Artigo

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OS ATROPELOS DA FAMÍLIA BUSCAPÉ

Paulo Afonso Linhares

              O celibato é algo que está na contracorrente da natureza, qualquer que seja a sua motivação, vez que impede a reprodução da espécie. Ora, ao menos no âmbito da raça humana, a preservação da espécie se dá fundamentalmente a partir do encontro do material genético da mulher e do homem, fêmea e macho, numa linguagem mais simples. E que pode ser estendida para todas as espécies de mamíferos, répteis, aves e peixes. Mesmos no mundo vegetal, muitas espécies dependem, também, dessa  interação biológica de gêneros. 

              Enquanto manifestação cultural, o celibato visa impedir que homens e mulheres procriem e, sobretudo, formem famílias, por mais diversas razões. E pode ser objeto de convencimento racional a partir de normas de proibição ou, em casos mais graves, mediante sérias mutilações de homens ainda na fase infantil, transformados em eunucos, eis que eram castrados. 

              Hoje, entende-se o  celibato, em seu sentido genérico, como  a condição de quem, por opção, não contrai matrimônio,sendo igualmente norma regulamentar em determinadas instituições, como é o caso da Igreja Católica cujos clérigos são obrigados a fazer voto de celibato. Até o século 10 os padres católicos podiam casar. Além de São Pedro, outros seis papas viveram em matrimônio. Até o Concilio de Elvira, que o proibiu no ano 306, um sacerdote podia inclusive dormir com sua esposa na noite anterior a celebrar a missa. Isso começou a mudar dezenove anos mais tarde, quando o Concilio de Nicea estabeleceu que, uma vez ordenados, os sacerdotes não podiam mais casar-se.

              O papa Gregorio VII impôs o celibato, em 1073, definindo o matrimônio dos sacerdotes como heresia, pordesviar os sacerdotes  do serviço religioso  e contrariar o exemplo de Cristo. A verdade é que  na dessa decisão de impor o celibato havia a intenção de evitar que os bens dos bispos e sacerdotes casados fossem herdados por seus filhos e viúvas em vez de beneficiar à Igreja. 

              Aliás, nada indica que a Igreja Católicavá rever essa norma a curto prazo, mas o próprio papa Francisco já afirmou: o celibato clerical, ou seja, o voto que obriga os padres a permanecerem castos, não é um dogma de fé – e, sim, um regulamento da Igreja: “O celibato não é um dogma de fé; é uma regra de vida que eu aprecio muito e acredito que seja um dom para a Igreja. Não sendo um dogma de fé, sempre temos a porta aberta. Neste momento, contudo, não temos em programa falar disso”, afirmou recentemente o papa, em conversa com jornalistas.

              Certo é que a existência dessa regra de celibato sacerdotal, nos últimos dez séculos, tem sido positiva para a Igreja Católica, embora apresente, também, alguns efeitos colaterais indesejáveis,  como o dos escândalos sexuais que envolvem religiosos católicos em vários países, inclusive, muitos casos de pedofilia e têm merecido veemente condenação e medidas enérgicas da parte do papa Francisco.

              E não é apenas na Igreja Católica que esposa, filhos e outros parentes podem atrapalham. Na política os estragos são maiores. As ingerências de esposas, maridos, filhos, irmãos, pais e outros parentes nos negócios de governo e das atividades políticas têm sido fatores de muitas confusões, nas mais diversas latitudes e épocas históricas. 

              A discrição dos familiares de um governante ou de líder político evita muitas atribulações. Ademais, não é razoável alguém que não esteja investido legalmente no exercício de cargo público eletivo possa tomar decisões ou ter benefícios apenas em função de seu parentesco. Não sem propósito, na família real inglesa os seu membros são proibidos de opinar publicamente sobre temas políticos.

              No Brasil, o país do nepotismo, a mistura de parentesco com política ainda é uma prática corrente e aceita. Não é de estranhar que com a eleição de tantos parentes,nas eleições de 2018,  as dinastias políticas se fortaleceram no Congresso Nacional, nas assembleias legislativas e na ocupação dos governos estaduais. Só na família Bolsonaro foram eleitos, além do presidente da República, dois filhos, um para o Senado e outro para a Câmara dos Deputados.

              Em menos de dois meses de governo, a prole do presidente Bolsonaro, sobretudo, os filhos, tem causado enormes contratempos, bem mais do toda a oposição tem feito ao novo inquilino do Palácio da Alvorada. O problema começa com o completo desconhecimento do clã Bolsonaro acerca da liturgia que cerca o exercício da presidência da República, a exemplo da atitude infantil do vereador Carlos Bolsonaro que, no desfile presidencial pela Esplanada dos Ministérios, quando da posse em 1º de janeiro de 2019, subiu na traseira do Rolls Royce que conduzia o pai é a atual esposa deste, Michelle, para uma ridícula e indevida ‘carona’.

              Os Bolsonaro, pai e filhos, falam pelos cotovelos e o que lhes vem à cabeça, com intenso uso das redes sociais. E provocam crises diárias no governo. A última envolveu o presidente, seu filho Carlos, a quem ‘carinhosamente’  chama de “meu Pitbull” e o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, ex-presidente do PSL é um dos principais articuladores da candidatura de Bolsonaro à presidência. Ele foi gratuita e grosseiramente exposto- chamado de “mentiroso” – nas redes sociais,pelo filho do presidente, Carlos Bolsonaro, com publicações que acabaram sendo compartilhadas pelo presidente, que as corroborou, para jogar o governo numa baita e desnecessária crise. Mesmo que Bebianno tenha unido em seu favor os segmentos político e militar do governo, não tem condições de permanecer no cargo. Claro, Jair prefere o seu pitbul.

