Narcisista intelectual
Primeira vez que vi esse termo foi um colega de faculdade escrevendo um desabafo pós entrega de TCC. Acredito até que tenha sido dirigido a mim, ou aos meus colegas mais próximos. Não sei exatamente a razão, mas lembro que na época houve algum tipo de burburinho pela universidade que eu e meus colegas debochávamos da capacidade de outros alunos de passarem no trabalho final. Não aconteceu. Mas o fato é, a carapuça me serviu como um alerta, me fez refletir sobre assunto.
Sempre fui muito fã de pessoas sábias. Afinal, fui criada por duas pessoas extremamente inteligentes, acima da média. E meu convivo sempre foi esse. Inclusive, um dos meus irmãos foi diagnosticado com “altas habilidades/superdotação”, tipo aquelas crianças do Caldeirão do Hulk, só que com o hiperfoco em outras milhares de coisas. Constantemente fui influenciada então a admirar o culto, o belo, o conhecimento e com isso (mesmo não debochando de ninguém) adquiri uma seletividade preconceituosa no meu olhar para o outro e uma autocobrança de SABER enorme. Além de ter uma tendência de ter hiperfocos em assuntos que me interessam e eles são os mais variados, com isso, estudo sobre os mais estranhos assuntos até esgotar meu cérebro. Mais tarde descobri que isso pode ser alguma característica neurodivergente.
Fiz faculdade de publicidade, depois me tornei design gráfico, maquiadora, presidente de movimento estudantil, tocadora de violão (musicista é muito) e entre outras muitas coisas, estudando sozinha, sendo autodidata. Pois pra mim, quanto mais conhecimento adquirisse em algum lugar eu estaria acima, acima de quê? Até hoje não descobri. Com a idade chegando, o tempo passando e a vida acontecendo, a minha percepção de SER mudou bastante (e permanece mudando). Continuo tendo hiperfocos estranhos. Mas, graças a maturidade(?), minha visão sobre o próximo mudou e talvez eu realmente estivesse num lugar de soberba e por que não de uma pseudo narcisista intelectual? Ou pra aliviar um pouco minha barra posso seguir a linha de pensamento da psiquiatra que diz que o meu olhar (e exigência) sobre outro é na verdade um conceito de mim mesma, ou seja, queria encontrar o quê queria ser. Que é também uma super caraterísticas de uma das minhas condições psíquicas (ansiedade).
Óbvio, que esses ensinamentos ficaram ainda mais claros depois dos filhos, pois eles me ensinam diariamente que o belo, o grandioso, o inteligente podem e são, geralmente, as coisas mais simples. Mas, por isso, não menos importante aprendi que mesmo que tenha algum “q” neurodivergente e me faça sempre buscar essas características, não posso usá-lo como desculpas para ser uma “c*zona”, desculpem os termos. Apesar de amar o culto, sou um pouco mal educada também. E por fim, termino esse texto dizendo uma frase sábia do meu pai “inteligência é você saber usar seu conhecimento de forma simples e prática”.
Jade Brito e Silva – Publicitária