Peter explica
Outro dia, dentro do meu breve e franzino espectro do conhecimento da alma humana, falei sobre saudade e suas várias definições poéticas e filosóficas, é bem verdade, algumas foram piegas de doer a muleta, outras até com uma fina superfície de uma presumida verdade. Entretanto, definir este sentimento “muito embora sendo fã da ciência, e por isso mesmo sei que não é precisa e a verdade absoluta não é perseguida” fica faltando um pedaço, como um quebra-cabeça que não se completa se uma única peça estiver ausente. Logo, conceituar saudade, seja por belos e melódicos versos dos mais criativos poetas ou mesmo os elaborados pensamentos filosóficos, certamente, o conceito ficaria manco, capenga necessitando de muletas para se manter de pé, como sempre ocorre.
Saudade é um sentimento que permeia toda a raça humana e até parece também atingir outros mamíferos como os cães. Os mitos, as crendices populares também têm nos revelado, o que antes do Reino Vegetal, campeavam pelo mundo sobrenatural, metafísico, transcendental, agora pode ser real. Por exemplo: as árvores podem ter sentimentos, não sei se de saudade, mas segundo estudo cientifico do alemão, especialista em árvore Peter Wohlleben, garante que elas possam sentir dor e até outras emoções como o medo.
É notório que as superstições entre os humanos de todas as civilizações muitas delas envolviam membros do Reino Plantae. Na cultura indígena os curandeiros em suas pajelanças usam galhos e folhas para aliviar dores e curar o mal, também nas cidades e pequenos povoados pessoas utilizavam ramos de plantas para “rezar” curando “espinhela caída, dor no estombo, incosto…” assim como a Espada de São Jorge e pé de Peão Roxo eram (são) cultivados nas casas e apartamentos para proteger o ambiente do mau-olhado, gente invejosa e pessoas de “olho gordo”.
Tal qual o alemão Peter que atestou o sentimento das árvores, posso dizer o que Damiana – uma das minhas três mães – também percebeu algo que a deixou perplexa: a rebeldia do pé de mangueira plantada por meu pai, seu Luiz, a qual ele zelava como se cuidava de uma neta, em troca recebia mangas docemente suculentas e deliciosas. Entretanto, após sua “ida falar com Deus”, a Mangifera se recusa terminantemente ser cortês com aqueles que costumavam se deleitar com seus frutos, agora lhes oferecendo em sua primeira carga e todas as outras subsequentes os seus frutos azedos, impossíveis à degustação. Talvez, seja saudades da companhia de seu Luiz.
Também é bem verdade que Maria no início das manhãs dedicava longas conversas com as roseiras e suas três-marias, isto quando morávamos, na Rua Ana Neri, em Petrópolis/Natal/RN, nos confidenciou a amigo vizinha que todas murcharam e morreram logo após nossa mudança. Saudade? Não sei. O Peter explica.
Brito e Silva – Cartunista