo nos anos 90. Depois de anos dedicados ao jornal Gazeta do Oeste, eu e Socorro fomos para o Acre, trabalhar na Tv e Jornal Rio Branco, na volta, criamos a Brito Propaganda, agência de publicidade, que até então, buscava suprir o mercado mossoroense.

Pois bem. Certo dia, fui ao Gazeta, como sempre embioquei cabeça a dentro, quando fui barrado pela recepcionista:

– …Vai pra onde?
– Falar com Dona Maria…
– Espere, vou ver se ela pode lhe atender.

Nestes segundos de espera, percebi que eu era da Gazeta do Oeste, mas a Gazeta do Oeste, não era minha. Tudo que eu sentia por ela, a recíproca não era verdadeira e, nem poderia sê-la: ela (ele), é apenas um CNPJ e a moça que a representava à primeira vista, não tinha o menor sentimento ou afeição aos meus modestos préstimos ao jornal. 

A senhorita, que na minha época de casa, fomos colegas, ela como ASG, agora, ascendera a condição de recepcionista, demorou um tempo, como quem diz “vou baixar a crista desse besta, vou dá-lhe um chá de cadeira”. 

Sorte minha, Dona Maria saiu:
– Tá fazendo o quê aí, bichinho? 
– Esperando para falar com você!
– E por quê não entrou?
– A recepcionista disse que iria ver se você podia me atender.

Voltando-se para moça da recepção, Maria Emília perguntou:

– …Desde quando Brito precisa ser anunciado aqui, bichinha?

Resolvido. Entrei falamos de negócios. Depois, pensando bem com meus botões, fiquei grato ao puxão de orelhas dado pela recepcionista, pois, todo carinho, suor e amor que dediquei, aliás, dedico, é unilateral, é platônico, não há reciprocidade e não haveria de existir, pois CNPJs são números e números são gélidos como mármore.

Nos 35 anos de comemorações de Gazeta do Oeste, tal qual Geraldo, também fomos barrados no baile, aliás, nem eu e Socorro fomos citados e muito menos chamados às comemorações. Mas, Queiroz, nos ensinou a amar a Gazeta do Oeste e, quando se aprende, não há como esquecer e, parte de nossa história está em seus arquivos. 

0

Riso pronto, miolo tonto

“Rir é melhor remédio”, propaga muitos, já outros se contentam com “rir é melhor que chorar” e, ainda uma turma diz “quem rir por último rir melhor”. Sem falar daqueles, assim como minha avó: “Quem vive de dentes arreganhados e não sabe porquê ou tem o miolo mole ou muito dinheiro, ainda assim é uma besta quadrada”. 

Eu, de minha “banda”, creio em todos os ditos citados. Não há dúvida que o riso é alentador e curador. Basta ver os Doutores do Riso, que vão aos hospitais e deixam um rastro de alegria e saúde por onde passam e comprovadamente pacientes reagem melhores aos tratamentos após os doutores palhaços.

Eu me socorro, diariamente dos sorrisos que a mim são dedicados e, principalmente, quando são verdadeiros. Entretanto, me comovo mais ainda quando o riso é de uma criança. Lembro cada sorriso de Polary, Pollyanne, de Segundo – quando pediu para usar brinco, aos 10 ou 11 anos -, de Jade e Larissa, agora todos crescidos, ainda quando os vejo verdadeiramente rindo me transporto e de certa forma fico mais calmo, mas sereno.

Porém, o sorriso dos adultos é um pouco tristonho, a mim, parece que carrega sempre uma pitada de amargura e desencanto. Como rir frente a tantas tragédias? 

Mas, nas horas em que desacredito na raça humana e vejo os sorrisos de uma criança, e principalmente, dos meus netos, aí, me apego ao fio fino de esperança que ainda me resta, toco a vida. Esqueço a VIVO que nos liga dia e noite oferecendo serviços, dos telefones do Procon que não me atendem, da Telecom que oferece um serviço de quinta, do Tapir e de sua brutal raiva dos mais humildes.

Ainda assim, não posso deixar de pensar que país estou deixando para estes inocentes sorrisos de Kaylanne, Aléssia, Enzo, Valentina e Lívia – que chega em julho -?

Portanto, não rio à toa, como se gás do riso tivesse provado. Eu vi um sorriso, o sorriso de Laura, filha de Priscila. Me bastou, fiquei leve. 

0

O BRASIL PRECISA MUDAR DO TRANSPORTE RODOVIÁRIO DE CARGAS PARA O FERROVIÁRIO

Por Ricardo Valério

Um vídeo, que anda nos últimos dias circulando pela internet, impressionando a todos pela a sua grandeza de transporte de carga racional e econômica, é de um trem que viaja da China para a Alemanha através do Cazaquistão, Rússia, Bielorrússia e Polônia, numa distância de 10.214km. A linha férrea começou a operar no dia 13 de junho do ano passado, puxando 200 vagões, mas com previsão para suportar até 300. O tempo da viagem é de 14 dias. Se for por navio, leva cerca de 60 dias. São 4 motores para puxar os 200 contêineres. 

É um espetáculo de solução racional e exemplo a ser seguido pela nosso país. As autoridades não despertam para a necessidade de adotar no Brasil, nem que seja via uma PPP – Parceria Público Privada.

Vejam e compare com o Brasil. Somos país continental, potência mundial na produção e exportação commodities, líder econômico da América Latina, mas temos como opção estratégica equivocada, de fazermos mais de 60% dos nossos fretes via transportes rodoviários. 

