Autor: brito_admin

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Caio Padilha

“Quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”, diria o gato à Alice. Por isso desenho. Aqui fazendo a caricatura do músico e cientista social Caio Padilha, por quê? Ora, porque é preciso.

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Souza

José Ivanaldo de Souza, mais conhecido como Souza, nascido na cidade de Itajá, 6 de junho de 1975, no Vale do Açú/RN. Foi um dos grandes jogadores de futebol potiguar. 

Começou sua carreira América/RN, logo se tornando um dos ídolos da torcida. Souza jogou nos maiores times do sudeste, até chegar à Seleção Brasileira. Atualmente é o Presidente do América. 

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Nunca é tarde para lutar e agradecer!

O Papa Francisco, em Audiência Geral, no dia 30 de dezembro de 2020, concluiu a sua catequese, afirmando:

“Se formos portadores de gratidão, o mundo também se tornará melhor, talvez só um pouco, mas é suficiente para lhe transmitir um pouco de esperança. O mundo precisa de esperança e com a gratidão, com o comportamento de ação de graças, nós transmitimos um pouco de esperança. Tudo está unido e interligado, e cada um pode desempenhar a sua parte onde quer que esteja”. (https://www.vaticannews.va/…/papa-francisco-audiencia…). (Grifos nossos). É sobre a necessidade de fazer agradecimento que quero aqui relatar um pouco sobre minha trajetória acadêmica! 

Nesta semana, revisitando alguns arquivos próprios, encontrei os primeiros textos e registros fotográficos que subsidiaram a minha monografia de conclusão do curso em Ciências Econômicas na UFRN, começo da década de 1990, momento em que eu dava os primeiros passos sobre a importância do reaproveitamento do lixo como alternativa para a geração de ocupação e renda, diante de um cenário de precarização do emprego, de exclusão social e de ameaça ambiental.

Foi a partir da observação do número crescente de catadores de materiais recicláveis nas ruas da capital e de outras cidades do interior potiguar que comecei a ter interesse pelo tema, culminando com as defesas da dissertação de mestrado (2005) e da tese de doutorado (2019). 

De fato, a vida não foi fácil durante essa trajetória. No início, além das poucas publicações existentes, tive, ainda, que enfrentar o “preconceito” acadêmico sobre o assunto. “Ninguém – ou quase ninguém – queria, e ainda continua não querendo, saber de lixo”. Aliás, essa constatação é relatada por Sabetai Calderoni, no livro “Os bilhões perdidos no lixo” (2003, p. 25), quando ele diz: “O lixo é um material mal-amado. Todos desejam dele descartar-se. Até pagam para dele se verem livres”. 

Por outro lado, apesar das dificuldades, sempre houve motivação para seguir adiante. Os trabalhos acadêmicos de Idalina Farias Costa: “O povo no lixo: um estudo sobre a estratificação social da favela de Cidade Nova” (1978) e “De lixo também se vive” (1986), por exemplo, foram motivadores e fundamentáveis para a compreensão paradoxal da atual sociedade (consumista e excludente).

Por diversas vezes fui questionado por colegas sobre o motivo pelo qual estava estudando o tema (lixo). Mas, isso nunca foi para mim fator de desmotivação, apesar do “desconforto”. De certo modo, eu não estava só. Apesar dos poucos apoiadores, eles foram indispensáveis para a sequência dos meus estudos. 

De lá para cá, foram muitas idas aos lixões (meus laboratórios) e infinitas conversas com os catadores e catadoras (meus mestres e minhas mestras), em diversos lugares, deste e de outros estados. Aprendi muito nas visitas que fiz e nas conversas que tive. Apesar do ambiente do lixão não ser o ideal, era, e ainda continua sendo, um lugar “acolhedor” – uma espécie de “tabua de salvação e o único a “receber” geograficamente pessoas de vários lugares sem necessidade de passaportes – em que famílias inteiras retiram “alimentos”, até mesmo em disputas com alguns animais. 

