Senhor de idade
Vi uma postagem do amigo, Ruy Glay, em que mostrava um interruptor do tipo pera e insinuava se você reconhecesse o objeto, certamente, seria uma pessoa velha. Ruy, o reconhecimento de minha velhice foi mais traumatizante – Já escrevi sobre isto, há uns três anos -, mas, todas às vezes que alguém retoma o assunto o dano emocional explode com força do Krakatoa e, para minimizar minha dor, sigo à risca ditada pelos amigos psicólogos, Guadalupe Segunda e Mayron Marcos, que é “falar sobre o assunto”.
Há uns três anos vinha de Parnamirim, da casa do meu pai, depois de uma visita ao meu cliente e amigo Moacir, isto por voltas das 18h, quando meu carro decidiu, sem minha permissão e sem comunicado prévio, fazer greve-geral, bem ali próximo ao Posto Dudu, simplesmente parou. Para não incomodar meu irmão Elian – Pois, se viesse me socorrer, a volta seria um tormento, pegaria todo engarrafamento -, resolvi pegar um ônibus. Para consolidar minha vontade de pôr fogo no carro, fui contemplado com uma chuvinha fina, essas de molhar gente besta, até a parada. Porém, logo um micro-ônibus surgiu, fiz saber o meu destino ao motorista, respondendo prontamente disse que passaria ao lado do Nordestão da Deodoro, “sartei pra dentro”.
De camisa azul, de punhos, mangas dobradas até o cotovelo, calça e sapatos sociais, minha pasta de couro companheira dileta de árduas batalhas na mão direita e, feito um pingente pendurado pela mão esquerda agarrada ao corrimão no tento do transporte, parecendo um pinto molhado. Logo percebi uma galera bastante descolada: rapazes de camisetas e bermudas, meninas de vestidos, shorts, blusinhas com jaquetas amarradas na cintura. Sem falar, que a grande maioria ouvia algo no celular e não davam bolas para minha exótica presença, alguns de livros em punho. Conclui que eram alunos da minha ilustre vizinha UNP.
Deslocado, sim! Mas, aquela moçada me fez sentir um vigor juvenil e retroagir ao tempo de estudante quando fazíamos excursões e quase senti uma lágrima correr no canto do olho, não de nostalgia boba, mas de ter vivido aqueles tão irresponsavelmente momentos de singela alegria. Por um bom tempo fiquei por lá, sentido às águas de uma cachoeira a qual tomamos banho, lá em Portalegre/RN e a brisa do Atlântico soprando no alpendre da casa de Soutinho, em Tibau, quando senti um leve toque em minhas costas e uma voz suave, sussurrava: “Senhor, senhor…”, virei-me atendendo o chamado e vi uma bela jovem, de cabelos negros lisos, olhos grandes amendoados, lábios carnudos, jurei por longos milésimo de segundos ser Angelina Jolie – Diga à Maria não, viu Florinda -, ainda em movimento de rotação ela perguntou-me: Senhor, quer sentar? Broxei, quer dizer, aceitei.
Com as pernas e os calcanhares em frangalhos, feito uma jaca podre que cai do galho se esborrachando no chão, me “apragatei” na cadeira cedida pela sósia de Jolie. Naquele instante me dei conta que era um senhor de idade.
A minha história é essa, é talvez igual a sua, que me lê agora.