Alexandre Cabral é professor, mestre, pesquisador e cartunista carioca da gema, nascido na cidade do Rio de Janeiro, em 28 de julho de 1973. Logo na alfabetização teve seus primeiros contatos com desenhos como quase toda criança, e assim sendo, começou a se interessar pelos traços, passando a desenhar por diversão e não imaginaria que um dia pudesse fazer de seus rascunhos profissão, entretanto, a nanquim que descia pela pena imprimindo no papel contornos de cartuns, caricaturas e charges tomou rumo diferente, contaminando seu sangue e com o apoio da família começou desenhar profissionalmente. Traços firmes contundentes e muita criatividade o levou a figurar como um dos grandes cartunistas brasileiros.
Como não poderia ser diferente, foi seduzido pelos heróis de quadrinhos, desse modo define o cartunista como sendo um ser de outro mundo. Alexandre, assina suas charges, cartuns e caricaturas como “Aleco”.
Por Brito e Silva
Sabemos que é na infância onde tomamos os primeiros contatos com pincéis, tintas, lápis e papel, com você assim?
Sim. Ainda tenho desenhos e pinturas dos tempos de alfabetização, guardados por minha mãe. Sempre amei desenhar!
Desenhar teve alguma influência ou você é a “ovelha negra” da família?
Em minha família, sou o único interessado pelo desenho. Ninguém da minha família desenha ou tem um interesse aguçado por desenho ou mesmo pintura.
Quando tomou consciência que o desenho, mas especificamente, o cartum a seria sua profissão?
Nunca pensei em levar o desenho a sério a ponto de me dedicar profissionalmente. Desenhava por diversão. A ideia de tornar meus desenhos como uma atividade profissional, partiu do momento em que meu traço estava apurado e as pessoas passaram a admirar meus trabalhos.
A família apoiou?
Apoiou sim.
Quantos de anos estrada, amassando e rabiscando papeis em busca suplantar o desafio do papel em branco?
Puxa, posso dizer mais de trinta anos.
Como avalia a qualidade do cartum brasileiro?
Excepcional. Somos muito criativos! O cartum brasileiro é inteligente e graficamente muito bem representado.
Você acredita queo cartunista brasileiro é bem remunerado?
Não! Conheço muitos colegas que se queixam da baixa remuneração por meio dos desenhos publicados. Creio, que a sociedade brasileira, não valoriza, a ponto de pagar de forma justa, o tanto o artista mereça. Enfim, nossos trabalhos são desvalorizados.
No mundo dos traços quais foram suas influências e seu ídolo – se é que tem um?
As revistas em quadrinhos de super-heróis: Batman, Conan, Homem-Aranha etc. Não tenho um ídolo! Mas, têm muitos cartunistas, chargistas e caricaturistas que admiro demais os trabalhos: Frank Miller, os irmãos Caruso, Ziraldo, Henfil, Lan, Cassio Loredano, Quino, Uderzo, … é uma longa listas. Tem muitos mestres mundo a fora!!!
Qual a charge, cartum ou caricatura que gostaria de ter desenhando?
Talvez, as charges do tempo da ditadura. Sim, gostaria de ter satirizado os bárbaros da ditadura de 64!
A internet restringiu muito, quer dizer, praticamente acabou com os jornais e revistas impressos e consequentemente com os espaços para os profissionais do cartum, você acredita que também abriu outras oportunidades e novos mercados?
Veja bem: a internet, proporcionou a falência de muitos jornais importantes no Brasil. E aqueles que resistiriam estão capengando para não extinguirem. Atualmente, a internet veicula novas possibilidades para o cartunista. Tal possibilidade, faz com que ele se autonomize mais que nos tempos dos Jornais impressos. Mas, para isso, o cartunista terá que, com criatividade, ele próprio saber “vender” o seu produto: o cartum.
O que é ser um cartunista?
É ser alguém de outro mundo! É aquele que consegue, com humor, “enxergar” o mundo como muitos não conseguem; e usa o traçado no papel para exprimir suas ideias.
