Presunçoso

Não sou uma pessoa muito adepta de modismo, gírias e, provavelmente, fui um adolescente muito chato, pouco me enturmava, fiz pouco amigos, colegas tenho aos montes. Passava boa parte do tempo disponível no meu quarto mobiliado com uma rede, uma cama de solteiro, uma mesinha para estudar e desenhar. Alguém disse “o homem é avaliado pelo número de amigos que tem”, certamente, se tem muitos seria uma pessoa “in” se tem poucos seria “out” – como grafava um colunista social da terra de Santa Luzia – neste conceito, estaria condenado ao ostracismo da minha rua.

         Na verdade, era um pouco “presunçoso”, muito dos meus conhecidos diziam que eu era “bosteiro”, isto é, metido a besta e, era mesmo – creio, pela régua de muitos, ainda sou -. Lá em casa recebíamos a Veja e a revista Rodovia, minhas companheiras nas madrugadas. Sempre gostei de aprender e, por isso, às vezes, os “amigos” riam de mim, pondo apelidos: ouvindo a Rádio Rural de Mossoró anunciando o jubileu de 20 anos de uma loja, a turma ficou sem saber que diabos era aquela palavra pouco usual, fui ao “pai dos burros, o Aurélio, voltei e lhes disse, ficaram me chamando de “Jubileu”. Eu ficava com raiva, não pelo apelido, mas porque eles nem sabiam o que era e, ainda assim faziam chacota.

      Provavelmente, quando vinha vindo à turma, diziam “lá vem o chato”, tinha ciência disto. Entretanto, não me frustrou, ao contrário, no alto da minha arrogante jovialidade dizia comigo “pior pra eles que não sabem o que eu sei”. É certo, isto ajudou a forjar meu caráter: controlar a arrogância, ser ético, mais tolerante e, principalmente, não dar muita bola às críticas que não merecem respostas, até hoje, se dizem “é assim” confirmo. Se dizem “não é assim” digo exatamente: não entro em luta que o objeto não tenha valor.

       Ao longo dos meus 65 anos de vida nunca quis e não continuo não querendo ser nada além, do que fui, sou e continuarei sendo até o final e, acredito ter e ser mais do mereço, porém, só quero aprender “tiquinho” mais sobre a vida. Talvez, tenha sido negligente com futuro, entretanto, não existe pouco ou quase nenhum pecado a me arrepender: os pecados são meus, nunca quis ser herói, como diz João Bosco – só quem tentou sabe como dói -.

       Há muito, aprendi a me reconhecer no espelho e entender que sou livre, porque sei que não sou: inveja, rancor e outros sentimentos menores os tragos no porão, em um baú a sete chaves as quais repousam no fundo do poluído Rio Mossoró/RN, certamente, nem com ajuda de Poseidon e Iemanjá as recupero.

Brito e Silva – Cartunista

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