Apesar dos dias difíceis daquelas pessoas, era possível constatar momentos “divertidos”, pois, entre a chegada do caminhão que trazia os resíduos de um certo “bairro rico da cidade” ou de algum supermercado, os catadores e as catadoras aproveitavam o intervalo para jogar uma partida de dominó e/ou de baralho, tomar um café e prosear. A expectativa da vinda do “carro do lixo” de um bairro em que morava gente de posses ou de um supermercado era grande, uma vez que as famílias que estavam naquele lixão já imaginavam recolher algo de valor econômico, algumas carnes, frutas frescas e iogurtes para as crianças. Sou testemunha de inúmeros acontecimentos dessa natureza. 

Com efeito, é através dos registros fotográficos de uma visita feita ao lixão de Caicó/RN, em 1996, que quero agradecer a todas as pessoas que contribuíram, e que ainda continuam contribuindo, na ascensão de minhas pesquisas sobre o lixo (resíduos sólidos). 

Para não cometer nenhuma injustiça, por não recordar daqueles(as) que acompanharam o meu trabalho ao longo dessas três décadas, não mostrarei os seus nomes. Quero, através desses poucos e importantes registros, fazer os agradecimentos a todos(as). 

De fato, este trabalho não encerra aqui. Continuaremos na luta, pois é necessário avançar muito neste assunto, principalmente nas políticas públicas de inclusão dos catadores e das catadoras, na educação ambiental, na erradicação dos lixões e na forma como a sociedade encara esse grave problema, isso porque, o “Panorama 2021 dos resíduos sólidos no Brasil” (ABRELPE, 2021) acabou de revelar que no Brasil, em 2020, foram coletados 76,1 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU). Desse total, 60% seguiram para disposição em aterros sanitários, enquanto para as áreas de disposição inadequada, incluindo lixões e aterros controlados, foram destinadas 40% do total de resíduos coletados. Na média, cada brasileiro produz diariamente 1,067kg de lixo. 

Registros de uma visita ao lixão de Caicó, em 1996. Arquivo do autor.

Professor Raimundo Inácio – UERN

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Gustavão: a música que escolhe a gente!

Nascido, em Natal/RN, em 12 de outubro de 1984, na capital do Rio Grande do Norte, Natal/RN, Gustavo de Carvalho Monte, usa o nome artístico de Gustavo Monte, entretanto, muita gente do meio musical potiguar o chama de Gustavão: “estou até pensando em adotar esse nome na cena musical”. 

Desde criança logo aos 10 anos teve seus primeiros contatos com música quando começou a ter aulas e recebendo de presente um violão, o qual traz até hoje guardando como uma relíquia. 

Gustavo passeia por todos os gêneros musicais, já tendo participado de vários grupos, atualmente faz um “duo” com seu amigo Jane Eyre, porém, passa a investir e cuidar de sua produção instrumental. 

Quando deu seus primeiros passos na música?

Meus primeiros passos na música aconteceram na minha infância, por volta dos 10 anos.

Suas influências musicais?

Minhas influências musicais são bem variadas… Samba, bossa-nova, Jazz, forró, chorinho, seresta, xote, música latina, reggae, rock… Na verdade sempre fui bem eclético, o que me fez sempre trabalhar com vários gêneros.

A família apoiou?

Quando era criança minha família me apoiou me matriculando em aula de música e me dando um violão, que trago comigo até hoje.

Quando resolvi me tornar profissional, tive algumas barreiras. Minha família de uma maneira geral sempre achou esse caminho muito difícil e tivemos alguns problemas, mas fui seguindo em frente e as coisas com o tempo foram se ajustando.

Em que grupos participou ou participa?

Desde sempre toquei com muitos grupos e com várias formações, aprendi a tocar outros instrumentos que fui agregando ao meu estilo ao longo da trajetória, algo que enriqueceu muito como artista.

Hoje em dia sou músico freelance, tenho um “duo” com um amigo chamado Jane Eyre, onde tocamos música instrumental com enfoque jazzístico, um mix de música brasileira com a música universal e também trabalho fixo com o grupo Preto no Branco, que trabalha com a vertente do samba.

Dá para viver de música no RN?

Pra viver de música no RN é preciso tocar vários estilos, muitas vezes gêneros musicais diferentes do seu próprio, fazendo com que o artista esteja sempre se atualizando, renovando e estudando. 