Nesse, 30 de setembro, fez aniversário de 2 anos da morte de um dos mais criativos cartunistas, pensadores e historiadores da América do Sul, o argentino Joaquín Salvador Lavado Tejón ou simplesmente Quino.
Adnael Silva, cartunista e arquiteto nascido em 24 de setembro de 1968, em Arapiraca/AL. Tendo suas primeiras impressões no mundo das artes com materiais bem simples como os lápis de cores, canetas, sem falar das tintas de tecidos que sua mãe utilizava para pintar panos de pratos e tolhas de mesa, que certamente, tiveram influência definitiva, juntamente com os incentivos de seus tios os quais rabiscava.
Adnael, na escola já ganhava um “dinheirinho” desenhando os trabalhos dos colegas, que já viam nele o artista cartunista de fino traço, contundente, crítico e suave, que hoje temos o prazer de tê-lo como um dos melhores cartunistas do país. Morando, desde 19887 em Maceió, mas podemos dizer que Adnael, certamente, está entre os grandes do país, o terceiro lugar no 4º Salão Online de Humor de Pindamonhangaba/SP, com a caricatura de Aldir Blanc, entre outros salões de humor nacionais, o referenda e credencia.
Sabemos que é na infância onde tomamos os primeiros contatos com pincéis, tintas, lápis e papel, com você assim?
Sim, comecei com material bem simples, grafite, lápis de cor, caneta Bic e papel sulfite, e trabalhei apenas com estes por muito tempo. Contato com tinta, na infância, tive pouco – apenas tinta para tecido, que minha mãe usava, para decorar panos de prato e toalhas de mesa, geralmente. Só já adulto, tive contato com materiais mais voltados especificamente para desenho, como tinta nanquim, papéis especiais, etc.
Desenhar teve alguma influência ou você é a “ovelha negra” da família?
Minha mãe já pintava em tecido, como falei anteriormente e alguns tios desenhavam, mas a dedicação aos desenhos mesmo foi instinto próprio. Desde os primeiros anos de escola, comecei a fazer histórias em quadrinhos, (onde eu criava os roteiros e desenhava) que emprestava para alguns poucos amigos na época lerem. E foram cerca de 45 (muito toscas, claro, pois ainda era uma criança) com 7 personagens próprios e vários temas: faroeste, ficção científica, selva e cangaço.
Quando tomou consciência que o desenho, mas especificamente, o cartum a seria sua profissão?
Nos anos escolares já ganhava algum dinheirinho, eventualmente, pois fazia desenhos para trabalhos escolares de outras pessoas, como células, vermes, figuras históricas, entre outros, mas a princípio, nunca achei que conseguiria ter o desenho como profissão. Comecei a fazer charge já perto de 18 anos e logo comecei a produzir para um jornal por uns 2 meses, mas como tive que ir para Maceió para estudar arquitetura, tive de abandonar. Na faculdade, continuei desenhando e cheguei a fazer duas exposições de charges e caricaturas na biblioteca da UFAL. Ao me formar, já trabalhava numa agência de propaganda no departamento de arte. Quando me formei, paralelamente ao trabalho da agência, comecei a fazer charges e ilustrações para um jornal aproveitando as 2 horas da hora do intervalo para almoço. Hoje em dia, faço charges para o maior jornal de Alagoas, mas é apenas minha segunda fonte de renda. A principal sempre foi meu estúdio de design gráfico.
Nos anos escolares já ganhava algum dinheirinho, eventualmente, pois fazia desenhos para trabalhos escolares de outras pessoas, como células, vermes, figuras históricas, entre outros, mas a princípio, nunca achei que conseguiria ter o desenho como profissão. Comecei a fazer charge já perto de 18 anos e logo comecei a produzir para um jornal por uns 2 meses, mas como tive que ir para Maceió para estudar arquitetura, tive de abandonar. Na faculdade, continuei desenhando e cheguei a fazer duas exposições de charges e caricaturas na biblioteca da UFAL. Ao me formar, já trabalhava numa agência de propaganda no departamento de arte. Quando me formei, paralelamente ao trabalho da agência, comecei a fazer charges e ilustrações para um jornal aproveitando as 2 horas da hora do intervalo para almoço. Hoje em dia, faço charges para o maior jornal de Alagoas, mas é apenas minha segunda fonte de renda. A principal sempre foi meu estúdio de design gráfico.