              Os meninos de Bolsonaro têm atacado em especial os membros do PSL, o partido ‘alugado’ por Jair para levá-lo ao Palácio do Planalto e fazer do filho Flavio o deputado federal eleito com votos em 2019, além da eleição de Eduardo a senador pelo Rio de Janeiro. Inúmeras desavenças vêm ocorrendo, pelas redes sociais e fora delas. Parece claro que o clã Bolsonaro  está disposto a ter um partido “para chamar de seu”: vai exumar a velha União Democrática Nacional (UDN), a sigla fundado em 1945  e  que se tornou o grande estuário da direita brasileira. A proposta atual segue no mesmo rumo, agora com os Bolsonaro. O pedido de registro da UDN já tramita no TSE. Seguindo uma tradição tupiniquim – “se há governo, sou a favor” – logo a UDN será um dos grandes partidos da cena política brasileira.            É a nova família Buscapé, em sua versão brasileira, que está em ação. E vai aprontar muitas nos próximos quatro anos. No mínimo, os humoristas terão um riquíssimo filão a explorar. No geral, os meninos de Bolsonaro tendem a comprovar o triste vaticínio do poeta latino Horácio, no verso das Odes (III, 6, 46-8) sobre pais e filhos: “Nossos pais, piores do que os seus, geraram-nos / ainda mais celerados do que eles; nós, por nossa vez, geraremos  / filhos mais perversos do que nós” (Aetas parentum peior avis tulit / nos nequiores, mos daturos / progeniem vitiosiorem).

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Chico Rei

“Ecoou
pela mata afora
Cai a flor
e a seringueira chora
de Xapuri
chora o mundo inteiro
Morre o Chico,
o Chico rei seringueiro

Mas essa mata que mata, esse povo infeliz
O dia de fazer o Chico rei
seringueiro feliz”

Os versos acima são de uma música do músico e compositor acreano, Tião Natureza, que tive o prazer de conhecer no final dos anos 80, e do qual cultivei amizade até o dia o perdemos para violência que ali, naquele Estado se estabelecia.

Conheci Tião nos corredores da Tv e Jornal Rio Branco (AC), em uma de suas participações nos programas de músicas que tinha na casa. Sei, que estais aí, no céu, tocando e cantando com Chico Mendes outro filho ilustre acreano.

Senhor ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, eu, como o senhor, também não conheci Chico Mendes, pois, ao pisar em solo acreano o agronegócio, já o tinha matado. Entretanto, conheci sua história de perto. “O fato é que é irrelevante. Que diferença faz quem é o Chico Mendes neste momento?” Concordo! Acertadamente vossa excelência colocou no tempo correto, disse: “neste momento”.

Neste momento no Brasil pouco importa conhecer Chico Mendes, claro, que diferença faz conhecer um líder ativista mundialmente conhecido condecorado pela ONU, defensor intransigente da preservação da floreta e do direito dos povos nativos.Procurava os povos da floreta: índios, castanheiros, seringueiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco, criando reservas extrativistas. Mais importante é conhecer os donos da Vale do Rio Doce, do Agribusiness. Dos dois não sabemos qual pior: um, mata lentamente, tendo a mão do Governo, que autoriza agrotóxicos proibidos em países desenvolvidos, ou outro como requintes de crueldade, enterra vivos.

Neste Governo arrogante, xucro, pouco importa quem olha para os mais humildes, este são desprezados, menosprezados, desdenhados. Que diferença faz quem é o Paulo Freire neste momento? Certamente nenhuma. Paulo Freire ensinava nossa gente a ler e escrever, mas para que diabos se quer saber ler e escrever? Ora, nem mesmo o colombiano, Ricardo Vélez Rodriguez, Ministro da Educação, sabe português e demonstra isto com tamanha desenvoltura somente comparada ao seu chefe, em entrevista vomita: “cidadões”, universidade “não é para todos”, mas “somente para algumas pessoas”, sem falar das agressões ao povo brasileiro.

Deste Governo tosco, rude, desabrido onde a ignorância é o foco central, não existe como se esperar algo que não seja de igual quilate, “ A ONU reconhece muita coisa errada”, como esta dita pelo Ricardo Salles, o Ministro do Meio Ambiente.

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Lágrimas alvinegras

Não bastasse Mariana, Brumadinho, tromba d’água no Rio de Janeiro amanhecemos o dia com mais uma tragédia humana, nos lembrando de nossa frágil e desonesta omissão.

Pior é ouvir picaretas dizendo que Deus voltou ao Brasil, como se Ele fosse causador ou impedisse nossos brutais crimes.

O que aconteceu no Flamengo, pode ter sido um acidente e, rezo para que isto seja real, pois, se não for, será mais um crime que não terá seus culpados presos e muito menos incomodados, como sempre acontece, em se tratando de quando elite brasileira mata pobres como se mata baratas.

Sou botafoguense de corpo e alma, mas hoje, me solidarizo com as famílias, dirigentes e torcedores – digo torcedores -, do time carioca que sofreu tamanha derrota, onde 10 jovens entre 14 e 17 anos, das categorias de base, perderam suas vidas e soterram seus sonhos, aliás, não somente seus, mas de suas famílias, que indiscutivelmente são pessoas humildes que depositavam nesses jovens uma possibilidade de mudarem de vida através de cada um deles.

Estou certo, que esta deve ser uma das piores tragédias acontecidas no futebol brasileiro e no próprio time – exceto a sofrida pelo pela Chapecoense -, digo em território nacional. Torço pela vida, sempre. A morte é feia, carrancuda e não enche estádios, a não ser em tempos também de horror, a história não me deixa mentir.

Que posso mais fazer? Só me resta chorar lágrimas alvinegras aos rubro-negros!

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GENERAL MOURÃO PROGRESSISTA É ILUSÃO DE ÓTICA

Por João Filho

HÁ QUATRO ANOS, quando chefiava o Comando Militar do Sul, o general Hamilton Mourão fez uma palestra para oficiais da reserva convocando os presentes para o “despertar de uma luta patriótica”. Um dos slides exibidos continha a frase “mudar é preciso”. O impeachment de Dilma estava na pauta, e o general aproveitou para atacar toda a classe política. Na ocasião, Mourão alertou a tropa: “ainda temos muitos inimigos internos, mas eles se enganam achando que os militares estão desprevenidos”. E ainda lançou um desafio: “Eles que venham!” Poucos dias depois, Mourão organizou um evento em homenagem ao coronel Ustra, o principal torturador da ditadura militar.

