Queijo coalho
Não sei dizer com precisão britânica, mas dona Maria Emília, diretora do jornal Gazeta do Oeste, viajava sempre para Fortaleza, onde estudavam seus filhos Isadora e Tito. Numa sexta-feira depois “inspecionarmos”, nos empanturrarmos com “Mão-de-Vaca” e algumas dezenas de “burrinhos”, lá no Ponto Frio de Dona Luzia, fomos convidados a “pegar o beco” sob a frase “vão embora, vou fechar”, saímos na direção do Kikão, logo também sendo expulsos por Osório, traçamos roteiro com destino certeiro ao Sujeito, para “lavar”, como justificavam uns e seguidos por outros afirmando positivamente “muito justo”. Aquelas altas horas não restava quase ninguém, mas ainda assim, fomos obrigados assinar o “ponto”, penduramos mais uma conta no “prego”.
Revendo cada um a sua agenda e ensaiando uma boa desculpa para justificar a hora de chegar em casa, atravessamos a rua e fomos ao jornal. Todos para cozinha tomar um cafezinho, ver se o jornal já estava impresso para depois à dispersão. Alguém abriu a geladeira vendo uns três quilos de queijo coalho, não se fazendo de rogado retirou-o e pôs sobre a mesinha a iguaria de Caicó e desafiou:
– Quem tem coragem de desembrulhar?
Nestes casos nunca falta um afoite, e este, respondeu a altura, logo outro disse:
– Se me derem uma faca eu fatio em pedacinhos iguais.
Instantaneamente todas as facas do faqueiro de Dona Neide – era quem cuidava do nosso cafezinho de cada dia – estavam expostas a mesa. Nisto um corajoso cortou se deliciou com um bem postado naco anunciou “como está gostoso esse queijo”. Foi o mote para todos caírem sobre o pobre queijo, como Aquiles sobre seus inimigos, em poucos segundos só restavam o cheiro e pedaços de papel de embrulho com algumas manchas da gordura e uns cordões de barbantes que faziam parte do lacre, denunciavam que ali jaz um queijo.
No sábado lá por volta de meio-dia, com o pé na soleira do jornal Milza estava a posto avisando a todos na chegada, que Maria Emília, lá de Fortaleza, acionará a Scotland Yard e já estava de posse da lista completinha com as digitais dos esfomeados “ratos”. É sabido que Dona Maria não brincava em serviço, logo autorizou Mazé – Maria José financeiro do jornal – dividir em pequenos quinhões que seriam, e foram, descontados todos os meses no contracheque de cada um dos beberrões. Sei que pagou quem comeu e quem não comeu. Porém, dizem as más línguas, quem passou naquela sexta-feira pela Gazeta pagou o pato, quer dizer; o queijo. Segundo Inácio Pé-de-Quenga, até Thurbay que estava de férias em Cancún (Tibau para os íntimos), recebeu o boleto através de uma factoring.
Brito e Silva – Cartunista