A família apoiou?
Sim, pessoas simples do interior, mas que percebiam que esse seria meu caminho.
Quantos de anos estrada, amassando e rabiscando papeis em busca suplantar o desafio do papel em branco?
Desenhando desde criança, mas profissionalmente, já com salário desde os 18 anos, hoje estou perto dos 54.
Como avalia a qualidade do cartum brasileiro?
Muito boa, temos grandes artistas que se destacam nacionalmente e internacionalmente, e até vencem concursos no exterior.
Você acredita queo cartunista brasileiro é bem remunerado?
Não conheço muito bem a realidade de outros estados, pois muito pouco se fala de salários nesse meio artístico (até onde sei), mas acredito que poucos conseguem viver exclusivamente do cartum/charge/ilustração, principalmente quem vive longe dos grandes centros. Geralmente, tem que ter uma profissão paralela para complementar a renda, mesmo que seja uma profissão que tenha afinidade também com arte.
No mundo dos traços quais foram suas influências e seu ídolo – se é que tem um?
Não tenho um ídolo específico nem influência específica, fui amadurecendo com a mistura do que via/vejo para criar um estilo próprio, sempre em fase de evolução. No começo tinha mais acesso ao trabalho do Chico Caruzo. De uns tempos para cá, com a internet, tive acesso aos trabalhos de vários artistas, os quais admiro muito o trabalho e que servem inspiração. Para citar apenas alguns: Baptistão, Dálcio, Quinho, Cau Gomes, Angeli, Ique, Hoisel, Sebastian Kruger…
Qual a charge, cartum ou caricatura que gostaria de ter desenhando?
A caricatura do Sylvester Stallone feita por Sebastian Kruger é uma das obras que gosto muito.
A internet restringiu muito, quer dizer, praticamente acabou com os jornais e revistas impressos e consequentemente com os espaços para os profissionais do cartum, você acredita que também abriu outras oportunidades e novos mercados?
Ainda hoje não consegui me desapegar de material impresso, prefiro a obra física que digital para ler. Apesar de ter acabado com vários jornais e revistas, a internet abriu portas também e todos os cartunistas tiveram que se adaptar. Um dos benefícios da internet é que conseguiu dar visibilidade ao trabalho de muita gente, tanto no Brasil como internacionalmente. Revelou também outras formas de ganhar dinheiro como alternativa ao impresso, como canais no youtube, e-books, blogs, etc. Também facilitou o conhecimento e a participação em eventos, tanto nacionalmente como internacionalmente.
O que é ser um cartunista?
Ao meu ver, é ter a vontade incontrolável de “colocar no papel” de uma forma bem humorado ou que faça refletir, a nossa visão do mundo que nos cerca. Cada um explorando sua vertente, a política, o cotidiano, o lúdico. É poder passar uma mensagem simples, muitas vezes sem palavras, que seja compreendido pelas várias camadas sociais, seja fazendo rir, pensar, denunciando, alertando os problemas socias que nos afligem, principalmente.
Exposição no Centro Permanente de Caricatura e Desenho de Imprensa de St. Just Le Martel/FR. O Rio Grande do Norte está representado por mim e o amigo cartunista Brum, além do nosso embaixador do cartum brasileiro na França, o cartunista potiguar Joe Bonfim, que é um dos organizadores.
“Obrigado Centro Permanente de Caricatura e Desenho de Imprensa de St. Just Le Martel/FR. Por esta excelente exposição de cartunistas brasileiros, bem como aos nossos muitos companheiros internacionais que responderam ao nosso convite!”, agradeceu Joe Bonfim.
