kkkBloco dos desesperançados
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“Calma. É só aos poucos que o escuro fica claro”, cunhou o mineiro diplomata e poeta Guimarães Rosa. Não podia ser mais preciso. Entretanto, muitas almas – até bem-intencionadas – caminham apressadas sob o sol do Saara ao meio-dia, empunhando fachos de luz, sem perceber que, assim, luz e escuridão já não se distinguem.
Talvez eu – e certamente sou – um perfeito membro desse bloco de miseráveis que seguem cegos, portando lampiões, sem notar sua infame e arrogante ignorância. E quando por um milagre, concedido por algum deus zombeteiro do Olimpo, têm um lampejo, um rasgo de ciência, seguram uma vela acesa ao amanhecer, mas ainda assim duvidam da alvorada no horizonte – e, acreditando no lusco-fusco, acendem outra vela na mão direita.
Não sei – e talvez nunca saiba – se isso é pura arrogância ou uma humildade falseadamente disfarçada. Sempre que tenho oportunidade, quando estou errado, me rendo; me coloco diante da verdade, da informação correta, disposto a aprender para que no futuro não erre mais. Não como uma promessa juramentada, mas como um objetivo: não recair no mesmo pecado, não ajoelhar meus joelhos sobre os mesmos milhos.
Diz o velho ditado, lá no pé da serra do principado de Baixa do Chico: “Errar é humano, mas permanecer no erro é burrice”. Não seria assim tão insultuoso se a carapuça não me coubesse tão bem no quengo. Sim, isso mesmo: faço parte do bloco dos desesperançados, dos apequenados, daqueles que perambulam na escuridão do dia envoltos na névoa do prazer mediático. Um par de médicos desalmados me proibiu de comer meu pão-doce de cada dia. É verdade: digo, não estou curado, porém, há quinze dias me mantenho “limpo”. Entretanto, todos os dias, acendo uma vela a Deus e outra ao diabo.
Calma? Ora, Guimarães, quem sabe de mim sou eu!
Obs: O pecado não é estar com a “alma turva”, porém, não a querer límpida.
Brito e Silva – Cartunista