Então é natal
Que me perdoem o azedume, não quero ser pessimista e muito menos espero que pensem que acredito em conspirações cósmicas. Não, não é ressaca moral imposta por causas etílicas, aliás, faz muitos anos que não degusto uma boa dose de whisky ou uma grade – há algum tempo era grade, hoje é caixa, veja como tempo correu – de cerveja gelada. Desculpem, mas não consegui perceber alguma mudança extraordinária na humanidade ou em qualquer ser humano, nem naqueles dos quais sou satélite, que pudesse dá outra destinação ao mundo por causa da data de ontem, Dia/Noite de Natal, exceto aos cofres da indústria e do comércio que se abarrotaram com o cinismo do “bom velhinho escroto” do Papai Noel.
Calma aí! Não estou falando da data em si e seu significado, sua simbologia, porque creio que o conceito e causa continuam os mesmos, em verdade, nós é que mudamos. Outro dia, me disseram que a sociedade evoluiu bastante, e é verdade: a humanidade evoluiu em todos os setores da vida humana, porém isto, não quer dizer que melhoramos, claro e evidente que superamos várias demandas com bastante louvor, entretanto em outras, talvez, demos um passo atrás.
Sei, certamente, alguém vai recorrer ao direito à réplica e dizer do ponto vista biológico que ontem morreram bilhões de células e outras nasceram nos tornando “renascidos” e ainda um outro entendido do borogodó dirá que todas as experiências vivenciadas no dia anterior nos transforam e, portanto, hoje não somos mais os mesmos de ontem, concordo com ambas. Porém, creio que para grande maioria das pessoas, essas mudanças ocorrem no intestino grosso e, assim sendo impossibilitam a efetividade, pois, os sinais emitidos ao cérebro dizem “preciso descer logo”, recebendo autorização para seguir reto ao Water Closet mais próximo, caso contrário, alguém vai passar vexame.
Zygmunt Bauman, o filósofo polonês, fala do “mundo liquido” onde as relações são mediáticas, fugazes, sem limo e para muitos o sociólogo foi no âmago da questão posta. A diluição de certas relações ou tradições é mais que notória, é de certa forma agressiva, sendo substituídas por outras com objetivos bem definidos de consumo, vestidas, maquilada da anterior. Digo do Natal, onde a comunidade cristã ocidental, que também se apropriou da data, 25 de dezembro para o nascimento do “Menino Jesus”, hoje severamente atacada por quem em algum tempo teve uma boa convivência, o Papai Noel, saiu na Lapônia invadindo, não mais os lares, mas shoppings do mundo todo numa ofensiva promovida, em sua maioria, pelos cristãos, Talvez, até em um futuro, não muito distante a imposição de uma convenção entre as várias religiões cristãs para um novo consenso de uma data da Natividade, haja vista, que o 25 de dezembro o Noel, já papou.
OK, concordo, mudamos para pior – sabe-se lá – talvez estamos nos afogando num “mundo líquido” do Zygmunt Bauman, neste Natal recebi menos e também disse “Feliz Natal”, exceto nas redes sociais, digo de viva voz ou pelo telefone. Será que o “espírito” natalino está em crise existencial? Não sabe se serve a Deus ou ao Diabo? Isto é, a Cristo ou a Noel? Vai saber!
Brito e Silva – Cartunista