Priscila Matos é cantora, pianista, compositora, educadora musical, nasceu em Salvador (BA), passou boa parte da infância em Aracaju (SE), onde iniciou seus estudos musicais, mas, foi aqui na Cidade do Sol, Natal, onde fincou raízes, que mergulhou definitivamente no mundo da música.
A exposição “200 Anos de Independência: Uma Narrativa entre Direitos e Liberdades” iniciou no Memorial da Justiça Federal do Rio Grande do Sul no dia 1º de setembro e conta com a arte visual do cartunista potiguar Brito e Silva, através das caricaturas dos cinco artistas que fizeram parte do Grupo dos Cinco da Semana de Arte Moderna de 22.
O objetivo da mostra é refletir sobre os conceitos de justiça, cidadania, identidade e liberdade, tendo a Independência do Brasil, comemorada em sete de setembro, como protagonista, mas também reunindo diferentes momentos da história nacional celebrados, de alguma maneira, ao longo do ano de 2022.
Quem visitar o Memorial caminhará pelos quatro eixos componentes da exposição: Comemoração do aniversário de Porto Alegre, Centenário da Semana de Arte Moderna, Independência do Brasil e 55 anos de Reinstalação da JFRS. A mostra busca entender como esses diversos aspectos da trajetória nacional e gaúcha são capazes de fazer pensar acerca das independências individuais e coletivas vivenciadas pelo povo brasileiro.
Joe Bonfim, é um multiartista potiguar, nascido em 25 de julho 1959, na cidade do Natal/RN, batizado na igreja São Pedro, no Alecrim. Joe é músico, compositor, cantor e um dos mais renomados cartunistas brasileiros, residindo em Paris há 32 anos. Como descendente de ameríndios nordestinos, apesar, desse tempo morando no primeiro mundo continua um papa jerimum de quatro costados, todo ano troca as águas gélidas do Sena que corta a Cidade Luz, para vir banhar-se nas águas mornas da praia de Ponta Negra, ao pé do Morro do Careca, na cidade do Sol.
“Joe Bonfim é um personagem que eu criei”, assim falou Joe. Também acrescenta ter sido um sedutor inveterado, em sua juventude, mera humildade, continua nos seduzindo com seus traços inequívocos de grande valia ao mundo cartum mundial e sua música.
Vamos conhecer um pouco mais do Joe Bonfim.
Em geral, a maioria dos desenhistas começam muito cedo, logo na infância fazendo rabiscos, com você assim?
Meu primeiro desenho de observação me valeu uma surra da minha mãe, com chinelos havaianas. Ela tinha ido à feira com minhas irmãs em um subúrbio do Rio de Janeiro/RJ e eu aproveitei pra empilhar uns caixotes, subir no muro, e ver à filha da vizinha, uma linda mulata, que tinha uns dezesseis anos, tomando banho do jeito veio ao mundo. Observei bastante, desci do muro e desenhei o que vi na prancha de madeira da janela, que impedia a entrada de mosquitos pelas venezianas. Minha mãe quando viu aquele nu artístico, ficou furiosa e me deu uma coça severa. A educação que ela havia recebido nas escolas mantidas por freiras, via pecado e maldade em todos lados, e Arte em lugar nenhum. Esta reação ignorante e sem noção, só me fez gostar ainda mais de mulher e talvez por este motivo, eu me tornei um dos melhores alunos de modelo vivo da Escola de Belas Artes da UFRJ, e estudei modelo vivo também na Escola de Belas Artes de Berlim, junto com a lithographia, durante o ano de 1990.
Desenhar teve alguma influência ou você é a “ovelha negra” da família?
Desenhar fez, eu me tornar a “Ovelha Branca” da família.
Quando tomou consciência que era o desenho, mas especificamente, o cartum seria sua profissão?
A inspiração primeira foi o Jota Carlos e em seguida, o Mestre Mario Mendez.
