Autor: brito_admin

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A cultura da bala

Lá em meados dos anos 70 quando chegava a segunda-feira a gente já estava pensando qual seria o vesperal do Cine Pax ou Cine Cid, se Dona Geralda – Minha mãe – iria nos dar dinheiro para novamente ir “aperriar” Balão e na volta tocar a campainha da casa de Seu João Cantídio e correr até ficarmos esbaforidos pondo os bofes pra fora. Então, para garantir a empreitada dominical, ficávamos de “zuvidos” colados na nossa Rádio Vitrola ABC Isabela V – ABC Voz de Ouro, sintonizada na Rádio Rural de Mossoró, de olho nos anúncios dos filmes para final de semana e se a entrada seria com garrafas de vidro, se fosse assim,o dinheiro do ingresso já garantia o sorvete ou a entrada a noite, no Cardeal Câmara, do da Igreja São José, aonde certamente, dançaríamos Twist and Shout – The Beatles. 

“Flechas Ardentes”, “Um Dólar Furado”, “Keoma”, “Era Uma Vez No Oeste”, “Maciste”, “Ben-Hur”, Operação Dragão”…Enfim, todos filmes de luta, exceto no final de ano que o cardápio mudava: “Paixão de Cristo”. “Dio Como te amo”, Love Story”….Entretanto, o que encantava a todos nós pré-adolescentes e adolescentes eram os filmes de luta. A maioria possuía ou pensava em ter um revólver de alumínio com espoletas ou aprender a lutar Karatê e sair esmurrando paredes e inimigos ocultos, imitando Bruce Lee, pois eram assim os “mocinhos” da grande tela: bravos, fortes e naquele mundo selvagem resolviam tudo a bala ou a golpes de lutas marciais.

Eu já dava meus primeiros passos em leitura mais densas, como os Os Irmãos Karamazov – confesso que não entendia bulhufas, mas servia pra eu me “amostrar” com os amigos – também já começava a perceber certos boatos sobre comunistas e a ditadura militar, gente desaparecida, essas coisa. Mas, ainda assim, nossos heróis não morriam de overdose, mas de bala.

Era a cultura da bala sendo implementada pelos italianos nas terras dos yankees que rapidamente aprenderam. Hoje, ainda na cama, liguei a tv e não para minha surpresa estava sendo reprisado pela milésima nona vez o “De volta ao Jogo”, com Keanu Reeves, no qual interpreta um assassino profissional aposentado, que volta a ativa para vingar a morte de seu cachorrinho de estimação.

Esta foi a terceira vez que tentei contar quantos pessoas John Wick mata, mas sempre sou interrompido, já tinha somado 3.433 mortes, quando o WhatsApp me tirou atenção, marquei a cena, da próxima vez que topar com John Wick continuarei de onde parei. Segundo Maria, não deve ter sobrado uma alma viva no set de filmagem.

Brito e Silva – Cartunista

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Esta terra ainda vai cumprir seu ideal

O escritor Machado de Assis, cunhou um extraordinário conceito entre as diferenças que coabitam o Brasil, porém, separadas pelas castas: O Brasil real e o Brasil oficial. Para Machado o país real é bom, e reserva os melhores instintos. O país oficial é caricato e burlesco.

O Brasil oficial é do Capitão Bufão, que ignora a pandemia, afirmando tratar-se de uma “gripezinha” e, quando não, diz que esta se aproxima do “finalzinho” quando, na verdade, ainda estamos na média de 600 vidas ceifadas pela COVID-19 por dia, em total de mais de 165 mil e, talvez, já surfando uma segunda onda. O país oficial é o estado da negação das ciências, da exaltação à ignorância, onde 6.671 militares receberam o auxílio emergencial – criado para aqueles trabalhadores que não teriam renda durante a pandemia – e não devolveram, do descaramento e do sorriso amarelo. O país que será um dos últimos a vacinar seu povo, porque o presidente é obscurantista, obtuso embebido de ignorância ímpar.

O país oficial é glamouroso nas telas, telinhas e telões: explicitamente editado e reeditado nas novelas globais, no Mais Você onde Ana Maria Braga dita receitas às festividades de dezembro da fanfarrona e bolorenta classe média posar de rica, nas redes sociais. 