O golpismo de Mourão foi punido pelo comandante do Exército Eduardo Villas-Boas que, pressionado pelo então ministro da Defesa Aldo Rebelo (PT) e pelo senador Aloysio Nunes (PSDB), o retirou do comando da tropa e o empurrou para um cargo meramente burocrático.

Foram essas credenciais pouco democráticas que encantaram Bolsonaro, que escolheu o general para ser seu vice-presidente. O presidente chegou a dizer em campanha: “Quero governabilidade. Tenho que ter um vice que trabalha junto comigo e não seja uma peça decorativa”. Bom, hoje o presidente pode dizer que seu vice não é decorativo, mas certamente não pode dizer que trabalha junto com ele.

Desde o fim da campanha, o Mourão golpista deu lugar ao Mourão republicano. E isso tem sido um problema sério para o presidente. Os dois têm discordado em praticamente todos os assuntos. Não é raro o vice aparecer dizendo diametralmente o oposto do presidente. E sempre com muito mais propriedade e categoria.

Quando Bolsonaro estupidamente detonou a China e deixou os chineses ressabiados, Mourão tentou segurar a onda e disse que não podíamos “nos descuidar do relacionamento com o nosso principal parceiro comercial”. Quando Bolsonaro anunciou a mudança da embaixada brasileira para Jerusalém, Mourão retrucou: “é óbvio que a questão terá que ser bem pensada. É uma decisão que não pode ser tomada de afogadilho, de orelhada”. Sobre o aquecimento global, a opinião do general também não sintonizou com os delírios dos Bolsonaro: “não resta dúvida de que ele existe. Não acho que seja uma trama marxista”. Quando Jean Wyllys anunciou a desistência em assumir o cargo na Câmara por causa das ameaças de morte, o presidente comemorou “o grande dia” no Twitter. Já Mourão declarou que a ameaça contra o deputado é um “crime contra a democracia”. Sobre o decreto que facilita a posse de armas no país com a finalidade de melhorar a segurança pública, Mourão afirmou que “não se trata de uma medida de combate à violência”, mas apenas do “cumprimento de uma promessa feita em campanha”.

Enfim, para cada absurdo do presidente, o vice oferece uma dose de sensatez.

Em menos de 30 dias de governo, o vice-presidente Mourão já assumiu a presidência por duas vezes. É curioso notar como o general fica mais à vontade no papel de presidente do que o próprio capitão. Diferentemente de Jair, Mourão domina bem todos os assuntos pertinentes ao governo, fala com desenvoltura, trata bem a imprensa e adversários políticos. O fato é que enquanto Jair Bolsonaro se comporta como um bolsominion enfurecido no WhatsApp, Mourão se comporta como um presidente da República. O ex-capitão não tem capacidade intelectual para atuar fora da bolha de ideologismo barato que Olavo de Carvalho construiu para ele. Funcionou bem durante a campanha, mas agora não mais. Isso ficou ainda mais evidente quando ele usou apenas seis dos 45 minutos que tinha para representar o país no maior fórum econômico do mundo.

Mourão, por outro lado, tem atuado com diplomacia e pragmatismo. Não se vê nem sombra daquele militar golpista que atiçava as tropas contra os políticos em 2015. Já o presidente Bolsonaro ainda se vê preso no olavismo, no papel de cachorrinho fiel de Donald Trump e no crime organizado de Rio das Pedras.

A cada dia que passa, o ex-capitão vai ficando cada vez mais minúsculo perto do general, que faz questão de deixar isso claro a todo momento. O protagonismo do vice tem deixado Bolsonaro e sua família bastante preocupados. Enquanto eles sangram e se mostram incapazes de explicar as relações com o crime organizado, Mourão vai ganhando respeito de todos os lados, construindo pontes e ganhando força política.

O vice-presidente insiste bater de frente com o olavismo que intoxica o governo Bolsonaro. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, um fiel olavista indicado ao cargo pelo guru, tem sido solenemente ignorado pelo general. Além de estar mantendo reuniões com embaixadores de diversos países sem a presença do chanceler, como é de praxe, Mourão debochou da sua atuação excessivamente ideológica: “Vai todo mundo virar israelense desde criancinha? Vai todo mundo virar fã dos americanos de qualquer jeito? A diplomacia são métodos e objetivos, não um fim. É preciso inserir conceitos claros, não interferir em assuntos de outros países. E ainda não está claro” — uma verdadeira lacrada no olavismo, como dizem.

Os atritos entre o filósofo e o general foram aumentando até culminar com declaração de Mourão lamentando as ameaças a Jean. Olavo se indignou com o general e correu vomitar sua megalomania delirante no YouTube. Além de descer a lenha em Mourão e acusar os militares brasileiros de serem historicamente coniventes com os comunistas, o maluco de Virgínia (EUA) aproveitou para se dizer vítima “da maior campanha de assassinato de reputação contra um cidadão privado já visto na história humana”, chamar Maria do Rosário de “vagabunda” e dizer que “há sérias suspeitas de que Jean é um dos mandantes do assassinato de Bolsonaro”.

A lisergia de Olavo não tolera a prudência, a racionalidade e o pragmatismo de Mourão. Ele acredita que estamos no meio de um guerra contra o marxismo cultural globalista, e numa guerra não se deve ter tolerância com os inimigos. O general desprezou o ataque do filósofo: “Quem se importa com as opiniões do Olavo?”A pergunta foi retórica, mas deve ser respondida: Jair Bolsonaro e o núcleo bolsonarista não só se importam como são criaturas dele.

