Loas à Redinha
Minha cunhada Kaliana, em vista, me disse em tom meio tristonho, sentir saudades de quando morava deste lado do rio, isto é, na zona norte, na Redinha, e via a chuva avançar sobre a Cidade Alta e o Rio Potengi e, vagarosamente invadindo o manguezal até topar nas vidraças de seu apartamento. Confesso que fiquei a imaginar a bela cena.
Nestes dias de Redinha, que ainda me são poucos, tive a mais nítida e clara sensação de que meus 18 anos de Petrópolis, não vivi Natal. Confinado a um espaço de 12 metros quadrados usados para ler, escrever, desenhar, fazer publicidade, arranhar as cordas do meu sofrido violão, foi, de fato, uma prisão. Certa vez, minha filha Jade, de galhofa, disse: “Cuidado, mamãe, painho está lá fora, tenho medo dele se quebrar, pois o sol está forte”, tamanha era minha clausura em um cárcere privado de aparente conforto.
Aqui, na Redinha, por duas vezes vi se materializar a visão de minha cunhada. Imagem magistral ver a chuva na boca da barra engolindo as praias do Meio e dos Artistas, sobre aos arranha-céus dos bairros de Petrópolis e Cidade Alta pintando-os de um cinza-melacólico, depois se precipitando sobre o Potengi como quem me avisando, num “chego já”, pouco minutos está lavando nossas janelas e almas, tão rápida de deslumbrante chegada foi sua escapulida em direção a outras pairagens, não sem antes pintar um arco-íris de encher os olhos.
Não que eu queira implantar ou fomentar alguma sementinha de inveja em quem mora nos bairros de Neópolis, Nova Parnamirim (Natal/RN), Paredões ou Abolição III e Santa Delmira (Mossoró/RN) – não citarei nomes para não causar discórdia -, mas o nascer do sol nos presenteia com uma vista impagável – como disse o psicólogo Mayron Marcos -, estamos numa expectativa de uma lua cheia sobre às águas do abraço do Potengi com o Atlântico. Esperemos pois. Vivas à Redinha.