Outro dia, seguindo conselhos do meu fisioterapeuta – meu genro Roberto Freire – exercitando os dedos no meu poderoso Remote Control tropecei no talk show Casos de Família, apresentado pela jornalista Christina Rocha. Programa que é a cara do Brasil real, do qual muita gente “chic” e alguns falsos, pseudos intelectuais torcem o nariz, o denominam de brega e “coisa de pobre”, mas, que certamente, silenciosamente assistem e, na maioria das vezes, se reconhecem nos “casos” expostos: há brigas, puxões de cabelos, gritos, palavrões expressados pelos convidados. Estes que são pessoas comuns das periferias das grande cidades do “sul maravilha” e seus dramas cotidianos, que na tv, aos olhos de muita gente viram piadas e destas não merecem um olhar mais atencioso, mais caridoso, mais acolhedor ou mesmo uma lágrima de remorso. 

O Brasil oficial é arrogante, mentiroso, sujo, ilusionista onde abriga um Luciano Huck, que faz do Lata-Velha,  ‘Lar Doce Lar’  e seu Caldeirão de quadros para grandes audiências do Ibope, assim poder suportar sua vida nababesca e, talvez alicerçar uma possível candidatura à Presidência da República; que faz herói um juiz que levou o país a uma crise política e econômica sem precedentes, em nome de uma falsa e mentirosa “guerra” contra a corrupção, prendendo e destruindo reputações, pichando empresas como “antro de corrupção” e hoje, sem constrangimento algum, bem à vontade se encontra trabalhando para estas mesmas empresas. O Brasil Oficial é horrorosamente abençoado por um querubim caído.

No Brasil real moram milhões de almas piedosamente alegres, apesar da dor e das mazelas seculares que lhes impuseram; nele há milhões lutando bravamente nos hospitais, UPAs, Postos de Saúde e outros tantas em laboratórios, freneticamente buscando frear este maldoso vírus. Vivas ao Brasil real.

Como diz Chico, “esta terra ainda vai cumprir seu ideal”. 

Epitáfio

O que esperar de 2021? Ora a vacina. Não podemos supor que alguém mude, o sol passe a nascer no oeste, o gato deixe de miar porque começa um Ano Novo. Entretanto, toda e qualquer mudança permitida começa em você e mude enquanto é tempo, depois não adianta cantarolar, com a voz embargada e os olhos cheios de falsas lágrimas: “Devia ter amado mais, ter chorado mais…”.

Salários

Álvaro Dias, como todo político de carreira sem o menor compromisso com o povo, deixou o funcionalismo municipal a ver navios, isto é, sem salários de dezembro. Eleito, agora é a política da malvadeza, do castigo, do “não tô nem aí”, confia na memória curta do povo. 

Capitalismo selvagem

Lembre-me de um amigo de direita, que no Governo Lula, tinha um pequeno negócio familiar: vendia peças para computador e, estufava o peito com uma certa galhofa dizia “não vejo a hora desse governo comunista acabar antes que esse barbudo tome tudo que é meu e dê para esses vagabundos comunistas”, respirava e dava uma risada escandalosamente, demosntrando satisfacão pelo dito. O capitalismo tomou-lhe o pão de cada dia, foi obrigado a fechar sua microempresa.

Sangue

Disse-me um velho comunista, seu José, lá em Mossoró, em uma reunião no Sindicato da Construção Civil: “Não há riqueza que não tenha sangue de trabalhador”.

Caricatura do amigo escritor mossoroense Canindé Silva. Confidenciou-me que ela vai fazer pousada na contracapa de seu próximo livro.

Sede

Do meu amigo Delegado(porteiro, filósofo, monge e sociólogo): “Na hora da onça beber água, todos perdem a sede”. 

Brito e Silva – Cartunista

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Saúde e pão

Por Socorro Oliveira

Você já pode ir embora, me despeço de você sem remorso, não quero mais a sua companhia noturna, não quero mais a sua mordaça, nem seus cuidados extremos, não quero mais as notícias e suas dores anunciadas.

