Não vou a cemitério para cultuar meus mortos, não impedido por qualquer crença religiosa ou por superstição, mas por não ver, de fato, qualquer razão mais urgente. Porém aos que fazem têm o meu respeito.
Meus mortos, minhas almas boas parecem viver em mim. Em 62 anos de vida a morte não me poupou de tirar algumas pessoas importantes: aos 9 anos minha mãe subiu aos céus – pois creio que toda mãe vira estrela e a noite no céu sorrir para seus filhos – depois minha ex-mulher Isi, anos depois Carlinhos meu irmão caçula e mais recente a morte carregou seu Luiz, meu pai, feito um pacote no seu manto me deixando órfão.
Entretanto, pouco choro meus mortos e, verdadeiramente sinto muitas poucas saudades. De minha mãe tenho resquícios de sua presença em minha mente, talvez, o instinto de sobrevivência apagou os poucos anos de convivência. De Isi minha ex-mulher todos ou quase todos os dias desfruto de lembranças vivas cristalizadas nas músicas que toco e ouço no meu dia a dia, principalmente na música “Andança”; de meu irmão Carlinhos, The Wall – Pink Floyd – o traz até mim, de meu velho pai, certamente, todo dia toco Boiadeiro – Luiz Gonzaga – música que sempre me perguntava se eu sabia tocar – e eu não tive oportunidade de tocar pra ele – portanto, meus mortos vivem comigo e em mim.
Entretanto, há outras almas, que circundam minhas lembranças, como a de minha sogra Nevolanda e seu cafezinho nas tardes lá nas Quintas, também de Mariazinha – sua mãe -, a qual, lá na cozinha de Petrópolis, Natal/RN, passava horas me contando suas histórias de vida e aventuras reais, isto sim me dá saudades, mas certamente, um dia me juntarei a essas almas de luz.
Na minha casa, na rua Augusto da Escócia, N. 49, lá nos Paredões, em Mossoró/RN, o qual finquei a minha infância e adolescência, quando se chegava na porta da frente, logo do lado esquerdo um console – hoje, se diz aparador – e acima dele um espelho oval bisotado com vários desenhos em arabescos, nos davam as boas-vindas, do lado direito uma Radiola de pé ABC Isabela IV, duas cadeiras de balanço as quais tínhamos que driblá-las para chegar a uma estante colonial que pomposamente se erguia separando a sala da cozinha, nela uma inquilina privilegiada e por todos amada, lhe roubava a cena: uma Televisão Telefunken em preto branco, com uma tela colorida – que mais parecia o arco-íris, que insistia em nos enganar simulando que às imagens por ela propaladas eram coloridas.
Neste cenário sobre a estante de cor nogueira, se destacavam vários livros, entre eles os Irmãos Karamazov – Dostoiévski -, em cor marrom com letras vermelhas-vinho, três livros de capas-duras, os quais lia e não entendia patavina – até hoje sou impedido por minha obtusa ignorância a oferecer um parecer sobre -. Em espaço exclusivo um livro saltava aos olhos, em formato grande, talvez um A4 – ofício para os mais antigos -, de capa dura, azul com letras romanas douradas dizia: Bíblia da Juventude, eu era fascinado, nela imprimi minhas digitais e de onde pude extrair um gosto de lutar por um mundo melhor, com mais compaixão, mais dignidade, mais igualdade. Na parte direita inferior da estante alguns locatários faziam morada, muitos deles ainda vivem em minha memória. Vejo nitidamente Francisco José cantar “Só nós dois” sendo interrompido por Ângela Maria com seu “Tango Pra Tereza”, sem falar de Vinicius de Moraes que faz seu “Apelo” e Moacir Franco flertando com os manequins em “Balada Para Um Louco”…
No lado esquerdo inferior se abancavam as revistas Cruzeiro, Manchete, Rodovia e algumas Veja. Nossa estante era uma mistura de vozes, umas cantavam alto ao divino, outras, talvez, ao diabo e ainda outras sussurravam profanamente aos ouvidos dos amantes. Às vezes me passava pela cabeça que eu morava por lá, fazia parte do mundo daquela gente, na verdade ainda hoje me imagino perambulando por aqueles cantos, contos, palcos e esquinas insinuando companhia e intimidade à todas aquelas personagens que ali residiam.
Exposição física do 16º Salão Internacional de Humor de Caratinga, neste domingo, 24 de outubro, abertura das 9h às 11h, na Casa Ziraldo da Cultura. Hoje também o mestre Ziraldo completa 89 anos de vida. Estamos participando com algumas cairaturas.
