“Corredor da Morte”
Outro dia um amigo, estava festejando o aniversário de sua mãe que já tinha partido em sua última jornada. Lembrei-me do filósofo Cortella – espero que tenha sido ele mesmo, às vezes minha memória me prega peças: certa vez chamei Jesus de Genésio, claro, estava sob efeito etílico – que “você só morre quando é esquecido”. Concordo plenamente.
Quem já não ouviu “você morreu pra mim?” Quando se diz isto, certamente, não se está sentenciando esta pessoa literalmente postar-se a sete palmos de terra, mas, ao esquecimento. Portanto, você, eu, todos nós morremos em vida para quem nos deseja, como também sepultamos nossos desafetos.
E isto é preciso para continuarmos a seguir, haja vista que o tempo só flui numa mesma direção: pra frente. Na verdade, esta divisão do tempo em passado, presente e futuro é mera ilusão de “nosotros”. O passado, como você não pode efetivamente caminhar por ele, se assim o fizesse não seria passado e, sim presente, guardamos o que passou em um baú de lembranças e, certamente, devo ter em algum lugar esquecido, um baú de ossos de pessoas que morreram em vida para mim.
Por outro lado, meus mortos que já cumpriram o seu caminhar os mantenho vivos comigo, com algumas almas chego até a conversar e ouvir músicas: Com meu pai ouço “Boiadeiro”; com minha ex-mulher Isi escuto “Andança”; meu irmão Calinhos ouvimos “Another Brick In The Wall”; minha sogra Nevolanda ouço “Iolanda” e às vezes convido meu amigo Ferreira – jornal Gazeta do Oeste – a tocar “Lenda do Pégaso”, em memória de uma excursão que fizemos à Martins/RN promovida pelo Sindicato do Gráficos de Mossoró. Sem, falar daquelas que estão vivas, mas à distância e você as mantém, como hologramas, no dia-a-dia.
O grande Ataulfo Alves cantava “Falem Mal, Mas Falem de Mim”, ser esquecido é morrer em vida. Logo, aquelas pessoas que não lembra ou não quer lembrar estão destinadas por você ao “corredor da morte”. Mas, lembre-se! Você também faz parte da enorme fileira de muita gente.
Brito e Silva – Cartunista