Não se sabe exatamente quais são os interesses de Mourão ao rivalizar tão firmemente com Bolsonaro dentro do governo. Muitos já dizem que ele está preparando o terreno para assumir o poder com o apoio dos militares caso o ex-capitão se enfraqueça ainda mais politicamente. É também o que pensa um dos filhos do presidente, como relatou a Folha. Quem acompanha o Brasil nos últimos cincoanos, sabe que nenhuma possibilidade pode ser descartada. Há pouco o que se fazer para controlar o general, já que ele não pode ser demitido. A essa altura o capitão deve estar amargamente arrependido de não ter escolhido o sempre dócil e fiel Magno Malta para ser seu vice.

O vice-presidente parece ter virado um oposicionista do presidente, o que o fez ganhar simpatia de muita gente na esquerda. Nessa semana, Mourão surpreendeu ainda mais ao afirmar que “o aborto deve ser uma decisão da mulher”.

Mas vamos com calma. Até pouco tempo atrás, Mourão agitava as tropas contra “inimigos da nação” e homenageava torturador. Já durante a campanha, admitiu a possibilidade de um “autogolpe” com a ajuda das Forças Armadas em caso de “anarquia”. Defendeu uma nova Constituição sem Constituinte. Ligou os indígenas à “indolência” e os negros à “malandragem”. Chamou famílias chefiadas por mães e avós de “fábrica de criminosos”.

O general parece progressista perto de Jair Bolsonaro, mas é apenas uma questão de referência. Até um trezoitão carregado parece progressista ao lado do nosso presidente.

João Filho
joao.filho@​theintercept.com
@jornalismowando

 

 

 

 

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Vaya con Dios

Polary com seus filhos Enzo, Aléssia e sua mulher Sanara, no aeroporto de Santiago/Cl.

Diz o poeta “saudade a gente não explica, é coisa que vem do coração”. Melhor definição não sairia das pontas dos meus dedos, pois, certamente, não brotaria nada parecido da minha cachola oca.

Quantificar, qualificar, mensurar seria uma tarefa inútil, pelo menos para mim.  Mas, podemos dizer que algumas saudades doem, rasgam o coração, como se frágil ele fosse, nos faz perenizar rios, ainda assim, são elas que nos mantém vivos. Tenho saudade sim, de minha adolescência, irresponsavelmente jovem sem preocupação alguma com o universo, também bebo saudade de quando me tornei adulto, que acreditava que iria construir um mundo melhor, qual o quê, nada, nada, somente saudades. Não saudosismo de melancólico pesar, mas sinto saudades, muitas saudades.

Eu, sem minhas saudades seria um museu vazio, um saco de pano que não se sustenta em pé, eu sou feito e refeito de saudades. Sinto saudades de ontem, daquele cafezinho de Dona Neide, lá na cozinha do Gazeta do Oeste, de Luzia do Ponto Frio, tenho saudades até, imaginem vocês, das carreiras que a gente levava, de seu Francisquinho, ali do Café Mossoró, quando íamos para o Dom Bosco, ah! E de Pitias? Também de Djalma e dos amigos de farra, mesmo vendo e conversando com muito deles todos os dias. Eu, sinceramente, sou saudade. Me encho de saudades do que foi. Ora, direis de peito cheio, que só se tem saudades do que aconteceu. Meu caro, fale por você. Eu tenho saudades do amanhã quando olhar para os lados e não mais ver meus netos, ali em Mossoró, a 3 horas do meu Renault, e sim, a 5.000km.

E nestes últimos dias, parece-me que eu não a tenho mais saudade, e sim, ela a mim. Meus netos Ezno, Aléssia e minha nora Sanara, estão indo morar no Chile, em Santiago. Esperando por eles está meu primogênito, Polary, que para oferecer uma perspectiva de vida melhor fincou alicerce na terra de Neruda.

Diria, eu no singular, parafraseando Maiakovski: Não estou alegre, mas por que razão haveria de ficar triste?  Sei que eles eram a parte do meu filho mais próxima de mim. Mas, decidi me despir dela, a saudade, desta saudade. Pois, seria muito egoísmo meu prendê-los a sentimento meu, só meu, para meu bem-estar emocional. Certamente, minhas saudades de pai e avô não se comparam as saudades deles, de filhos e mulher. Assim sendo, me embrenho na multidão, que ora, chora comigo, mesmo ciente que não importa o tamanho da multidão, jamais será igual a sua solitária saudade. Vaya con Dios!

Obs: Escrevi ontem, mas não consegui publicá-lo. A saudade não arredou o pé.

 

 

 

 

 

 

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À deriva

Outro dia assisti o filme Riddick, não recordo se 1, 2 ou 3, de ficção científica, com Van Diesel, – por sinal muito ruim, em minha gigantesca ignorância sobre a sétima arte -, tendo como cenário um planeta estéril de uma galáxia distante, uma tempestade ácida cai umedecendo a terra e fazendo brotar, instantemente, bestas do chão que devoram pessoas.

O Feicebuque se assemelha muito ao terreno infértil daquele planeta, em que nada pode germinar, desde que você não provoque uma tempestade. Nas terras do Mark Zuckerberg basta postar um texto, ácido, sério, crítico, contundente de sua lavra, expondo seu pensamento sobre algo tema que não seja atrativo aos olhos de alguns. Logo, logo as bestas rompem o chão em uma ferocidade que lhe são peculiares, ganham vida e passam a lhe “caçar” com seus dentes serrilhados, línguas bifurcadas, caudas com ponta de seta buscando devora-lo vivo, sem ao menos lhe dar chance de defesa.

Há pouco, em uma publicação do amigo Givanildo Silva, disse que o Brasil se tornou um pântano perigoso, onde é raso para se navegar e movediço demais para caminhar. A todo momento fico mais convicto disto, diante das frases proferidas por gente que devia se calar ou no mínimo incentivar o diálogo civilizado e por, deter determinados cargos de comando deviam se conter e não descer ao subsolo, para não dizer ao esgoto.