Dentro do 16º Salão Internacional de Humor de Caratinga, a exemplo do que já acontece com Agnaldo Timóteo – in memoriam – também haverá uma mostra paralela que reuni dezenas de cartunistas do Brasil e do mundo para homenagear – in memoriam – o desenhista Mariano, que nos deixou este ano de 2021, vítima da Covid. Vivas a Mariano, vivas a Edra, vivas a Ziraldo, vivas ao cartum brasileiro.
Existem algumas coisas que podem nos constranger no dia a dia, mas de fato, não alteram nosso humor, são apenas momentos que passam sem maiores ou nenhum dano moral e muito menos psicológico. Entretanto, quando vejo alguém me estendendo à mão pedindo algo para saciar a sua fome, isto me causa uma dor, uma angustia profundamente dilacerante no fundo da minh’alma e neste momento faço o que me é permitido: às vezes pode até ser uma negativa, o que me deixa ainda mais pesaroso.
Outro dia, logo pela manhã, ao acaso deparei-me com Luiz Gonzaga na primeira página de abertura do Youtube, de cara vi Vozes da Seca apertei o play e Seu Lua cantou: “…Uma esmola a um homem que é são ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão…” música do grande Zé Dantas e o Luiz Gonzaga, que em toda sua extensão é uma crítica feroz aos governos que trataram – e tratam, pois, continua atual – o Nordeste e o povo que vivem em situação de risco. Fiz algumas reflexões, anotações e alguns rabiscos.
Sai à minha janela para me debruçar sobre sua soleira para ver o mundo, o céu estava azul convida a contemplá-lo, corria uma brisa vindo ali dos arredores do Arena das Dunas, compenetrado em minha abstração, em devaneios mil, fui acordado por um “muito obrigado, senhora”, era um carroceiro de uns 35 anos acompanhado de uma senhora grávida que beirava a mesma idade, dois meninos por volta dos 5 anos – pareciam gêmeos – amontoados numa carroça um jumento amarado a grade lateral do transporte, que agradecia minha vizinha de frente por receber um vestido e algumas camisas às crianças, que já vestiam ali mesmo, se despedindo vocalizou “Deus lhe pague”. A mulher entrou e eles seguiram, fiquei observando e uns metros depois vi o homem passar as mãos nos olhos como quem enxuga lágrimas e correu de encontro a um dos meninos o pôs sobre os ombros e saiu correndo fazendo “aviãozinho” como se fora o judeu Guido (Roberto Benigni) e seu filho Giosué(Giorgio Cantarini) na cena do magistral “A vida é bela”, devo confessar que desabei, um nó na garganta e algumas lágrimas verteram me trazendo à realidade, naquele instante pude perceber que a vida pode ser bela, mas o homem é invariavelmente cruel.
À tarde, ainda com a cena vivinha em minha mente fui às redes sociais cuidar dos afazeres profissionais, entretanto, uma foto de uma plasticidade admirável obrigou-me ao encantamento, era um post da Assistente Social, Katharina Gurgel, com um texto comovente em que a cantora Elza Soares fazia uma síntese de vida, no qual ao final imprimia toda sua força, sua coragem, sua luta, sua consciência, sua lucidez ante a vida e seus desafios: “Naquela época eu achava que se tivesse alimentos pros meus filhos, não teria mais fome. O tempo passou e eu continuei com fome, fome de cultura, de dignidade, de educação, de igualdade e muito mais, percebo que a fome só muda de cara, mas não tem fim”.
À noite, Elza Soares e o carroceiro foram os temas da janta. Dormi com a alma cansada e o coração apertado com sede e muita fome de justiça social, dignidade e bênçãos dos deuses.
Nunca imaginei que anunciaria, no jornal, na Tv, nos meios de comunicação, a busca incessante por você. Faço isso porque você tem carinho pelo meu estilo, pelo meu rosto. Quantas e quantas vezes ele me fez enxergar a vida de uma maneira diferente. Clareou minha visão, me fez enxergar os tropeços que a vida me apresentava; na chuva, como qualquer outro, você me ferra; no trabalho, você me ganha; de noite, eu te deixo; mas pela manhã, somos inseparáveis. Você já impediu minha cegueira muitas vezes, meu amor. Com você pude enxergar as miudezas da vida. Sem você sou apenas um cego, em um tiroteio, sem rumo. Na falta da sua presença o prejuízo é grande, com antirreflexos, ou filtros azuis, você faz meu dia mais feliz. Compreendo que, como todos, você precisa de limpeza e manutenção, nada na vida dura para sempre, eu sei. Mas não tem necessidade de você desaparecer assim, sem mais nem menos. Sei que o mundo é líquido, mas você não ficou nem dois meses na minha vida é já desapareceu sem justificativa. A última vez que nos vimos parecia que você tinha gostado de mim. Foi por um leve descuido que você sumiu sem avisar. Não sei se você já tem alguém. Ou se já está acariciando o rosto de um ou uma qualquer. Mas volte, prometo ter mais cuidado com você, prometo prestar atenção nos sinais que você dá. Venho agora falar com meu amigo leitor. Ele é redondinho, tem armação de tigre, bem moderna, a última vez que tirei a foto em família ele estava lá. Se alguém souber o paradeiro, por favor, entrar em contato, já procurei nos achados e perdidos, nas gavetas de casa, nos armários, em cima da mesa, na casa de amigos, já liguei para motoristas de aplicativo atrás dele, já refiz meu caminho para tentar achá-lo. Só penso uma coisa:
Quem está com ele, que devolva o mais rápido possível: meu par de óculos de grau.
