Há perigo na esquina: resposta ao “jornalista” Gustavo Negreiros
Ataques e provocações caluniosas, preconceituosas e difamatórias em relação a profissionais da educação, cientistas e áreas do saber de modo geral, são recorrentes no Brasil de 2021. Os motivos, dentre os quais a onda retrógrada e negacionista que emana das principais instituições de poder eleitas em 2018, não são novidades.
Mais um episódio desses ataques ocorreu em 19 de novembro de 2021, no programa “jornal das seis” da rádio potiguar “96 FM”. Na ocasião, o “jornalista” Gustavo Negreiros dispara: “sabe quem é o segundo maior risco da educação brasileira? Não é o traficante, não. É o professor de Geografia, sabe, é o professor de ética, professor de filosofia, o professor de sociologia. Essas pessoas representam um risco às nossas crianças, e aos nossos adolescentes”.
Diante dessa situação vexaminosa, nos cabe enquanto comunidade geográfica brasileira, de um lado, repudiar veemente esse tipo de discurso racionalmente equivocado, eticamente lamentável e politicamente criminoso. Por outro lado, também cabe expressar profundo lamento pelo veículo de comunicação – uma concessão pública – que abre espaço para uma verdadeira propagação de riscos a formação o ensino e aprendizado de crianças e adolescentes, pois são justamente a presença de sujeitos como esse “jornalista” convidado entre outros propagadores de fake news que em setembro de 2019, nessa mesma rádio, classificou a ativista Greta Thunberg, uma jovem de 16 anos, como “histérica”, “mal amada” e que precisava “de um homem e de sexo”. Comentários esses carregados de estereótipos, machismo, misoginia e desrespeitos para com uma jovem mulher.
No mais, não cabe listar a folha corrida do “jornalista” para que se aponte o verdadeiro perigo para as nossas crianças, adolescentes e para a sociedade brasileira em geral. Sexualizar crianças, defender um governo inescrupuloso que sucateia e ataca a educação, e ainda comparar professores a criminosos é verdadeiramente um perigo, tanto aqueles que professam esses absurdos, como os escutam em silêncio. E não é o nosso caso.
Toda oportunidade para defender a educação e o livre pensamento, as instituições e as/os profissionais nelas envolvidas é válida e necessária. Ainda que Belchior tenha cantado em 1976 que “há perigo na esquina”, a comunidade geográfica brasileira, por sua vez, tem convicção de que nem “eles venceram” e nem o “sinal está fechado para nós”. Seguiremos na construção de uma Geografia e uma educação crítica, livre e solidária pautada na verdade e na Ciência.
Associação dos Geógrafos Brasileiros,
22 de novembro de 2021.