Além, de ser caro e arriscado, o transporte rodoviário, tornam as nossas BRs mais perigosa e cheias de caminhões disputando espaços com carros de passeios e ceifando vidas. 

Temos fretes caríssimos e paramos um país por 15 dias, provocando um caos nacional, mas, o Governo continua inclusive testando a paciência do povo, numa política equivocada de aumento sistemáticos dos combustíveis, ao invés de aumentar a nossa produção interna de petróleo, estabelecendo a perversa política, de termos que nos sujeitar a acompanha a volatilidade dos preços internacionais do petróleo e do câmbio, sacrificando o povo e onerando nossos fretes e transporte de massa.

Mas, me causa espanto, nenhum Presidente da República até os dias atuais, nunca tiveram preocupado, com uma política de recuperação de fato e não só em intenções, da nossa malha ferroviária e aproveitamento do potencial intermodal que temos.  

Poderíamos ter no Brasil vias de integrações, entre as diversas formas de transportes viáveis: rodoviário, ferroviário e hidroviário, mas não aproveitamos nem os rios navegáveis que dispomos. 

Eis, mais de um motivo, dos nossos combustíveis caros e da perda de competitividade comercial brasileira, com Portos sucateados, estradas deterioradas e pedágios gravoso.

Como Economistas e cidadão, vou continuar insistindo, para que o Brasil, um dia desperte para necessidade, urgente, de troca do nosso sistema de transporte concentrado no rodoviário, pelo ferroviário e aproveitamento intermodal de cargas, interligando com as diversas formas de transporte, inclusive com nossos rios navegáveis. 

Econ. Ricardo Valério Costa Menezes 
Corecon-RN – 1336

0

O PÂNTANO DA VENEZUELA

Paulo Afonso Linhares

            Há exatos 50 anos, causou inegável impacto o retorno a Caraúbas de um nativo que, segundo se dizia, morava num país bem distante – no “oco do mundo”, como redarguia Dona Rita Ferreira Linhares sempre que lhe falavam sobre o assunto – chamado Venezuela, onde, internado na selva braba, garimpava ouro. E foi justo o ouro que o rapaz trazia no próprio corpo, em configurações diretas: nos muitos dentes (de ouro), como era chique àquela época, que lhe valeu a alcunha de “Pedro Boca Rica”. 

            Causava positivo espanto, também, os avantajados e não menos reluzentes adereços de ouro maciço que usava sob forma de anéis, pulseiras e aquela grossa corrente que lhe adornava o atarracado e forte pescoço, sobre a qual o indefectível Jairo Bezerra, em mais um dos seus divertidos comentários, dizia ser capaz de “arrastar um caminhão e valer mais do que dois”.  O breve retorno do “Boca Rica” era para reverenciar a São Sebastião, na “Festa de Janeiro”, além de levar a esposa, uma das filhas do ferroviário Honório Gouveia, bem assim outros familiares seus para os confins da Roraima, de onde partia suas incursões em busca do ouro venezuelano. Embora o brilho de seus tantos ouros inda encham a memória de minhas retinas, nunca mais soube do paradeiro desse conterrâneo. 

            Vem à tona essa reminiscência quando o assunto, ou melhor, a crise de mais uma semana do governo Bolsonaro tem causa na atabalhoada operação de “ajuda humanitária ao povo da Venezuela” que armaram Jair e seu maluco ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, sempre na esteira do igualmente falastrão Donald Trump que, a todo custo, deseja o petróleo venezuelano para, além de outras planejadas matanças, saciar a sede das grandes empresas petrolíferas norte-americanas chamadas “the new Seven Sisters”, segundo o Financial Times, a exemplo do fizeram no Iraque, na Líbia e onde mais houver petróleo que esteja na mira da “Big Oil” –  que é o nome que se dá a essas sete maiores companhias – e ao alcance da terrível máquina de guerra dos Estados Unidos da América.

            Nessa baboseira de “ajuda humanitária”, tudo só favorece aos interesses norte-americanos, sejam econômicos ou políticos: no primeiro caso, usurparão o rico “ouro negro” venezuelano, além de movimentar sua azeitada indústria bélica, caso haja algum conflito armado; no segundo, os EUA aumentariam sua presença na América do Sul, região tão menosprezada pelas políticas externas de sucessivos governos norte-americanos, democratas ou republicanos indistintamente, tudo para colimar o antigo desejo do Tio Sam de chantar em países amazônicos bases militares suas. Ressalte-se que recentemente, tanto Jair Bolsonaro, logo que empossado como presidente da Republica, quanto seu ministro Ernesto Araújo, ofereceram de bandeja aos norte-americanos a instalação de um base militar em território brasileiro. Diante da imediata reação por parte de militares brasileiros, inclusive do vice-presidente, general Hamilton Mourão, a ideia estúpida e antinacional foi arquivada, por enquanto.