Logo tomei consciência que o cartun não poderia ser minha profissão. Esperei bastante para ser pago do meu primeiro desenho publicado no Pasquim.
O desenho é uma paixão, uma mania, minha terapia.
A família apoiou?
A minha mãe me apoiou muito: “Artista é coisa de vagabundo, de preguiçoso, de “bom pra nada”.
Quantos anos de estrada, amassando e rabiscando papeis em busca de suplantar o desafio do papel em branco?
Desenho desde que ganhei meu primeiro lápis, no primário da escola pública. Fiz muitas profissões diferentes, mas nunca parei de desenhar. A folha em branco é uma excelente e excitante fonte de descobertas e de prazer. Graças à esta sagrada energia, nunca brochei do lápis.
Você mora na França há mais de duas décadas. Como é a vida de um cartunista na terra do egalité, fraternité e liberté?
Moro na França à somente 32 anos. A sorte de nós, cartunistas e caricaturistas aqui na França é que existem muitas associações que criam Salões e Festivais de cartuns e caricaturas, bem como de quadrinhos.
Você é o “embaixador” dos cartunistas brasileiros na França/Europa, levando trabalhos de novos e velhos desenhistas a Festivais de Humor pelo território do primeiro mundo. O que significa para você esse trabalho e para os cartunistas brasileiros, além da visibilidade notória internacional?
Tento ajudar à minha maneira, como posso. Principalmente graças às muitas amizades que fiz por aqui. Muita gente boa, competente e humilde. Os melhores embaixadores dos desenhistas brasileiros, são o talento, a criatividade e à originalidade de nossos compatriotas, e o melhor exemplo disto são as 3 Grandes exposições, tendo como tema o atual preside(me)nte brasileiro. Participamos também em 2 exposições à Cannes, onde participo na associação organizadora, ajudando nas relações publicas e com os colegas cartunistas. Vale ressaltar, como exemplo, a excelente participação do nosso Gilmar nacional, que convidamos no ano passado, e que teve direito à uma exposição individual, assim como entrevista na televisão. Para coroar tudo, ele ganhou um dos prêmios mais cobiçados deste que é o maior Festival Internacional do mundo, há (41 anos de existência), Gilmar ganhou o prêmio da imprensa Internacional. Isto tudo, sem falar Inglês ou Francês. Seu traço comunicou em todas as línguas. Fiquei orgulhoso e feliz com o prêmio do meu amigo compatriota, satisfeito por ter lhe indicado para à organização do Festival, que o convidou.
Para mim, que cresci num clima de independência de ideias na UFRJ, ao mesmo tempo que a repressão e censura no período da Ditadura, não posso esquecer que apesar de ser desconhecido no meu país, fui contemporâneo do Henfil, do Aldir Blanc, do Jaguar, etc.
Não posso calar. Tentarei sempre levar a voz e o talento dos meus irmãos brasileiros, por onde eu passar. Um exemplo disto é minha singela participação, como convidado, pelo meu amigo, o escritor- Historiador, Levi Juca, à campanha do lançamento do livro sobre o nosso Grande Mestre da Caricatura, Mario Mendez. Aqui na Europa, eu testemunho das nossas condições de vida e liberdade e sobretudo promovendo uma visibilidade que estes artistas, muitas vezes não tem no seu próprio País.
O cartunista brasileiro é bem recebido fora do país?
Alguns ótimos cartunistas perderam o trabalho. Infelizmente, existem divisões entre os desenhistas de quadrinhos, os cartunistas, e os desenhistas de livros para as crianças.
O cartunista é bem remunerado na Europa?
O “Canard Enchaîné, Charlie Hebdo, Fluide Glacial, são referencias, mais já estão com os times completos. Alguns nomes, conhecidos continuam a publicar. Antigamente o cartunista, ou caricaturista tinha carteira assinada e um salário razoável garantido. Hoje em dia, na maioria, os desenhistas são pagos por desenho publicado, o que não garante na maioria dos casos, uma vida confortável.
