Me guardando pra quando o carnaval chegar
“Quem me vê sempre parado, distante garante que eu não sei sambar
tou me guardando pra quando o carnaval chegar…”Chico Buarque
É da natureza do tolo ficar parado esperando apenas por esperar algo acontecer sem se preparar para quando o “carnaval chegar” e, no momento em que a folia chega faz a festa, e assim como veio vai-se embora. O estúpido não percebeu, não viu, não sentiu, sendo assim, espera sentado culpando e pendurado na longevidade da esperança.
Outro dia, pela manhã na fila do pão do Carrefour uma senhora, mas enfeitada que a “burrinha de Zé Garcia” reclamava do preço do pão, do motorista que chegara atrasado e não trouxe o guarda-chuva, assim proporcionou que os pingos de chuva ousassem se precipitar sobre aquele acúmulo de produtos, que fazem uma espécie de domo químico, sobre suas madeixas de raízes esbranquiçadas que expõem sua verdadeira conservação, ora camuflada com um tom loiro.
Um provérbio chinês imprimi “quando um sábio aponta o céu o ignorante olha o dedo”. Poucas vezes se prepara para o sucesso ou derrota, no tempo em que se chega ao sucesso aflora o despautério, a arrogância e a cegueira, não vê a beleza do céu azul, das noites de lua cheia, da mãe terra engravidando depois de uma “tesuda chuva” – como grafava o jornalista Canindé Queiroz – o nevoeiro da ingratidão meramente esbraveja contra o forte clarão do sol, da fraca luz da lua, do torrão molhando provocado pelos pingos de vida que por aquele chão fluiu em correntezas aos riachos, ribeirões, rios até aos oceanos.
Quando não se planeja e o contratempo bate a soleira da porta, uma topada no dedão do pé, alguns pingos de chuvas, a luz do Astro-Rei ou o prateado luar se torna uma cruz, um castigo similar o de Sísifo. De fato, o tolo não enxerga além do próprio nariz, não cultiva a compaixão, o agradecimento, na verdade não consegue minar os olhos com a beleza do milagre de viver.
Vou ali me banhar na sapiência dos netos, para quando o carnaval chegar.
Brito e Silva – Cartunista