Hoje em dia estou tentando focar mais no meu trabalho autoral, algo que acho que demorei um pouco pra dar andamento, mas estou aí, acabei de gravar um trabalho instrumental que estou terminando de mixar e pensando no lançamento, divulgação, etc… E já pensando em outros, pois nesses anos acumulei muitas músicas, principalmente na esfera instrumental, apesar de escrever letras também, e quero entrar pra esse nicho de artistas e compositores e levar minhas composições para as pessoas.

Se pudesse escolher, seria músico ou escolheria outra profissão?

Apesar de todas as dificuldades que o músico e qualquer artista encontra na sua jornada, amo muito o que eu faço, acho que essa chama me faz continuar vivo e resistir, seguir em frente, nunca desistir, então escolheria na certa ser músico… muitas vezes acho que não é a gente que escolhe a música, a música que escolhe a gente, e assim sigo nessa plenitude.

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Com Açúcar, Com Afeto

Lá pelos anos 1960, aliás, para ser mais preciso no ano de 1967, em um barraco qualquer de uma favela do Rio de Janeiro/RJ, uma jovem senhora negra ainda apaixonada por seu “malandro” marido, que nos 362 dias do ano reclama de ser um operário, porém quando os clarins anunciam fevereiro, certamente, veste a fantasia de mestre-sala, sai a bailar na avenida, defendendo as cores de sua escola de samba do coração.

O malandro Duran, acorda às 9h, toma café preto, mastiga um pão dormido, põe seu terno de linho branco, com um beijo nos carnudos lábios de Maria se despede, não sem antes dar-lhe uma tapinha nas suas fartas ancas, sussurrando ao pé do ouvido misturando alguns “impropérios” promete voltar em tempo de sentar na esteira para o jantar, mas agora precisa descer o morro em busca de trabalho, pois precisa sustentá-la.

Vitória, ou simplesmente Vivi – como ele chama Maria Vitória – em um vestido de chita vermelho de bolinhas brancas cobrindo seu esbelto corpo negro e suas sinuosas curvas, parecendo mais uma das mulatas do cartunista Lan, desfilando num doce balanço a caminho do quintal pegar algumas goiabas e bananas para depois, na beira do fogão de lenha, fazer o doce predileto do seu ‘nego”. As bolhas de ar estourando no taxo exalando um cheiro a obrigava a salivar, mas, urgia para que continuasse a fazer movimentos circulares sincronizados com a colher de pau evitando não correr o risco de passar do ponto a deliciosa guloseima, que desandasse e ficar aguado. 

Então ela mexe, mexe, mexe. Mas, seus pensamentos estão ancorados na promessa feita por Duran, sabia ser mais uma a não ser paga. O Malandro com receio de suar e manchar o bem alinhado que fora caprichosamente passado à goma com ferro de brasa, desce as ladeiras e vielas a passos lentos, com molejo de sambista. Não oferecendo desfeita aos amigos, faz parada em cada bar, marca sua presença e pendura a conta no prego, vai descendo sem pressa, passo a passo. Já em Ipanema, fala com o “Galego” dono do bar, vai ao banheiro põe a roupa de trabalho, uma sunga preta que só conhece aquela praia, senta na calçada pede uma cerveja ao garçom, abraça um velho e surrado violão e faz pose, logo aparece alguém que sabe tratar o instrumento com merecido carinho para quem passa o belo pinho, vai para ponta da mesa e inevitavelmente começa a batucar um samba de Noel.

Embriagado pela beleza das saias de quem vive pelas praias coloridas pelo sol ao som do violão e das ondas do mar. Lá por volta das 17h, o malandro vê uma linda mulata gingando no passeio público a lembrando-lo de sua “nega”, apressado se despede, bate o “cartão de ponto” e diz um até amanha. Inicia sua peregrinação de volta, porém em cada esquina tem um bar. Já avistando a luz do lampião de gás de seu barraco pede um tom a Chico Sete Cordas, canta um samba em tom maior, mais um até logo e sobe.

Vitória, “trombuda” de cara fechada, pelo atraso costumeiro ouve o rangir da porta de zinco na soleira, levanta da rede, atiça o fogo quase morto, esquenta o prato, com um iluminado sorriso estampado nos olhos, com açúcar, com afeto abres os braços ao seu Duran.

