Meus mortos vivem comigo
Não vou a cemitério para cultuar meus mortos, não impedido por qualquer crença religiosa ou por superstição, mas por não ver, de fato, qualquer razão mais urgente. Porém aos que fazem têm o meu respeito.
Meus mortos, minhas almas boas parecem viver em mim. Em 62 anos de vida a morte não me poupou de tirar algumas pessoas importantes: aos 9 anos minha mãe subiu aos céus – pois creio que toda mãe vira estrela e a noite no céu sorrir para seus filhos – depois minha ex-mulher Isi, anos depois Carlinhos meu irmão caçula e mais recente a morte carregou seu Luiz, meu pai, feito um pacote no seu manto me deixando órfão.
Entretanto, pouco choro meus mortos e, verdadeiramente sinto muitas poucas saudades. De minha mãe tenho resquícios de sua presença em minha mente, talvez, o instinto de sobrevivência apagou os poucos anos de convivência. De Isi minha ex-mulher todos ou quase todos os dias desfruto de lembranças vivas cristalizadas nas músicas que toco e ouço no meu dia a dia, principalmente na música “Andança”; de meu irmão Carlinhos, The Wall – Pink Floyd – o traz até mim, de meu velho pai, certamente, todo dia toco Boiadeiro – Luiz Gonzaga – música que sempre me perguntava se eu sabia tocar – e eu não tive oportunidade de tocar pra ele – portanto, meus mortos vivem comigo e em mim.
Entretanto, há outras almas, que circundam minhas lembranças, como a de minha sogra Nevolanda e seu cafezinho nas tardes lá nas Quintas, também de Mariazinha – sua mãe -, a qual, lá na cozinha de Petrópolis, Natal/RN, passava horas me contando suas histórias de vida e aventuras reais, isto sim me dá saudades, mas certamente, um dia me juntarei a essas almas de luz.
Brito e Silva – Cartunista