O amanhã é incerto, ainda iremos viver um bom tempo acorrentado a você, até porque o governo que nós temos ainda nos acorrenta a incerteza do amanhã. Vai demorar muito para recuperar mais “não cortaremos os pulsos, ao contrário, costuraremos com linhas duplas todas as feridas abertas” Como diz a romancista brasileira no livro “A disciplina do Amor” (Lygia Fagundes Telles).

Neste ano de 2020 aprendi que a vida sempre segue em frente, mesmo com as perdas, mesmo sem os abraços, mesmo com lágrimas nos olhos. Nesta vida e desse momento levarei a leveza de saber que estou viva pra contar, pra escrever, ainda vivo para os que amo e me amam e daqui só carregarei o amor, como diz Cecília Meireles no poema Desenho, do livro Mar Absoluto “Aprendi com as primaveras (plantas) a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira”.

Muitos não sobreviveram para poder registrar o que aconteceu, como atravessamos esses dias tristes, sem as gargalhadas das minhas crianças, sem os abraços, o sorriso de satisfação da comida predileta.Não consegui me despedir do meu irmão que partiu sem vê-lo, não nos foi permitido comemorarmos datas importantes. Festejo daqui escrevendo, parafraseando meus autores prediletos, espalhando amor, acredito que amar nunca é demais, e que “o amor deveria ser um vírus”, como sempre fala minha amiga Joana.

Que esse NOVO ano que bate à nossa porta, venha com uma boa dosagem de vacina, de amor ao próximo, até de poesia e como diz John Lennon “A vida é aquilo que acontece enquanto você está fazendo planos”. Então vamos viver, pois de surpresas nos basta, você 2020, que já vai tarde.No virar da meia noite “Na hora em que a terra dorme… Enrolada em frios véus… Eu ouço uma reza enorme… Enchendo os céus…” Castro Alves.

SENHOR abençoa meus filhos, meus netos, meu povo tão sem rumo, traz VACINA, saúde e pão a todos.30/12/2020

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Canindé Silva

Caricatura concluída, do amigo escritor mossoroense Canindé Silva. Confidenciou-me que ela vai fazer pousada na contracapa de seu próximo livro.

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O “novo normal” do tempo do ronca

Natal findou, hora de arrumar a casa, lavar a louça e aparar as arestas das discussões que permearam toda noite do papai Noel: “deveria ser perú, não Chester”, “não gostei do Arroz  com passas”, “que vinho horrível…”. Sem falar do cunhado que bebeu coquetel de whisky, vodka com groselha e, inconvenientemente passou a ser o centro das atenções, contando piadas sem graça, revelando segredos que todos sabem e são protagonistas, ofuscando o enjoado, enfadonho e anualmente repetido, o “amigo secreto”, que de James Bond não tem nada. Todos têm ciência com semanas de antecedência, o que vão ganhar e de qual bolso foi desalojado compulsoriamente o cartão de crédito à compra. 

Parece um cenário comum à noite de natal em muitos lares, nos quais milhares de famílias se reúnem para ceia natalina e, o é. Entretanto, de outros natais, não deste de 2020.

Este ano, a mesa de doze lugares ou a de quatro sobrou cadeiras, por causa do impedimento social ou porque muitos partiram para sempre, para nunca mais voltar. Não houve empurra-empurra, a algazarra das crianças correndo em volta dos móveis e cristais foi tomada pelo silêncio, pela ausência do som dos risos, gritos e sobretudo dos abraços dos netos. A casa, até vestiu-se de cores vibrantes: vermelho, branco e verde, muito verde, cor a qual lhe colocaram sobre os ombros a pecha de carregar as nossas esperanças, mas os olhos mostram tons pastéis, desbotadas e sem viço expondo cenário para um filme que não vai ser “rodado” ou talvez seja, mas sem atores: um filme triste, mudo em preto e branco.

Passou, terminou o natal e Noel já voltou à Lapônia. Agora, vem o Ano Novo, o esperado 2021 no qual jogamos todas as fichas, afinal e por fim, teremos a vacina contra o mal-humorado e criminoso vírus. Logo teremos carnaval, micaretas, pastores-curandeiros tomarão a vacina, as igrejas irão encher seus salões e cofres, empresários rirão com seus metais, políticos dirão que foi deles a “cura” do mal. Certamente, em 2021 estaremos vivendo o tão propalado “novo normal”, porém, com os velhos hábitos: desdenhar da fome alheia, olhar para o próprio umbigo e nas primeiras horas pós-pandemia planejaremos o natal de vindouro e, claro, como corriqueiramente acontece, não convidaremos o dono da festa. Quem? Perguntariam os mais desatentos ou então diriam: Noel! Noel não, direi: Aquele que faz aniversário no dia 25 e, teve os ensinamentos esquecidos por seus infiéis fiéis. 

