Está tudo mudando
No domingo, 6 de agosto, meu amigo Laércio Eugênio Cavalcante, artista plástico e cartunista com o qual dividi e desenhamos uma amizade – que já ultrapassou os 40 anos – nas pranchetas do jornal Gazeta do Oeste, me fez um carinho, enviando via WhatsApp, escaneada não, fotografada pelo celular, uma carta que lhe enderecei direto de Rio Branco/AC, lá no início dos anos 90, por ocasião de nossa estadia no Jornal e Tv Rio Branco, onde dirigíamos o departamento de arte e cenografia, nela dizia de minha tristeza frente a nova programação gráfica do jornal Gazeta do Oeste, o qual o jornalista Washington Aquino em viagem à Mossoró, me trouxera de presente.
Esse fato de como a gente se comunicava anteriormente, me levou a pensar nesse caldo tecnológico em que estamos sendo levados, nesse privilégio que é vivenciar extraordinárias evoluções e poder fazer parte disto e até certo ponto, ensinar aos filhos, netos e amigos mais jovens, oferecendo uma certa compreensão de como funcionava a comunicação, a interação entre as pessoas no século passado e como isto nos afetou.
Na adolescência ganhei uma calculadora de bolso, levei para aula de matemática da professora Tamela, que não permitiu o uso. Entretanto, não me impossibilitou do vício naquela maravilha. Quando troquei a ultrapassada maquininha, que só fazia as quatro operações, por uma calculadora científica fui ao ápice e o que me restava da tabuada na cachola desceu pelo ralo, nunca mais soube somar de cabeça 2+2, se hoje o fizer por vezes, certamente, a cada final teremos um resultado diferente.
Pois, muito bem. Quando entrei no jornal Gazeta do Oeste no ano de 1979, a impressão era híbrida, isto é, usava dois tipos de tecnologias em todo seu processo, as chamadas de “impressão a quente e a frio”. Logo passou definitivamente para impressão a frio e, mais uma inovação: o Bip, que era entregue a gente para quando o jornal quisesse falar o aparelho soava e você ligaria de um telefone fixo ou se dirigia a um orelhão.
Lembro quando chegou o celular, lá em “nóis”, em Mossoró, por volta dos anos noventa, o aparelho era quase do tamanho de um tijolo maciço ou uma rapadura cariri. Eu só falava com Nelson Rebouças e ele comigo, pois não conhecíamos mais ninguém que possuísse aquele trambolho. Depois comprei um Nókia que se aconchegava perfeitamente no bolso da camisa, a estas alturas pouco usava a prancheta, mas sim, um PC que travava o tempo todo porque o Corel Draw era muito pesado, dava tempo tomar um “burrinho com mão de vaca” lá em Luzia do Ponto Frio, enquanto ele abria um arquivo. Ah, também já havia abandonado meu fusca e me exibia em um Chevrolet Monza.
Polary, meu primogênito, deu-me um Nókia N90 (hoje, vintage), sentenciando quando a tecnologia chegasse em Natal poderíamos nos ver através daquele aparelho que cabia na palma da minha mão, fiquei um pouco ressabiado. É meu amigo Laércio o tempo passa e a evolução é inevitável. Gostaria de estar lhe escrevendo a moda antiga, com caneta Bic em uma folha de papel pautado, mas devo confessar: há muito não vejo uma caneta e também os Correios, como disse Chico Buarque, já não andam mais “arisco” e sim, de “bengalas”, atestado por um jovem amigo.
O Bob Dylan cravou “está tudo mudando…”. Hoje, meus netos pedem a bênção pelo WatsApp.
Obrigado, pela boa lembrança amigo Laércio Eugênio Cavalcante.
Brito e Silva – Cartunista