Homenagem ao saudoso cantor caratinguense Agnaldo Timóteo no próximo dia 16, data em que ele completaria 85 anos. O evento é uma promoção da Prefeitura de Caratinga, através do Departamento de Cultura. Dentro da programação haverá exposição de caricaturas do Agnaldo Timóteo sob a curadoria do cartunista Edra, na Casa Ziraldo de Cultura, de 16 a 22 de outubro. Cartunistas participantes: Adnael (AL), Agus Widodo (Indonésia), Allen (PA), André Barroso (RJ), André Camargo (PR), André Ribeiro (MG), Brito (RN), Cacinho (MG), Camaleão (RJ), Caó Alves (BA), Carlos Araújo (PE), Carriero (SP), Celso (SP), Cláudio Teixeira (CE), Dão (RJ), Derek (PI), Duarte (SP), Edra (MG), Elias Gabriel (PI), Érico (MA), F. Machado (SP), Flávio(SP), Fred (PB), Jhota Melo (SP), Júnior Lopes (SP), Luciano Meskita (PA), Luscar (SP), Magon (RJ), Marcos Souza (MA), Mardilson (AC), Mattias (RJ), Mauro Miranda (RJ), Moisés Rêgo (SP), Moisés (SP), Nácio (MG), Nei Lima (RJ), Nelson (SP), Nuez (EUA), Onézio Cruz (SP), Paulo Branco (SP), Paulo Pinto (Portugal), Rildo Brasil (PA), Roger (argentina), Ruz (El Salvador), Samuca (PE), Sérgio Brito (SP0, Sid (BA), Souto Maior (RJ), Souza (RJ), Trilho (SP), Túrcios (Espanha), Very (SP) e Zeca (PR)Postado por Cartunista EDRA às 06:20
Nossas charges e caricaturas foram selecionadas para a exposição “RasleBOLSONARO ′′ (Pandemônio II) em St Just Le Martel/França. Tendo como um dos organizadores o potiguar morador de Paris há mais de 20 anos, o nosso Joe Bonfim.
Homenagem ao saudoso cantor caratinguense Agnaldo Timóteo no próximo dia 16, data em que ele completaria 85 anos. O evento é promoviso pela Prefeitura de Caratinga, através do Departamento de Cultura. dentro da programação haverá exposição de caricaturas do Agnaldo Timóteo sob a curadoria do cartunista Edra, na Casa Ziraldo de Cultura, de 16 a 22 de outubro.
Cartunistas participantes: Adnael (AL), Agus Widodo (Indonésia), Allen (PA), André Barroso (RJ), André Camargo (PR), André Ribeiro (MG), Brito (RN), Cacinho (MG), Camaleão (RJ), Caó Alves (BA), Carlos Araújo (PE), Carriero (SP), Celso (SP), Cláudio Teixeira (CE), Dão (RJ), Derek (PI), Duarte (SP), Edra (MG), Elias Gabriel (PI), Érico (MA), F. Machado (SP), Flávio(SP), Fred (PB), Jhota Melo (SP), Júnior Lopes (SP), Luciano Meskita (PA), Luscar (SP), Magon (RJ), Marcos Souza (MA), Mardilson (AC), Mattias (RJ), Mauro Miranda (RJ), Moisés Rêgo (SP), Moisés (SP), Nácio (MG), Nei Lima (RJ), Nelson (SP), Nuez (EUA), Onézio Cruz (SP), Paulo Branco (SP), Paulo Pinto (Portugal), Rildo Brasil (PA), Roger (argentina), Ruz (El Salvador), Samuca (PE), Sérgio Brito (SP0, Sid (BA), Souto Maior (RJ), Souza (RJ), Trilho (SP), Túrcios (Espanha), Very (SP) e Zeca (PR).
O pré-candidato a deputado estadual em 2022, o Apodiense, prof, Luís Carlos Noronha, irmão da Dra. Solange Noronha foi o único político a prestigiar o GASPEC. – Grupo de Assistência à Pessoas com Câncer – Maria das Graças Silveira.