Mas também sem querer estragar o prazer de vocês, apenas alerto aqueles que irão ao mar pular as setes ondas, para que tenham muito cuidado ao fazer o pedido. Em 2018, ficamos surdo de gritar “Fora Temer”, nos deram o Capitão Bufão, reclamamos de 19 e veio 2020 com a pandemia. Vou seguir o conselho do meu amigo Josias e estou consultando búzios, tarôs e os astros a busca de uma prévia, uma avant-première, um spoiler, qualquer sinal que mostre a cara de 2021 para poder me precaver das surpresas desagradáveis, que por ventura esteja programada. De toda forma, todo meu estoque de Rivotril já zerou e até o momento não consegui chegar a uma conclusão das mensagens enviadas pelo alinhamento de Júpiter e Saturno. Na verdade, a única resolução que percebi é que o “novo normal ”será tão velho quanto o bumba, “do tempo do ronca”. 

Brito e Silva – Cartunista

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Brito: Não existe “novo normal” nem “antigo normal”; Vivemos uma tragédia humana

22/12/2020 
Por: CEFAS CARVALHO 

Desenhista, ilustrador, chargista e, sobretudo, caricaturista, José Brito e Silva está consolidado nas artes visuais potiguares, sendo celebrado como  um craque do traço, capaz de reinterpretar a perfeição as feições mais características de personalidades e de gente comum, como já definiram, tendo lançado livros de caricaruras e tendo feito div ersas expsoições indivudiais. Em entrevista ao Portal PN< falou sobre os tempos atuais e sua arte. Confira:  

Como foi a sua produção durante o tempo de isolamento e pandemia?

 Na verdade, a Pandemia, do ponto de vista profissional, não alterou muito minha rotina. Desde o ano de 2000 que trabalho em casa, isto é, em home office e, desde então, tenho mantido um relacionamento com nossos clientes através das mídias sociais. Portanto, não teve um impacto tão importante em nossa produção, talvez alguma oscilação, mas nada que mereça destaque. Entretanto, do ponto de vista emocional e psicológico, creio que tenha afetado a todos e eu, certamente, não fiquei imune, talvez neste período tenha produzido minhas charges e caricaturas, dependendo do dia e dos noticiosos, com uma certa carga emocional mais contundente. Passei a usar certos termos e palavras que não usava, tanto nos textos como nas próprias imagens.    

Você lançou um livro de caricaturas. Fale sobre esse projeto?

 “Sem a música, a vida seria um erro”, frase cunhada  Friedrich Nietzsch, trabalhamos juntos, eu e você no Jornal Gazeta do Oeste, solicito seu testemunho lembrando que na minha prancheta havia sempre uma aparelho de som ligado, agora não é diferente, creio que piorou: Às vezes a tv e o som estão ligados e eu com fones ouvindo outras músicas. Então, por causa dessa mania, passei a caricaturar vários artistas que ouvia e publicava no nosso site. Maria, minha mulher, sugeriu que fizesse um livro e, assim nasceu o 200 Caricaturas de Astros da Música Nacional e Internacional. Livro para quem gosta de música, da arte caricatural e também para aqueles que estão começando a desenhar, pois, cada caricaturado tem seu rascunho, como foi desenhado para que as pessoas possam colorir ou servir de referência para reprodução. A ideia era lançar neste ano de 2020, primeiro faríamos uma exposição virtual, em março no Sebo Balalaika, com todas as caricaturas do livro, uma espécie de “avant-première” para promover o livro e logo após, teríamos o lançamento, mas veio o vírus desorganizando tudo, então decidimos transformá-lo num e-book e colocar em nossa loja virtual, https://blogdobrito.com/loja/, que para nossa boa surpresa vem se mantendo além de nossas expectativas.  

