Nada que foi será!
Bem antes da pandemia, esbarrei com um amigo de infância, num dos corredores do Shopping Midway, aqui na Capital do Sol. A princípio não o reconheci, logo que pronunciou meu nome, me veio o dele, aliás, seu apelido, do qual não gostava – Confesso que não sou muito bom de nomes, nunca fui. Cedo aprendi um truque: chamar todo mundo de amigo, não há como errar menos ainda, constranger ninguém -.
Conversa vai e conversa vem, caímos naquele caduco clichê quando o bate-papo desmilinguiu-se, ele de pronto, sentenciou:“você não mudou nada”. Retruquei que tinha mudado muito, pois já beirando os 60 anos seria impossível não mudar. Nos abraçamos, seguimos para Miranda, onde compraria um teclado novo para meu computador velho de guerra.
Maria, do meu lado, imediatamente “puxou-me a orelha”, por ter sido tão realista na argumentação com meu “brother” de adolescência. Claro, fui um pouco ríspido, impaciente ou talvez ainda, ranzinza. Mas, ora, da minha longínqua adolescência e velha infância trago apenas as lembranças do que eu era. Mudei e mudei muito, todos mudam.
O mundo muda a todo instante e nós, a solavanco dele. Se você gostava de mim na adolescência, nos meus primeiros anos de adulto ou até semana passada pode se surpreender comigo e passar a me odiar, não que eu seja tão diferente assim do que fui, mas, pode ser que você nunca tenha me visto, assim sendo, não percebeu meus defeitos e qualidades como deveria. Certamente hoje, alguns defeitos e qualidades foram potencializados, outros o tempo jaz. Portanto, não sou, você não é, ninguém é o mesmo de ontem.
Se você ignora tanto as mudanças das coisas do mundo, das pessoas, talvez, a sua seja maior. Ah! Nada que foi será!
Brito e Silva – Cartunista