Mas, o que esperar de uma pessoa que diz que usava o auxílio moradia para “comer gente”, “vamos fuzilar a petralhada”, “não lhe estupro porque você não merece”, “sonego tudo que puder” ou ainda do sujeito que é criminoso confesso e diz que pediu perdão a Deus e foi perdoado, há ainda outra que viu Jesus na goiabeira? Sem falar dos “cidadões” do novo presidente do INEP, Marcus Vinicius Rodrigues, ou a magistrada Marília Castro Neves, dizer num grupo no Facebook que o deputado federal Jean Wyllys deveria ser executado?

Não que seja pessimista e faça coro aos que engrossam o cordão do quanto pior melhor, sou opositor ao Tapir, sim senhor. Mas, aqui é meu lugar, este é meu país, aqui me fiz e aqui sou. Gostaria de ver essa Besta gerar melhores condições de vida aos mais humildes, lhes proporcionando empregos dignos, saúde, educação…Entretanto, o que rasga o horizonte não é lá muito promissor.

Um burro xucro que imagina estar no ensino médio, fazendo beicinho, “inticando” e não se dar conta do tamanho da responsabilidade que lhe puseram nas costas. Sexta-feira (26) logo, após o crime em Brumadinho, vomitou “Se bem que a questão da Vale do Rio Doce não tem nada a ver com o governo federal”, para logo em seguida vários Ministérios e o próprio Governo se colocarem a disposição das vítimas. Não há perspectiva de melhoras nesse vai-e-vem, não existe confiabilidade em sua fala, não há projeto de governo, apenas medidas espaçadas descoordenadas. Estamos à deriva, navegando em meias-verdades.

 

 

 

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Você também é responsável

No Brasil tudo pode acontecer, inclusive a mentira ser realmente mentira.
Os últimos acontecimentos de violência no Ceará, dizem os mais exaltados e ferrenhos opositores do Partido do Trabalhadores, que quem está por trás é o próprio partido do governador. Concordo!
 
Aquela fogueirada, em janeiro de 2016, com ônibus de Natal, Rebelião em Alcaçuz, Maranhão, Rondônia, São Paulo, em 2016, sem falar da cidade do Rio de Janeiro. Porém, troquemos “está” por estão PT, DEM, PSDB, MDB e todos os outros partidos que estivaram no poder, sem excessão, toda essa barbarie instalada de norte a sul, de leste a oeste do Brasil possui a digital deles.
 
De Fernando Henrique ao COISA – este por vagabundagem, por 28 anos de parlamento e sem um projeto para segurança nem para porrinha nenhuma -; de Garibaldi a Robinson Faria.
 
São todos culpados sim, por omissão, – talvez, aí ser mais grave, pelos resultados visto hoje -, pois esta falta de ação, não somente de força, mas também, de educação, saúde, transporte e salários dignos para os mais pobres, fabricou e continua fabricando marginais aos borbulhões.
 
Então, o PT, DEM, PSDB, MDB…Estão sim, por trás da fumaça destes atos de terror à população cearense brasileira, não há inocentes nesta história,  todos são culpados.Inclusive eu e você, também por omissão. O resto é açodamento de opositores extremistas que tentam desviar o foco do início desastroso do governo do Tapir. 
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És primavera

 

Muitas pessoas têm a autoestima elevadíssima, além do permitido para sua pequenez. Quando ainda de frágeis raízes se imaginam um frondoso e garboso carvalho e, o são. Entretanto, ao enfrentar sua primeira tempestade, arrogantemente, se torna rígido como ferro, impondo sua altivez. O vento, que não o reconhece, arranca-lhe do solo, com raiz e tudo, o faz rolar vale abaixo, quebrando-lhe e arrancando galhos e folhas, decretando uma morte lenta, cruelmente vazia e seca.

Outras, esplendorosamente nascem ervas daninhas, se esparramam pelo chão, sufocando outras e reivindicando o fértil solo para si, estas são, muitas vezes ardilosas, permitem o nascedouro de outras espécies, parasitariamente sugam sua seiva, fazem destas suas moradas de esqueletos.

Ainda, outras plantas mais alvissareiras, que não sonham ser carvalho, furam o bloqueio das adversidades e no topo da colina, são arbustos selvagens de rara beleza, são testemunhas oculares da arrogância do jovem carvalho, da matança das ervas daninhas e como arbustos, humildemente, se flexionam às tempestades, para depois voltar ao seu estado natural.

Estas espécimes me atraem, são estas que me movem, são estas que inevitavelmente me serve luz. Pois, conhecem suas raízes, seu começo, meio e fim. Não dão bolas para as intempéries, não se lamentam do frio invernoso, nem do verão quando o sol lhes queimam a pele ou ainda do outono, que as deixam nuas em pelos, pois sabem que ninguém impedirá as flores da primavera. Obrigado, pela visita, Priscila Cibelle. És primavera.

Adendo. Desculpe, Daniel. Mas, você e eu, orbitamos estes seres maravilhosos, que certamente, são imagem e semelhança de Deus, nós, apenas um arremedo. Obrigado pela visita.

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Gótico

Com 5.9 nas costelas e em todo resto da carcaça, já posso dizer que sou um “cabra velho”. Apesar de dona Geralda, lá no tempo do ronca, pelos anos 70, quando queria me elogiar por algo que poucos da minha idade faziam, dizia: “Esse menino parece um “cabra velho”. Não sei se gostava, mas, era o jeito dela ficar orgulhosa de mim.

Hoje, quase um ancião ou terceira idade, dizem que agora é Melhor Idade, sei lá algo besta assim, ainda não me acostumo com essas asnices. Desde cedo nunca me enquadrei.

Minha turma era formada por jovens comuns – iguais a mim -, que não queriam fazer parte de nenhuma tribo: Hippies, Punk, Góticos, Skinheads ou sair por aí como rebeldes sem causas. Fazíamos muitas coisas que nossa idade permitia, eu, o máximo que consegui em termos de “moda” foi usar cacharréu – quente que só a porra –, calça boca-de-sino e tamancos.

