Tudo cabe num abraço – Dia dos Pais
“Me dê sua tristeza que lhe dou minha alegria”
Romance da Bela Infanta
Hoje, domingo Dia dos Pais, impulsionado pelos anúncios de tv e toda mídia lembrando o tempo todo, todo o tempo, que não devo esquecer de comprar o presente no Dia dos Pais: celulares, computadores, carros, gravatas, meias, sapatênis, até Melhoral estavam anunciando… Ofereciam o diabo a quatro. Neste clima estava de conversa com seu Luís meu pai, “mangando” desses pobres filhos que lotam, se abufelando em portas de lojas de shoppings centers buscando comprarem “lembrancinhas” e não deixarem o DIA DOS PAIS passar “em branco”, boa parte delas serão enviadas pelos correios, pois seus remetentes, mesmo morando na mesma cidade, não têm tempo para um sorriso tête-à-tête com seu “coroa”.
É triste, mas é a realidade nua e crua, em que muitos pais vivem: Filhos, apenas por vídeos, pelo WhatsApp, Instagram, Facebook, Twitter… Porém, ainda assim, devemos dar graças aos deuses das tecnologias. Fico imaginando quando o metaverso estiver sendo rotineiro em nossas vidas como pão e café, você no domingo querendo acordar mais tarde, por causa da balada do sábado, e não quer perder tempo, também não pretende carrega culpas, ficar com depressão por não ir na casa do pai desejar um Feliz Dia dos Pais ao vivo, então no dia anterior grava uma mensagem e envia seu holograma, o seu pai que também possivelmente ainda está dormindo, por causa da carga de remédios que tomara, da mesma forma já deixou disponibilizado seu holograma ativado para receber suas homenagens do Dia dos Pais.
Não é delírio meu não. Logo, logo a presença física em carne e osso será desnecessária, fútil, desobrigada. Os afetos e sentimentos, na real, já estão rarefeitos no campo físico. Certamente, no mundo virtual, no metaverso os amores, os sentimos serão mais caudalosos. Nesse tempo em que já se põe à soleira, o olho no olho, será, talvez uma ofensa. Um bom dia, um pedido de desculpas, um gesto de gentileza, um abraço, um muito obrigado, tudo isto ficará no passado, isto é, tudo estará disponível, somente na realidade aumentada.
Ah! Meu velho pai se encanto há 2 anos, seu Luiz virou estrela, foi chamado aos céus. Porém estou com ele diariamente, quer dizer, ele está comigo – os pais sempre estão – quando quero chamar sua atenção, feito Trindade, pego o violão e toco Boiadeiro, música que queria ouvir e nunca toquei pra ele, entretanto não sofro da síndrome do Epitáfio, o que fiz, fiz, o que não fiz, não fiz e não há como mudar. Voltando as vacas magras: Ora, quem diabo se importa com “lembrancinhas” ante um sorriso, um abraço, um “bom dia pai” ou uma “bênção pai”? Eu, como o Jota Quest, creio que tudo se resolve e cabe num abraço. Coisa de gente antiquada.
Brito e Silva – cartunista