            O inglês Lord Palmerston, Henry John Temple, 3º Visconde dePalmerston, ex-primeiro-ministro e antigo ministro dos negócios estrangeiros da Grã Bretanha, na era vitoriana, foi quem primeiro deu interpretação pragmática sobre os interesse de um Estado na ordem internacional: “Nations have no permanent friends or allies, they only have permanent interests.” Numa tradução livre, “nações não têm permanentes amigos ou aliados, elas têm somente interesses permanentes”. Charles de Gaulle e Henry Kissinger, ex-presidente francês e ex-secretário de Estado norte-americano respectivamente, cada um a seu tempo e com algumas poucas variações, repetiram o pensamento “realpolitik” (ou de “interessenpolitik”) do Lord Palmerston, que se tornou um dos mais assentados paradigmas nas relações internacionais neste último século. Neste mesmo rumo, também, tem razão a médica canadense e presidente internacional da organização humanitária  Médecins Sans Frontières ( Médicos Sem Fronteiras, como dizemos por aqui), Drª Joanne Liu,  quando diz que “Nações não têm amigos; elas têm interesses. A melhor motivação para um Estado agir, se estiver longe de uma epidemia, é se a sua própria segurança estiver em risco.”

            Diante disto, cabe indagar quais os interesses do Brasil nesse imbrógliovenezuelano, já que os do Tio Sam estão bem claramente postos, como os que possam traduzir a subserviência canina do Brasil à política externa norte-americana na versão de Donald Trump, “the Tangerine Man”. Ou, como diria o filósofo caraubense Zé da Pata, o Brasil, nessa orientação de sua política externa, “tá engolindo corda, feito cacimbão”. Em suma, ademais de quebrar toda uma tradição de competente diplomacia que remonta ao Barão do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos Júnior, diplomata, advogado, historiador e político brasileiro, que conseguiu a façanha de ter exercido o cargo de ministro das Relações Exteriores de quatro presidentes da República: Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca. 

            Habilíssimo diplomata, o Barão do Rio Branco empreendeu negociações com outros países cujas fronteiras com o Brasil suscitavam de soluções. Os tratados que ele negociou com a Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Peru, Uruguai, Argentina e Guiana Holandesa definiram os contornos do território brasileiro, merecendo destaque o Tratado de Petrópolis, de 1903, celebrado com a Bolívia, que permitiu a incorporação do território que se tornaria o atual Estado do Acre, ao Brasil, o que rendeu a Rio Branco a grande homenagem de ser o nome da capital acreana.

            Certo é que o ideário e exemplo de Rio Branco, passaram a balizar a diplomacia brasileira e a influenciar, até hoje, o relacionamento do Brasil com outros países, segundo preceitos em boa hora cristalizados no artigo 4º da Constituição Federal: “Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:I –  independência nacional;II – prevalência dos direitos humanos;III – autodeterminação dos povos;IV –  não-intervenção;V –  igualdade entre os Estados;VI –  defesa da paz;VII –  solução pacífica dos conflitos;VIII –  repúdio ao terrorismo e ao racismo;IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;X –  concessão de asilo político.Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.”

            Ademais de impor uma absurda e descabida reorientação da política externa brasileira que toma por base a ideia falsa de que, nos governos petistas, ela se pautava por questões ideológicas, inclusive, no tocante à Venezuela, o fanatismo político que, por inspiração do guru Olavo de Carvalho, impregna gravemente o presidente Bolsonaro e seu auxiliar Ernesto Araújo, levando-os  a defender um firme atrelamento do Brasil à atual política exterior norte-americana, o que desconsidera por completo a existência dos preceitos de regência das relações internacionais contidos no citado artigo 4º da Constituição da República.

            A crise da Venezuela se agudiza. A posição do governo brasileiro, pautada por incabíveis questões ideológicas, é errônea e poderá acarretar graves danos ao Brasil, nem tanto econômicos, mas, eminentemente políticos. Em suma, o Brasil pode deixar de exercer forte liderança e de ser o mediador privilegiado de conflitos entre países sul-americanos, para se tornar mero vassalo dos norte-americanos na América do Sul. Aliás, repita-se, a America Latina não desperta quase nenhum interesse por parte dos EUA, salvo a Venezuela que detém uma das maiores reservas de petróleo do planeta. Lembre-se novamente que países não têm amigos, mas, interesses. Foi por isso que, na Guerra das Malvinas, em 1982, o governo dos Estados Unidos da América fez tábula rasa da vetusta doutrina Monroe (“América para americanos”) e apoiou a Grã-Bretanha contra a Argentina.

            Sem dúvida, Maduro tem fortes pendores antidemocráticos e antirrepublicanos, mas, é ilusão pensar que a despeito de todos os percalços econômicos e políticos por que passa o seu país, que ele não tem o apoio da maioria da população venezuelana e o mais importante: contabiliza em seu favor as forças armadas que, diante dos esbirros intervencionistas de Donald Trump, que também instrumentaliza os vizinhos Brasil e Colômbia, tende a se unir mais em torno de Maduro por simples ‘impulso nacionalista’. Neste momento, somente ocorreria uma queda de Maduro se os militares fossem divididos.

            Outro fator de enorme preocupação é o aparecimento, na América do Sul, de três grandes aliados internacionais de Maduro – Rússia, China e Turquia – que poderá garantir um equilíbrio de forças. Se o cenário da Venezuela continuar a evoluir para confrontos armados externo, é quase certo que russos e chineses vão ‘bancar’ a máquina de guerra venezuelana, a exemplo do que, hoje, ocorre na Síria, onde a aliança militar do ditador Bashar Hafez al-Assad com Moscou não apenas tem garantido sua permanência no poder, mas, proporcionado-lhe importantes vitórias militares.