Acredita que em 2021 as exposições de artes virtuais serão um híbrido de presenciais com virtuais? 

Em 2012, contra os argumentos de várias pessoas do meio artístico, comunicação e publicitário com os quais me relaciono, descrentes de um bom resultado, fiz a primeira exposição virtual de caricaturas, no Salão Nobre da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, com todos os deputados estaduais, federais, senadores e a governadora e o prefeito de Natal, foi sucesso.  Desde então, já vi várias exposições e eventos virtuais, creio que será o legado desta pandemia que aliada às tecnologias forçaram uma nova maneira de se comunicar e oferecer arte para pessoas com um potencial de alcançar públicos de números inimagináveis, que certamente, não caberiam em um ambiente de quatro paredes. Imagino que a classe artística, pelas próprias circunstâncias, está em ebulição. Não há dúvida que creio que será bastante fértil, na colheita.   

Quais seus projetos para 2021? 

Neste ano de 2020, fui convidado pela Secretaria de Cultura de Mossoró, através de Isaura Amélia, pela qual tenho um profundo respeito e admiração por seu trabalho frente a cultura do RN, para participar dos festejos comemorativos de algumas personalidades que tiveram relevância na vida cultural da cidade de Mossoró, onde faria 30 caricaturas com um pequeno perfil de cada um.  A exposição seria ancorada em um site, também desenvolvido por nós. Entretanto, tudo acertado, quando fomos amarrar os pontos no edital, vimos que não compensaria – para não dizer um desrespeito – participar, pois, o resultado financeiro era menor que o valor para produzir a exposição, logo desisti.Mas, com todo esse material já pesquisado, organizado, revisado mudei o foco e estamos finalizando um livro com 100 personalidades das artes e cultura do nosso estado, onde pretendemos resgatar algumas figuras que não frequentam as mídias e outras tantos que já foram esquecidas, como também mostrar novos personagens, claro, não será nenhum almanaque, não tem essa pretensão, mas apenas registrar pessoas que conheci, revisitei e fui apresentadas. Então, em 2021, teremos um livro e uma exposição, nos mesmos moldes planejado para o livro 200 Caricaturas de Astros da Música Nacional e Internacional.  

Em que a pandemia afetou sua produção e sua visão da vida e da arte?

 Como disse antes, no volume não afetou e se afetou foi muito pouco. O que de fato, imprimiu a todos foi um forte impacto psicológico e eu não passei imune e algumas de minhas charges e textos refletiam e exprimem isto. Passei a usar palavras que não usava por respeito a quem se dedicava, como por exemplo “vagabundo”. O dicionário grafa: Vagabundo: quem leva a vida no ócio; indolente, vadio e algumas vezes chamei o presidente Bolsonaro de vagabundo, pois ele o é, e seu histórico baliza isto: 28 anos de parlamento produziu apenas 4 projetos, tendo 2 aprovados, uma média de 1 projeto a cada 7 anos e, além, da própria indignação com suas ações ou falta delas em relação ao povo mais pobre.  Hoje, vejo as pessoas falarem em “novo normal”, como se isto fosse uma roupa que você compra e veste para ir uma festa e, não é nada disto. Não existe “novo normal” nem “antigo normal”. Estamos vivendo uma tragédia humana, talvez nunca pensado pelas pessoas comuns, que não estavam e não estão preparadas para entendê-la para poder sobreviver a ela e, ainda por cima, os políticos de forma geral, não colaboraram como vimos na campanha passada. Sem falar do presidente influenciando pessoas falando asnices do tipo “gripezinha”, que não vai tomar vacina. Por isto, não acredito neste “novo normal”, para existir seria preciso uma mudança de comportamento coletivo, mas, o que vimos e vemos são praias cheias e muitas aglomerações nos noticiários com os índices de contaminação e morte subindo. Porém, ouso contradizer o poeta: “navegar é preciso e viver também é preciso. A humanidade vai continuar navegando e sobrevivendo. Sou otimista enraizado. Ah! Sem arte seríamos todos normais, o que seria insuportável.

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Última “dança”

Desde que me entendo por gente, por pessoa, procurei entender as minhas limitações e possibilidades na sociedade em que vivia/vivo. Assim sendo, passei a conhecer o meu lugar e os meus iguais e decidi lutar por um lugar ao sol para todos nós.