Brito e Silva – Cartunista

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Lupe: Um estrangeiro onde estiver

Paulista da cidade de Botucatu/SP, Lupercio Albano orgulhosamente diz “ybytu (ou ybytyra) katu “bom vento”, “serra boa” mesmo maltratando o tupi, prefiro algo mais poético:  nasci na Garganta do Vento – mas fui logo embora, levado pelas mãos de Santa Sara, a santa dos ciganos”, ou simplesmente Lupe como é conhecido no meio artístico, atualmente reside no Rio Grande do Norte desde 2012. Já havia vindo de férias à Natal/RN. Entretanto, no ano de 2012, em Sampa, conviveu com músicos potiguares com os quais fez parcerias. O cantor e compositor Romildo Soares o convidou para uma temporada de alguns meses na Cidade do Sol, foi ficando e, hoje se encontra estabelecido na bela comunidade de Pium/Parnamirim/RN: “inicialmente por questões financeira, mas depois, considerando a vida simples, paisagem, temperatura (em SP, ontem, deu -2,5 no termômetro; afetos, amizades e, naturalmente, parcerias musicais. sou meio cigano e me sinto sempre um estrangeiro, onde estiver”, Lupe.  

Quando deu seus primeiros na música? 

A música (ouvida no rádio ou na vitrola) sempre me arrebatou, me roubou o foco de tal maneira que me parece natural que o rio corra pra esse mar.

Meu primeiro trabalho como músico foi para um grupo de teatro, em São Paulo; um musical para crianças, “Com Panos e Lendas” que acabou fazendo um bom sucesso, à época.  Depois, estudar e estudar; lecionar e tocar na noite paulistana; acompanhar cantores e compor canções…

Suas influências musicais?

Na infância, no interior; catira, toada, cateretê e moda-de-viola; na juventude, já no perímetro urbano; o rock’n’roll, Beatles e tal;  os festivais de música e, finalmente, o Movimento Tropicália, que me ensinou realmente a ouvir a música brasileira; choro, frevo, samba, xote, baião etc. ( e a bossa nova, que era algo meio distante à minha geração)   e me instigou a compor.   

A família apoiou?

Absolutamente, não

Em que grupos que participou?

Gravei um álbum autoral “A Hora Sã”. Aqui em Natal, o mais significativo foi “O Motor da Onça” criado para enfrentar os festivais que aconteciam no Beco da Lama. Aqui no Rio Grande do Norte gravei com Antoanete Madureira/Romildo Soares, com o Grupo Bambu/SP e no Rio de Janeiro com a Crys Araújo. 

Dá para viver de música no RN?

Eis uma pergunta difícil…mas, sim, é possível; como diz a canção de meu parceiro Pedro Mendes, “em Natal, a gente não vive tão mal”

Se pudesse escolher, seria músico ou escolheria outra profissão?

Sim…seria músico. Um pouco mais atento ao que chamam de carreira, porém.  Se escolhece outra profissão, seria para, a cada dificuldade, poder dizer:Pô ! Porque é que eu não fui ser músico ?

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Feijão verde

Meu dia começa cedinho com o galo cantando, quer dizer, com uma sinfonia desafinada de pardais, bem ao lado de minha janela, na verdade é uma algazarra dos diabos, na verdade creio que seja um “abufelamento”, talvez por alguns tocarem fora do tom. Enfim, tão logo soam os primeiros gorjeios salto da cama no rumo do escritório, que fica a dois passos do paraíso. Assim sendo, não fico imune às vozes da rua.

Cotidianamente há uma multidão gente gritando vendendo algo: tapioca, cuscuz, bolo e hortifrútis. O “desfile” geralmente é aberto por uma Toyota Hilux exibindo seu bico de alto-falante sobre a capota com uma voz cavernosa anunciando os produtos, seguida por uma castigada Chevrolet C-10, que é atropelada por um senhor de bicicleta com buzina de FNM (Fê-Nê-Mê) proclamando em alto bom som, no gogó mesmo: “Olhe a mini-pizza, temos de todos os sabores”. Destes sons já calejei, não os ouço mais. Porém, nessa mistura de vozes, ruídos, gorjeios e latidos uma fala feminina, aveludada, similar a de nossa Alzinete – cantora mossoroense – me despertou “Olhe o feijão bem verdinho”, abri a janela, acenei e desci. Abri o portão da garagem, de perto vi uma jovem senhora – dava para perceber sua juventude – com marcas, sulcos profundos em seu afilado rosto, que certamente outrora fora por muitos cortejada. Perdido em meus pensamentos imaginando cada ruga tatuada naquela face seria uma ferida não cicatrizada, era uma história de dor e sofrimento. Fui despertado “senhor, senhor, seu troco”, dei-lhe bom dia e segui.