            Doutra parte, merece frisar o quão ridículo tem sido o reconhecimento por vários Estados do governo de Juan Guaidó, o tal “presidente encarregado” da Venezuela, segundo o ministro brasileiro Ernesto Araújo. Ora, é bem certo que não se pode dizer que Nicolás Maduro seja um ditador, como vocifera a imprensa de muitos países ocidentais, inclusive, a do Brasil. Embora a base legal da sua eleição e outras piruetas jurídicas de que tem lançado mão mereçam veementes restrições, fato  é que Henri Falcón, candidato da oposição que obteve 21% dos votos válidos (equivalente a 1.820.000) não apenas participou do processo eleitoral como igualmente deu-lhe validade, mesmo que não tenha reconhecido a vitória do seu adversário.                        

            Aliás, a exigência maior dos países da União Europeia é a realização de novas eleições, cuja aceitação poderá ser a carta na manga de Maduro, para baixar a temperatura política. E o mais inusitado poderá ocorrer: um processo eleitoral ‘clean’, democrático e supervisando por entidades internacionais confiáveis e com a presença de observadores do mundo inteiro, certamente terá Maduro como vencedor, caso seja candidato. Goste-se ou não dele, mas, ainda é lastimavelmente a grande liderança política venezuelana. E aí, como fica? Haverá um impasse mais profundo, a ser resolvido pelas armas. 

            Nada disso existiria, contudo, fosse respeitado o direito de autodeterminação do povo da Venezuela e banida qualquer modalidade de intervenção externa, humanitária ou interesseira, naquele país. São os venezuelanos que devem resolver os seus problemas, aconselha o sensato vice-presidente do Brasil, general Mourão. Mesmo porque é sabido que um conflito armado naquela região amazônica pode afetar todo o Cone Sul. E ninguém pense que sairá fácil e ileso de uma aventura naquelas selvas, que podem ser um pântano tão perigoso quanto foi o aparentemente frágil Vietnã, há seis décadas, quando a maior máquina de guerra do planeta foi fragorosamente derrotada por homenzinhos que portava pontiagudos talos de bambu. É a História a dar lições.

0

A Vida é Bela

Natal(RN), 27 de fevereiro de 2019.

Domingo, último assisti o filme A Vida é Bela, do ator e diretor italiano, Roberto Benigni, que também faz o papel principal, com o ator Giorgio Cantarini, que encarna seu Giosué, no drama que envolve o garçom judeu e sua saga, que o obrigando a jorrar uma torrencial criatividade para proteger seu filho de perceber que estão numa prisão nazista, levando Giosué a acreditar que estavam apenas participando de uma grande brincadeira , assim minimizar os efeitos medonhos de uma das mais vergonhosas páginas da história da humanidade.

O filme retrata, com uma fidelidade imensurável, a capacidade e o amor que um pai ou mãe pode dedicar, e o faz, aos seus filhos, em que qualquer coisa pode se tornar possível de ser feita, se é para protege-los. Para que o sofrimento, tristeza e as dores sejam ausências permanentes em suas vidas, fazem promessas para todos os santos, rezam horas e oram rezas. 

Por falar em amor de pai, me vem a mente uma parte de Pegadas na Areia: 

…Não compreendo, por que nas horas que eu mais necessitava de Ti, Tu me deixaste?”

JESUS respondeu:

Quando vistes nas areias apenas um par de pegadas… foi exatamente aí que Eu nos braços… te carreguei!

Assim me senti: deixando minhas pegadas no barro vermelho de Rio Branco (AC) e na minha alma, pois naquele momento, carregava os meus sonhos e de vocês. Sei que foi assim que se sentiu também.

Sei o que sentiu, do drama vivido nestes meses separados de seus filhos, em sua busca de proteger e criar uma vida bela e um futuro melhor para eles. Pois, fiz o mesmo caminho, minha própria busca quando da ida para o Acre, nos anos 80 e, por motivos vários tive que deixá-los em solo mossoroenses. Também sei o que eles, meus netos, sofreram por sua partida atrás de uma vida melhor. Vi nos olhos de Enzo – Quando uma ida de vê-los em Mossoró, na sua inocência Enzo me disse: “Vovô Brito, você agora é meu pai, até ele voltar” –  e Aléssia a mesma tristeza que tinha em seus olhos e de sua irmã Pollyanne. A história se repetiu.

Entretanto, você foi mais feliz. Conseguiu leva-los e pô-los em seu dia a dia, em sua rotina e hoje, pode ter sua família reunida em solo chileno. Eu continuo rezando, orando, fazendo promessa a totens e Jesus para que consiga não a tão sonhada “vida bela”, mas uma bela vida ao lado de minha nora e netos. 

Beijo.
Feliz Aniversário, filho meu.
Te amo muito.

0

OS ATROPELOS DA FAMÍLIA BUSCAPÉ

Paulo Afonso Linhares

              O celibato é algo que está na contracorrente da natureza, qualquer que seja a sua motivação, vez que impede a reprodução da espécie. Ora, ao menos no âmbito da raça humana, a preservação da espécie se dá fundamentalmente a partir do encontro do material genético da mulher e do homem, fêmea e macho, numa linguagem mais simples. E que pode ser estendida para todas as espécies de mamíferos, répteis, aves e peixes. Mesmos no mundo vegetal, muitas espécies dependem, também, dessa  interação biológica de gêneros. 

