A polêmica em torno da grafia do nome do município de Assú
Joacir Rufino de Aquino (Economista, professor e pesquisador da UERN)
Há uma grande polêmica em torno da escrita correta do nome do município de Assú, situado geograficamente na porção oeste do semiárido potiguar. No papel timbrado da Prefeitura o nome da localidade aparece com “SS” e acento agudo no “Ú” (Assú). A maior parte das pessoas, porém, prefere escrever com “Ç” e sem acento na vogal em que termina a palavra (Açu). Já outros usam o caminho do meio, escrevendo com “SS” e sem acento no “U” (Assu), sendo esta a forma empregada costumeiramente no âmbito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
Em uma simples caminhada pelas ruas da cidade percebe-se que o nome do município é escrito em placas e nas faixadas comerciais das três maneiras simultaneamente. Da mesma forma, não é incomum encontrar algum documento público que apresente o mesmo problema, onde a confusão sobre a grafia do nome do município se manifesta no começo, no meio e no fim dos enunciados. Inquieto com a situação, em 2008, o professor Gilton Sampaio, do Campus de Pau dos Ferros/UERN, enviou uma mensagem ao colega Messias Dieb (na época docente do Campus de Assú/UERN e hoje na Universidade Federal do Ceará – UFC), com as seguintes perguntas: “Dieb, qual a grafia correta do nome do município em que você trabalha? Dizem que há flexibilidade entre Açu/Assu, mas também é permitido Açú/Assú?”.
Na tentativa de esclarecer a dúvida do amigo pauferrense, e de muita gente, o professor Dieb respondeu: “Gilton, a grafia do nome Assú/Assu/Açú/Açu tem sido motivo de polêmica. Em função disso, o Júlio César (que foi professor do Departamento de Letras do Campus de Assú/UERN e também está hoje na UFC) fez uma pesquisa diacrônica para descobrir como era a verdadeira grafia. Consultou documentos muito antigos, inclusive do comecinho do século XIX. Teve acesso ao documento oficial (registrado em cartório) que elevava a localidade ao status de município e, nesse documento, e em vários outros, ele encontrou a grafia ASSÚ (com SS e o acento transgressor da norma culta). Embora o registro oficial seja assim, muitas pessoas querem – cada uma – criar suas próprias normas de grafar o nome da cidade. O resultado é um pandemônio lexical desnecessário”.
O trecho transcrito do diálogo destacado, de modo bastante preciso, contribui para pôr ordem na casa. O nome “próprio” do município em foco, segundo o seu registro oficial em cartório, deve ser escrito ASSÚ! Qualquer outra grafia, mesmo que siga um critério semântico e seja amparada institucionalmente, não é correta. A palavra AÇU, originária do vocabulário indígena, por sua vez, deve ser utilizada tão somente para designar a microrregião banhada pelo Rio Piranhas, a qual é denominada de VALE DO AÇU. A distinção entre os termos é clara, conforme lembra o historiador assuense Ivan Pinheiro, mas, infelizmente, ela não tem recebido a devida atenção por parte das instituições de ensino e da maioria da sociedade local.
Portanto, seria de bom tom o poder público municipal trabalhar o tema e procurar esclarecer a população a respeito. Inclusive há indícios de uma ideia de modificar oficialmente o nome da cidade para sua variante indígena, Açu. A iniciativa é pertinente, uma vez que valorizaria a história cultural dos primeiros habitantes da área e também ajudaria a ajustar a sua grafia à norma culta da gramática vigente nos nossos dias. No entanto, a proposta não avançou e o nome do município continua igualzinho ao de sua emancipação política em 16 de outubro de 1845, ou seja, Assú com “SS” e acento no “Ú”. O que muda a cada instante é a forma incorreta de escrevê-lo, ora de um jeito, ora de outro, alimentando uma confusão inteiramente desnecessária dentro e fora de suas fronteiras territoriais.