Difícil entrar no clima
Por mais que tente me desvencilhar deste clima, onde todos: ricos, pobres, brancos, pretos e amarelos, inflam-se do “espírito natalino”, passam sebo nas canelas a caminhos dos shopping, bodegas e botecos para preencherem suas faltas mais proeminentes neste mundo, onde se exige cada vez mais sermos “proativos”, positivistas e respondendo à demanda somos produtivamente parte da engrenagem que nos obriga a não dispormos de TEMPO para o perdão, desculpas, obrigado, tolerância e muito menos para os seus: pai, mãe, mulher, marido, filhos, filhas ou mesmo um bom papo de esquina com um amigo, por pura leseira congênita, acabo por tropeçar nas armadilhas e no lugar comum me esborracho no tal clima natalino.
Na verdade, damos pouca bola para o significado do Natal, nos oferecido pelos ensinamentos bíblicos que todas as religiões cristãs estão roucas de proferirem aos quatro cantos, que seria a celebração do aniversariante mais popular do ocidente, nada menos que Ele: Jesus. Entretanto, o barulho por elas emitido, neste período fica mais evidente sua ineficiência perante os estrondosos e estridentes decibéis exprimidos pelo “mercado”, basta olharmos às multidões em frenesi e absoluto êxtase consumista hipnótico.
Não, não estou reclamando não, apenas constatando que alguns valores estão sendo superados. Diria um conformista que a vida é assim mesmo e as mudanças são necessárias, de certo modo sim, mais como calar quando o TER supera o SER? Não consigo entender onde um presente precificado numa vitrine chique tenha mais valor e seja mais receptivo que um abraço, desculpem, mas sou antiquado.
Cada vez mais sinto dificuldade de “entrar” no clima natalino. Para ser sincero, às vezes caio de supetão nele, mas logo bato a poeira da bunda e protesto: Não precisamos ser tão medíocres, tão hipócritas e cínicos. Ora, todos os dias trocamos Deus por alguma bugiganga de valor irrisório e assim oficializamos o “clima natalino”, diariamente presente nos 11 meses do ano, justificando sua banalização a um mero apelo de consumo mercadológico, então dezembro é apenas mais um mês comercial. Continuo achando o Papai Noel um escroto, mas, pensando bem, nós é que somos uns escrotões. Mas, para não escapulir do clima: Feliz Natal.