              Enquanto manifestação cultural, o celibato visa impedir que homens e mulheres procriem e, sobretudo, formem famílias, por mais diversas razões. E pode ser objeto de convencimento racional a partir de normas de proibição ou, em casos mais graves, mediante sérias mutilações de homens ainda na fase infantil, transformados em eunucos, eis que eram castrados. 

              Hoje, entende-se o  celibato, em seu sentido genérico, como  a condição de quem, por opção, não contrai matrimônio,sendo igualmente norma regulamentar em determinadas instituições, como é o caso da Igreja Católica cujos clérigos são obrigados a fazer voto de celibato. Até o século 10 os padres católicos podiam casar. Além de São Pedro, outros seis papas viveram em matrimônio. Até o Concilio de Elvira, que o proibiu no ano 306, um sacerdote podia inclusive dormir com sua esposa na noite anterior a celebrar a missa. Isso começou a mudar dezenove anos mais tarde, quando o Concilio de Nicea estabeleceu que, uma vez ordenados, os sacerdotes não podiam mais casar-se.

              O papa Gregorio VII impôs o celibato, em 1073, definindo o matrimônio dos sacerdotes como heresia, pordesviar os sacerdotes  do serviço religioso  e contrariar o exemplo de Cristo. A verdade é que  na dessa decisão de impor o celibato havia a intenção de evitar que os bens dos bispos e sacerdotes casados fossem herdados por seus filhos e viúvas em vez de beneficiar à Igreja. 

              Aliás, nada indica que a Igreja Católicavá rever essa norma a curto prazo, mas o próprio papa Francisco já afirmou: o celibato clerical, ou seja, o voto que obriga os padres a permanecerem castos, não é um dogma de fé – e, sim, um regulamento da Igreja: “O celibato não é um dogma de fé; é uma regra de vida que eu aprecio muito e acredito que seja um dom para a Igreja. Não sendo um dogma de fé, sempre temos a porta aberta. Neste momento, contudo, não temos em programa falar disso”, afirmou recentemente o papa, em conversa com jornalistas.

              Certo é que a existência dessa regra de celibato sacerdotal, nos últimos dez séculos, tem sido positiva para a Igreja Católica, embora apresente, também, alguns efeitos colaterais indesejáveis,  como o dos escândalos sexuais que envolvem religiosos católicos em vários países, inclusive, muitos casos de pedofilia e têm merecido veemente condenação e medidas enérgicas da parte do papa Francisco.

              E não é apenas na Igreja Católica que esposa, filhos e outros parentes podem atrapalham. Na política os estragos são maiores. As ingerências de esposas, maridos, filhos, irmãos, pais e outros parentes nos negócios de governo e das atividades políticas têm sido fatores de muitas confusões, nas mais diversas latitudes e épocas históricas. 

              A discrição dos familiares de um governante ou de líder político evita muitas atribulações. Ademais, não é razoável alguém que não esteja investido legalmente no exercício de cargo público eletivo possa tomar decisões ou ter benefícios apenas em função de seu parentesco. Não sem propósito, na família real inglesa os seu membros são proibidos de opinar publicamente sobre temas políticos.

              No Brasil, o país do nepotismo, a mistura de parentesco com política ainda é uma prática corrente e aceita. Não é de estranhar que com a eleição de tantos parentes,nas eleições de 2018,  as dinastias políticas se fortaleceram no Congresso Nacional, nas assembleias legislativas e na ocupação dos governos estaduais. Só na família Bolsonaro foram eleitos, além do presidente da República, dois filhos, um para o Senado e outro para a Câmara dos Deputados.

              Em menos de dois meses de governo, a prole do presidente Bolsonaro, sobretudo, os filhos, tem causado enormes contratempos, bem mais do toda a oposição tem feito ao novo inquilino do Palácio da Alvorada. O problema começa com o completo desconhecimento do clã Bolsonaro acerca da liturgia que cerca o exercício da presidência da República, a exemplo da atitude infantil do vereador Carlos Bolsonaro que, no desfile presidencial pela Esplanada dos Ministérios, quando da posse em 1º de janeiro de 2019, subiu na traseira do Rolls Royce que conduzia o pai é a atual esposa deste, Michelle, para uma ridícula e indevida ‘carona’.

              Os Bolsonaro, pai e filhos, falam pelos cotovelos e o que lhes vem à cabeça, com intenso uso das redes sociais. E provocam crises diárias no governo. A última envolveu o presidente, seu filho Carlos, a quem ‘carinhosamente’  chama de “meu Pitbull” e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, ex-presidente do PSL é um dos principais articuladores da candidatura de Bolsonaro à presidência. Ele foi gratuita e grosseiramente exposto- chamado de “mentiroso” – nas redes sociais,pelo filho do presidente, Carlos Bolsonaro, com publicações que acabaram sendo compartilhadas pelo presidente, que as corroborou, para jogar o governo numa baita e desnecessária crise. Mesmo que Bebianno tenha unido em seu favor os segmentos político e militar do governo, não tem condições de permanecer no cargo. Claro, Jair prefere o seu pitbul.

