Cafajestemente criminoso
Sou uma figura meio sem graça e comportadamente desinteressante, para meus filhos, talvez exemplo: já devo ter sido, herói, bandido, bom pai, mau pai, bonito, feio, rico, pobre, tudo dentro dos conformes, dos ritos e conceitos sociais impostos pela evolução das relações humanas. Para meus desafetos, certo que exprimo uma ameaça atômica, como a formiga ao elefante.
Numa entrevista a Manú, fui perguntado por que desenho. Desenho por necessidades: se eu não desenhar, rascunhar, rabiscar, gastar pelo menos uma dúzia de folhas de papel diariamente, tenho a impressão de ficar todo empolado e, meus calos nos dedos solicitam o lápis para acariciar.
Também não sou artista, não me considero artista, não tenho talento para artista, sou sem graça para ser artista, como se diz lá no meu pé de serra: uma pessoa “insossa”, meu maior patrimônio de excentricidades é tomar café amargo; nem na adolescência fui um “rebelde sem causa”.
Para vocês terem ideia da minha oceânica mediocridade, não creio (não contem a ninguém) em horóscopo, desde Omar Cardoso ao Olavo de Carvalho, em cartomantes, em ciganos que leem mãos, não dou um vintém pela numerologia. Acredito nas banalidades: terra redonda, teoria da evolução, que já vivemos sob ditadura. Sou um cidadão comum, mediano, o que sei, realmente, é uma grande merda. Mas, não me vejo em meio a manada, vestido de verde e amarelo berrando “cloroquina, cloroquina, cloroquina de Jesus”, vivo nas minhas vulgaridades superficiais.
Talvez, o que me mantenha no nível da lâmina d’água, que me salva de afogar-me no mar de banalidades insignificantes seja a música, leitura, família, amigos, meus desenhos e uma crença na ciência. Portanto, meu invólucro não me permite discutir a eficácia da Cloroquina, ou se o Tampo ianque está tomando via oral, intravenosa ou retal e se sua cópia mal engendrada está a imitá-lo.
Entretanto, me permito falar do jumento batizado que está assinando o receituário, via internet em vídeo, como se médico fosse, instigando o povo a usar indiscriminadamente a dita droga. Em minha medianamente opinião, esse sujeitinho é cafajestemente criminoso.
Brito e Silva – Cartunista