Minha filha, Larissa fez uma postagem sobre os Góticos evangélicos. Fiquei imaginando-me, com essa cara que Deus me deu, todo de preto, as beiradas dos olhos e os beiços pintadas de preto, lentes de contato verdes com íris de felino, um piercing no buraco das ventas e um alargador numa das “zureia”, cabelos tipo moicano azuis, seria o cão chupando manga. Sendo evangélico, católico, espírita, umbandistas, ou qualquer umas das 35 mil religiões e seitas indianas, nada me salvaria! Certamente, todos os meus caminhos levariam às fornalhas do anjo caído.

Por isso, nada de tribo. Nada de terceira idade, boa idade, ruim idade ou sei mais o quê vão inventar. Sou mesmo é potiguar “cabra da peste”, lá de Angicos e estamos conversados.

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CORECON/RN CONCLAMA A TODOS PARA UM PACTO DE CONCILIAÇÃO EM TORNO DA GOVERNABILIDADE

Passada a acirrada campanha política implementada em nível Estadual e Nacional, em um clima de extrema tensão e intolerância mútua, é chegada a hora de desmontar os palanques e olharmos para um projeto de Nação.

Esgotadas as agressões e a polarização entre direita e esquerda, o foco tem que passar pela necessária e importante “Governabilidade”, clima de união, sem a qual não outra maneira de governar para todos os brasileiros e os norte-rio-grandenses.

É preciso que os eleitos tenham a grandeza dos grandes líderes, que demonstraram ser, por suas expressivas votações obtidas, e seguindo com a resiliência e responsabilidade cívica esperada, buscarem o desarmamento das convicções de campanha, fazendo da mediação, seus dogmas de aproximação dos contrários para uma convivência respeitosa entre todos.

O Brasil e o RN, são pacientes com doenças crônicas, onde anos a fio vem gastando mais do que arrecada e, ainda para agravamento deste cenário, gasta os insuficientes recursos que resta, com investimentos duvidosos, como foi o caso do nosso Aeroporto de São Gonçalo e da monumental Arena da Dunas.

Os eleitos, não podem frustrar as expectativas dos seus eleitores, e têm que buscar, de forma urgente, a retomada efetiva do crescimento econômico, pois a fome, a desesperança, a Educação, Saúde e Segurança de qualidade exige soluções imediatas. Além da falta de emprego e renda, não tem cor, ideologia e menos ainda, partido político, assim sendo, não cabe mais em discursos e promessas de campanha, temos que ir às práticas com enorme espírito público e capacidade de renúncias e aceitações das urgentes mudanças.

É necessário que os eleitos, entendam que o poder somente é digno, quem dele é concedido, se o líder se desprender, para servir a sociedade e não para a sociedade o servi-lo, dando-lhe dignidade efetividade ao voto do povo.

O Brasil requer reformas urgentes e corajosas, em uma grande e ampla discursão com a sociedade civil organizada, para que os menos favorecidos não continuem como sempre, sendo os mais sacrificados, notadamente na reforma da Previdência Social, que deve se concentrar em cortar os privilégios e as enormes distorções entre as diversas categorias.

É primordial adequar o tamanho da União e do Estado, fazer uma reforma fiscal em que os recursos sejam descentralizados de Brasília e que os Estados e Municípios, passem a ter maior autonomia orçamentária.

Perseguir o equilíbrio fiscal se faz urgente, para deixarmos de estar alimentando o rentismo nefasto no Brasil, que consumem mais recursos que os orçamentos da saúde e educação.

A busca da queda urgente das taxas de juros, que trava a retomada dos investimentos e sacrifica os mais 64 milhões de endividados condenando-os à inadimplência permanente, é imperativa e indispensável.

A nível do Estado do Rio Grande do Norte, temos que perseguir o urgente a readequação das receitas correntes Liquida-RCL, onde o legislativo e o Judiciário estão consumindo em seus orçamentos acima da média nacional e regional, descapitalizando o tesouro Estadual.

Aproveitar os diferenciais do RN, como fatores de atratividade é imperativo para alçar caminhos mais seguros para o desenvolvimento do Estado. Pois não é todo Estado, que tem a enorme autonomia em energética limpa, importante insumos de produção, que ainda é muito pouco explorada essa excepcional vantagem competitiva. Temos ainda, uma localização geográfica privilegiada, condições invejáveis e estratégica, agregada as potencialidades: ventos e sol em abundância.

O agronegócio e indústria extrativa, são promissoras, com grande capacidade de expansão, nas áreas da fruticultura, carcinicultura, pesca oceânica, mineração, indústrias salineira e da cana de açúcar, entre outras riquezas naturais, que o governo deve ter um olhar mais atento a estas matrizes de desenvolvimento.

É de fundamental importância valorizar e dar maior segurança jurídica, fiscal e ambiental, para se criar fatores de atratividade, e assim conquistar novos investimentos, notadamente para atrair o capital privado.

A principal indústria e vocação que é a turística, tem que ser mais reconhecida, incentivava e interiorizada, com boas estradas e a volta da segurança do tranquilo e pacífico Estado de outrora.

Mas, para avançar nesta sinergia positiva,  se urgente exigir que os governantes se desprendam de vaidades, ideologias e desçam dos palanques, para que possam fluir os entendimentos pelo uma projeto de Nação e Estado, afinal somos todos irmãos brasileiros e somente seremos uma nação e um Estado atrativo, com a necessária redução do desemprego, das enormes desigualdades sociais e diferenças regionais.

Que Deus abençoe e ilumine o Presidente Jair Bolsonaro e a nossa Governadora Fátima Bezerra, para uma gestão assertiva e que o povo brasileiro, se una em torno de um projeto de nação, superando todo e qualquer radicalismo, violência e a intolerância, afinal somos todos Brasileiros e Potiguares.

     Ricardo Valério Costa Menezes
Presidente do Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Norte – CORECON/RN
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Quem perdeu?

Não se confirmou a profecia do Cabo Daciolo, que teríamos 7 dias de joelhos no chão em reza ao Senhor, logo no janeiro próximo. Entretanto, teremos 21 dias de muitas rezas e orações pedindo proteção e às benções de todos os deuses para manda-lo de volta às profundezas, a besta-fera, o medonho MICO e sua sede de sangue.

