O Camaradinha
Vi um post de amigos ladeados por Caby, aí bateu saudade do “Keibi”, gente do meu bem querer. Quase não lembro de vê-lo raivoso, esbravejando, reclamando da vida, na verdade, estava sempre fazendo piada com todo mundo, passando trote para os amigos, é exceto, ao ser chamado de Raimundo Nonato, por um incauto malicioso. Mas, isto é outra história.
Caby, foi uma dessas pessoas que têm o coração mais largo que o bolso. Por vezes o vi ficar liso “batendo a biela” por emprestar o último centavo ou ter pago a conta da mesa vizinha repleta de pirangueiros e no final, sair atrás de dinheiro a juros. O Camaradinha era assim, sem freio, sem amanhã e “sem miséria”.
Calça boca-de-sino, cabelos black power, camiseta de mangas longas e tamancos esse visual dos anos 70 embrulhava Caby, que não dava a mínima para quem torcia o rosto à sua indumentária fora de moda. Gostava de pregar “peças” nos amigos, mas havia quem lhe retribuísse. Reza uma lenda urbana que certa vez ao chegar na guarita da Vipetro, Vilmar teria orientado o porteiro dizer da necessidade dos visitantes usarem botas e capacete, alegando norma da empresa. Quando Caby entra na sala, Vilmar vê aquela presepada caí no riso, o “Camaradinha” acompanha promovendo uma risadaria danada.
Ilustrei quase todos os seus livros, os que não o fiz, foi porque estava morando em Rio Branco/AC. Mesmo quando mudei para Natal, ele trazia. Sem exceção, todas vezes terminava em briga. Brigamos centenas de vezes e centenas de vezes nos reconciliamos, ele muito mais generoso: dois, três dias depois da batia à porta ou ligava “Cossorro, diga a Brito que passo já aí pra gente tomar uma”. No bar não bebia dois goles do Campari, eu não sentia o gosta da Brahma na goela, já dizia vamos? Aqui tá choco! E assim, saíamos de bar em bar, até ele sossegar o facho no Travessia.
Insistia, dizendo ser seu sonho, a gente ter uma agência de publicidade com o nome Azougue, não deu. Porém, criamos o site www.azougue.com dois ou três meses depois brigamos, ele levou a frente o projeto. Não há dúvidas, minha ranzinzice de querer tudo dentro do combinado, das regras, da agenda foi promotora de tantas querelas, e ele, por ser um sujeito sem amarras, livre como o vento, nunca deu bolas às nossas malquerenças, logo no domingo, no Som do Caby: Azougue, do camaradinha Nando Cordel, para meu amigo Brito e Silva, roda a carrapeta aí…”. Esse era Caby, o resto é folclore.
Brito e Silva – Cartunista