Obrigado, seu Luís!
Neste domingo, Dia dos Pais, é o primeiro que vou passar sem Seu Luís entre nós, há pouco mais de um mês, no dia 29 de junho, Deus o carregou enrolado em seu manto. Ficamos órfãos: Eu, De Assis, Elian, Eliana, Márcia, Cristina e Eliene e Alexandre (neto criado por ele).
Vejo muitas pessoas estufarem o peito dizendo: “Isso é besteira esse negócio de Dias dos Pais, todo dia é dia dos pais”, em alguma medida têm razão. Porém, o “Dia dos Pais” não pede nem obriga ninguém a negligenciar os outros 364 dias do ano, se partirmos deste princípio, os aniversários, natais, fins de ano, aqueles almoços de domingos, logo todas estas datas são besteiras bestas.
Ora, quando vejo alguém assim pensar e dizer, fico com uma pena danada desta pobre alma que não sabe o que é fazer outra pessoa feliz, não tem o prazer de reconhecer, e também ficar feliz, um sorriso verdadeiro que apenas os olhos podem mostrar. E sei o que estou dizendo.
Seu Luís não era muito de afagos explícitos: abraços, beijos, declarações, mas apenas uma “bença pai ou bença vô” era possível ver seus olhos brilharem de alegria. Em meus 62 anos nunca o vi chorar, exceto no dia em que meu irmão mais novo, Carlinhos, foi morar com Deus.
Meu velho pai em sua vida não amealhou fortuna, morreu pobre como a maioria do povo brasileiro, dizia ele “dinheiro é bom, mas não é tudo”, também não possuía estudo, na verdade, mal sabia assinar seu nome, entretanto, continha uma grande visão da vida, de mundo, uma sabedoria nata. Sempre dizia “é, sim. Basta ter respeito por tudo e por todos, sem nunca baixar a cabeça”. Depois de tempos foi que percebi a profundidade de suas palavras, no RESPEITO está cristalizado o amor, honra, honestidade, humildade, ética, verdade, todos valores caros para que se possa ter uma vida sem magoas, sem rancores, sem vinganças, sem desamores. Meu pai era sábio, era leve.
Em seu velório alguém me disse no ouvido que o senhor falava constantemente: “meu filho no dia 20 de julho, dia do aniversário dele, vai tomar a 2ª dose da vacina e vem me ver”, não deu tempo meu pai. Imagine o senhor, naquele clima, você ouvir isto. Essa frase ecoou e doeu profundamente na alma, as águas que jorraram dos meus olhos encheria o açude de Baixa do Chico. Entretanto, logo percebi, que certamente, não era isto que o senhor esperava de mim: toda aquela tristeza. Pois sei, que pai nenhum deseja ver o filho triste, pelo contrário, faz qualquer coisa para vê-lo feliz. Então tratei de guardá-la no fundo de minha alma como declaração de amor e carinho.
Lamento, o senhor sabe que não era assim que queríamos que fosse. Devo confessar que também não amaldiçoei a vida, não roguei praga à morte, não desacatei, não falei o nome Deus em vão e nem procurei achar desculpas para sua partida, também não me enchi de culpas, remorsos por não ter feito algumas coisas que prometemos fazer juntos, coisas bobas que sempre adiamos, como viajar ao Amarelão, lá em João Câmara/RN, irmos à Mossoró na casa de seu amigo Chico. Entendo que Deus achou melhor assim. Para ser mais sincero, as oportunidades que tivemos aproveitamos todas, eu a minha maneira e o senhor a sua. Nossas risadas às vezes sem motivos óbvios, pareciam nos dizer só por estarmos juntos ali, seria motivo suficientemente para alegrias gratuitas. Temos a mangueira por testemunha.
Porém, é certo, queria ter tocado a toada que o senhor sempre me perguntava: “sabe tocar Boiadeiro?” Sim, respondia e prometia da próxima vez que fosse à sua casa levaria o violão, o que não aconteceu. Meu velho, se Deus conceder, em sua generosidade, de um dia estar com senhor novamente, fique certo que tocarei “De manhãzinha quando sigo pela estrada, minha boiada pra invernada eu vou levar…”. Seu Luís, obrigado por ter sido meu pai.
Um Feliz Dias dos Pais para todos.
Brito e Silva – Cartunista