Alguns Festivais de caricaturas e cartuns nos autorizam fixar livremente o preço das caricaturas. Outros do um preço igual para todos. Alguns, dizem que o preço é uma escolha da pessoa que foi caricaturada (não concorde com esta opção,)
A internet restringiu muito, quer dizer, praticamente acabou com os jornais e revistas impressos e consequentemente com os espaços para os profissionais do cartum, você acredita que também abriu outras oportunidades e novos mercados?
A internet, infelizmente, ao mesmo tempo que facilitou o envio de mensagens e o consumo de informação, fez uma lobotomia na capacidade de reflexão, indignação e pudor dos internautas. Os jovens não pegam mais nos livros. A qualidade da espíritos piorou muito. A memória e à capacidade de cálculos mentais também se reduzem. As pessoas nunca se comunicaram tanto quanto agora, e nunca ficaram tanto sozinhas.
De uma maneira geral, eu diria que os atentados sofridos pela équipe do Charlie Hebdo só aceleraram uma tendência que começou a se instalar com a chegada da internet e dos smartphones. Os téléphones estão cada dia mais “Smart”(inteligentes) e nós, consumidores gratuitos de “merda colorida em movimento” estamos cada dia mais imbecis, sem conhecimento e poder suficiente para represar este tsunami mundial de “bosta”. A falta de dignidade, de honestidade, de inteligência, de pudor e compaixão, transborda e à gente vê bem o resultado desta decadência mundial (temos muitos exemplos nos nossos políticos tupiniquins).
A internet, com este fluxo enorme de texto e imagens gratuitas, só serviu para vulgarizar e desvalorizar o trabalho intelectual da escrita e de criação de imagens.
Que charge, cartum ou caricatura que gostaria de ter feito?
Gostaria de ter feito todas as charges do Henfil, do Gilmar e do meu amigo BRUM, que infelizmente, acabou de perder o trabalho como cartunista no jornal a Tribuna do Norte.
Você um é artista dos traços, também é musico. O cartum tem alguma ligação com as linhas da pauta, onde os músicos desenham suas notas?
Confirmo esta noticia ruim: Sou também músico-compositor-cantor. A música me ajudou a pagar minha vida e meus estudos, quando cheguei por aqui. Tinha um bom trabalho no Brasil, mas não estava feliz. Ano passado gravei um CD de Bossa Nova o “Bonfim, Bossa French Touch” com standards Bossa e Chanson francesa, em Francês. Este ano gravei o Aquarelle com 10 composições minhas. Encontramos neste álbum ritmos variados: Xote, blues baladas romântica, Bossa, músicas de protesto à situação atual do Brasil, e uma musica para ninar, composta em parceria com a minha filha, quando era novinha. Tem de tudo, para todas as sensibilidades. É um resumo, uma cronologia. É meu jeito de me apresentar nu, em textos e em musicas. É um exibicionismo escandaloso, mas tem gente que gosta (poucos).
O que é ser um cartunista?
Ser cartunista é ver, perceber e traduzir em imagens o que a maioria não vê, não percebe ou não gostaria de mostrar ou de ver… É alertar sobre o ridículo, o mal honesto, à crueldade, a bondade, etc todos os sentimentos e situações podem ser representados pelo traço, e na maioria das vezes, melhor do que discursos, texto ou fotos. É o caro que levanta a saia da imagem da santa pra ver como é a bunda dela, que vê a meleca grudada no nariz do presidente, que escuta o peido escapado da rainha da Inglaterra (RIP) é chocante? (sim…) é de mau gosto? (muitas vezes) é de má intenção? (quase nunca) É proibido? (Claro que não!!!!) Liberdade de expressão é saudável e necessária. Se eu não acredito ou acredito em algo, eu tenho o direito de dizer. É à liberdade de expressão. É melhor ser esta “metamorfose ambulante, do que ter aquela opinião formada sobre tudo!”
Que é Joe Bonfim?