Quem ganhou e quem perdeu? Na verdade, no Rio grande do Norte, todos ganharam, porém, as tradicionais oligarquias foram abatidas em pleno voo, perderam e perderam feio. Os clãs do estado não conseguiram o intento: Maia, Alves, Rosado, Faria, Melo não elegeram seus nomes mais proeminentes: Felipe Maia – por questões de sobrevivência de seu pai, o senador José Agripino foi sacrificado logo de imediato, muito antes do pleito-; o ex-governador e senador Garibaldi Alves, Larissa Rosado, Betinho Rosado, Geraldo Melo, José Agripino Maia e Márcia Maia.

Mossoró merece uma análise mais profunda aparte – deixo para Thurbay e Givanildo que são mestres no traçado -, entretanto, não me esquivo de botar meu dedo neste angu. Os Rosados que antes detinha o monopólio político da cidade e região, quando de sua divisão emplacavam anos a fio dois deputados estaduais e dois federais, além, de uma forte e respeitada força na Câmara Municipal e uma influência estadual expressiva, afinal dividia com os Alves e Maia os condomínios eleitorais da terra potiguar.

Hoje, sem nenhum eleito a família Rosado foi golpeada duramente, saí extremamente machucada, derrotada e porque não dizer frágil? Rosalba, prefeita da cidade, busca “salvar a honra” da família com a eleição de seu filho Kadu Ciarlini, Vice na chapa de Carlos Eduardo, – que está no segundo turno contra a petista Fátima Bezerra – e também luta para salvaguardar os Alves, apesar de não ter usado o nome da família em sua campanha. Agora, isto é uma resposta às políticas erradas dos Rosados? E foram erradas suas políticas? Não sou eu a responder, talvez um estudo político/sociológico será mais convincente ou talvez por sua natureza política – Mossoró respira política -, alguém do boteco mais próximo, nos dê uma resolução, se não definitiva, mas com uma certa plausibilidade.

Voltando à política nacional. O PT foi o grande vitorioso, pondo por terra aquela história que o partido não resistiria ao mar de denúncias e todos seus imbróglios advindos.

Não à violência, à truculência. Ele não!!!

 

 

 

 

 

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Quando o silêncio diz mais

Paulo Afonso Linhares

“Le parole est d’argent, mais le silence est d’or”.  Sim, como reza velha máxima francesa,  se a palavra é de prata, o silêncio é de ouro. Isto, aliás, nunca foi tão verdadeiro quanto nos dias que correm neste Brasil. Nos albores de mais uma eleição presidencial, neste 2018, o que prevalece mesmo é a ausência das palavras para expressar o que efetivamente pretendem os dois principais contendores da corrida presidencial.

De um lado, pontifica o silêncio de um líder encarcerado, o Lula, cujas parcas palavras  se traduzem na locução do ventríloquo nomeado, Fernando Haddad, que pouco dizem de uma verdadeira intenção de governo para um Brasil desgovernado; do outro, os arroubos do candidato Jair Bolsonaro, preso a um leito  de hospital depois de sofrer estúpido atentado protagonizado por um maluco solitário.

Um triste paradoxo: o debate silencioso passou a pautar a disputa presidencial de 2018;  ninguém precisa falar,  basta que prevaleçam os mudos argumentos dos extremos. Enfim, todos os olhos e ouvidos para o que pouco dizem Lula, o encarcerado de Curitiba, judicialmente impedido de dar entrevistas ou de fazer outras manifestações públicas, e o convalescente Bolsonaro, internado no chique Hospital Israelita Albert Einstein.

Fato é que o silêncio finda por colocá-los numa posição assemelhada e, por caminhos diversos, isentando-os de defender posições ou dar explicações vexatórias acerca de aspectos cruciais da cena política que afloram na campanha eleitoral. Ainda mais porque não pôde ser candidato à presidência da República, Lula não tem nenhum dever de explicar aos milhões de seus eleitores legados ao pupilo Fernando Haddad os erros cometidos pela cúpula petista, da qual é a mais eminente figura, com as alianças políticas espúrias e a participação em esquemas de corrupção trazidos a lume nos últimos anos; preso a um leito de hospital, Bolsonaro ‘participa’ da campanha sem falar quase nada, o que decerto tem favorecido a sua ótima posição nas sondagens de intenção de votos: tivesse que falar – e os candidatos a graduados postos eletivos têm que fazê-lo – já teria despedaçado milhares de votos, sobretudo, nos debates entre candidatos e massacrantes entrevistas à grande imprensa. As palavras de ordem das militâncias opostas falam por eles.

Cá fora, militantes orgânicos e inorgânicos,  de lados extremos se digladiam, sobretudo, no ríspido chão das redes sociais e mesmos nas ruas, antevendo os atropelos políticos  que devem permanecer após o resultado das eleição de 2018, eis que, pelo que revelam as sondagens de intenção de voto, é quase certo que a faixa  presidencial ficará num dos extremos da disputa: ou irá para Haddad ou para Bolsonaro, deixando de fora o loquaz Ciro Gomes, o comedido Geraldo Alkimin, a frágil Marina Silva, além dos outros candidatos que não ultrapassam a margem de três pontos percentuais.

O clima tenso, a despeito do resultado, decorrerá da não aceitação pelo lado perdedor da eleição, a exemplo dos tucanos em 2014, cujas consequências  foram o desgastante impeachment de Dilma Rousseff e a entronização de Michel Temer e sua gangue de corruptos no Palácio do Planalto, ademais de uma longa, persistente e insanável instabilidade política, ao lado da enorme crise econômica.

Ressalte-se que um dos grandes atrativos dos regimes democráticos é a expectativa em tons positivos que emerge da alternância periódica de poder. Um novo governo, democraticamente eleito, sempre leva as pessoas a acreditar que algo mudará, que dias melhores poderão vir, velhos erros não se repetirão ou arraigados vícios serão debelados.