              Os meninos de Bolsonaro têm atacado em especial os membros do PSL, o partido ‘alugado’ por Jair para levá-lo ao Palácio do Planalto e fazer do filho Flavio o deputado federal eleito com votos em 2019, além da eleição de Eduardo a senador pelo Rio de Janeiro. Inúmeras desavenças vêm ocorrendo, pelas redes sociais e fora delas. Parece claro que o clã Bolsonaro  está disposto a ter um partido “para chamar de seu”: vai exumar a velha União Democrática Nacional (UDN), a sigla fundado em 1945  e  que se tornou o grande estuário da direita brasileira. A proposta atual segue no mesmo rumo, agora com os Bolsonaro. O pedido de registro da UDN já tramita no TSE. Seguindo uma tradição tupiniquim – “se há governo, sou a favor” – logo a UDN será um dos grandes partidos da cena política brasileira.            É a nova família Buscapé, em sua versão brasileira, que está em ação. E vai aprontar muitas nos próximos quatro anos. No mínimo, os humoristas terão um riquíssimo filão a explorar. No geral, os meninos de Bolsonaro tendem a comprovar o triste vaticínio do poeta latino Horácio, no verso das Odes (III, 6, 46-8) sobre pais e filhos: “Nossos pais, piores do que os seus, geraram-nos / ainda mais celerados do que eles; nós, por nossa vez, geraremos  / filhos mais perversos do que nós” (Aetas parentum peior avis tulit / nos nequiores, mos daturos / progeniem vitiosiorem).

0

Chico Rei

“Ecoou
pela mata afora
Cai a flor
e a seringueira chora
de Xapuri
chora o mundo inteiro
Morre o Chico,
o Chico rei seringueiro

Mas essa mata que mata, esse povo infeliz
O dia de fazer o Chico rei
seringueiro feliz”

Os versos acima são de uma música do músico e compositor acreano, Tião Natureza, que tive o prazer de conhecer no final dos anos 80, e do qual cultivei amizade até o dia o perdemos para violência que ali, naquele Estado se estabelecia.

Conheci Tião nos corredores da Tv e Jornal Rio Branco (AC), em uma de suas participações nos programas de músicas que tinha na casa. Sei, que estais aí, no céu, tocando e cantando com Chico Mendes outro filho ilustre acreano.

Senhor ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, eu, como o senhor, também não conheci Chico Mendes, pois, ao pisar em solo acreano o agronegócio, já o tinha matado. Entretanto, conheci sua história de perto. “O fato é que é irrelevante. Que diferença faz quem é o Chico Mendes neste momento?” Concordo! Acertadamente vossa excelência colocou no tempo correto, disse: “neste momento”.

Neste momento no Brasil pouco importa conhecer Chico Mendes, claro, que diferença faz conhecer um líder ativista mundialmente conhecido condecorado pela ONU, defensor intransigente da preservação da floreta e do direito dos povos nativos.Procurava os povos da floreta: índios, castanheiros, seringueiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco, criando reservas extrativistas. Mais importante é conhecer os donos da Vale do Rio Doce, do Agribusiness. Dos dois não sabemos qual pior: um, mata lentamente, tendo a mão do Governo, que autoriza agrotóxicos proibidos em países desenvolvidos, ou outro como requintes de crueldade, enterra vivos.

Neste Governo arrogante, xucro, pouco importa quem olha para os mais humildes, este são desprezados, menosprezados, desdenhados. Que diferença faz quem é o Paulo Freire neste momento? Certamente nenhuma. Paulo Freire ensinava nossa gente a ler e escrever, mas para que diabos se quer saber ler e escrever? Ora, nem mesmo o colombiano, Ricardo Vélez Rodriguez, Ministro da Educação, sabe português e demonstra isto com tamanha desenvoltura somente comparada ao seu chefe, em entrevista vomita: “cidadões”, universidade “não é para todos”, mas “somente para algumas pessoas”, sem falar das agressões ao povo brasileiro.

Deste Governo tosco, rude, desabrido onde a ignorância é o foco central, não existe como se esperar algo que não seja de igual quilate, “ A ONU reconhece muita coisa errada”, como esta dita pelo Ricardo Salles, o Ministro do Meio Ambiente.

0

Lágrimas alvinegras

Não bastasse Mariana, Brumadinho, tromba d’água no Rio de Janeiro amanhecemos o dia com mais uma tragédia humana, nos lembrando de nossa frágil e desonesta omissão.

Pior é ouvir picaretas dizendo que Deus voltou ao Brasil, como se Ele fosse causador ou impedisse nossos brutais crimes.

O que aconteceu no Flamengo, pode ter sido um acidente e, rezo para que isto seja real, pois, se não for, será mais um crime que não terá seus culpados presos e muito menos incomodados, como sempre acontece, em se tratando de quando elite brasileira mata pobres como se mata baratas.

Sou botafoguense de corpo e alma, mas hoje, me solidarizo com as famílias, dirigentes e torcedores – digo torcedores -, do time carioca que sofreu tamanha derrota, onde 10 jovens entre 14 e 17 anos, das categorias de base, perderam suas vidas e soterram seus sonhos, aliás, não somente seus, mas de suas famílias, que indiscutivelmente são pessoas humildes que depositavam nesses jovens uma possibilidade de mudarem de vida através de cada um deles.

Estou certo, que esta deve ser uma das piores tragédias acontecidas no futebol brasileiro e no próprio time – exceto a sofrida pelo pela Chapecoense -, digo em território nacional. Torço pela vida, sempre. A morte é feia, carrancuda e não enche estádios, a não ser em tempos também de horror, a história não me deixa mentir.

Que posso mais fazer? Só me resta chorar lágrimas alvinegras aos rubro-negros!