O Joe Bonfim é um personagem que eu criei. Um descendente de ameríndios, nordestinos, de origem e temperamento humilde. Curioso. Quando jovem, foi um sedutor inveterado, tendo como armas o desenho e a música. Tem uma boa estrela e muita inconsciência, pra continuar tentando salvar sua chama inicial dos males do tempo. Um Don Quixote com um lápis no lugar da lança, e que hoje luta contra monstros imaginários e inimigos reais, para salvar sua Dulcinéia que esta “cagando e andando pra ele”, “un fou que persiste dans sa passion du Dessin et de la musique, mais qui au même temps,ne sais pas faire rien d’autre” – “um louco que persiste em sua paixão pelo desenho e pela música, mas que ao mesmo tempo não sabe fazer outra coisa” -.
Outro dia, o amigo jornalista Cefas Carvalho falava do “Pistoleiro Sem Nome”, com o ator americano Clint Eastwood filme de bang bang, de cowboy ou ainda faroeste como se dizia na minha adolescência, isto lá pelos anos 70, intrometido que sou, fui logo lá no texto e fiz uma confissão: “Assisti algumas dezenas de vezes. É meu coringa, quando não tenho uma boa opção, vou de “Estranho sem nome”. E é a mais pura verdade.
Não entro no mérito da qualidade estética, dramática, cultural dos filmes de cowboy, me sinto incapaz de expressar uma opinião cunhada sob argumentos capazes de acrescentar algum pensamento crítico a quem quer que seja, até porque meus velhos neurônios corroídos pelo teor alcoólico dos “trocentos burrinhos” ingeridos lá em Dona Luzia, do Ponto Frio, sem falar do Mobral incompleto que tem sua extensa e decisiva contribuição.
Como disse o amigo Cefas de sua vinculação com esse tipo de filme, é mesma que a minha: é afetiva, a qual remete à minha adolescência, aos matinais do Cine PAX e Cine Cid, lá na terra de Santa Luzia. Ainda hoje quando minha memória decide projetar imagens daquele tempo primaveril, chego a sentir o cheiro do sorvete de morango que a gente tomava antes de entrar no cinema e o gosto do Ploc – goma de mascar -, que de tanto levar sol no carrinho de “confeitos”, uma vez na boca se desmanchava grudando nos dentes e você ficava com a língua pra lá pra lá e pra cá, numa dança de um insólito bolero lutando para juntar os pedaços em uma massa homogênea.
Muitas vezes para ter esse luxo, juntava garrafas de vidros vazias e quase sempre os cinemas faziam promoção trocando-as pelo ingressos, e poder saborear um casquinhas de sorvete, uma pipoca, pois o dinheiro que dona Geralda – minha mãe – nos dava evaporava na velocidade da luz. São imagens que permanecem guardadas e somente são reveladas em momentos peculiarmente de puro contentamento.
Maria é testemunha ocular do meu frenesi com o controle remoto, depois de extensa e exaustiva procura por um filme na Netflix que pudesse me prender por alguns minutos, saio pela falta de opção dos faroestes, acomodo-me no youtube e ponho lá bang bang italiano – como ficou denominado para nós bocós os filmes spaghetti western teuto-americano-hispano-italiano – me aparece “Três Homens em conflito” com Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach; “Era uma Vez no Oeste” com Henry Fonda, Charles Bronson e Claudia Cardinale; “Keoma” – que tem uma trilha sonora fantástica – com Franco Nero; “Sete Homens e Um Destino” com Yul Brinner, Charles Bronson, Steve McQueen, James Coburn, Ali Walach, Horst Buchhlz e Robert Vaughn – esse filme tem uma versão dirigida por Denzel Whashington, não assisti ainda – Não vou nem falar de Bravura Indômita com Jeff Bridges, Hailee Steinfeld, Josh Brolin.