Apesar da frustração natural daqueles eleitores cujo projeto político foi derrotado, o sentimento que deve prevalecer é o de que a vida seguirá seu curso normal e que é essencial a convergência de todos os segmentos sociais para a consecução dos grandes objetivos da nação. Enfim, a eleição democrática deve unir as pessoas num ambiente de convivência e respeito, mesmo que mantidas as inevitáveis divergências político-ideológicas.

O oposto disto é a fragmentação social que se traduz no repúdio às diferenças, no sectarismo, nos confrontos que podem levar à violência e aos tumultos de desagradáveis e imprevisíveis consequências. Daí a perturbadora constatação de que, dificilmente, das urnas de 2018 não emergirá um Brasil fragmentado, ganhem os companheiros de Lula ou as não menos barulhentas falanges do capitão Bolsonaro. Lastimável. Cabe-nos apenas aguardar o resultado, em obsequioso silêncio.

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O quê vou dizer.?

É tão certo quanto o sol sair logo após a alvorada, como minha falta de entendimento sobre física quântica e cosmologia aplicada, ainda assim, se me fosse dada a incumbência de escrever sobre, certamente, imprimia pelo menos de 27 linhas de 70 toques (caracteres) em um A4.

Entretanto, de você, que conheço tanto, de norte a sul, de leste a oeste, que vi seu primeiro cabelo branca, seu primeiro sorriso lagrimoso quando Jade recebeu o diploma de publicitária, quando fez sua primeira tatuagem para dar “moral” a Segundo, da alegria quando Pollyanne lhe abraçou com Valentina os braços, ainda na cama do HapVida, de quando Polary foi para o Chile e uma lágrima desceu no canto do olho, de quando os netos lhe chamam de vó, de quando Larissa entrou na UERN, mesmo assim, me faltam dedos, as palavras tremem.

Eu, que sei dos perdões, das danças cantadas, das músicas sentidas, dos caminhos que andamos, uns de macia areia outros de fazer calos nos sapatos. Eu que sei das dores, das alegrias, das cicatrizes, dos dias ruins sem fim, das noites de sonos tranquilos. Eu que sei dos seus cheiros, suas vontades, suas verdades não sei dizer de você, me faltam olhos.

Eu que sei de nós, do nosso pacto simples sem juras, sem desenhos de coração em árvores: “faça o quê eu quero, eu faço o quê você quer e vamos ser infinito enquanto dure”. Hoje, nem falamos, apenas olhamos. Eu que sei tudo de você, mas, não sei dizer o quê vou dizer. Na verdade, não sei mais nada, parece um estado de poesia.

Feliz Aniversário, Maria!

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Quem diabos gosta de gente normal?

Hoje cedo, amanheci com a voz de minha neta mais nova, Valentina de apenas 2 anos dizendo no WhatsApp: Bom dia, vovó Socorro,” arrancando lágrimas de Maria e, certamente, lavando-lhe a alma.

Já no computador vi a foto publicada pelo amigo Franklin Machado, uma taça de vinho onde aparece, na espuma, a figura de Scooby-Doo, com a devida ajuda de Maria, que deve ter um parafuso a menos ou a mais, de imediato acrescentei os olhos de um fantasma por trás do frouxo cachorro. Pois, muito bem, não tive como evitar não pensar em meu amigo Céfas Carvalho, que me atiçou a descobrir minha pareidomania. Logo fui remitido há duas semanas, quando Valentina nos meus braços, da minha janela olhando para nuvens via coelho, cachorro, pássaros e quase toda fauna conhecida por ela.

Curioso que sou fui pesquisar sobre essa tal de pareidolia. Danei-me ao Google. A resposta, veio da revista Galileu na seguinte manchete: “Pessoas neuróticas costumam ver rostos em coisas”, no primeiro momento dei-me por satisfeito.

Mas, por ser acometido da curiosidade que matou o gato e por trabalhar em comunicação anos a fio, sei que não se deve medir o monstro por sua sombra.

Continuei a caminhar no artigo, alguns parágrafos abaixo li que pesquisadores no Laboratório de Ciências da Comunicação em Tóquio NTT, concluíram que pessoa neuróticas são mais predispostas à pareidolia como mecanismo evolutivo, pois estão sempre em alerta a ameaças e claro, o perigo pode ter um rosto uma forma.  Agora sim, estou satisfeito. Ah! Afinal, quem diabos gosta de gente normal?

 

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Brasil x Suíça

Minha filha, Jade Brito, costuma repetir o genial John Lennon, sempre que a oportunidade solicita: “A ignorância é uma espécie de bênção. Se você não sabe, não existe dor.” Porém, preso a minha enorme ignorância arrogante, não entendi ou talvez vi apenas o verso.

Ontem, compreendi:

– Bom dia, amigo. Parece morocoxó?

– Bom dia seu Brito. Respondeu-me meu amigo Delegado (Porteiro, filósofo, monge e sociólogo)

– Estou mesmo!!!

– Por quê?

– Ontem, minha neta me disse que no Brasil ainda existem 12.9 milhões de analfabetos, uma Suíça e meia e, que por lá, não tem um analfabeto para se “fazer um chá”, e que professor ganha mais que deputado.

– É a mais pura verdade. Mas, não fique triste não, amigo.

– Como não seu Brito? O senhor não sabe o que é ver uma placa e não saber o que está escrito, aprendi a ler aos 50 anos.

Fiquei mudo. Ele Continuou:

– Estou com o coração pesado, pensando nessa multidão de analfabetos sem ninguém para ensiná-los.

E eu que pensava, que quando pensava, pensava estar me libertando dos meus demônios, de minhas dores. Entretanto, lá no fundo, sempre soube, que pensar não é nenhum descarrego, um banho de água morna, onde faz a sujeira descer pelo ralo. Pensar é cruel, dolorido e, tal qual Sísifo, quem se propõe a fazer, passa a vida inteira subindo montanhas com fardos cada vez maiores. Pensar não é uma atividade fácil e leve, talvez e por isso mesmo, poucos se dedicam a fazer.