Subindo as escadas lembrei de um vídeo ancorado no Youtube, onde uma pessoa inicia um diálogo com um vendedor de feijão verde, porém não é um qualquer vendedor, é o Ezequiel do Feijão, uma criança de 11 anos que trabalha todas as manhãs de domingo a domingo. Seu interlocutor, rir da desenvoltura do pequeno comerciante – ou como diriam os vendedores de ilusões: empreendedor – que orgulhoso diz “quem quer ganhar dinheiro trabaia todo dia”. Na verdade, o Ezequiel é um trabalhador mirim inserido na nova modalidade de contratação de mão de obra criada pela Reforma Trabalhista o chamado trabalho intermitente ou talvez por prestar serviço para o pai e ganhar metade do que vende poderia ser chamado de “meeiro”. Na conversa ele diz que está juntando dinheiro para comprar uma bicicleta de R$ 1.800,00. Seu interlocutor compra os 4 pacotes de feijão restante e propõem um “rolo”, o manda pedalar para sua casa e o segue em sua pick-up, sem dizer ao garoto que pretende presenteá-lo com uma bicicleta. No trajeto, continua empolgado enaltecendo, louvando a atitude da labuta do menino e também conta sua vida de trabalho quando criança.  

Os comentários do vídeo são todos exaltando, engrandecendo e agradecendo a ação do benevolente doador. Não vi um pio, uma fala sobre a exploração sofrida pela criança. Inclusive, com o garoto dentro do carro a caminho de sua residência para efetivar o presente, sabendo que iria receber críticas pelo vídeo de uma criança em flagrante trabalho infantil saiu logo para o ataque perguntando “O certo seria uma criança de 11 anos, que nem já temos aí matando e roubando? Traficando? Este seria o certo para alguns que vão criticar, né isso?”

É vergonhoso e criminoso o que acontece com as crianças pobres no Brasil. Não falo de quem fez o vídeo ou do pai – mas ambos exploram aquela criança, sem entrar no mérito: o vídeo obteve 2.377.438 visualizações – mas a falta de políticas publicas eficazes com capacidade de devolver a infância e perspectiva de uma vida melhor às crianças desse país verde e amarelo, que às vezes parece esquecido por Deus.

Segundo os últimos dados disponíveis de 2019, da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) 1,758 milhão de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos estavam em situação de trabalho infantil no Brasil. Em 2020, 160 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos foram vítimas de trabalho infantil no mundo (97 milhões de meninos e 63 milhões de meninas). Estas crianças não trabalham por heroísmo, porque gostam, porque é bonito criança trabalhar, elas o fazem por necessidade, para saciarem a fome, diria meu amigo Delegado (porteiro, filósofo, monge e sociólogo): São tigres de papel.

Vi nos olhos da bela vendedora de feijão verde a tristeza da infância perdida de Ezequiel, talvez de ambos. Não duvido em sua ascensão, que logo “prospere”, seja adulto antes do tempo natural, compre uma moto e se tiver sorte pode até comprar uma Chevrolet C-10 e com um bico de alto-falante saia pelas ruas de Serra Talhada/PB gritando “Vai passando Ezequiel do Feijão, é só pedir para parar que eu paro. Aceito cartão e Pix”. Talvez até empregando outras crianças, como faz seu pai alimentando esse círculo vicioso e criminoso. Assim este tigre de papel aparenta ter ganho robustez, agora como “empreendedor” passa a “tigre de papelão”.

Lugar de criança é na escola e sendo criança!!! Ah! Maria está me chamando, o feijão está queimando.

Brito e Silva – Cartunista