0

GENERAL MOURÃO PROGRESSISTA É ILUSÃO DE ÓTICA

Por João Filho

HÁ QUATRO ANOS, quando chefiava o Comando Militar do Sul, o general Hamilton Mourão fez uma palestra para oficiais da reserva convocando os presentes para o “despertar de uma luta patriótica”. Um dos slides exibidos continha a frase “mudar é preciso”. O impeachment de Dilma estava na pauta, e o general aproveitou para atacar toda a classe política. Na ocasião, Mourão alertou a tropa: “ainda temos muitos inimigos internos, mas eles se enganam achando que os militares estão desprevenidos”. E ainda lançou um desafio: “Eles que venham!” Poucos dias depois, Mourão organizou um evento em homenagem ao coronel Ustra, o principal torturador da ditadura militar.

O golpismo de Mourão foi punido pelo comandante do Exército Eduardo Villas-Boas que, pressionado pelo então ministro da Defesa Aldo Rebelo (PT) e pelo senador Aloysio Nunes (PSDB), o retirou do comando da tropa e o empurrou para um cargo meramente burocrático.

Foram essas credenciais pouco democráticas que encantaram Bolsonaro, que escolheu o general para ser seu vice-presidente. O presidente chegou a dizer em campanha: “Quero governabilidade. Tenho que ter um vice que trabalha junto comigo e não seja uma peça decorativa”. Bom, hoje o presidente pode dizer que seu vice não é decorativo, mas certamente não pode dizer que trabalha junto com ele.

Desde o fim da campanha, o Mourão golpista deu lugar ao Mourão republicano. E isso tem sido um problema sério para o presidente. Os dois têm discordado em praticamente todos os assuntos. Não é raro o vice aparecer dizendo diametralmente o oposto do presidente. E sempre com muito mais propriedade e categoria.

Quando Bolsonaro estupidamente detonou a China e deixou os chineses ressabiados, Mourão tentou segurar a onda e disse que não podíamos “nos descuidar do relacionamento com o nosso principal parceiro comercial”. Quando Bolsonaro anunciou a mudança da embaixada brasileira para Jerusalém, Mourão retrucou: “é óbvio que a questão terá que ser bem pensada. É uma decisão que não pode ser tomada de afogadilho, de orelhada”. Sobre o aquecimento global, a opinião do general também não sintonizou com os delírios dos Bolsonaro: “não resta dúvida de que ele existe. Não acho que seja uma trama marxista”. Quando Jean Wyllys anunciou a desistência em assumir o cargo na Câmara por causa das ameaças de morte, o presidente comemorou “o grande dia” no Twitter. Já Mourão declarou que a ameaça contra o deputado é um “crime contra a democracia”. Sobre o decreto que facilita a posse de armas no país com a finalidade de melhorar a segurança pública, Mourão afirmou que “não se trata de uma medida de combate à violência”, mas apenas do “cumprimento de uma promessa feita em campanha”.

Enfim, para cada absurdo do presidente, o vice oferece uma dose de sensatez.

Em menos de 30 dias de governo, o vice-presidente Mourão já assumiu a presidência por duas vezes. É curioso notar como o general fica mais à vontade no papel de presidente do que o próprio capitão. Diferentemente de Jair, Mourão domina bem todos os assuntos pertinentes ao governo, fala com desenvoltura, trata bem a imprensa e adversários políticos. O fato é que enquanto Jair Bolsonaro se comporta como um bolsominion enfurecido no WhatsApp, Mourão se comporta como um presidente da República. O ex-capitão não tem capacidade intelectual para atuar fora da bolha de ideologismo barato que Olavo de Carvalho construiu para ele. Funcionou bem durante a campanha, mas agora não mais. Isso ficou ainda mais evidente quando ele usou apenas seis dos 45 minutos que tinha para representar o país no maior fórum econômico do mundo.

Mourão, por outro lado, tem atuado com diplomacia e pragmatismo. Não se vê nem sombra daquele militar golpista que atiçava as tropas contra os políticos em 2015. Já o presidente Bolsonaro ainda se vê preso no olavismo, no papel de cachorrinho fiel de Donald Trump e no crime organizado de Rio das Pedras.

A cada dia que passa, o ex-capitão vai ficando cada vez mais minúsculo perto do general, que faz questão de deixar isso claro a todo momento. O protagonismo do vice tem deixado Bolsonaro e sua família bastante preocupados. Enquanto eles sangram e se mostram incapazes de explicar as relações com o crime organizado, Mourão vai ganhando respeito de todos os lados, construindo pontes e ganhando força política.

O vice-presidente insiste bater de frente com o olavismo que intoxica o governo Bolsonaro. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, um fiel olavista indicado ao cargo pelo guru, tem sido solenemente ignorado pelo general. Além de estar mantendo reuniões com embaixadores de diversos países sem a presença do chanceler, como é de praxe, Mourão debochou da sua atuação excessivamente ideológica: “Vai todo mundo virar israelense desde criancinha? Vai todo mundo virar fã dos americanos de qualquer jeito? A diplomacia são métodos e objetivos, não um fim. É preciso inserir conceitos claros, não interferir em assuntos de outros países. E ainda não está claro” — uma verdadeira lacrada no olavismo, como dizem.

