Dorian Jorge Freire
Ontem, sonhei com o jornalista Dorian Jorge Freire, o cenário imposto por Morfeu, pareceu-me muito familiar, aquelas estreitas escadas, as quais subi algumas milhares de vezes, indo a sua sala e a de João Newton da Escóssia, então nosso diretor administrativo, jamais poderia esquecer. Pois muito bem, quase nos últimos degraus perguntou-me o velho jornalista “Valeu a pena?”, mostre-lhe dois dedos em “V” – não o responderia assim, certamente, diria “Sim, valeu a pena” – mas, foi só sonho.
Isto lembrou-me de 83, quando fui chamado por ele para voltar para Mossoró (indicado que pelo amigo de Gazeta, Laércio Eugênio Cavalcante) depois de 2 anos de Natal entre a Cooperativa dos Jornalistas de Natal, RN Econômico e Jornal Estilo – de Toinho Silveira – pois, imaginava dar uma nova cara, revitalizar o velho “O Mossoroense” de guerra, em formato e conteúdo, queria fazer frente ao jornal de Canindé Queiroz, de onde éramos oriundos.
Detalhes ajustados, passei dias queimando as pestanas na prancheta, criando um novo layout o qual, aos olhos dele, pudesse ser a programação visual ideal pretendida. Em um domingo qualquer de março de 1983, em sua casa à rua 30 de setembro, de frente a praça da antiga União Caixeiral – que ostenta uma estátua em sua homenagem – nervoso apresentei-lhe nossa ideia, com atenção meticulosa do principal personagem do escritor Sir Arthur Conan Doyle, como quem procura indícios de um crime barbaramente “perfeito”, folheou as 12 páginas, olhou-me através de duas grossas lentes, franziu a testa e disse o que ansiava ouvir “sensacional”. 1º de abril de 1983, João Newton assinou minha carteira profissional.
Todos no jornal tinham uma espécie de misto de respeito e medo de Dorian, hoje quero crer, que ele gostava disto, talvez, para manter uma certa mistificação. Logo avisaram de sua ranzinzice, seu mau-humor. Entretanto, por vezes o encontrei a gargalhadas ao telefone. Também testemunhei na redação rasgando matérias de jornalistas, esbravejando dizendo que estavam mal escritas, uma bosta, dizia. Imaginava que meu “dia” chegaria e chegou. Em um belo sábado me diz para eu abrir espaço de meia página no jornal para uma coluna que seria assinada por Dr. Layre Rosado, entregou os textos, desci, fiz a diagramação, mas as “margaridas” não colaboravam muito – esferas que traziam o alfabeto em alto relevo – haviam apenas três modelos: corpo 8,10 e 12 – para digitação nas composer IBM, quando diagramava em corpo menor faltava texto, se aumentava o corpo “estourava”, foi reportar-lhe, soltando fogo pelas ventas:
– Você não saber é fazer, nada!!!
– Então faça você! Devolvi-lhe.
Com cara de poucos amigos, ironizou:
– Dá para “senhor” descer e chamar Laércio, outro cabeça de vento.
Laércio Eugênio Cavalcante, chefe das oficinas, subiu e por lá resolveu. Ficamos de “mal” um certo tempo, pouco me dirigia a palavra e a recíproca era verdadeira.
Mas, quando a coisa está ruim, fique certo, vai piorar. Em outro bendito sábado, já pisava na soleira da porta da frente do jornal, com direção certa ao Ponto Frio – de Dona Luzia – eram por volta das seis em meia, isto é, 18h30, quando Vovô fala:
– Brito, seu “pai” quer falava com você no telefone.
– Alô…
– Brito, fechou a capa?
– Sim Dorian, estava de saída.
– Vamos ter que abrir um espaço…
– Tá certo, vou esperar o senhor aqui.
– Não, não, quero que você traga a capa do jornal aqui em casa.
– Aí, eu não vou não.
– O quê?
– Aí eu não vou não!
Desligou na minha cara. Ora, eu doido para me juntar a turma que já tinha “derrubado” um monte de “burrinhos” com mão-de-vaca. Vovô me chama, era Dorian:
– Alô…
– Dono do mundo. Abra um espaço onde você quiser e coloque “Embaixador da Inglaterra pernoite em Mossoró”.
Acima do logo do jornal pus a manchete, já contando com minha demissão. No final tarde da segunda-feira, ele desce vai até minha sala, entrega sua coluna, com um “tapinha” no meu ombro acompanhado de “por que todo baixinho é metido a besta?” Deu-me as costas e saiu caminhando leve, como quem imita Frei Damião.
Para mim, foi um selo de paz, que assegurava o meu emprego. Trabalhos juntos por anos nos quais consolidamos o respeito mútuo, é certo que neste ínterim, claro, tivemos outros entreveros, de poucos danos ou sem nenhum. Em 89, fui dirigir o departamento de arte e cenografia do Jornal e Tv Rio Branco, no Acre, na volta em 92, para o Jornal Gazeta do Oeste, fiz minha primeira exposição de caricaturas em sua residência. Dorian, foi uma grande inteligência da boa terra da Santa do Olhos, junto com Canindé Queiroz alicerçaram os pilares do jornalismo mossoroense. Bravos!!!
Brito e Silva – Cartunista