” Em Apodi com a turma do Bem do GASPEC. Belo baile beneficente na nossa eterna ACDA, oportunidade de abraça amigos(as) e a Sociedade Apodiense. Parabéns presidente Ideusa e todos os voluntários”, disse o Luís Carlos.
Show perfeito de Jairo César, Danilo Nixon e banda Radiola Club, anos 60 de Mossoró.
Outro dia, numa postagem que fiz nas redes sociais, uma assídua amiga comentou que eu acordara saudosista. Aquilo me calou, não por ter me sentido ofendido ou algo que o valha, mas por conter a verdade nua e crua.
Naquela ocasião estava mesmo com uma saudade caninana, daquelas que a gente fica feliz da vida em sentir, mais feliz que pinto cisqueiro de reviver aqueles momentos que agora fazem parte de nosso baú de boas lembranças dos tempos de galos, noites e quintais, época de boemia jovialmente e despretensiosamente irresponsável.
Do alforje puxei umas cenas, entre milhares, uma quando eu Carlinhos, Jorge Braz, Laércio Eugênio, Hudson – certamente esqueci outros tantos, pois era uma corriola danada – íamos para o Djalma Bar, ainda lá nas cajaranas, creio que na sua casa, numa ruazinha, perto do Colégio Estadual, tomar cachaça com coração assado ouvindo Raimundo Fagner, Manera Fru Fru Manera, pois era o preferido de Jorge e que abria os “trabalhos”, claro Zé Ramalho presente no cardápio, depois de algumas dezenas de “burrinhos” discutíamos a política sindical, partidária e social, muitas das vezes varávamos madrugadas a dentro pra pegar o sol com a mão.
Também me veio à tona uma história de convite que chegou para inauguração de uma boate por detrás da Escola Padre Deon, no Alto de São Manoel. Numa sexta-feira alguém na redação do jornal Gazeta do Oeste diz do convite da Boate Estrela, este invadiu todo o prédio, logo começou as combinações: quem fosse terminado seus afazeres ia esperando os outros até estar completa a turma. Conferido, não faltando ninguém lá se foi o magote para “boiti”- Como dizia o saudoso Abel Rodrigues – In memoriam – o fotolitista do jornal -. Uma sexta-feira, no meio do mês já dizia do lastimável e precário momento em que se encontrava nossos “probrezitos” bolsos. Mas ora, quem anda com carteira de jornalista não passa “perrengues”. A solução foi “carteirada”, não lembro quem – se foi eu, também não digo -, um de nós iniciou a fila indiana na portaria:
– Isso é o quê? Perguntou o sisudo porteiro.
– Imprensa!!!
O porteiro espalmou uma mão com a carteira colocando a outra por cima pressionou, devolvendo falou: “pronto! Imprensei”, não se dando por rogado nosso “líder” argumentou:
– Somos da imprensa e convidados…
– Aqui até mamãe paga, imagine convidados da imprensa. Disse o porteiro com tom irônico.
Sem mais a quem ou a que apelar para “filar” passe-livre, nos reunimos para uma “vaquinha”, feita, nos dirigimos à bilheteria.
Já dentro boate as luzes negras fluorescentes denunciavam os casais nos cantos aos amassos, sarrando, mesas lotadas de gente e cervejas, dancing repleto de imagens se mexendo ao ritmo dos hits do momento e nós ali sem a menor esperança de um gole de coragem para entrar no relabucho.
Salvos por Laércio Eugênio que chamou o garçom e disse para encangar várias mesas uma na outra, logo estávamos todos acomodados, de esperanças renovadas e, por que não dizer, concretizadas, pois ao mesmo tempo nosso “benfeitor” tinha também indagado se havia cerveja gelada, ao receber resposta positiva, falou: “pois, bote cerveja gelada aqui como quem bota milho pra jumento”, os olhos de alguns de nós saíram da caixa.
Bebericando, comendo e dançando quando demos por nós o sol já descambava no horizonte, só tinha a gente e um monte de garçons prestando conta. Logo veio um em nossa direção, aqui senhor, Laércio Eugênio recebe a conta, retira do bolso uma quantia e entrega ao garçom:
– Senhor está faltando…
– Eu sei, mas tenho só isso…
– Como é?
– Eu não tenho mais dinheiro não…
– Mas foi você que disse que ia pagar a conta.
– Mas eu estou pagando!
– Não senhor, aqui não tem nem meus dez por cento…
– Mas é o que tenho, depois pago o resto.
O antes gentil garçom, saiu soltando fogo pelas ventas para falar com o dono. Olhando em volta já percebíamos garçons, seguranças, porteiros, cozinheiros, se dirigindo em nossa direção todos com caras de poucos amigos, quando de repente chega Abel – que trabalhava com a gente e também era garçom – dizendo que já tinha falando com o dono, estava todo certo, na segunda-feira ele iria no jornal receber nossa conta com juros e correções monetárias.