Ora, agora, ajeito o travesseiro, Maria cede mais um cafuné trazendo um bom cafezinho e a pipoca, nos aconchegamos, respiro fundo, concentro-me, miro, com indicador no gatilho aperto o play: bang, bang, bang…
Ele tem 40 anos de idade e 18 anos de labuta queimando as pestanas sobre a prancheta. Estamos falando do cartunista cearense Cival Einstein, nascido 15 de setembro em Fortaleza/CE, sendo hoje um dos grandes e mais respeitados cartunistas do nordeste e, certamente, figura entre os melhores do Brasil. Com seu traço firme, forte e sua acidez expressa nos cartuns se tornou conhecido internacionalmente, ganhador de vários prêmios, participante ativo de salões internacionais de humor: em 2016 ganhou na Sérvia, revista Zikison, em 2022 foi premiado no 18ª Mostra Internacional de Cartum, na Síria. Cival, além da paixão pelo traço, também é amante da “magrela”, isto é, gosta de sair por aí pedalando sua bike pelas ruas da capital alencarina e cercanias. Vamos conhecer mais um pouco do Cival, nosso Einstein dos lápis e cores.
Em geral a maioria dos desenhistas começam muito cedo, logo na infância fazendo rabiscos, com você foi assim?
Sim.
Desenhar teve alguma influência ou você é a “ovelha negra ” da família?
Meus pais me incentivaram, da infância até a adolescência, depois fui me virando.
Quando tomou consciência que o desenho, mas especificamente, o cartum seria a sua profissão?
Não falo nem tanto em profissão, mas o encanto do cartum é a sua sacada, humor e a sua mensagem simplista é o que me encanta, e isso é o mais interessante do cartum, caso contrário seria simplesmente só mais um desenho e nada mais, se não tivesse esse encanto.
A família apoiou?
Da infância a adolescência…
Quantos anos de estrada, amassando e rabiscando em busca de suplantar o desafio do papel em branco?
Há 18 anos.
Certo que você é um dos cartunistas da atualidade mais premiados do nordeste. Quando ganhou seu primeiro festival de humor?
Sinceramente não lembro. Mas vou citar um, foi na Sérvia, revista Zikison, acredito que foi no ano de 2016, não lembro bem.
Você acredita que o cartunista brasileiro é bem recebido fora do país? E aqui no Brasil, acha que são reconhecidos como deveria?
Fora do país sim, aqui tem salões sérios como também tem salões que não têm seriedade, não vou citar, e uma parte já tem suas cartas marcadas.
Os cartunistas brasileiros promovem um bom cartum competitivo internacionalmente?
Sim, os cartunistas brasileiros são talentosos. A diferença daqui para o europeu, é que o europeu inclui as artes plásticas e a ilustração no cartum, aqui tivemos muita influência no jornal com aquele cartum mais simplista e de fácil percepção de olhar.
O Cartunista brasileiro é bem remunerado?
Deveria, não é.
A internet restringiu muito, quer dizer, praticamente acabou com os jornais e revistas impressos e com os espaços para os profissionais do cartum, acredita que também abriu outras oportunidades e novos mercados?
Banalizou total, os espaços que abriram foi concursos fakes ao redor do mundo, como também deu oportunidade para novos organizadores sem recursos promoverem o cartum mundial. Os troféus físicos a cada dia que passa estão desaparecendo e muitos ilustradores estão recebendo certificado sem ser cartunista de origem, ou seja, nunca trabalharam em jornais, muitos pseudos-cartunistas se oferecem aos jornais fazendo de graça para se promoverem, a um concurso, apenas pelo título, se ganhar, o que é incerto. Então a situação está neste patamar, entre outras coisas que acontece nos bastidores.
O que é ser cartunista?
Ser cartunista significa ser além do desenhista em si, é um ser intelectual que enxerga o mundo, o que não é comum no nosso dia a dia e expressa no cartum de forma irreverente e com humor.
Qual charge, cartum ou caricatura que gostaria de ter feito?
Não sei responder. É um mundo infinito de momentos.
Quem é Cival Einstein?
Um ser humano que tenta ser melhor a cada dia, apesar dos desafios e questionador das injustiças políticas, um insurgente civil, político na teoria, amante da natureza, do ciclismo, enfim.