Sei que vocês vão dizer que não passo de um medíocre fanfarrão cartunista que, aos 61 anos, tem a cara de pau de dizer que lutou por seus iguais, sem nos mostrar um catatau de provas com lutas e batalhas épicas carimbadas e certificadas. Outros, talvez, indagarão se ouço estrelas, se perdi o senso… E eu vos direi, no entanto: talvez, os dois!

Nesse Brasil de “cabôco” de Mãe-Preta e Pai João, faz-se necessário um pouco de loucura e de “ouvir estrela”, não só ouvi-la, mas também segui-la como um farol. Nunca me conformei com a minha e a pobreza alheia, nunca fiquei indiferente ao sofrimento do outro, nunca vi uma criança em sinal pedindo ou vendendo pirulito, ao invés de estar numa escola ou brincando sendo criança, para não encharcar os olhos d’água.

Nos anos 80, entrei para o movimento sindical gráfico – Não imprimi uma história de grandes feitos sindicais que tenha mudado a categoria, longe disso. Foi uma passagem meramente estratégica: eu já era filiado ao Sindicato dos jornalistas/FENAJ – Federação dos Jornalistas Profissionais), para muitos amigos da época, servia até de deboche, pois eu era tesoureiro de um sindicato de pobres, que não tinha dinheiro, e quando aparecia não dava tempo de entrar em caixa. Entretanto, foi lá nessa época, no jornal Gazeta do Oeste, em uma sentada com Maria Emília Lopes Pereira, com sua folha de pagamentos do pessoal da Astecam, que aumentamos os salários de todos os funcionários, inclusive, teve um que recebeu 100% de aumento, se não evitando uma greve, mas, pondo uma pressão sobre as outras gráficas.

Também nos anos 80, fiz número para fundar o PMDB, em sua primeira reunião na capela do Hospital Duarte Filho. Logo depois, fiz a mesma coisa com o PT mossoroense. Porém nunca me filiei a nenhum dos dois partidos – não sou, mas minha alma é liberta, não aceita algemas e ainda hoje, sou um “petista” fiel.
Nesse tempo, construí uma família da qual muito me orgulho, com cinco filhos, cinco netos, duas noras e dois genros, que neste momento de isolamento social, comprovei que sem eles a vida seria pifiamente nula, sem muito sentido, não merecia ter sido vivida.

Com um lápis na mão fiz e continuo lutando minhas batalhas, sei que ignorada por alguns e desdenhada por outros, porém são 42 anos sem fugir, entrincheirado no pé da Jurema. Muitas batalhas foram sonhos, utópicas, inglórias, moinhos de vento. Não fui e não sou nenhum Aquiles ou o honroso Hector. Porém, é certo que tive minhas “Tróias” a conquistar e defender, certamente, devo ter ofertado “presentes de gregos”. Contudo, não há nada a pedir perdão ou perdoar, foram e são minhas batalhas, minhas lutas e por favor, não me peça para ficar alheio às lutas por uma vida melhor para todos e, se por castigo, perder completamente o senso, pedirei a “dama de negro” a última “dança”.

ACA
Não sei porque cargas d’água o grande artista digital Túlio Ratto, editor desta nossa Papangu – que graça a Deus para o bem de todos e felicidade geral daqueles que apreciam um bom conteúdo, com exceção do nosso, voltou – não fez minha caricatura na campanha de retorno da revista.

Talvez, não quisesse minha inimizade, mas não devia ter tanta preocupação, sou amigo do espelho.

Por outro lado, me frustrou. Desde então frequento diariamente a ACA – Associação dos Cartunistas Anônimos. Mas, decidi fazer uma campanha: Quero minha “Caloi”.

Ódio
Pelo que indica os narizes da renas, meu barroco não está no itinerário do bom velhinho. Certamente ficarei sem ceia e panetone.

Não consigo entender o ódio concreto do poder público aos seus artistas aldeões. Tapinhas nas costas, elogios a carradas e até comendas, mas na hora do “vamos ver”, isto é, de transformar toda essa bajulação em o que, de fato, se tornar respeito ao trabalho, que é sua remuneração, são tratados com desdém, o ódio, o desrespeito, a arrogância se impõem.

