…É preciso cantar!

 

Creio que a música é uma das mais importantes e majestosas expressões artísticas do homem, quiçá, não seja a mais bela. “Sem a música, a vida seria um erro”, cantou Nietzsche, já o escritor britânico Oscar Wilde escreveu: “A música é o tipo de arte mais perfeita: nunca revela o seu último segredo”. Outro dia escrevi numa conversa com minha caçula Larissa Brito, que a “música é a maneira mais fácil de falar com Deus”, falei numa tentativa de acalmar seu coraçãozinho adolescente evangélico, e também por não saber rezar, quando necessito de uma intervenção Dele, canto.

Fico em harmonia com os ditos de Nietzsche e Wilde e sigo no mesmo compasso e melodia. Vejam no quê nos transformamos, imagine se não houvesse a música, quê espécie de humanidade seríamos?

Não conseguia imaginar como uma pessoa podia não gostar de música. No jornal Gazeta do Oeste, sobre minha mesa um micro system tinha lugar cativo e sagrado, eu e  Maria  trabalhávamos cantando e, incomodava Lins, o outro colega do departamento de arte. Ele se irritava e, nós nunca nos colocamos em seu lugar, ao contrário, sob o manto do egoísmo dizíamos ser frescura do meu amigo de infância, Chico de Tetê.

Segundo um estudo da Universidade de Barcelona, existem indivíduos que não sentem prazer ao ouvir músicas. Esta incapacidade foi batizada de “anedonia musical específica”. Portanto, meu amigo, Chico, você que já partiu para o Plano Superior e, certamente tem um coração muito mais puro destes que aqui estão, rogo-lhe perdão.

Ontem, tirando a poeira do bornal, onde costumo guardar as mais preciosas lembranças, dei de cara com uma música me empurrando na máquina do tempo de volta aos meus 15 anos, lá nos Paredões, no exato momento em que saía a primeira fornada de pão, da padaria de “seu Arlindo”, de parede e meia da minha casa. Dona Geralda (minha mãe), a estas alturas, já havia feito um bule de café e posto à mesa, juntamente com a lata de manteiga Itacolomy, logo Carlinhos (in memorian), meu irmão, em gesto robótico automático entrava na padaria retornando com uma braçada de pão bem quentinho: doce, d’água, massa fina e sem esquecer o de coco, o meu preferido, para alimentar o batalhão de amigos e namoradas que todas(quase) as tardes batia continência lá por casa, para estudar, e formar um grupo de animadora de torcida para ver “seus namorados pernas de paus” baterem um rachar no meio da rua, confesso que meus olhos, por um momento, tornaram-se uma cacimba minando água, não por melancolia, tristeza, saudosismo, não, não, mas por ter vivido aquele tempo, onde as coisas “pareciam” ser mais simples.

Digo sim: pingou água no teclado. Mas, dessa vez a tristeza reclamou seu lugar ao meu lado. Choramos copiosamente vendo o quê fizeram e estão fazendo e ainda farão com nosso país verde e amarelo.

É Wilde, não tem jeito! Cada vez que ouvimos a mesma música, descobrimos parte do seu segredo, muito embora, pensamos em outro contexto, em outros tempos de quintais. Porém, “para ser feliz nessa vida é preciso cantar”.

“Hoje, você é quem manda falou tá falando, não tem discussão, não…”

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