Nu
Nu
A chuva passou, os carros passaram e a moça cheia de graça também passa, com a pressa de quem vai a lugar algum ou tem a alma livre de quem nunca chorou seus pecados.
Na verdade, ela desfila na feia calçada da padaria. Se eu entendesse do ramo, diria que é afoita praticante de pilates: pois suas ancas, em bandas, são proporcionais e as pernas bem torneadas lhe oferecem uma bela silhueta, não diria que tem a cintura de pilão, mais sim, semelhante a meu rabugento violão.
Em verdade voz digo, com a devida vênia: que ela poderia ser a minha “Garota de Ipanema” ou musa de qualquer artista esfuziante, assim caminhava num doce balanço em plena Maria Lacerda. Rebolando os quadris de um lado para outro parecendo uma Víbora de Chifre no sol escaldante nas areias do deserto do Saara, sob cobiça de umas, desdém de outras e olhares espichados de outros tantos, ela segue alheia aos pormenores.
Antes de virar a esquina, decidiu conferir seu “estrago” aos “espiões” passantes, por sobre o ombro esquerdo olha para trás. Que coisa horripilante, vi seu rosto e ele estava nu.
Brito e Silva – Cartunista