Não conheço um só artista, que tenha ou já teve seu trabalho comprado, seja por prefeituras ou governos de estado que não sentiu na pele a humilhação da peregrinação na tentativa de receber seu suado dinheiro.

Estou na iminência de não receber mais um trabalho. Desta feita da Secretário de Cultura – Prefeitura de Mossoró/RN, que certamente, no apagar das luzes, não vai pagar. Até porque venho cobrando a dias, recebo respostas vãs.

Erro
Enxergar o erro alheio é um prazer vulgar, nulo. Porém, reconhecer os seus pode até ser doloroso, mas é libertador.

Caricatura
A caricatura de Raimundo de Brito, está ilustrando no próximo livro, no qual iremos desenhar 100 figuras da arte e cultura do Rio Grande do Norte.

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“Lá,lá,lááá,lá…Lá,lá,lááá,lá ou Hallelujah





Nós, os latinos somos um povo que falamos não só com o conjunto bucal, mas também o nosso corpo todo expressa uma carga de sentimentos e desejos. Gostamos do contato físico, do afago, de um aconchego, um cafuné, um abraço. É impossível e totalmente inaceitável encontrar um amigo e não oferecê-lo um abraço e ainda, dentro dele uns tapinhas nas costas, como reafirmando, que aquele encontro é generosamente prazeroso e feliz. “O melhor lugar do mundo é dentro de um abraço”, diz a banda Jota Quest, numa feliz inspiração em sua música Dentro de Um Abraço. Não poderia ser mais precisa e real tão bela frase.

Entretanto, nestes tempos de medo e pandemia, um desalmado vírus nos impôs compulsoriamente o isolamento social. Nos separando fisicamente dos amigos, dos filhos, netos e parentes, trancafiando e condenando todos nós à solidão, de noites sem luar e dias sem calor. Diz Zeca Baleiro que anda tão à flor da pele que qualquer um beijo de novela o faz chorar. Ora, Zeca meu amigo, eu choro até assistindo MMA. Sou chorão por nascença.

Devo confessar que tenho chorado pra cachorro, principalmente, de saudades dos netos, os quais são nossa alegria de vida, são eles que enchem a casa ocupando todos os espaços, espalhando luz e vigor por todos os lados, quando estão o silêncio rende-se a algazarra. Há uns quinze dias toca meu telefone, era minha filha Pollyanne – mãe de Valentina – dizendo pra eu sair na janela, que Valentina tinha pedido a Felipe – pai dela -, para ver vovô “Bito” e vovó “Totorro”, pois estava morrendo de saudades. Quase não a vi, por causa das águas que jorravam dos olhos. Neste sábado,19 de dezembro de 2020, foi Lívia, filha de Jade Brito/Roberto, que a menos de dois metros nos oferecia seus abraços e, ante as nossas recusas, sem entender ela sorria e cantava “Lá,lá,lááá,lá…Lá,lá,lááá,lá. Ah! Vírus maldito, maldito seja vírus ruim, sem coração. 

Porém, para restabelecer minha esperança, como não sei rezar, canto. Todos os meus netos têm uma música, para que possam permanecer próximos, mesmo em Santiago do Chile ou nas Quintas, no Serrambi ou a quatro quadras da minha casa, no Barcas, quando a saudade bate ligo o player. 

Kaylanne minha neta mais velha, quando começou a aprender tocar violão gravou um vídeo dedilhando “Parabéns, pra você…” Portanto, se um dia eu cantar “Parabéns, pra você”, fique certo estou lembrando dela; Aléssia “Puro e Simples”, uma linda música gospel. Certa vez no carro ouvíamos Aleluia e Enzo com uns dois anos começou a cantar, logo se apropriou; Valentina, ainda criança com uns dois anos – hoje, com 4, mas acredita ter 15 -, cantava João e Maria e dizia Vovô “bito” e Lívia quando antes da pandemia, com poucos meses de vida Maria balançava ela para dormir cantarolando Aleluia, na base do “lá, lá, lá”, hoje ela nos embala e dispersa nossas saudades, via vídeo, cantando “Lá,lá,lááá,lá…Lá,lá,lááá,lá!”

Brito e Silva – Cartunista e avô.