Os atritos entre o filósofo e o general foram aumentando até culminar com declaração de Mourão lamentando as ameaças a Jean. Olavo se indignou com o general e correu vomitar sua megalomania delirante no YouTube. Além de descer a lenha em Mourão e acusar os militares brasileiros de serem historicamente coniventes com os comunistas, o maluco de Virgínia (EUA) aproveitou para se dizer vítima “da maior campanha de assassinato de reputação contra um cidadão privado já visto na história humana”, chamar Maria do Rosário de “vagabunda” e dizer que “há sérias suspeitas de que Jean é um dos mandantes do assassinato de Bolsonaro”.

A lisergia de Olavo não tolera a prudência, a racionalidade e o pragmatismo de Mourão. Ele acredita que estamos no meio de um guerra contra o marxismo cultural globalista, e numa guerra não se deve ter tolerância com os inimigos. O general desprezou o ataque do filósofo: “Quem se importa com as opiniões do Olavo?”A pergunta foi retórica, mas deve ser respondida: Jair Bolsonaro e o núcleo bolsonarista não só se importam como são criaturas dele.

Não se sabe exatamente quais são os interesses de Mourão ao rivalizar tão firmemente com Bolsonaro dentro do governo. Muitos já dizem que ele está preparando o terreno para assumir o poder com o apoio dos militares caso o ex-capitão se enfraqueça ainda mais politicamente. É também o que pensa um dos filhos do presidente, como relatou a Folha. Quem acompanha o Brasil nos últimos cincoanos, sabe que nenhuma possibilidade pode ser descartada. Há pouco o que se fazer para controlar o general, já que ele não pode ser demitido. A essa altura o capitão deve estar amargamente arrependido de não ter escolhido o sempre dócil e fiel Magno Malta para ser seu vice.

O vice-presidente parece ter virado um oposicionista do presidente, o que o fez ganhar simpatia de muita gente na esquerda. Nessa semana, Mourão surpreendeu ainda mais ao afirmar que “o aborto deve ser uma decisão da mulher”.

Mas vamos com calma. Até pouco tempo atrás, Mourão agitava as tropas contra “inimigos da nação” e homenageava torturador. Já durante a campanha, admitiu a possibilidade de um “autogolpe” com a ajuda das Forças Armadas em caso de “anarquia”. Defendeu uma nova Constituição sem Constituinte. Ligou os indígenas à “indolência” e os negros à “malandragem”. Chamou famílias chefiadas por mães e avós de “fábrica de criminosos”.

O general parece progressista perto de Jair Bolsonaro, mas é apenas uma questão de referência. Até um trezoitão carregado parece progressista ao lado do nosso presidente.

João Filho
joao.filho@​theintercept.com
@jornalismowando

 

 

 

 

0

Vaya con Dios

Polary com seus filhos Enzo, Aléssia e sua mulher Sanara, no aeroporto de Santiago/Cl.

Diz o poeta “saudade a gente não explica, é coisa que vem do coração”. Melhor definição não sairia das pontas dos meus dedos, pois, certamente, não brotaria nada parecido da minha cachola oca.

Quantificar, qualificar, mensurar seria uma tarefa inútil, pelo menos para mim.  Mas, podemos dizer que algumas saudades doem, rasgam o coração, como se frágil ele fosse, nos faz perenizar rios, ainda assim, são elas que nos mantém vivos. Tenho saudade sim, de minha adolescência, irresponsavelmente jovem sem preocupação alguma com o universo, também bebo saudade de quando me tornei adulto, que acreditava que iria construir um mundo melhor, qual o quê, nada, nada, somente saudades. Não saudosismo de melancólico pesar, mas sinto saudades, muitas saudades.

Eu, sem minhas saudades seria um museu vazio, um saco de pano que não se sustenta em pé, eu sou feito e refeito de saudades. Sinto saudades de ontem, daquele cafezinho de Dona Neide, lá na cozinha do Gazeta do Oeste, de Luzia do Ponto Frio, tenho saudades até, imaginem vocês, das carreiras que a gente levava, de seu Francisquinho, ali do Café Mossoró, quando íamos para o Dom Bosco, ah! E de Pitias? Também de Djalma e dos amigos de farra, mesmo vendo e conversando com muito deles todos os dias. Eu, sinceramente, sou saudade. Me encho de saudades do que foi. Ora, direis de peito cheio, que só se tem saudades do que aconteceu. Meu caro, fale por você. Eu tenho saudades do amanhã quando olhar para os lados e não mais ver meus netos, ali em Mossoró, a 3 horas do meu Renault, e sim, a 5.000km.

E nestes últimos dias, parece-me que eu não a tenho mais saudade, e sim, ela a mim. Meus netos Ezno, Aléssia e minha nora Sanara, estão indo morar no Chile, em Santiago. Esperando por eles está meu primogênito, Polary, que para oferecer uma perspectiva de vida melhor fincou alicerce na terra de Neruda.

Diria, eu no singular, parafraseando Maiakovski: Não estou alegre, mas por que razão haveria de ficar triste?  Sei que eles eram a parte do meu filho mais próxima de mim. Mas, decidi me despir dela, a saudade, desta saudade. Pois, seria muito egoísmo meu prendê-los a sentimento meu, só meu, para meu bem-estar emocional. Certamente, minhas saudades de pai e avô não se comparam as saudades deles, de filhos e mulher. Assim sendo, me embrenho na multidão, que ora, chora comigo, mesmo ciente que não importa o tamanho da multidão, jamais será igual a sua solitária saudade. Vaya con Dios!

Obs: Escrevi ontem, mas não consegui publicá-lo. A saudade não arredou o pé.